quinta-feira, 30 de maio de 2013

Beata Marta Maria Wiecka, Irmã vicentina - 30 de maio

     Marta Maria nasceu no dia 12 de janeiro de 1874, em Nowy Wiec no noroeste da Polônia. Foi batizada seis dias depois. Era a terceira de 13 filhos de Marcelino e Paulina. Seus pais, donos de um campo de cem hectares, viviam num ambiente de fé profunda. Na casa de Marta se rezava o Rosário em família todos os dias, se liam as biografias dos santos ou outros livros religiosos.
     O Estado polonês havia desaparecido do mapa da Europa no ano 1795, depois das três repartições sucessivas de seu território entre Áustria, Prússia e Rússia. Nowy Wiec se encontrava na região prussiana cujas autoridades, aplicando métodos impositivos e as vezes brutais, submetiam a população a uma germanização forçada. A família Wiecka e muitas outras constituíram a base da oposição diante da invasão germânica.
      Na idade de dois anos Marta ficou gravemente doente, esteve às portas da morte. Sua melhora radical foi consequência de uma oração insistente a Virgem em seu santuário de Piaseczno. A família interpretou este fato como um milagre, e incentivou Marta a manter sempre uma relação filial com a Santíssima Virgem. Ela mesma afirmava que recorria à Virgem em todas suas necessidades e Maria jamais lhe havia negado nada do que pedia.
     Desde sua infância, Marta ajudava em casa quanto podia. Os vizinhos testemunharam que era uma menina piedosa, amável e humilde de coração, de carácter reto; sobretudo, irradiava serenidade e alegria. Sua família e seus vizinhos conheciam também sua profunda devoção a São João Nepomuceno. Quando pequena, encontrou uma imagem deste santo e organizou sua restauração, depois a imagem foi colocada em frente de sua casa. Muitas vezes podiam vê-la rezando diante desta imagem, e toda vida conservou a devoção a este santo.
     Aos 12 anos, no dia 3 de outubro de 1886, recebeu a Primeira Comunhão. A partir desta data, sua união com Jesus Cristo Eucaristia se fortaleceu e sua vida de oração se centrou totalmente nEle. Quando podia, se dirigia à igreja paroquial, a 12 quilômetros de Nowy Wiec, para assistir a Santa Missa. Em sua casa dedicava frequentemente seu tempo à oração. Quando sua mãe adoeceu, substituiu-a em alguns trabalhos da casa, sobretudo no cuidado dos irmãos menores.
     Aos dezesseis anos pediu para ingressar na Companhia das Filhas da Caridade. A visitadora a fez esperar dois anos, até alcançar a idade exigida. Em 1892, aos 18 anos solicitou de novo com sua amiga Mônica Gdaniec, porém não foi admitida em Chelmno porque havia excesso de postulantes – o número de admissões estava restringido pelas autoridades prussianas.
     As amigas viajaram para Cracóvia, que estava então sob o domínio austríaco, e ali, no dia 26 de abril de 1892, foram admitidas no postulantado.
     Depois da tomada de hábito, em 21 de abril de 1893, Irmã Marta foi destinada ao Hospital geral de Lvov, que ficava na parte austríaca e pertencia à província de Cracóvia. A estada em Lvov durou um ano e meio. Foi então trasladada ao pequeno hospital de Podhajce, onde por cinco anos deu prova de devoção e carinho no cuidado dos doentes. Neste hospital emitiu os primeiros votos em 15 de agosto de 1897, ratificando sua entrega total a Deus para servi-Lo nos mais pobres.
     Em 1899, foi destinada ao hospital de Bochnia, cidade perto de Cracóvia. Nessa época Irmã Marta teve uma visão da cruz, da qual lhe falou Nosso Senhor animando-a a suportar todas as contrariedades e prometeu levá-la logo com Ele. Este acontecimento despertou nela um zelo ainda mais intenso em seu trabalho e um forte desejo do céu.
     A prova anunciada não tardou a chegar. Um homem desmoralizado, ao sair do hospital divulgou pela cidade uma calúnia sobre Irmã Marta. A partir de então caiu sobre ela uma onda de afrontas maliciosas da parte dos habitantes da cidade. Ela não deixou de cumprir seus deveres com a caridade de sempre. Apesar de sofrer perseguição moral, suportava esta calúnia em silêncio abandonando-se nas mãos de Deus.
     Em 1902 foi destinada ao hospital de Sniatyn (hoje na Ucrânia). O pároco do lugar logo se deu conta da profundidade espiritual de Irmã Marta e de seu dom de discernimento das almas. E começou a enviar para ela as pessoas que não necessitavam cuidados de enfermaria, mas de conselhos e direção espiritual. Irmã Marta não se limitava a esta tarefa: socorria e servia com fervor a todos os necessitados.
     Amava muito sua vocação e irradiava alegria e satisfação em sua entrega aos pobres. Sabia estabelecer empatia com seus pacientes aliviando seus sofrimentos físicos e morais. De forma discreta os ajudava na preparação para a confissão, os instruía sobre a doutrina, os ajudava a resolver seus problemas em coerência com sua visão católica da vida. Habitualmente 40 doentes a acompanhavam na recitação a Via Sacra na capela.
     Tinha um dom especial para reconciliar as almas com Deus. Em seu departamento ninguém morria sem se confessar e vários pacientes judeus pediram para serem batizados.
     Em 1904, consciente do perigo que isto acarretava, se ofereceu para substituir um empregado do hospital na desinfecção de uma habitação onde havia morrido uma doente de tifo. Irmã Marta realizou este trabalho de bom grado. E o fez para que o empregado não se contagiasse, pois este com seu trabalho sustentava mulher e filho.
     Irmã Marta logo sentiu que a febre a atingia. No hospital foi feito todo o possível para curá-la. A estes esforços se juntaram a oração contínua dos pacientes e empregados do hospital e de pessoas boas de toda a cidade. Um grande número de pessoas esperava em frente do hospital por notícias sobre sua saúde.
     Depois de receber o Santo Viático, Irmã Marta permaneceu em intensa e profunda oração, considerada pelas testemunhas como um verdadeiro êxtase. Morreu serenamente, em Sniatyn, no dia 30 de maio de 1904.
     Os fieis do lugar cuidaram e veneraram o túmulo de Irmã Marta. Por mais de cem anos tem permanecido continuamente coberto de flores, velas e uma espécie de tapete bordado, muito tradicional nessa região. Mesmo nos anos do regime soviético recorriam a ela e assim continuam fazendo na atualidade os peregrinos e os habitantes do lugar.
     Irmã Marta Maria foi beatificada em Lviv, Ucrânia, no dia 24 de maio de 2008.

Fonte:  http://somos.vicencianos.org/blog/2011/05/30/album-de-fotos-de-marta-wiecka/

terça-feira, 28 de maio de 2013

Beata Maria Bartolomea Bagnesi, Dominicana - 28 de maio

     Maria Bartolomea, de uma nobre família florentina, nasceu em 1514 e foi um lírio magnifico que cresceu entre agudos espinhos. Ela desejou ser toda de Jesus desde a mais tenra idade e dizia isto com um entusiasmo infantil. Se seus familiares por acaso respondiam com uma negação, ela ficava inconsolável e chorava.
     Tendo ficado sem mãe muito cedo, era o anjo do ambiente doméstico, que logo ficou sob sua direção, o que fazia com uma rara aptidão. O pai a via crescer bela e gentil e pressagiava um róseo porvir para ela.
     Muito jovens nobres, atraídos pelo seu suave encanto, a desejaram como esposa. O pai falou com a filha sobre isto, dizendo que para ele não se tratava de escolher, porque ele não desejava outra coisa senão vê-la feliz. Mas, Maria sente um frêmito estranho e todos os seus membros pareceram se deslocar. Levada para seu leito, começou para ela um martírio que durou 45 anos: golpeada por uma grave e misteriosa doença, que se intensificada a cada sexta-feira, na Semana Santa e em várias outras solenidades litúrgicas, ela tudo suportou com fé e paciência.
     Aos 33 anos, teve uma trégua milagrosa de seus males físicos e pode receber o hábito de Terceira da Ordem Dominicana, que ela tanto desejara. Aos sofrimentos físicos se juntaram calúnias dos homens e assaltos do demônio, mas nada podia abater a sua paciência.
     O seu leito foi uma cátedra e com seus exemplos, suas palavras, suas cartas ela se tornou luz de vida para muitas almas.
     A Beata faleceu no dia 28 de maio de 1577. Foi sepultada no Mosteiro Carmelita de Santa Maria dos Anjos de Florença, onde ainda seu corpo incorrupto pode ser venerado.
     Anos mais tarde, Santa Maria Madalena de Pazzi entraria naquele mosteiro e seria milagrosamente curada por sua intercessão.
     Seu culto foi aprovado pelo Papa Pio VII em 11 de julho de 1804.

sábado, 25 de maio de 2013

Beata Janete (Giannetta), Vidente de Caravaggio - 26 de maio

A Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio
     O município de Caravaggio, terra da aparição, se encontrava nos limites dos estados de Milão e Veneza e na divisa de três dioceses: Cremona, Milão e Bergamo. Ano de 1432, época marcada por divisões políticas e religiosas. Além disso, teatro da segunda guerra entre a República de Veneza e o Ducado de Milão, passou para o poder dos venezianos em 1431. Pouco antes da aparição, em 1432, uma batalha entre os dois estados assustou o país.
     Neste cenário de desolação, às 17 horas da segunda-feira, 26 de maio de 1432, Nossa Senhora aparece a uma camponesa. A história conta que a mulher, de 32 anos, era tida como piedosa e sofredora. A causa era o marido, Francisco Varoli, um ex-soldado conhecido pelo mau caráter e por bater na esposa. Maltratada e humilhada, Janete Varoli (Giannetta, em italiano) colhia pasto em um prado próximo, chamado Mezzolengo, distante 2 km de Caravaggio.
     Entre lágrimas e orações, Janete avistou uma senhora que na sua descrição parecia uma rainha, mas que se mostrava cheia de bondade. Dizia-lhe que não tivesse medo, mandou que se ajoelhasse para receber uma grande mensagem. A senhora anuncia-se como “Nossa Senhora” e diz: “Tenho conseguido afastar do povo cristão os merecidos e iminentes castigos da Divina Justiça, e venho anunciar a Paz”.
     Nossa Senhora de Caravaggio pede ao povo que volte a fazer penitência, jejue nas sextas-feiras e vá orar na igreja no sábado à tarde em agradecimento pelos castigos afastados e pede que lhe seja erguida uma capela. Como sinal da origem divina da aparição e das graças que ali seriam dispensadas, ao lado de onde estavam seus pés, brota uma fonte de água límpida e abundante, existente até os dias de hoje, e nela muitos doentes recuperam a saúde.
     Janete, na condição de porta-voz, leva ao povo e aos governantes o recado da Virgem Maria para solicitar-lhes – em nome de Nossa Senhora – os acordos de paz. Apresenta-se a Marcos Secco, senhor de Caravaggio, ao Duque Felipi Maria Visconti, senhor de Milão, ao imperador do Oriente, João Paleólogo, no sentido de unir a igreja dos gregos com o Papa de Roma. Em suas visitas, levava ânforas de água da fonte sagrada, que resultavam em curas extraordinárias, prova de veracidade da aparição. Os efeitos da mensagem de paz logo apareceram. A paz aconteceu na pátria e na própria Igreja.
     Até mesmo Francisco melhorou nas suas atitudes para com a esposa. Sobre ela, após cumprida a missão de dar a mensagem de Maria ao povo, aos estados em guerra e à própria Igreja Católica, os historiadores pouco ou nada falam. Por alguns anos foi visitada a casa onde ela morou que, com o tempo desapareceu no anonimato.
A Vidente
     Sua figura emerge da luz sóbria de um documento notarial escrito em pergaminho existente no Santuário e transcrito nas atas da visita pastoral (27 de abril de 1599) do Bispo Speciano.
     Janete, de 32 anos, é filha de Pedro Vacchi, casada com Francisco Varoli. Todos conhecem "seus virtuosos costumes, a sua piedade, sua vida sinceramente honesta".
     Na primeira história publicada em 1599, de Paulo Morigi, se fala da ida de Janete à Constantinopla. Mais recentemente, João Castelli (1932) e o Arcebispo Natal Mosconi (1962) levantaram a hipótese de um encontro entre Janete e o Imperador João VIII Paleólogo em Florença, ou em Veneza, ou em Ferrara, por ocasião da chegada à Itália do governante bizantino para o Conselho de Ferrara-Florença (1438-1439).
     Esta viagem para o Oriente, acompanhada de personagens marcantes nos anos seguintes à aparição não é tão improvável. Havia uma estreita relação entre a corte italiana e o imperador bizantino, que se casou com a princesa italiana Sofia, da dinastia Monferrato-Paleólogo. As viagens de negócios e de peregrinação para Constantinopla via Veneza ou Gênova eram comuns; o embarque dos peregrinos tinha como objetivo final a Terra Santa e desde o século XV alguns habitantes de Caravaggio seguiam para a corte imperial do Oriente por razões diplomáticas ou militares.
     Eram os anos de preparação para a celebração do Concílio de Ferrara-Florença e é espontânea a conexão entre a aparição de Caravaggio, a viagem de Janete à Constantinopla e o decreto de união entre os gregos e os latinos sancionado em 6 de julho de 1439.
     Sabendo que o Duque de Milão queria conhecê-la, Janete passou a noite em oração e, diz Paulo Morigi: ... perto do alvorecer a gloriosa Virgem se dignou aparecer novamente, dizendo: "Janete, minha serva, não duvide, mas afasta de ti todo temor e vá confiante para onde és chamada, que eu estarei contigo". Assim dizendo, ela desapareceu.
     Também nesta primeira edição da história da Aparição encontramos Janete como testemunha e fiadora do milagre de Bernardo de Bancho, curado de uma enfermidade na perna esquerda em 31 de agosto de 1432.
     A tradição a chama de "Beata", querendo ilustrar suas virtudes exemplares. Nós não sabemos se Janete tinha filhos, não sabemos com certeza se residia na vizinhança de Caravaggio como diz a tradição; mesmo que seja muito provável, não sabemos se ela era tão pobre. Não sabemos a data da morte da Beata; se ela viu Nossa Senhora aos 32 anos, a data de seu nascimento deve ser 1400. Levando-se em conta a duração média de vida na época, Janete não deve ter vivido muito mais de meio século.
     Nenhuma palavra dela foi preservada. No entanto, ela falou, e deve ter falado várias vezes quando perguntada sobre o que tinha visto e ouvido. Mas todo o conteúdo essencial está no "memorial" em pergaminho, que narra o diálogo entre Janete – espontâneo e direto, que mesmo sob o latim não esconde seu modo popular de falar – e a Virgem da Aparição.
     Ela cumpriu fielmente o mandato que lhe foi dado e isto é o que mais deve ser lembrado. A tradição a quer sepultada na igreja paroquial, que teve mais de um cemitério ao redor. A Schola S. M., que desde a Aparição vem realizando o atendimento na igreja de Nossa Senhora e no hospital, tinha sepulcros no interior na igreja paroquial. Janete sempre teve apenas um culto popular.
 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Santa Maria Madalena de Pazzi, Carmelita e Mística - 25 de maio

    
     Em 25 de maio de 2007, celebrou-se o quarto centenário da morte de Santa Maria Madalena de Pazzi (1566-1607), carmelita florentina e mestre de vida espiritual. Tamanha era a fama de sua santidade entre o povo e o clero, que muito cedo, em 1611, deu-se início a seu processo de beatificação. Importantes estudiosos afirmam que “Maria Madalena de Pazzi, ao lado de Ângela de Foligno e de Catarina de Sena, é, entre as italianas, a escritora espiritual mais conhecida”.
     Numa das famílias de maior destaque da nobreza florentina, Catarina nasceu em 2 de abril de 1566, segunda filha de Maria Buondelmonti e Camillo di Geri de’ Pazzi. Em dois períodos (de 1574 a 1578 e de 1580 a 1581), foi educanda em San Giovannino pelas Cavaleiras de Malta.
     Fez a Primeira Comunhão pouco antes de cumprir dez anos; dias depois se entregou para sempre ao Senhor com uma promessa de virgindade. Seus pais a pressionaram para que se casasse, porém ela se negou por ser fiel à sua vocação religiosa.
     Na idade de 16 anos entrou nas Carmelitas descalças (17 de novembro de 1582) no convento de Santa Maria dos Anjos de Florença, bem pouco tempo depois do final do Concílio de Trento (1545-1563). Recebeu o hábito em 1583, tomando o nome Maria Madalena. Em 29 de maio de 1584, estando tão doente que se temia que não se recuperasse, fez sua profissão como religiosa.
     Os primeiros cinco anos de vida monástica são os mais conhecidos da biografia de Santa Maria Madalena. No grande Carmelo de Santa Maria dos Anjos (o mais antigo da ordem), com quase oitenta monjas no período em que viveu Madalena, várias delas tinham um elevado perfil espiritual, desde a Madre Evangelista del Giocondo até Pacifica del Tovaglia, amiga e uma das principais “secretárias” da santa.
     Desde que recebeu o hábito até sua morte experimentou uma série de raptos e êxtases. Depois de sua profissão experimentou êxtases diários por 40 dias consecutivos. Ao final deste tempo parecia estar perto da morte. Entretanto, se recuperou milagrosamente, pela intercessão da Beata Maria Bartolomea Bagnesi, dominicana, cujo corpo incorrupto estava sepultado no Convento de Santa Maria dos Anjos.
     Dai em diante, apesar de sua saúde precária, pode cumprir com esmero as obrigações que lhe destinaram e praticar uma dura penitência.
A Santa aos 16 anos
     Algumas características de seus raptos e êxtases: às vezes os raptos eram tão fortes, que a induziam a movimentos rápidos (por exemplo, em direção a um objeto sagrado); frequentemente podia, em êxtase, levar a cabo seu trabalho com perfeita compostura e eficiência; durante seus momentos de rapto expressava máximas do amor divino e conselhos para a perfeição das almas, especialmente para as religiosas - estas foram copiadas por suas irmãs religiosas e foram publicadas; às vezes ela falava em seu nome, outras em nome de uma ou de outra Pessoa da Santíssima Trindade; os estados de êxtases não interferiam no serviço da santa na comunidade - manifestava um forte sentido comum, um governo estrito e disciplinado, acompanhado por uma grande caridade, o que a fez muito amada até sua morte. 
     Por cerca de vinte anos ela viveu ocupada silenciosamente com essa mistura de oração e trabalho que é própria da vida monástica. Depois de ter sido responsável pela acolhida das jovens que vinham para o alojamento de forasteiras (1586-1589), ela esteve ligada, de várias maneiras, à formação das jovens a partir de 1589, até se tornar sub-prioresa a partir de 1604.
     A Santa fez muitos milagres e possuía dons extraordinários. Como mestra de noviças era notável seu milagroso dom de ler as mentes, não apenas das noviças, como também de pessoas fora do convento. Com frequência via as coisas à distância. Conta-se que em uma ocasião viu milagrosamente Santa Catarina de Ricci em seu convento de Prato lendo uma carta que lhe havia enviado e escrevendo a resposta, embora nunca se tivessem conhecido de maneira natural. Tinha o dom de profecia e de cura.
     Deus permitiu que ela sofresse a prova de uma terrível desolação interna, fortes tentações e ataques diabólicos externos por cinco anos (1585-90). Venceu a prova por sua valente adesão ao Senhor e sua humildade, cresceu em virtude e depois experimentou grande consolação.
     Santa Maria Madalena de Pazzi era chamada a rezar e fazer penitência pela reforma de “todos os estados de vida na Igreja” e pela conversão de todos os homens. Ensinou que o sofrimento nos leva a um profundo nível espiritual e ajuda a salvar a alma. Por isso amava o sofrimento por amor de Deus e pela salvação das almas.
     A mística da Santa, na escola de Santa Catarina de Sena, é uma mística que chama à conversão todo o povo de Deus, não para “repreendê-lo”, como afirmam alguns, mas para que, diante do Espírito Santo que bate à porta, alguém “se abra a esse dom”.
     Nos três últimos anos de vida ficou inválida com grandes sofrimentos que aceitou com alegria heroica até o fim. Morreu no convento em 25 de maio de 1607 aos quarenta e um anos.
     Inúmeros milagres ocorreram depois de sua morte. Beatificada em 8 de maio de 1626 pelo Papa Urbano VIII, foi canonizada em 28 de abril de 1669 pelo Papa Clemente IX. Seu corpo incorrupto permanece na igreja de Santa Maria dos Anjos em Florença.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Beata Maria Domingas Brun Barbantini, Fundadora - 22 de maio

Fundadora das Irmãs Ministras dos Enfermos (Camilianas)
 
     Maria Domingas nasceu em Lucca, a 17 de fevereiro de 1789, segunda filha entre irmãos. Seu pai Pedro Brun, era de origem suíça, e sua mãe, Joana Granucci, era natural de Lucca.
     Na idade de seis anos, ela viveu uma experiência mística de singular importância: a visão do sangue de Jesus que jorra do cálice durante a Consagração. Este acontecimento se constituiu um sinal profético para a sua futura missão ao lado dos doentes e sofredores.
     Aos 12 anos, a morte do pai e de três irmãos menores deixou profundas marcas na adolescência de Maria Domingas. A partir de então, cresceu sob a orientação afetuosa e inteligente da mãe, que soube imprimir na filha as mais belas virtudes católicas, contribuiu de modo particular para formar nela um coração aberto e sensível aos infelizes, tornando-se um exemplo de resignação e santidade diante das adversidades com que se deparou durante a vida.
     Ao alcançar a juventude, destacou-se como uma mulher brilhante, generosa e cheia de zelo cristão. Foi nesta época que conheceu o jovem Salvador Barbantini, que a pediu em casamento após nutrirem grande amor um pelo outro.
     Casaram-se no dia 22 de abril de 1811 na Catedral de São Martino, de Lucca. No seu sexto mês de casamento, a morte súbita do seu esposo foi uma ocasião em que, golpeada, aceitou os desígnios da Providência Divina, exprimindo a sua dor a Jesus crucificado, sob a promessa de que intensificaria sua vida cristã e que não contrairia novo matrimônio: "Tu, serás único, meu Cristo Crucificado, serás o meu bem, doravante meu único e verdadeiro amor, a minha única delícia".
     Viúva e à espera de uma criança, Maria Domingas foi novamente atingida pela dor e pela angústia quando seu filhinho, Lourenço, morreu aos oito anos. Apesar disso, jamais se vislumbrou nela qualquer resquício de revolta. Pelo contrário: intensificou os propósitos firmados pela ocasião da morte do marido e entregou-se total e incondicionalmente ao serviço dos pobres, doentes e infelizes. A sua maternidade desenvolveu-se numa maternidade mais profunda, santa e universal.
     Os pobres enfermos abandonados de sua cidade tornam-se objeto de seu prometido amor. De noite e de dia, sob o sol escaldante ou na chuva, ela não consagrava somente sua ternura aos que sofriam, mas exprimia também diversas atitudes concretas de misericórdia, sempre absolutamente unida e guiada pela Santa Igreja de Cristo, que amava com uma afeição filial, servindo-a com ardor extremo.
     Dotada de qualidades específicas, participava em Lucca das atividades do Mosteiro de Santa Maria da Visitação, destinado à educação dos jovens. Era incumbida de organizar a catequese e sua dedicação permitiu que viesse a fundar um instituto para as crianças abandonadas. Por tamanha dedicação e destaque, foi-lhe confiada a responsabilidade de reforçar e também reformar diversas atividades apostólicas e educativas.
     O que efetivamente marcou sua vida foi a fundação do Instituto Religioso das Irmãs Ministras dos Enfermos. Tal projeto teve início no ano de 1829 quando, reunindo em torno de si algumas jovens donzelas pobres, em sua maioria de saúde frágil, realizou prodígios de caridade à cabeceira dos pobres moribundos e abandonados, vocação maternal que atraiu uma grande quantidade de outras jovens àquela obra de apostolado.
     A obra atravessou décadas com diversas moças aplicadas e dedicadas ao apostolado santo das regras escritas pela Fundadora. Finalmente, no dia 5 de agosto de 1841, o arcebispo da cidade de Lucca, D. Domenico Stefanelli, tendo testemunhado a caridade da Fundadora e de suas filhas, aprovou a Regra escrita por Maria Domingas e erigiu a comunidade em Instituto Religioso Diocesano.
     Mulher de fé, sempre empenhada no cumprimento e realização concreta da vontade de Deus, Maria Domingas impôs-se na História. Sempre ensinou às suas filhas espirituais a progredirem próximas dos sofredores, em especial dos enfermos, tratando da doença, valorizando o sofrimento, anunciando o rosto bondoso de Deus, no espírito do paternal e caridoso São Camilo de Lellis, que foi perfeito modelo de santidade e de serviço ao próximo, base da inspiração para a fundação desta congregação Camiliana, presente e atuante em diversas partes do mundo.
     Maria Domingas experimentou todos os estados de vida que uma mulher pode atravessar: esposa, mãe, viúva, fundadora e religiosa da sua congregação.
     A Beata entregou sua alma a Deus no dia 22 de maio de 1868. Por ter vivido de maneira heroica e tendo suas virtudes de fé, esperança e caridade reconhecidas pela Igreja, o Papa João Paulo II a beatificou no dia 17 de maio de 1995.
 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Beata Josefa Hendrina Stenmanns, Religiosa - 20 de maio

    
     Seria justo chamá-la “senhora da santa paciência” e poderíamos invocá-la, quantos de nós somos impacientes. Hendrina Stenmanns começou desde pequena a exercer a paciência. Não se tratou apenas de suportar as contrariedades que a vida reserva a todos, mas sobretudo para conseguir realizar o sonho da sua vida. Graças a uma tia religiosa, Hendrina desde pequena sente-se também chamada a tornar-se freira, mas uma “freira franciscana”.

     Hendrina Stenmanns nasceu no dia 28 de maio de 1852, no Baixo Reno, na vila de Issum, Diocese de Münster, na Alemanha. Dos 6 aos 14 anos freqüentou a escola, mas antes de terminar o último ano teve que deixá-la para ajudar a cuidar da casa e dos irmãos menores. Sua dedicação generosa ao trabalho não impedia a busca de Deus e a prática das virtudes cristãs. Visitava os doentes e como a sua amabilidade e delicadeza eram grandes, todos os doentes queriam tê-la perto.
     Aos 19 anos tornou-se membro da Terceira Ordem de São Francisco em Sonsbeck. Hendrina queria ser religiosa, mas a época não era favorável, inúmeros conventos estavam sendo fechados em função de incidentes políticos do "Kulturkampf".
     Em 1878 sua mãe faleceu e Hendrina prometeu ficar com o pai para cuidar dos irmãos e irmãs. Assumia a situação como era e com sua tarefa. Tinha então 26 anos e seu irmão mais novo tinha apenas 8 anos. Diante da impossibilidade de realizar sua vocação, entregou-se nas mãos da Divina Providência. Não se notava uma única palavra de queixa ou lamentação.
     Hendrina tinha os dois pés no chão, mas permeava em tudo o que fazia o amor de um coração firmemente ancorado em Deus. Ele era o sustento de sua vida; na Missa e na Comunhão experimentava a confirmação desta presença.
     Anos depois veio a conhecer a obra missionária de Steyl, a Congregação dos Verbitas fundada na Holanda pelo Pe. Arnoldo Janssen. Após fundar a congregação masculina de missionários, o Pe. Janssen estava pensando em fundar uma congregação feminina. Hendrina conheceu duas jovens que trabalhavam como empregadas no Seminário do Pe. Janssen na esperança de que um dia fosse fundada a congregação. Hendrina sentiu que lá era seu lugar.
     O pároco de Issum, Pe. Veels, que conhecia muito bem Hendrina, em janeiro de 1884 escreveu ao Pe. Janssen que poderia dar-lhe “as melhores recomendações em todos os sentidos. Ela sempre teve o desejo de entrar na vida religiosa, por muitos anos se confessava semanalmente e, apesar de morar a mais de 15 minutos de caminhada da igreja e ter de cuidar da casa, assiste diariamente a Santa Missa”. Não era comum uma jovem com a carga de trabalho de Hendrina levar uma vida espiritual tão intensa.
     O Pe. Janssen aceitou o pedido de Hendrina e quando sua irmã mais nova teve condições de ocupar seu lugar, partiu para Steyl.
     Na cozinha do Seminário, Hendrina reza, sofre e espera por cinco anos, longos também para ela, embora já habituada a ter paciência e a esperar.
     Para o pequeno grupo em Steyl, célula germinativa da futura Congregação, a Eucaristia era fonte de força no trabalho diário e pesado na cozinha. Poderíamos dizer que as empregadas viviam um “círculo Eucarístico”: da Missa de manhã, onde frequentemente recebiam a Santa Comunhão, para a meia hora de oração ao meio dia, para a Bênção do Santíssimo Sacramento à tarde. A antecipação destes ‘auxílios espirituais’ diários permeava e animava a sua vida quotidiana.
     O dia 8 de dezembro de 1889 é considerado o "Dia da Fundação" da Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo. Hendrina com mais cinco moças, entre elas Helena Stollenwerk, foram recebidas como postulantes.
     Em agosto de 1891, Arnoldo Janssen nomeou Helena Stollenwerk como superiora da comunidade e Hendrina como sua assistente. No dia 17 de janeiro de 1892, recebeu o hábito religioso e o nome de Irmã Josefa. No dia 12 de março de 1894, com onze companheiras, pode finalmente emitir os primeiros votos religiosos.
     “Vivíamos hora por hora, dia por dia, e deixávamos o futuro a Deus”, ela repetia incansavelmente, enquanto dizia de si mesma “O meu coração está pronto” e sussurra em cada ação o “Veni, Sancte Spíritus”.
    Para a Irmã Josefa a vida religiosa significava pertencer inteiramente a Deus. Com o aumento do número de Irmãs, o trabalho aumentava continuamente. Mesmo assim, ela não se perdia nas inúmeras tarefas e sempre tinha uma palavra bondosa; trabalho e oração eram igualmente serviço a Deus. Tornou-se necessário construir um novo convento para acolher o número crescente de irmãs.
     Quando a Irmã Maria Helena Stollenwerk é transferida para as adoradoras perpétuas (outra congregação fundada pelo Pe. Janssen), Irmã Josefa tornou-se superiora das Servas do Espírito Santo, mais que um cargo é um serviço que ela exercita com paciência e amor, mas por pouco tempo. Em 1902 foi lançada a pedra fundamental. Irmã Josefa, no entanto, sofria cada vez mais de asma e de outras enfermidades.
     De fato, ela deveria exercitar ainda a paciência quando a saúde vacilou, a doença tolheu suas forças e a levou para o leito. Em meio a intensos sofrimentos veio a falecer em 20 de maio de 1903, aos 51 anos incompletos, e foi sepultada ao lado da outra co-fundadora, Madre Maria Stollenwerk.
     Em 28 de junho de 2008, Madre Hendrina Josefa Stenmanns foi elevada a glória dos altares, onde a tinham precedido o Padre Arnoldo Janssen (canonizado em 2003) e a Madre Maria Helena Stollenwerk (beatificada em 1995). 
Fontes Missionárias SSpS; www.santiebeati.it

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Santa Maria Bernarda Bütler, Fundadora - 19 de maio

    
     Verena Bütler nasceu e foi batizada em Auw (cantão de Argovia, Suíça) no dia 28 de maio de 1848. Era a quarta filha de Henrique e de Catarina Bütler, camponeses humildes e católicos praticantes.

     Ao concluir o ensino escolar básico, se dedicou aos afazeres domésticos e ao trabalho no campo. Fez uma tentativa de vida religiosa, mas ao perceber que Deus não a chamava a viver naquele local, voltou para a casa paterna, onde se entregou ao trabalho, à oração e ao apostolado, alimentando sempre sua vocação.
     Finalmente, no dia 12 de novembro de 1867, aos 19 anos de idade, ingressou no mosteiro das Irmãs Capuchinhas de Maria Hilf, de vida contemplativa, em Altstätten, próximo de Saint Gallen, ao norte da Suíça.
     Em 4 de maio de 1868 vestiu o hábito franciscano, tomando o nome religioso de Maria Bernarda do Sagrado Coração de Maria. Fez a profissão religiosa em 4 de outubro de 1869.
     Por suas profundas virtudes e qualidades humanas, logo foi nomeada mestra de noviças e mais tarde, em 1880, tornou-se superiora, cargo que ocupou até sua partida para as missões.
     Quando Mons. Pedro Schumacher, Bispo de Portoviejo (Equador), escreveu relatando o total abandono em que viviam as pessoas daquelas terras, e oferecendo sua diocese como campo missionário, Madre Maria Bernarda se convenceu que aquele convite era um claro chamado de Deus para ela ir anunciar o Evangelho e fundar uma casa filial do mosteiro de Altstätten em terras equatorianas.
     Após vencer a resistência inicial das autoridades eclesiásticas e obter a permissão pontifícia para deixar o mosteiro, no dia 19 de junho de 1888 se dirigiu, com seis companheiras, a Le Havre, França, onde as sete embarcaram rumo ao Equador.
     Quando chegaram ao Equador, o bispo indicou às Irmãs o povoado de Chone, lugar difícil e abandonado espiritualmente, que contava com uns 13 mil habitantes. Na missão de Chone, Madre Maria Bernarda contou com a ajuda das seis Irmãs, entre as quais a Bem-aventurada Maria Caridade Brader.
     Madre Maria Bernarda colocou na base de sua atividade missionária a oração, a pobreza, a fidelidade à Igreja e o exercício das obras de misericórdia. As Irmãs se encarregaram da educação das crianças e dos jovens; visitavam e assistiam os doentes e os pobres.
     A semente plantada por esta grande mulher germinou e frutificou. Surgiram várias casas filiais no Equador. Mas sua obra também foi marcada pela Cruz: pobreza absoluta, clima tórrido, inseguranças e dificuldades de toda espécie, junto a mal-entendidos por parte das autoridades eclesiásticas e separação de algumas Irmãs de sua primeira fundação no Equador.
     O passo inicial que tinha por fim a fundação de uma filial missionária do mosteiro suíço acabou sendo o início de um processo que converteu Madre Maria Bernarda em fundadora de um novo Instituto, a Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora.
     Em 1895, Madre Maria Bernarda e mais 15 Irmãs, tiveram que fugir do Equador devido a uma violenta perseguição contra a Igreja, e partiram para Cartagena, na Colômbia. Durante a travessia, receberam o convite de Mons. Eugenio Biffi, Bispo de Cartagena de Índias, para trabalharem em sua diocese.
     No dia 2 de agosto de 1895 chegaram ao porto de Cartagena e seguiram para a residência que lhes indicara Mons. Biffi numa ala do hospital de mulheres chamado Obra Pia, onde Madre Maria Bernarda morreu anos mais tarde.
     O número das Irmãs cresceu e a Congregação fundou casas na Colômbia, Áustria e Brasil. Madre Bernarda permanecia temporadas com as Irmãs nos diversos locais, compartilhava com elas seu trabalho e sua vida, era exemplo vivo de humildade evangélica, edificava e animava a todas. Atendia com ternura e misericórdia a todos os necessitados na alma e no corpo, rezava, exortava, escrevia com uma entrega assombrosa.
     Em 1911, cinco Irmãs se estabeleceram no norte do Pará, em Óbidos. Desde essa casa, as Irmãs ampliaram sua atuação para outras regiões do país: Quissamã, Três Arroios e Erechim, Canoinhas e no Mato Grosso.
     Madre Bernarda dirigiu a Congregação durante 32 anos, e quando renunciou a este serviço com gratidão e humildade, continuou animando as Irmãs com seu exemplo, sua palavra e seus inúmeros escritos, mina de doutrina e de fecundidade espiritual.
     A Santa faleceu no dia 19 de maio de 1924, na Obra Pia, aos 76 anos de idade, 56 de vida religiosa e 36 de missionária na América Latina. Foi beatificada em 29 de outubro de 1995 com outras filhas espirituais de São Francisco: Maria Teresa Sherer (cf. 16 de junho) e Margarida Bays (cf. 27 de junho).
     A Congregação fundada por Madre Maria Bernarda conta com 840 freiras que atuam em escolas, hospitais e projetos de assistência a pessoas com deficiências. Sua principal área de apostolado é a América Latina, mas encontram-se também na Europa (Áustria e Suíça) e na África (Chad e Mali).
     Foi canonizada no dia 12 de outubro de 2008 pelo Papa Bento XVI. Sua festa é celebrada no dia 19 de maio.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Santa Dinfna, Virgem e mártir - 15 de maio

Sta Dinfna batizada por S Gereberno
     A Irlanda foi evangelizada por São Patrício e uma relação dos santos irlandeses preencheria um calendário da Santa Igreja. Mas, infelizmente, estes santos são desconhecidos pela maior parte dos católicos. Um exemplo de santo esquecido ou desconhecido é Santa Dinfna.
     Sua "Vida" foi escrita entre 1238 e 1247 por um cônego da Colegiada de Santo Alberto de Cambrai, França, de nome Pedro, sendo Bispo de Cambrai Guy I. O autor mesmo menciona que se baseou na tradição oral popular. Portanto, não há dados comprobatórios da narração feita por ele.
     Há na Irlanda uma igreja, Chilldamhnait ou Kildowner, situada na parte sul da ilha, cujo nome significa Igreja de Dinfna. Segundo antiga tradição, Dinfna veio do antigo reino de Oriel e fundou a igreja no século VII. Nessa igreja ela atendia os doentes. Dinfna morreu em Gheel, Bélgica. A igreja foi restaurada no século XVII, mas a igreja original está atualmente em ruínas.
     De acordo com a "Vida" escrita na Idade Média, Santa Dinfna nasceu no século VII, em Clogher, no Condado de Tyrone, Irlanda, quando o país havia sido evangelizado. Porém, seu pai, rei de Oriel, ainda era pagão. Sua mãe, de família nobre, era cristã e notável por sua beleza e piedade.
     Como sua mãe, Dinfna era um exemplo de beleza e de virtude, favorecida desde o nascimento com graças especiais. Desde muito pequena Dinfna foi entregue aos cuidados de uma piedosa cristã, que a preparou para o Batismo. O Padre Gereberno administrou-lhe o Sacramento e aparentemente fazia parte da família, pois foi ele quem deu as primeiras noções de escrita, bem como das verdades da religião, à pequena Dinfna.
     Bem cedo Dinfna, como muitas outras nobres irlandesas antes e depois dela, escolheu Nosso Senhor Jesus Cristo como seu Divino Esposo e consagrou sua virgindade a Ele e a sua Santa Mãe pelo voto de castidade.
     Uma grande prova veio turbar a vida da adolescente: sua querida mãe falece. Ela ofereceu a Deus sua grande dor. Seu pai também ficou inconsolável com a perda da esposa e durante muito tempo ficou prostrado pelo luto.
     Seus conselheiros persuadiram-no a buscar um segundo matrimônio. Em vão os mensageiros procuraram uma pessoa com a beleza física e moral de sua primeira esposa. Os conselheiros diziam que não havia ninguém mais amável e encantadora do que sua filha, Dinfna. Dando ouvidos à sugestão deles, o rei concebeu o pecaminoso desejo de casar-se com a própria filha. Com palavras persuasivas ele manifestou seus propósitos a ela.
     Dinfna, horrorizada com os planos de seu pai, pediu a ele um tempo para pensar na proposta. Imediatamente procurou o Padre Gereberno, que a aconselhou a fugir; e uma vez que o perigo era iminente, ele disse que ela não demorasse em concretizar o seu plano.
     Com toda pressa ela partiu rumo ao continente; acompanhou-a o Padre Gereberno (o Santo era já bem idoso quando acompanhou sua dirigida nessa fuga) e um casal de servidores de sua confiança. Após uma travessia favorável, eles chegaram à costa próxima da atual cidade de Antuérpia e depois a um pequeno vilarejo próximo de um oratório a São Martinho, local conhecido hoje como Gheel. Eles foram recebidos com simpatia pelos moradores e ali se fixaram.
     Entrementes, o rei, furioso com a fuga de Dinfna, enviou seus servidores em perseguição aos foragidos. Após buscas exaustivas, conseguiram descobrir que eles haviam seguido para a Bélgica e finalmente o local de refúgio foi localizado. A princípio o pai de Dinfna tentou persuadi-la a voltar com ele. O Padre Gereberno, porém, reprovou com firmeza suas intenções pecaminosas, o que levou o rei a mandar matá-lo. Seus subordinados imediatamente o degolaram. Um novo glorioso mártir reuniu-se aos heróis do Reino de Cristo.
     As tentativas do pai de Dinfna para induzi-la a voltar com ele foram infrutíferas. Com coragem ela enfrentou todos os maus tratos. Diante de sua resistência, enfurecido o pai desembainhou sua adaga golpeando-a no pescoço. Recomendando sua alma a Deus, a virgem caiu aos pés de seu insano e delirante pai.
      A coroa do martírio foi dada a Dinfna no dia 15 de maio, entre os anos 620 e 640.
     Os corpos dos dois mártires ficaram por algum tempo insepultos. Os habitantes de Gheel removeram os santos despojos e, conforme o costume da época naquela região, colocaram numa caverna. Após alguns anos, os santos despojos foram transladados e colocados numa pequena igreja. Mais tarde, foi necessário erigir uma magnífica Igreja de Santa Dinfna, no local onde os corpos foram sepultados pela primeira vez. Os ossos de São Gereberno foram trasladados para Kanten.
     A fama de Santa Dinfna, segundo a tradição, teve início graças ao milagre ocorrido quando um doente mental foi tocado com a placa acima referida, por ocasião da transladação das suas relíquias. Ela tornou-se então protetora das vítimas de doenças nervosas e mentais, e os milagres e as curas aumentaram continuamente. Mais e mais pessoas eram trazidas ao seu túmulo por parentes e amigos, muitos vindos em peregrinação de locais distantes. Novenas eram rezadas e os doentes eram tocados com a relíquia da Santa.
     No começo, os doentes ficavam alojados em um pequeno anexo construído ao lado da igreja. No século XIII, uma instituição chamada "Enfermaria de Santa Isabel" era conduzida pelas Irmãs de Santo Agostinho. Mais tarde tornou-se um hospital dedicado ao cuidado dos doentes. Muitos dos pacientes eram colocados nas casas das famílias de Gheel após passarem algum tempo na "Enfermaria", e ali levavam uma vida relativamente normal.
     Ainda em nossos dias os moradores de Gheel recebem pacientes em seu círculo familiar, ajudando-os a se prepararem para retornar ao convívio com a família. Em centenas de gerações os moradores de Gheel acumularam uma sensível habilidade para lidar com essa função, e o seu notável espírito de caridade cristã para com esses membros aflitos da sociedade dá ao nosso mundo moderno, tão ávido em colocar sua confiança na ciência e tão esquecido dos princípios da verdadeira caridade católica, uma lição de como restaurar certos tipos de doentes.
     Santa Dinfna é invocada como padroeira dos portadores de doenças nervosas e mentais (epilepsia, sonambulismo, depressão, neuroses, estresse), dos psicólogos e dos endemoninhados. Os seus símbolos são: a espada que a decapitou e o demônio acorrentado a seus pés, que simboliza a sua intercessão para livrar os possessos. A iconografia da Santa é sobretudo de origem belga e flamenga, embora sua nacionalidade seja irlandesa.