terça-feira, 31 de janeiro de 2012

São João Bosco encontra pela primeira vez sua nobre protetora

       Hoje a Igreja comemora, entre outros, o grande São João Bosco. O episódio abaixo é um dos encantadores fatos de sua vida laboriosíssima. S. João Bosco, rogai por nós!


 
     Juliette Colbert, nascida na Vendée, França, casou-se com o Marquês Tancredi Falletti de Barolo, e dela se pode dizer o que lemos de Tabita nos Atos dos Apóstolos: "Esta mulher se dedicou às boas obras e às ações de caridade". Realmente, ela usou seus bens abundantes para ajudar as classes trabalhadoras e os pobres. Uma mulher generosíssima e diligente, ela costumava dizer: "Tudo que damos para a caridade nunca é perdido. Não é preciso manter-se informado sobre o que nós demos. Deus tomará conta".
     Ela gostava de visitar a prisão feminina onde, com autorização oficial, ela permanecia por três a quatro horas toda manhã. Ali ela suportava insultos e por vezes estouros temperamentais. Ela aceitava estas humilhações, rezava e levava outras a rezar, dava generosas esmolas, e foi capaz de transformar aquelas criaturas rudes em mulheres arrependidas e resignadas.
     A pedido do Rei Carlos Felix ela trouxera para Turim as Irmãs do Sagrado Coração para trabalharem na educação das meninas da classe alta, e colocou à disposição delas uma casa de campo grande e magnífica, não muito distante de Turim.
     Dom Bosco, um homem que apreciava as ações da nobreza, soube muito bem que quando a epidemia de cólera varreu Turim, em 1835, esta senhora magnânima, que estava de férias perto de Moncalieri, voltou para a cidade e cuidou continuamente dos doentes nas próprias casas e nos hospitais, consolou os moribundos e prometeu cuidar de suas pobres viúvas e filhos, o que ela fielmente cumpriu.
     A venerável senhora estava então com 60 anos de idade. No primeiro encontro Dom Bosco detectou uma grande humildade sob sua majestosa figura, e percebeu que sua postura reservada e nobre era mesclada com a afabilidade e a gentileza de uma mãe e de uma senhora caridosa. Ele ficou satisfeito com esta primeira entrevista.
 
(The Biographical Memoirs of Saint John Bosco, by Fr. Giovanni Battista Lemoyne, 1839-1916)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Santa Jacinta Marescotti, Padroeira de Viterbo - Festa 30 de janeiro

     Clarice de Marescotti era filha de Marcantonio Marescotti e Otávia Orsini, Condessa de Vignanello, localidade próxima de Viterbo, Itália, onde nasceu provavelmente no dia 16 de março de 1585.
     De seus pais recebeu profunda formação religiosa. Entretanto, atingindo a adolescência, Clarice, nobre, bela, tornou-se vaidosa e mundana, buscando apenas divertir-se. Sua preocupação passou a ser vestidos, adornos, entretenimentos e um casamento digno de sua classe social.
     Seu pai se preocupava muito com a salvação da filha. Resolveu mandá-la para o convento onde já estava sua irmã mais velha, que lá era um exemplo de virtude. Clarice foi de má vontade, mas como terceira franciscana, pois alimentava o desejo de sair dele o mais rápido possível para voltar à vida de antes. Tanto insistiu que o pai acabou cedendo.
     Mas fora ela não encontrou o que esperava: nenhum casamento apareceu e Clarice viu ainda sua irmã mais nova, Hortência, casar-se com o marquês romano Paulo Capizucci e ela ficar para trás.
     Por insistência da família ela retornou àquele mesmo convento das religiosas da Ordem Terceira Franciscana regular, desta vez como freira, tomando o nome de Jacinta.
     Mas, julgando ela que as celas das freiras eram muito pequenas e pobres, mandou construir uma especial para si, de acordo com sua posição social. Sua cela parecia um bazar pelos luxuosos adornos. Aquilo poderia ficar bem num palácio, destoava do ambiente do convento. Sua piedade é tíbia; a mortificação prescrita, um tédio; até recebe as admoestações com desprezo. Por dez anos levou no convento uma vida mundana.
     Quando completou 30 anos, chegou a hora de Deus e surgiu potente a nobre e católica linhagem que levava dentro de si. Uma grave doença a faz refletir sobre o fogo do Purgatório e do Inferno; tremeu de terror e clamou pelo confessor.
     O Pe. Antônio Biochetti, virtuoso sacerdote, foi atender a doente. Mas, entrando naquele quarto luxuoso recusou-se atender a confissão da freira, dizendo que o Paraíso não era feito para os soberbos. Chorando perguntou-lhe: "Então não há mais salvação para mim?". "Sim — respondeu o religioso — contanto que deixe esses vãos adornos, essas vestimentas suntuosas, e se torne humilde, piedosa, esqueça o mundo e pense só nas coisas do Céu".
     Na manhã seguinte, após ter trocado sua roupa de seda por um pobre hábito, Jacinta fez sua confissão geral com um verdadeiro arrependimento. Depois, no refeitório, aplicou-se forte disciplina diante das irmãs e pediu-lhes perdão pelos maus exemplos que havia dado.
     Nova enfermidade fez com que a ruptura com a vida antiga fosse total. Entregou tudo o que possuía para a superiora e revestiu-se com a mortalha de uma freira que acabava de morrer. Fez o propósito de romper com tudo aquilo que lhe lembrava a antiga vida. Desde então passou a ser chamada de Jacinta de Santa Maria e não mais de Marescotti.
     Trocou sua cama por um feixe de lenha, tendo uma pedra como travesseiro; mortificava-se dia e noite, tomando tão ásperas disciplinas, que o solo de sua cela ficava manchado de sangue. Às sextas-feiras, em memória da sede que Nosso Senhor sofreu na Paixão, colocava um punhado de sal na boca. Sua alimentação passou a ser pão e água. Durante a Quaresma e o Advento, vivia de verduras e raízes apenas cozidas na água.
     Considerando-se como a pior pecadora, escolheu para patronos santos que tinham ofendido a Deus antes de se converterem, como Santo Agostinho, Santa Maria Egipcíaca e Santa Margarida de Cortona. Era devota do Arcanjo São Miguel, amava a contemplação da Paixão de Jesus Cristo, a Missa a levava às lágrimas, as imagens da Virgem Santíssima eram seu refúgio.
     Procurava toda ocasião para se humilhar. Às vezes ia ao refeitório com uma corda ao pescoço, ajoelhava-se diante das freiras, beijava-lhes os pés pedindo perdão pelos maus exemplos passados.
     Ela escreveu a uma religiosa: "Há 14 anos que eu mudei de vida. Durante esse tempo eu rezei algumas vezes quarenta horas seguidas, assisti todos os dias a várias missas, e me encontro ainda longe da perfeição. Quando poderei servir meu Deus como Ele merece? Reze por mim, minha amiga, para que o Senhor me dê ao menos a esperança".
     Embora se considerasse a mulher mais pecadora, a nomeiam subpriora e mestra de noviças. E a fama de suas virtudes propaga-se por toda a região. Deus recompensou sua fiel serva com dons extraordinários como o de profecia, milagres, conhecer os corações, ser instrumento de conversões e frequentes êxtases.
     A conversão de Francisco Pacini, célebre por seus desmandos, tornou-se famosa. Ouvindo falar dele, a Santa fez jejuns e orações por sua conversão. Convencido por um amigo convertido por Jacinta, Pacini vai ao convento falar com ela. No parlatório, diante daquela pobre freira, começou a tremer e à medida que ela falava, ele foi se transformando, caiu de joelhos e prometeu confessar-se.
     No domingo seguinte, o da Paixão, com os pés descalços e uma corda no pescoço, Pacini, no meio da Igreja pediu perdão a todos por seus crimes e escândalos. Mais tarde revestiu o hábito de peregrino e consagrou sua vida a Deus.
     Jacinta reformou muitos conventos com cartas escritas às superioras relaxadas, admoestando-as dos castigos que as ameaçavam. Por sugestão sua a Duquesa de Farnese e de Savella fundou dois mosteiros de clarissas, um em Farnese, outro em Roma.
     Ela se preocupava com as almas que se extraviavam no pecado e para sua recuperação fundou duas confrarias: a Companhia dos Sacconi, para atendimento material dos enfermos e para ajudá-los a morrer bem; e a Congregação dos Oblatos de Maria para incentivar a piedade, fazer obras de caridade e fomentar o apostolado dos leigos.
     Como não tinha voto de clausura, Jacinta ia visitar os pobres, levando-lhes sempre o auxílio espiritual, além do material. Em seu grande apreço pela nobreza dava assistência especialmente aos nobres empobrecidos e envergonhados.
     Santa Jacinta de Marescotti entregou sua bela alma a Deus em 30 de janeiro de 1640. Foi canonizada em 1807 pelo Papa Pio VII. É festejada no dia de seu nascimento para o Céu.
 
Fontes: Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo II, pp. 348 a 356 ; Manuel de Castro, O.F.M., Santa Jacinta de Marescotti, in Santoral Franciscano.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Santa Ângela Merici, Fundadora - Festejada 27 de janeiro

     Santa Ângela Merici viveu na época em que o tristemente célebre Martinho Lutero pregava a desobediência à Cátedra de Pedro e a rebelião contra a Igreja Católica. O Renascimento corroborava com os desmandos dos pseudo-reformistas. Deus suscitou então donzelas que levantariam o pendão da pureza e da virgindade numa época em que a corrupção era ostentada com despudor e petulância. Ângela foi a alma dessa verdadeira reforma dos costumes.
     Ângela Merici nasceu em 21 de março de 1470, num pequeno porto de pescadores na margem meridional do Lago de Garda (Norte da Itália) chamado Desenzano. Sua família era pobre, mas piedosa. De sua mãe sabe-se apenas seu nome de família, Biancosi, originária da cidade de Salò.
     Ela não freqüentou escolas. Seu pai reunia todas as noites os filhos e os servidores para as orações e para a leitura de alguma passagem piedosa. Ângela demonstrou desde cedo muita atração por tais leituras e decidiu seguir a via da santidade.
     O traço dominante de sua personalidade era uma extraordinária pureza. Desde a mais tenra idade dedicava-se a uma intensa mortificação, limitando-se apenas ao necessário. Jamais imaginou outro destino para sua vida do que a de permanecer virgem.
     Aos treze anos, ainda sob a ação das consolações que recebeu na sua Primeira Comunhão, uma grande provação a atingiu: o falecimento de seu pai, modelo de homem católico. Dois anos após, sua mãe também falecia.
     Ângela e sua irmã foram confiadas a um tio materno, em Salò. As duas jovens viviam em casa do tio num tal recolhimento, que eram conhecidas por todos pelo nome "as duas rolinhas de Salò". A profunda amizade que unia as duas irmãs durou pouco: a irmã também deixou esta terra.
Sua missão
     Tendo morrido seu tio, Ângela retornou à Desenzano com o intuito de consagrar-se à instrução religiosa da mocidade feminina.
     No ano de 1506, Deus lhe fez conhecer Seu desígnio sobre ela. Certo dia, quando trabalhava no campo, por volta do meio-dia separou-se um pouco das jovens que a acompanhavam para rezar sozinha entre as vinhas. Numa visão, foi-lhe apresentado um número incontável de virgens rodeadas de luz celeste, trazendo coroas na cabeça e lírios nas mãos, que subiam uma escada que ia da terra ao céu. Anjos, cujos instrumentos enchiam o ar de sons, acompanhavam as virgens, e os movimentos se fundiam numa espécie de apoteose da pureza sem mancha.
     Uma delas, que Ângela reconheceu como uma amiga falecida, se destacou dentre as companheiras e lhe disse: "Ângela, saiba que Deus te concedeu esta visão para indicar que, antes de morrer, tu deverás fundar em Bréscia uma sociedade de Virgens semelhantes a estas que vês; tal é a disposição da Providência a teu respeito".
     Ângela estava ainda em êxtase, quando suas jovens amigas a encontraram. Por inspiração divina, contou a elas a visão que tivera, bem como a missão que recebera de Deus. Tocadas pela graça, as jovens desejaram segui-la nessa via. Ela porem não conhecia Bréscia nem as pessoas que lá moravam, mas estava certa que a fundação se faria lá. Ela decidiu esperar a ocasião suscitada por Deus para isso.
     A espera prolongou-se por dez anos, durante os quais sua atividade apostólica se intensificou e se ampliou. Ângela tinha uma graça natural, uma suavidade sorridente, uma afabilidade constante que lhe bastavam para atrair os corações. Deus abençoou o seu apostolado: as famílias confiavam-lhe a educação das filhas e sua fama espalhou-se tão rapidamente, que ela era conhecida por toda região.
     Durante esses dez anosum núcleo de discípulos se formou em torno dela. Entre eles, Jerônimo Pentagola e sua esposa Catarina ocupavam lugar de destaque.
     Em 1516, os Pentagola perderam seus dois filhos, com breve intervalo entre os falecimentos. Como nada os pudesse consolar em sua imensa dor, pensaram em Ângela. Pediram-lhe então, com insistência, que lhes concedesse a graça de sua presença na casa onde moravam, em Bréscia.
     Foi assim que Ângela se dirigiu a Bréscia. A fama de sua santidade lá se difundiu tanto quanto em sua cidade natal ou em Salò.
Ciência infundida pelo Espírito Santo
     Devido à ação do Espírito Santo sobre a alma de Ângela, que ignorava as letras e as ciências humanas, de repente ela foi capaz de ler, não somente em italiano, mas também em latim; comentava a teologia, especialmente a teologia mística, de tal sorte que lia não apenas nos textos, mas nas próprias almas, que eram para ela como livros abertos.
     Em vista disso, aos visitantes habituais, as notabilidades e o bom povo de Bréscia, se juntaram caravanas de eruditos, teólogos, legistas, diretores de consciência e filósofos. Nem uma só vez, durante os minuciosos interrogatórios a que era submetida, Ângela caiu em erro. A ciência infusa daquela mulher humilde causava admiração em todos. A sua integridade doutrinária contrapunha-se aos erros de Lutero, que dividiam a Cristandade.
     A guerra entre o rei da França, Francisco I, e o futuro Imperador alemão, Carlos V, estendia-se por todas as províncias italianas do Norte. Em meio àqueles conflitos, Ângela se esmerou em opor ao sensualismo a pureza virginal, e à heresia uma dócil e total submissão à ortodoxia doutrinária.
Em Roma, com o Papa
     Por ocasião do ano jubilar de 1525, a Santa fez uma peregrinação a Roma. O Papa Clemente VII recebeu-a em audiência, tomou conhecimento da visão que ela tivera em 1506 e da missão que recebera de Deus. Ele examinou os seus projetos e, convencido da origem sobrenatural dessa missão, o Papa abençoou a sua obra.
     Pouco depois de seu regresso, foi obrigada a deixar novamente a cidade ameaçada de pilhagem em conseqüência das devastações que a guerra fazia em todo o norte da Itália. Parte então para Cremona como refugiada com seus amigos mais próximos. Durante o êxodo é sua força de alma que ergue os abatidos, animando-os e consolando a todos.
     Em Cremona também a procuram no lugar onde reside. O próprio duque Francesco Sforza, de Milão, também refugiado em Cremona, recebe de Ângela a direção espiritual iniciada pouco antes em Bréscia.
     Em 23 de dezembro de 1529, a paz é assinada em Cambrai e Carlos V é sagrado Imperador pelo Papa Clemente VII. Ângela pôde então voltar a Bréscia.
As companheiras da Santa Fundadora
A fundação
     É chegada a hora de cumprir o que lhe fora indicado na visão. Vinte e quatro anos haviam se passado (1506-1530). No ano de 1530, reuniu as doze moças que escolhera para serem o núcleo original da Companhia de Virgens que tinha por missão fundar.
     Ângela tinha em mente uma congregação totalmente diferente do que até então tinha havido: não procurou um lugar para instalar um convento para aí residir com suas religiosas, mas apenas um local onde elas pudessem reunir-se para receber uma orientação adequada e fazer certas orações em comum.
     Suas filhas espirituais continuariam a residir em suas próprias casas, no mundo, para ali serem exemplo eloqüente de uma virtude tipicamente contra-revolucionária: a pureza. Elas combateriam a dissolução dos costumes no próprio âmbito familiar e social; não seriam religiosas de clausura, mas deveriam praticar uma pureza ilibada e virginal, vencendo o mundo em seu próprio reduto.
     Embora a vigilância pela conservação dos bons costumes fosse a principal meta de sua obra, suas filhas trabalhariam também na instrução religiosa, na assistência aos pobres e enfermos. Mais tarde seu instituto tomaria a feição de Ordem religiosa, com clausura e votos. Mas o fim conservou-se o mesmo: a educação da mocidade. Foi o primeiro instituto religioso de ensino na Europa.
     Em 25 de novembro de 1535 já eram 27 as virgens reunidas em torno de Ângela. No ano seguinte ela submeteu a Regra da nova sociedade ao Cardeal Francesco Cornaro, bispo de Bréscia, que a aprovou em 8 de agosto de 1536.
     Ângela foi eleita Superiora Geral por unanimidade, apesar dos protestos de sua humildade. Ela fez entretanto duas exigências: a de não ser apontada como Fundadora, e a de colocar o novo Instituto sob o patrocínio de Santa Úrsula. Ela esperava assim ver seu nome desaparecer, substituído pelo da gloriosa padroeira, virgem e mártir.
     Até sua morte, ocorrida em 27 de janeiro de 1540, Ângela continuou a ser um modelo perfeito de santidade para suas filhas espirituais.
     Após ter indicado a Condessa Lucrécia Lodroni como sua sucessora e reunindo em torno de si as 150 virgens que formavam sua Companhia, entregou a alma ao Criador, não sem antes recomendar expressamente a suas filhas:
     "Obedecendo a vossas superioras é a mim mesmo que obedecereis; e, ao me obedecer, obedecereis a Jesus Cristo, cuja misericordiosa bondade me escolheu para ser, viva ou morta, a Mãe desta Companhia, ainda que, de mim mesma, fosse muito indigna disso".
     A notícia de seu falecimento espalhou-se rapidamente por toda a região e uma multidão participou de seu sepultamento, que se realizou no dia seguinte. Seus santos despojos foram sepultados na Igreja de Santa Afra. Nessa ocasião, durante três noites consecutivas apareceu no céu uma estrela de brilho extraordinário, cujos raios convergiam para o ponto onde estava o corpo.
     É interessante notar a similitude da obra de Ângela com a de Santo Inácio de Loyola: ambos fundaram Ordens com o nome de companhia. Assim como o nome Companhia de Jesus indicava seu caráter militante, o nome do instituto fundado por Santa Ângela indicava sua luta contra o sensualismo renascentista.
     Ela foi beatificada em 1768 e o Papa Pio VII a canonizou em 1807. É festejada a 27 de janeiro.
 
Fonte: G. Bernoville, Sainte Angèle Merici; Les Ursulines de France et l'Union Romaine, Bernard Grasset Éd., Paris, 1947.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Grã-Duquesa Maria Adelaide de Luxemburgo, falecida 24 de janeiro de 1924

    A Tragédia de Maria Adelaide 
por Diane Moczar

     O que se segue é um breve resumo da vida da Grã-Duquesa, que espero desenvolver mais plenamente quando fontes documentais estiverem disponíveis. 1
     Embora relatos resumidos do seu reinado sejam dados em várias histórias gerais do Luxemburgo, especialmente aquelas em francês, alemão e no idioma de Luxemburgo, a única biografia completa parece ser a de Marie Edith O'Shaughnessy, publicada em 1932 e há muito tempo fora de impressão. Infelizmente este trabalho quase não contém referências documentais precisas. A autora, já falecida, muitas vezes se baseia em relatos de testemunhas oculares, às vezes anônimos, de eventos chaves da vida de sua heroína, mas não documentados, e talvez ela própria tenha sido a confidente da Grã-duquesa. 2
     Maria Adelaide nasceu em 14 de junho de 1894 e morreu em 24 de janeiro de 1924; governou Luxemburgo de 1912 (quando ela atingiu a maioridade aos dezoito anos) até sua abdicação forçada em 1919. Após sua renúncia, ela vagou pela Europa buscando a paz espiritual, tentando primeiramente entrar em um convento de Carmelitas e depois nas Pequenas Irmãs dos Pobres, tendo falecido no exílio, aparentemente de uma doença contraída durante o trabalho com os pobres em Roma. Sobre estes poucos fatos todas as fontes concordam, mas não em muito mais.
Seus pais: William IV e a Maria Ana de Portugal
     Tão logo ela subiu ao trono em uma onda de popularidade – em dois séculos o primeiro soberano nascido em Luxemburgo – uma jovem mulher muito bonita e piedosa, a sua devoção à Igreja e aos seus deveres como uma governante católica lançaram-na em amarga controvérsia. Em um discurso no dia de sua coroação ela declarou: "... Vou ser fiel ao nobre lema da nossa antiga casa: Je maintiendrai". 3
     Na mente da Grã-Duquesa, "Je maintiendrai" significava promover o bem comum de seus súditos, incluindo a defesa de sua fé católica, em toda a extensão dos poderes concedidos ao soberano pela Constituição de Luxemburgo. Diz-se que ela havia observado a fé católica de seus súditos: "Eu não vou permitir que seu patrimônio mais precioso seja roubado, enquanto eu tiver a chave" 4  Logo ficou claro para todos, tanto nas palavras quanto nas ações da Grão-Duquesa, que ela levou a sério o lema de Sta. Joana d’Arc: “Dieu premier servi".
     Como a Imperatriz austríaca Maria Teresa, Maria Adelaide não tinha sido treinada por seu pai na política, fato ao qual ela mencionou em seu discurso de coroação. Ela foi, portanto, forçada a depender em grande medida dos conselhos dos ministros do governo, especialmente do Ministro de Estado, Paul Eyschen, que tinha sido uma grande influência política durante o reinado do pai de Maria Adelaide, e tinha exercido ainda maior poder durante a doença fatal do Grão-Duque e a regência de sua esposa de 1907 a 1912. Eyschen iria enfrentar uma incomum oposição a sua vontade por parte da nova jovem soberana.
     As primeiras escaramuças entre os dois ocorreram ao longo de nomeações de políticos radicais para cargos no governo. Comunismo, socialismo e anti-clericalismo foram ganhando força em Luxemburgo, seus patrocinadores usando retórica democrática para criar oposição à monarquia católica. Por outro lado, Maria Adelaide era excepcionalmente piedosa, comungava diariamente e era devota da espiritualidade carmelita, e estava determinada a manter a fé entre seu povo.
     Com esta finalidade, ela reviveu peregrinações e procissões do Santíssimo Sacramento que tinham sido descuidadas durante o reinado de seu pai protestante, e participou delas para deleite de seu povo. "Sua fé não deve ser menor, mas maior quando eu morrer", diz-se ter ela argumentado, e "Você conhece a história do meu povo. Suas orações têm sido muitas vezes o seu único pão. Devo oferecer-lhes a pedra da incredulidade?" 5
     Sua mais importante quebra com Eyschen veio com a proposta de redução da instrução religiosa nas escolas, que a Grã-Duquesa, em oposição aos desejos de seu primeiro ministro, recusou-se a assinar. 6 O impasse resultou que Eyschen preparou e assinou sua renúncia pouco antes do ataque cardíaco que provocou sua morte em 1915.
     A instabilidade de sucessivos ministérios e o crescimento do poder político da esquerda levaram Maria Adelaide a dissolver a Câmara e a convocar novas eleições, o que resultou em graves prejuízos para os partidos de esquerda, enquanto que os tornou mais determinados em derrotá-la. 7
     Embora a soberana tivesse o cuidado de se manter nos limites fixados pela Constituição, os seus inimigos (e os inimigos da Igreja) exploraram suas dificuldades políticas para agitar sentimentos contra ela. Além de ser acusada de ceder à influência clerical, ela foi acusada de intransigência e autoritarismo. 8  Cargas mais extravagantes logo estavam para vir.
     A existência de Luxemburgo como uma Nação tem sido muitas vezes precária, sendo cercado como é por seus vizinhos por vezes avarentos – Bélgica, França e Alemanha. Na sua forma atual, Luxemburgo é um ‘produto’ dos acordos do Congresso de Viena, especialmente o Tratado de Londres, em 1839. Outro Tratado de Londres em 1867 garantiu a neutralidade do novo Estado. 9
     A eclosão da I Guerra Mundial encontrou o país em uma posição perigosa, incapaz de se defender da invasão alemã por causa de seu status neutro. Quando em 2 de agosto de 1914 a Alemanha violou a neutralidade de Luxemburgo sob o pretexto de proteger as ferrovias, Maria Adelaide e seu governo emitiram protestos formais que não conseguiram impedir a ocupação militar do país.10
     Sob a orientação de sua governante e de seu governo, Luxemburgo e seu povo, agora atrás das linhas alemãs, sabiamente não tentou uma resistência temerária e vã contra o exército de ocupação, mas manteve a sua neutralidade durante a guerra. (Esta era para ser realizada contra eles pelos Aliados vitoriosos.)
     Maria Adelaide dedicou-se ao trabalho da Cruz Vermelha em Luxemburgo e cuidou dos soldados em ambas as frentes. Tensões políticas, no entanto, continuaram inabaláveis durante a guerra. Os esquerdistas cada vez mais hostis dentro de Luxemburgo aproveitaram todas as desculpas para desacreditar sua adversária real.
     Maria Adelaide era de sangue alemão, havia concordado com o noivado de sua irmã com um príncipe alemão; ela foi ao funeral de um parente idoso na Alemanha; ela havia recebido o Kaiser em seu palácio (na verdade, ela só soubera de sua visita quando ele já estava a caminho), e aparentemente concordou, a conselho de seu primeiro ministro e contra seu melhor juízo, em receber o comandante alemão quando ele entrou no país. 11
     A Bélgica, entretanto, vinha conduzindo uma campanha diplomática e de propaganda na tentativa de anexação do Ducado uma vez que a guerra terminasse. 12 Mesmo alguns dos inimigos políticos domésticos de Maria Adelaide apoiaram a reivindicação belga, em seu ódio a sua soberana. A atitude ambígua dos Aliados depois do armistício tornou a posição da Grã-Duquesa mais e mais insustentável.
     A ideologia democrática era muito mais favorável ao estabelecimento da república em todos os lugares em vez da manutenção da monarquia. Além disso, a percepção de ser a Grã-Duquesa "pró-alemães" tornou-a impopular a ponto de o governo francês declarar, em dezembro de 1918, a um representante do governo de Maria Adelaide que "O governo francês considera que não é possível manter contato ou negociação com o governo da Grã-Duquesa de Luxemburgo, a quem considera [ter sido] gravemente comprometida com os inimigos da França". 13
     A luta política das próximas semanas envolveu todas as partes. Em Luxemburgo os defensores da dinastia real perceberam que a causa de Maria Adelaide estava perdida e favoreceram sua abdicação e a ascensão de sua irmã Carlota, embora os esquerdistas continuassem a exigir uma república.
A Grã-Duquesa em seu leito de morte
     A Bélgica parecia considerar uma república como potencialmente mais favorável ao seu objetivo de anexação, enquanto a França começou a ver na existência da monarquia um baluarte contra as pretensões belgas. 14
     No final, Maria Adelaide se curvou à pressão intensa, abdicando em favor de sua irmã. Carlota e seus sucessores, porém, não exerceriam o poder político e a autoridade anteriormente concedida ao soberano pela Constituição. Com a alteração do artigo 32 da Constituição de Luxemburgo, a soberania já não reside na pessoa do soberano, mas na Nação. O governante "não tem outros poderes além dos formalmente atribuídos a ele pela Constituição e leis específicas..." 15
     Como Denis Scuto coloca, "A fórmula 'pela graça de Deus' é esvaziada do seu verdadeiro significado", e a dinastia recebe seu direito ao trono do povo. “... além da pessoa de Maria Adelaide, toda uma concepção da monarquia, ultrapassada pelos acontecimentos nacionais e internacionais, concordou em abdicar. Com Maria Adelaide, Grã-Duquesa de 1912 a 1919, a figura do monarca exercendo plenamente as prerrogativas constitucionais e intervindo nos debates políticos desapareceu". 16
     A luta de uma jovem princesa em um pequeno país pode assim ser vista como um microcosmo dos épicos conflitos políticos e espirituais que têm afligido todas as nações da Europa desde a Pseudo-Reforma Protestante.
     Está além da finalidade deste artigo seguir Maria Adelaide na odisséia espiritual que preencheu o restante de sua curta vida. Ela sofreu intensamente sob a cruz do exílio, da doença, e de um sentimento de fracasso na vida religiosa, onde ela tinha a esperança de encontrar a paz, uma paz que só veio finalmente com a sua santa morte, quando ainda no exílio.
     Em certo sentido ela foi destruída pela ideologia moderna que diviniza o homem e a democracia e odeia a Igreja Católica. A tragédia de Maria Adelaide foi que ela tentou ser, como Carlos d’ Áustria, um monarca católico no século XX.

Notas:
1 Muitos documentos importantes sobre a vida de Marie Adelaide permanecem nos arquivos pessoais da família real de Luxemburgo. O arquivista que deve catalogá-los ainda não entraram os papéis do século XX entrevista [com M. Guy de Maio, Luxemburgo National Archives, 19 de maio de 1992].
2 Eu estou muito interessada em ouvir alguém que possa ter informações sobre Edith O'Shaughnessy ou seus descendentes.
3 Jean Schoos, "Vor 50 Jahren, Dokumentation zur Regierung und Abdankung Ikh der Grossherzogin Marie-Adelheid ", em Marienkaldender Lumemburger, não. 88 (1969), p. 78.
4 Edith O'Shaughnessy, “Maria Adelaide, Grã-duquesa de Luxemburgo, Duquesa de Nassau” (New York: 1932), pp 134-135.
5 Ibid.
6 Christian Calmes, "Maria Adelaide (1894-1924), Grã-Duquesa de Luxemburgo de 1012 a 1919", em De l'Etat a la Nation 1839-1989 (Luxemburgo, 1989), p. 93.
7 Ibid.
8 Schoos, "Vor 50 Jahren", pp 79-80.
9 Gilbert Trausch, De l'Etat a la Nation (Luxemburgo, 1989), p. 13.
10 Denis Scuto, "1919: Quel avenir pour la Monarchie?" Em Tageblatt, 11 de novembro de 1989, p. 5.
11 O'Shaughnessy, p. 155.
12 Gilbert Trausch, "A adesão ao Trono da Grã-Duquesa Carlota em Janeiro 1919 na sua significação histórica" em Hemecht-Revue d'Histoire Luxembourgeoise, 31 (1979), pp 153 e ss.
13 Scuto, loc. cit.
14 Ver a discussão dessas posições em Trausch "L'adesão".
15 Citado em Scuto, loc. cit.
16 Ibid.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Beata Maria Poussepin, Fundadora - Festa 24 de janeiro


     Procedente de uma antiga família de notáveis parisienses (procuradores, conselheiros, secretários do rei, etc.) remontando ao século XV, Maria Poussepin nasceu no dia 14 de outubro de 1653 em Dourdan, perto de Paris (França).
     Seus pais Cláudio Poussepin e Juliana Fourrier formavam um casal de sólidas convicções religiosas que transmitiram a seus sete filhos, dos quais somente dois, Maria e Cláudio, chegaram a idade adulta. Era uma família relativamente abastada, mas o pai acabou na falência.
      Maria era a mais velha e ainda jovem teve que retomar a empresa de fabrico de meias de seda de seu pai não só para prover às necessidades da sua família, mas também para a economia da aldeia. Nessa época a miséria era muito grande: as colheitas eram más, as doenças e as guerras frequentes deixavam a população num estado dramático.
     Em 1685, o ateliê Poussepin era o único na França a fazer das meias uma profissão, e formar gerações de aprendizes. Em 1702, Dourdan, graças ao zelo da Srta. Poussepin, era a segunda cidade da França na fabricação de meias.
     Como diretora da empresa, Maria introduziu novas máquinas e contratou jovens entre 15 e 22 anos, e fixou uma produção semanal mínima, quatro pares de meias não pagas. Mas, tudo que o aprendiz fazia a mais era largamente remunerado. Desta forma suprimia a necessidade destes pagarem um direito de formação à aprendizagem ao mestre de estágio. Esta prática muito inovadora permitiu oferecer às jovens pobres, aos órfãos, etc., a possibilidade de adquirir um ofício. Ela criava empregos de modo a permitir que estes jovens saíssem da miséria por eles mesmos.
     Além de sua responsabilidade de chefe de empresa, Marie Poussepin dedicava-se às obras de caridade da sua cidade como membro da Associação Internacional da Caridade AIC. Mas pouco a pouco foi transmitindo as responsabilidades da empresa para seu irmão para se dedicar mais a caridade.
     Em 1692 o Pe. François Mespolié, dominicano, visita Dourdan e por meio dele Maria conhece a Ordem de São Domingos e encontra nela as respostas para seus desejos de uma vida espiritual mais intensa. Assim, a partir de 1693 passou a pertencer a Ordem Terceira Dominicana. Nestes grupos, Maria tornou-se logo a responsável, pelo zelo que mostrava em visitar os doentes, as viúvas, os mendigos. Estas obras apresentam as duas vertentes da sua caridade: a economia e a compaixão.
     No início de 1696, Maria deixa Dourdan e se instala em Sainville, uma aldeia muito pobre, após ter-se comovido com a miséria das áreas rurais e em especial pelo estado das órfãs, das viúvas, das mulheres doentes e pela condição da mulher pobre da sua época.
     Maria Poussepin fundou ali uma comunidade dominicana à qual deu todos os bens pessoais. Esta obra instalada na pequena Sainville é uma inovação: tratava-se de viverem juntas, de acordo com os costumes dominicanos, mas sem clausura, para poder irradiar a caridade; propunha-se assim a um desafio: lutar contra a miséria e viver plenamente a vida religiosa.
     Em Sainville, Maria organizou uma pequena escola para as jovens. A comunidade aumentou e rapidamente outras comunidades foram criadas, sempre a serviço dos mais pobres, dos doentes, das órfãs. Durante a vida de Maria cerca de vinte comunidades existiam na região parisiense e também em Chartres.
     Contudo, o Bispo de Chartres colocou uma condição para reconhecer a Congregação fundada por Maria: exigiu que as Irmãs renunciassem a qualquer relação com os dominicanos. Maria teve que obedecê-lo; as relações serão restabelecidas apenas no fim do século XIX e institucionalmente no meio do século XX.
     Maria Poussepin instituiu uma Congregação original, as Irmãs de Caridade Dominicanas da Apresentação de Tours, onde as Irmãs atuam gratuitamente a serviço dos pobres e, além disso, devem ganhar a vida (na época da fundação, trabalho de tecelagem). Coloca o exercício da caridade no centro da vida religiosa e o trabalho um meio para viver a pobreza religiosa. Maria dava um lugar proeminente ao trabalho como verdadeira ascese e compromisso fraternal para atingir os objetivos da Congregação.
     A Beata faleceu no convento de Sainville, o primeiro que se construiu, no dia 24 de janeiro de 1744.
     Maria foi beatificada em 1994 pelo Papa João Paulo II.

A Congregação em 2011
     A Revolução Francesa espalhou a comunidade. Os despojos de Maria só foram localizados em 1857, sob a laje funerária rompida. Depois, outras casas das Irmãs da Apresentação foram criadas na Itália, na Inglaterra, no Chile, em Israel, no Peru, em Curaçao, na Colômbia, na Costa do Marfim em 1987 e em Camarões em 1988.
     Em 15 de dezembro de 1959, a Congregação foi «agregada» à Ordem Dominicana.
     Em 2011, a Congregação reúne cerca de quatro mil Irmãs por todo o mundo dedicadas ao ensino e à medicina.
     Na França, as Irmãs estão presentes em 23 cidades; a casa provincial fica em Paris.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Beata Josefa de Sta. Inês, a Açucena de Benigànim - Festa 21 de janeiro

     Josefa Teresa nasceu em Benigànim (Valência, Espanha) em 9 de janeiro de 1625, filha de Luis Albyñana e de Vicenta Gomar, pais muito modestos de bens da terra, em uma pobre casa da Rua de São Miguel.
     Seguindo louvável costume da época foi batizada no mesmo dia. A venerada igreja paroquial de Benigànim, hoje do Puríssimo Sangue de Cristo, teve a honra de ser o local do batismo de Josefa Teresa; onde também, oito anos mais tarde, foi crismada, em 24 de agosto de 1633. Pouco tempo depois ela recebeu sua Primeira Comunhão na mesma venerada igreja.
     Entregue ao cultivo de sua angelical pureza, Josefa passou a infância e a adolescência. Era analfabeta, e não aprendeu outra língua além do valenciano. Ficou órfã de pai quando era ainda muito jovem e teve que empregar-se na casa de seu tio Bartolomeu Tudela, de quem suportou maus tratos. Na mansão dos Cuquerella, com o seu horto anexo, foi onde a jovem travou suas primeiras batalhas contra o demônio e recebeu do Senhor dons celestiais de consolação e familiaridade.
     Ao deixar a casa de seu tio Bartolomeu, o perfume dos milagres ali ocorridos permaneceu, pois no horto, entre as árvores frutíferas, as plantas e as flores, Josefa passava o dia trabalhando, e era onde Jesus gostava de se manifestar a ela. Enquanto lavava a roupa, o Menino Jesus lhe aparecia; ela era uma hábil lavadeira, deixava as roupas tão brancas quanto sua alma angelical.
    No horto há também uma árvore plantada por Josefa. Ela havia plantado, por desconhecer os segredos do plantio, um ramo de laranja, mas com as folhas no chão, ao invés do caule. Mesmo assim, os peregrinos ainda hoje podem ver os belos frutos da árvore plantada por ela.
     Superadas algumas dificuldades, como irmã leiga ingressou no mosteiro das Agostinianas Descalças da Puríssima Concepção e São José, em sua terra natal, em 25 de outubro de 1643. Este convento pertencia à observância descalça, fundada dentro da Ordem pelo Arcebispo de Valência, São João de Ribeira, em 1597. Na Ordem chamou-se Josefa Maria de Santa Inês, por devoção àquela virgem mártir. Comumente era chamada Madre Inês.
     Em 27 de agosto de 1645 professou e em 18 de novembro de 1663 o Arcebispo D. Martín de Ontiveros a tornou corista.
     Desempenhou trabalhos como irmã leiga, dedicada aos trabalhos domésticos. Destacou-se por sua espiritualidade, extrema obediência ao realizar os serviços na cozinha ou no jardim, entre outros. Por causa de sua inocência, era chamada carinhosamente "la niña".
     Simples, humilde, entregue infatigavelmente aos trabalhos e serviços da comunidade, era um espírito de eminente contemplação. De medíocres qualidades intelectuais, analfabeta, seu dom de conselho e seus conhecimentos teológicos causavam admiração. Seus êxtases surpreendiam a todos.
     Por causa disso, e também pelo extraordinário dom do discernimento, seu conselho era procurado pelas pessoas mais importantes e mais influentes da Espanha.
     Outras características da Irmã Josefa foram: sua penitência assombrosa, que dedicava à conversão dos pecadores; sua caridade inesgotável para com as almas do Purgatório; e seu dom de oração e contemplação, que a mantinham em constante arroubamento das potências naturais, e que pela força de seu espírito arrebatava do solo sua leve carga corporal, que se mantinha no ar, cravados os olhos no céu. Sua vida foi toda ela um milagre do sobrenatural e uma confidência continua com seu esposo divino, que lhe aparecia e falava com invejável familiaridade.
     A Beata Josefa morreu no dia 21 de janeiro de 1696, na festa de sua patrona, Santa Inês, aos 71 anos de idade e 52 de profissão religiosa.
     Foi beatificada por Leão XIII em 26 de fevereiro de 1888. Seu confessor, Frei Filipe Benevento, pároco de Benigánim, escreveu sua biografia autorizada. Seus restos mortais estiveram conservados no convento das Agostinianas Descalças de Benigánim até o ano de 1936, quando desapareceram.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Beata Regina Protmann, Fundadora - Festa 18 de janeiro

     Regina era filha de Peter Protmann e Regina Tingels, ambos descendentes de famílias ricas e católicas. Nasceu em 1552, na cidade de Braunsberg, hoje Braniewo, Polônia. Seu primeiro biógrafo, o jesuíta Engelbert Keilert, descreveu-a como elegante, forte, hábil; sabia ler e escrever. Seu tio era um dos membros do governo.
     No século em que Regina viveu a Europa passava por intensas e tumultuadas mudanças: os movimentos da Pseudo-Reforma Protestante e da Contra-Reforma da Igreja Católica. Foi o grande cisma que incluiu luta armada e dividiu a Cristandade entre católicos e protestantes.
     Os pais proporcionaram uma boa educação intelectual, moral e religiosa à jovem. Era hábito da família se reunir à noite junto da lareira, onde o pai narrava a história dos povos, a vida dos Santos e ensinava religião aos filhos.
     Regina era uma filha amorosa e obediente. Da vida dos Santos narrada por seu pai, era a de Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir dos primeiros tempos, a que Regina mais gostava, talvez porque esta Santa fosse padroeira de sua cidade e por ter sido batizada na Igreja dedicada a ela. Assim, no seu íntimo, havia decidido imitar a Santa em sua total adesão a Jesus.
     Regina cresceu bonita, vaidosa e inteligente, apreciando as roupas elegantes, as diversões e festas, como todas as jovens de sua condição social. Graças à sua liderança, se sobressaia às demais amigas.
     O forte chamado ocorreu aos 19 anos de idade. Regina deixou o conforto da casa paterna, renunciou a um vantajoso casamento e com duas companheiras foi morar numa casa quase em ruínas, à Rua da Matriz, para viver na oração, na penitência, na pobreza, e servir a Deus no próximo: os doentes, os pobres e as meninas abandonadas, carentes de instrução.
     Isto atraiu muitas jovens desejosas de seguir a vida religiosa como ela. Regina criou escolas e com suas companheiras começou a tratar dos doentes em seus domicílios e em hospitais.
     Após 12 anos de vida em comum, auxiliada pelos Padres Jesuítas, Regina elaborou uma Regra de vida para uma família religiosa contemplativa e ativa, algo inédito para aquele tempo, colocada sob a proteção de Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir, a qual foi aprovada pelo Bispo Martinho Kromer, em 18 de março de 1583.
     Uns vinte anos mais tarde, de acordo com as necessidades e as orientações do Concílio de Trento, a primeira Regra foi reformulada e recebeu aprovação pontifícia em 12 de março de1602, e sua obra passou a chamar-se Congregação de Santa Catarina V. e M. A fundadora foi eleita Superiora.
     Além do Convento de Braniewo, Madre Regina fundou mais conventos em localidades vizinhas: Orneta, em 1586; Lidzbark, em 1587 e Reszel, em 1593.
     Depois de 30 anos trabalhando pela expansão de sua obra, Madre Regina retornou doente ao seu primeiro convento de Braunsberg, após uma viagem realizada no inverno. Uma longa e sofrida doença causou seu falecimento no dia 18 de janeiro de 1613.


Braunsberg no séc. XVII

     Somente três séculos após sua morte, em 1957, foi iniciado o processo para a sua beatificação. Foi beatificada durante a visita de João Paulo II à Polônia em 1999, na cidade de Varsóvia. A Beata Madre Regina Protmann é festejada por toda a Cristandade no dia de sua morte.
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     Nos dois primeiros séculos após a morte da Fundadora, a Congregação quase não se expandiu. Subsistiu em meio a tempos difíceis para aquela região: guerras, saques, perseguições, carestia, epidemias e conflitos de toda sorte sucediam-se, deixando trágicas consequências.
     Em 1645 foi fundado mais um Convento em Krakes, na Lituânia. Também lá, as sucessivas tempestades dos séculos seguintes, até nossos dias, não conseguiram aniquilar o frágil rebento.
     Além do cuidado dos doentes, dos pobres e dos órfãos, as Irmãs sempre se dedicaram à formação da juventude feminina. Em 1709, uma peste avassaladora caiu sobre aquela região. Várias Irmãs pereceram vítimas do cuidado aos doentes contagiados.
     Por ocasião do surgimento do iluminismo e do absolutismo, as ordens religiosas sofreram repressões políticas, desde o confisco de bens, proibição de admitir novos membros, até a completa supressão. As Irmãs de Santa Catarina gozaram de certa proteção por se dedicarem ao ensino. Estes conflitos causaram grande pobreza e divisão interna entre elas, de modo que a Congregação quase desapareceu.
     Os bispos do Ermland deram apoio e proteção à Congregação através dos tempos, chegando mesmo a intervir nela com medidas disciplinares.
     O início do século XIX viu nascer na Igreja muitas novas congregações religiosas de cunho apostólico e missionário. Nesse tempo, com o auxílio de alguns bispos e dos Padres Jesuítas a Congregação passou por uma verdadeira nova fundação e expansão, sob a liderança das superioras gerais Rosa Schrade e Apolônia Sthurmann.
     Uma cidade após outra foi solicitando a colaboração das Irmãs e assim foram fundadas muitas outras casas religiosas das Irmãs de Santa Catarina, primeiramente nas proximidades da região onde foi fundada e depois até em outros países.
Memorial da Beata na Polônia
     Além dos serviços domésticos, dedicavam-se aos serviços das Igrejas, à educação das crianças e jovens e ao tratamento dos doentes. Para este fim, fundaram Escolas e Hospitais, exercendo forte influência cultural no desenvolvimento das localidades onde viviam e atuavam.
     Em 1897, atendendo à solicitação dos frades franciscanos de Petrópolis, RJ, chegaram ao Brasil. Em 1901 foi fundada uma comunidade na Inglaterra, onde ficaram alguns anos. Em 1908 chegaram a Berlim, desenvolvendo sempre os mesmos serviços assistenciais e religiosos.
     Na Segunda Guerra mundial a Congregação sofreu um golpe terrível justamente naquela região, o norte da Alemanha, onde foi fundada e estava muito florescente. Mais de cem Irmãs foram mortas, e as outras, quase todas, tiveram que fugir. Após a Guerra, aos poucos foram se reencontrando e se reorganizando na Alemanha Ocidental. O pequeno grupo que ficou na parte oriental também subsistiu e continuou a crescer ainda que clandestinamente, sob um regime político que tolhia a liberdade religiosa.
     Divididos os territórios em decorrência da mesma Guerra, Braunsberg, cidade que foi o berço da Congregação, passou a pertencer à Polônia. Em 1951, a sede da Congregação se estabeleceu em Roma.
     Presença da Congregação das Irmãs de Santa Catarina no mundo: Brasil, Itália, Togo, Camarões, Benin, Filipinas, Polônia, Rússia, Alemanha, Lituânia e Bielo-Rússia. São hoje cerca de 650 Irmãs distribuídas em cinco províncias.