segunda-feira, 30 de abril de 2018

Beata Petronilha (ou Pernelle) de Troyes, Abadessa de Moncel – 1 de maio

Gravura representa dama do séc.XIV
Martirológio Romano: A Moncel, no território de Beauvais, na França, Beata Petronilha, virgem, primeira abadessa do Mosteiro das Clarissas daquele local

     A Beata Petronilha, nascida na nobre família dos Condes de Troyes, na França, teve uma educação religiosa. Ainda jovem, ela foi admitida entre as Irmãs Clarissas do Mosteiro de Provins, onde aperfeiçoou suas virtudes, especialmente a modéstia, humildade, paciência e cresceu em um amor ardente e sem limites à Cristo na Eucaristia e ao Crucificado. Ela se preocupava muito em edificar as coirmãs mais pelo exemplo do que pela palavra e transformou o mosteiro em um centro eficaz de apostolado, estendendo sua ação benéfica especialmente entre os pecadores, os aflitos e os necessitados.
     Para testemunhar seu amor total à Cristo, ela prometeu procurar sempre o que é mais perfeito. Colocou todo empenho em cumprir esta promessa, o que lhe causou numerosas incompreensões, mas Petronilha venceu com a oração contínua, ajudada por Deus com favores celestiais de contemplação e êxtase.
     Em 1309, o rei Filipe o Belo, da França, resolveu construir um mosteiro de monjas Clarissas dedicado a São João Batista, em Moncel, Pon-Ste-Maxence (Ponte Santa Maxence), na diocese de Beauvais. A construção do mosteiro, no entanto, foi adiada devido a morte do rei. A vasta abadia foi concluída apenas 26 anos depois, sob Filipe VI de Valois, e em 17 de julho de 1336 doze monjas Clarissas nele ingressaram, tendo vindo dos seguintes mosteiros: Longchamp, de São Marcelo de Paris, e Santa Catarina de Provins.
     Modelo de fidelidade à Regra, Petronilha foi escolhida, com três de suas companheiras, para fundar a Abadia de Moncel, na companhia de oito freiras de Longchamp e Lourcine.
    Petronilha foi escolhida abadessa e foi solenemente empossada na presença do rei Filipe de Valois e da rainha Joana de Borgonha. No ano seguinte, em 27 de março de 1337, a igreja do mosteiro foi sagrada pelo cardeal de Bologna.
     A nova abadessa formou um grupo eleito de almas generosas, dedicadas à perfeição seráfica. Ela foi exaltada por sua humildade e delicadeza para com todas as suas irmãs, especialmente para as doentes, enquanto a união com o Noivo celestial estava se tornando cada vez mais profunda. Mas quantas foram as lutas que ela teve que suportar, especialmente por parte do diabo, que tentou lançá-lo no desespero. Muitas jovens seguiram seu exemplo e logo o mosteiro de Moncel tornou-se um cenáculo de almas eleitas.
     Após oito anos de governo sábio, Petronilha renunciou ao seu mandato para se preparar melhor para o encontro final com o esposo celestial. Ela ainda viveu onze anos de vida oculta e humilde. Ela faleceu em 1 de maio de 1355, deixando o renome de uma vida de humildade e de fervor.
     Em 11 de maio de 1854, Pio IX aprovou o seu culto e concedeu em sua honra o Ofício e a Missa.
     Entre 1790 e 1792, durante a nefasta Revolução Francesa, a comunidade foi dispersada; a Abadia de Moncel foi desativada em 1795 e transformada em armazém e a igreja destruída. Os belos edifícios sobreviventes foram recentemente restaurados e abertos ao público. De 1923 a 1982, a diocese de Beauvais transformou o local em uma escola particular. A partir de 1984, a abadia tornou-se um centro cultural.
     A Abadia é conhecida por vários nomes: Abadia das Clarissas Urbanistas de Pontpoint, Oise (São João Batista de Moncel, 1309-1790); Abadia de São Joao Batista de Moncel; Abadia de Moncel.

A Abadia de Moncel atualmente
Fontes:
Fonte principal: capucinsorient.org ("Rev. x gpm")

Etimologia: Pernelle, nome derivado do latim, “petros”, em francês “pierre”: “pedra, rochedo”. Do grego, significa pequena pedra, pedregulho.
Petronilha = diminutivo de Petrônia. Petrônio (a) = do latim Petronius: “quatro ou quarto (filho)”. Não se relaciona com Pedro.

domingo, 29 de abril de 2018

Santa Catarina de Siena, Doutora da Igreja - 29 de abril

    
     Em 25 de março de 1347, Lapa Benincasa deu à luz duas gêmeas em seu vigésimo quarto parto. Uma delas não sobreviveu após o Batismo. A outra, Catarina, tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero humano.
     Giacomo di Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, "homem simples, leal, temeroso de Deus, e cuja alma não estava contaminada por nenhum vício"; piedoso e trabalhador, criava sua enorme família de 25 filhos no amor e no temor de Deus. Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.
    Catarina consagrou a sua virgindade a Cristo aos 7 anos; aos 16, para evitar um casamento, cortou sua longa cabeleira; e aos 18, recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos.
     Catarina encarou a sua clausura com seriedade e vivia encerrada no seu próprio quarto, e afirmava que estava sempre com e em Cristo. Abandonou a sua cela somente em 1374, quando a peste se alastrou por toda a Europa e ela decidiu cuidar dos enfermos e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade.
    Nesse mesmo ano (1374), teve uma visão e ficou estigmatizada. Na visão Nosso Senhor Jesus Cristo lhe disse que ela trabalharia pela paz, e mostraria a todos que uma mulher fraca pode envergonhar o orgulho dos fortes. Analfabeta, aprendeu milagrosamente a ler e escrever, para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava.
Sua Missão
     No fim da Idade Média — quando a gloriosa Civilização Cristã já decaía a olhos vistos — a Itália era um aglomerado de reinos e repúblicas que viviam em guerra entre si, ou, em uma mesma cidade, guerra entre facções contrárias. Catarina foi várias vezes chamada a ser o seu anjo pacificador. Assim, viajou ela de Siena para Florença, Luca, Pisa e Roma como pacificadora.
     Em 1375, toda a Itália estava envolvida em graves disputas políticas relativas à volta do papado; organizavam-se milícias nas cidades de Perusa, Florença, Pisa e em toda a Toscana, em revolta contra o poder político do Papa Gregório XI.
     Catarina, mediadora entre o Papa e os conjurados, inicia uma correspondência incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que se tinham rebelado contra ele: "Santíssimo e dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ó governador nosso, eu vos digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum. [...] Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos que morrem".
A Santa exorta o Papa
     Censurou o rei da França por guerrear contra cristãos e não se empenhar na Cruzada: "Eu peço-vos que sejais mais diligente para impedir tanto mal e para ativar tanto bem, como é a recuperação da Terra Santa e daquelas almas infelizes que não participam do Sangue do Filho de Deus. Desta coisa vos deveríeis envergonhar, vós e os outros senhores cristãos; porque é uma grande confusão diante dos homens, e abominação diante de Deus, fazer a guerra contra os irmãos e deixar os inimigos; e querer tirar o que é dos outros e não reconquistar o que é seu. Eu vos digo, da parte de Jesus Crucificado, que não demoreis mais a fazer esta paz. Fazei a paz e fazei toda a guerra contra os infiéis".
     Devorada de zelo e amor pela Igreja, ansiava pela pacificação da Cristandade para que, unidos, os cristãos se dispusessem a seguir em uma Cruzada para libertar os Santos Lugares.
     Ela decidiu seguir até Avinhão, cidade onde os papas viviam há mais de 70 anos, e apresentar-se diante de Gregório XI para convencê-lo a regressar a Roma, pois isto seria fundamental para a unidade da Igreja e a pacificação da Itália.
     Em Avinhão, diante dos cardeais, Catarina ousou proclamar os vícios da corte pontifícia e pedir, em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos. Gregório XI a chamara para dar sua opinião em pleno Consistório dos Cardeais. Ela o convence a voltar a Roma: em 17 de janeiro de 1377, Gregório XI deixa Avinhão, apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio. Ele ainda hesita no caminho e ela o conjura a ir até o fim.
     Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se contra o Papa, que apelou para Catarina. Rejeitada por aquela cidade, a Santa quase foi martirizada. Gregório XI, gasto, envelhecido, sofrido, não resistiu e entregou sua alma a Deus.
    Urbano VI foi eleito. Conhecendo Catarina, e vendo nela o espírito de Deus, o novo Pontífice a chama a Roma para estar a seu lado. Não sem razão, pois cardeais franceses, desgostosos com o novo Papa, voltam para Avinhão, anulam sua eleição e elegem o antipapa Clemente VIII. A Cristandade mergulha em nova divisão: o Grande Cisma do Ocidente.
     Catarina tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três cardeais, autores principais do cisma. Escreveu a reis e governantes da Europa para trazê-los ao verdadeiro Papa. Catarina escreveu 150 cartas a cardeais, bispos e prelados; a reis, príncipes e governantes, 39.
Doutora da Igreja
     Santa Catarina foi agraciada com o "casamento místico"; recebeu estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor e teve uma "morte mística", durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma "troca mística de coração" com Nosso Senhor.
     Entre seus inúmeros discípulos, os caterinati, havia membros do clero, da nobreza e do povo mais miúdo. Um deles, São Raimundo de Cápua, seu confessor, foi também seu primeiro biógrafo e quem nos forneceu pormenores de sua impressionante vida.
     Os escritos de Santa Catarina de Sena, que foram todos eles ditados, incluem umas 190 car­tas, 26 orações e os Quatro tratados da Divina Doutrina. Essa última obra é conhecida como o Diálogo de Santa Catarina ou simplesmente o Diálogo, composto entre 1376-1378.
     O Diálogo é ainda hoje considerado um dos maiores testemunhos do misticismo cristão e uma exposição clara de suas ideias teológicas e de sua mística. Este livro compila as revelações - umas sublimes e outras terríveis - feitas por Deus à Santa durante seus êxtases. Seus secretários anotavam suas palavras durante os êxtases a seu pedido.
     Santa Catarina faleceu no dia 29 de abril de 1380, aos 33 anos. Em 1970, Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja, sendo a única leiga a obter esta distinção. João Paulo II declarou-a co-padroeira da Europa, juntamente com Santa Brígida da Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz. É Padroeira da Itália.
Milagre narrado por São Raimundo de Cápua, biógrafo da Santa
     A caridade de Catarina também glorificou a Deus por meio de milagres. O seguinte acontecimento maravilhoso foi testemunhado por mais de vinte pessoas. Eu o ouvi contado por Lapa, sua mãe, por Lisa, sua cunhada, e por Frei Tomas, seu confessor.
     Durante o tempo em que ela gozou de ampla permissão para dar aos pobres, aconteceu que o vinho de um tonel que a família estava usando para o consumo da casa estava estragado. Catarina, que sempre que se tratava de dar aos pobres, queria dar o melhor, fosse vinho, pão ou comida de qualquer espécie, tirava bom vinho de outra vasilha que ninguém tinha tocado e começou a distribuí-lo diariamente. O conteúdo deste tonel poderia ser suficiente para o consumo da família durante quinze ou vinte dias, e isto se o seu conteúdo fosse administrado economicamente. Pois bem, antes que a família começasse a tirar vinho dele, Catarina o fazia há muito tempo e em grande quantidade, porque ninguém da casa tinha autorização para impedir sua caridade.
     O responsável pela adega começou a tirar vinho desta vasilha enquanto Catarina fazia o mesmo, agora mais liberal do que antes, uma vez que não era só ela que fazia aquilo e, portanto, haveria menos queixas na família pelo desperdício. Não apenas quinze ou vinte dias, mas um mês e mais transcorreram sem uma diminuição notável do conteúdo do vaso. Os irmãos de Catarina e os servos da casa contaram ao pai o fato maravilhoso e ficaram pasmos ao ver que a mesma quantidade de vinho satisfazia tão amplamente as necessidades da casa e as esmolas de Catarina. E não só durava o vinho, mas era de uma qualidade tão excelente que nenhum deles se lembrava de ter degustado antes tão bom vinho. Tanto a qualidade quanto a quantidade eram realmente maravilhosas e todos aproveitaram daquele vinho prodigioso sem poder explicar o fenômeno tanto em termos de categoria quanto da quantidade inesgotável dele. Catarina, que era a única pessoa conhecedora do segredo, retirava continuamente vinho do depósito inesgotável e distribuía-o sem restrições para quantas pessoas pobres ela podia encontrar; no entanto, o vinho continuou a fluir e nem seu aroma nem seu paladar se alteraram. Assim passou outro mês e depois um terceiro e tudo continuava na mesma.
     Finalmente a temporada da colheita chegou e foi necessário preparar os toneis para a nova safra. As pessoas encarregadas desta tarefa estavam ansiosas para esvaziar o maravilhoso tonel para preenchê-lo com o mosto que já fluía da prensa, mas a divina munificência ainda não estava cansada; outras vasilhas foram preparadas para receber seu conteúdo, mas todas eram insuficientes. O homem responsável pela tarefa da vindima finalmente ordenou que esvaziassem o recipiente inesgotável e o levassem para o lugar onde estava a prensa para enche-lo e os criados da casa constataram que eles tinham acabado de encher uma vasilha grande com o vinho que ele continha, o qual estava em perfeitas condições, forte e que ainda tinha uma boa quantidade. Irritado porque sua ordem não fora cumprida ao pé da letra, o homem ordenou que jogassem fora o vinho, abrissem o barril e o preparassem para a recepção do novo vinho, já que não podia esperar mais um minuto. Obedecendo a esta ordem, eles abriram o barril de onde até o dia anterior tinha manado um delicioso e inesgotável vinho, e viram que o seu interior estava tão seco que se via claramente a impossibilidade que tivesse contido qualquer líquido por um longo tempo. Todos ficaram mudos diante do assombroso fato, recordando-se da abundância e da qualidade do vinho que até o dia anterior vinha sendo tirando dele. Este milagre foi espalhado por toda a cidade de Siena e foi comprovado pelo testemunho das pessoas que na época viviam na casa de Catarina.
Sarcófago da Santa
Fontes:
Beato Raimundo de Cápua, Vida de Santa Catalina de Siena, Espasa-Calpe Argentina, S.A., Buenos Aires, 1947, p. 9.
Grandes Santos que Iluminaram o Mundo, Plinio Ma. Solimeo

Este blog postou um resumo da vida de Santa Catarina de Siena em 29 de abril de 2011

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Santa Zita, Virgem – 27 de abril

Há 740 anos falecia esta Santa que é um exemplo para as empregadas domésticas

     Em nossos infelizes dias, tão trabalhados pela corrupção dos costumes e pela decadência moral, e sobretudo pela luta de classes, muitos empregados pensam mais nos seus direitos, devidos ou indevidos, e em fazer ações trabalhistas contra os patrões por qualquer motivo, do que em se esmerar em seu trabalho. Assim, o exemplo dessa empregada doméstica dedicada ao seu trabalho e aos seus patrões, sendo por eles estimada, representa uma lufada de ar fresco que nos conforta a alma.
     Quando esta humilde empregada doméstica expirou no nobre palácio dos Fatinelli, era tão querida, que toda a aristocrática família estava junto ao seu leito, para onde depois acorreu também toda a cidade de Luca em torno de seu caixão.
     Foi numa humilde família de camponeses que nasceu Zita no ano de 1218, na vila de Monsagrati, próxima a Lucca, na Toscana, Itália. A sua irmã mais velha entrou para um convento de Cister e seu tio foi eremita e morreu com fama de santidade. Destituída de qualquer especial instrução, desde criança tinha escolhido para si uma regra de comportamento religioso, perguntando-se: “Isto agrada ao Senhor? Isto desagrada a Jesus?”. Essa era a sua norma de conduta diante de todos os sucessos que lhe aconteciam.
     Quando era adolescente, os pais lhe entregavam um cesto de verduras ou frutas, para ela vender nas ruas da cidade. O seu aspecto recolhido, seu ar de modéstia e de pureza, toda sua pessoa, enfim, chamaram a atenção de um dos mais ricos e nobres cidadãos de Lucca, o Senhor de Fatinelli, que a pediu a seus pais como empregada.
     Zita tinha então 18 anos, e era a primeira vez que deixava seu humilde lar, ainda mais para viver num palácio, entre a imensa criadagem da casa. Isso poderia ter certa sedução, e também apresentava alguns perigos, principalmente no convício com os outros empregados menos virtuosos que ela.
     Entretanto, a casa dos Fatinelli, como não era raro na época, era governada com princípios de severa moralidade. E os criados sabiam manter essa linha. Por isso Zita, mesmo entre os Fatinelli, continuaria a mesma linha de proceder, interrogando-se “Isto agrada ao Senhor?”.
     Entretanto, por sua bondade e esforço era frequentemente hostilizada e até maltratada pelo resto da criadagem, mas nunca se deixou abater nem permitiu que isso alterasse sua calma interior. Aos poucos foi sendo aceita por todos e chegou a ser responsável por toda a administração da casa.
     Ela obteve licença da patroa para diariamente à Missa numa igreja vizinha, enquanto o resto da criadagem dormia. E, de regresso a casa, agradava ao Senhor que ela se entregasse com toda dedicação e seriedade aos afazeres domésticos que lhe eram destinados.
     Ocorreu então que um dia Zita demorou-se mais em oração na igreja. Quando deu conta de si, o sol já tinha aparecido. Temerosa, porque passara o tempo de fazer o pão diário, correu para o palácio. Mas encontrou o pão, que ela deveria ter preparado, dourado e bem cheiroso em cima da toalha da mesa da cozinha. “Alguém”, que não era nenhuma de suas companheiras, era o responsável por aquele milagre.
     Todas as sextas-feiras da semana os pobres da cidade se atropelavam à porta do palácio. Como Zita, era a criada de mais confiança, tinha a missão de distribuir as esmolas reservadas pelos patrões. Mas desejava acrescentar algo de seu. Assim, jejuava ou limitava-se no comer para conseguir pôr de sua parte mais comida para os pobres. A eles dava também alguma roupa sua. Isso depressa chegou aos ouvidos do Senhor de Fatinelli, que Zita dava mais do que ele tinha estipulado. E um dia em que ele encontrou Zita trazendo no avental o supérfluo que havia economizado, perguntou-lhe severamente o que levava. “Flores e folhas”, respondeu a empregada. E abrindo o avental ocorreu o que já ocorrera com outras santas: flores e folhas caíram ao solo, testemunhando ao patrão a virtude da serva.
     Desse modo Zita tornou-se, na casa dos Fatinelli, a empregada santa, que os patrões queriam como se fosse membro da família. Disso ela não se prevalecia, conservando-se humilde e sempre pontual e obediente, como se servisse ao próprio Nosso Senhor.
     Zita nunca foi incômoda aos patrões, nem mesmo na última doença, que durou apenas cinco dias, quando expirou aos 60 anos, no ano de 1278, no seu pobre quarto. Toda a família Fatinelli estava ajoelhada em redor de seu leito. Pouco depois, toda Lucca também se ajoelhava em torno de seu caixão.
     Depois de sua morte, numerosos milagres foram atribuídos à sua intercessão, de modo que ela era venerada como santa na cidade de Lucca. Os poetas Fazio degli Uberti (Dittamonde, III, 6) e Dante (Inferno, XI, 38), ambos designam a cidade de Lucca simplesmente como "Santa Zita". O Ofício em sua honra foi aprovado por Leão X.
      Em 1580 seu túmulo foi descoberto na Igreja de São Frediano e verificou-se que seu corpo se encontrava incorrupto, mas foi-se mumificando desde então. Assim, foi sugerida a solene aprovação de seu culto, que foi concedida por Inocêncio XII em 1696, após o reconhecimento de 150 milagres atribuídos à sua intercessão.
     A mais antiga biografia da santa é preservada em um manuscrito anônimo pertencente à família Fatinelli, que foi publicado em Ferrara, em 1688, por Monsenhor Fatinelli, "Vita beata Zita virginis Lucensis ex vetustissimo codice manuscripto fideliter transumpta". Para a sua obra mais completa, "Vita e miracoli de S. Zita vergine lucchese" (Lucca, 1752), Bartolomeo Fiorito usou este e outros documentos, especialmente aqueles retirados do processo elaborado para provar o culto imemorial.
     Atualmente seu corpo mumificado, deitado em uma cama de brocado, está em exposição em um relicário de vidro para veneração pública na Basílica de São Frediano, em Lucca, Itália.
     Pio XII proclamou-a padroeira das empregadas domésticas do mundo inteiro.


Fontes:
http://franciscanos.org.br/?p=34891

Vide post neste blog em 26 de abril de 2014

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Beata Petruccia de Nocera e Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano – 26 de abril


     Para conhecer (ou recordar) a história da imagem milagrosa de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, consultar neste blog os posts nas seguintes datas:
26 de abril de 2011
25 de abril de 2014
23 de abril de 2017
      Hoje desejamos focalizar a figura da Beata Petruccia de Nocera, personagem importante nos acontecimentos relativos a esta devoção a Maria Santíssima.

A encantadora cidade de Genazzano

Genazzano, vendo-se a torre do Santuário e o Castelo

     Genazzano, distante 47 km de Roma, foi escolhida pela Divina Providência para receber a preciosa imagem da Mãe do Bom Conselho. Sua pitoresca simplicidade é destacada em uma cadeia de montanhas. Muralhas romanas e medievais ainda hoje servem de limite à cidade.
     Entre suas preciosidades artísticas, temos o interior de pequenas e encantadoras igrejas. Além disso, há as surpresas resultantes de suas ruelas tortuosas; o casario antigo tem encantos para os peregrinos; o castelo da família Colonna, projetado pelo Cardeal Odonne Colonna, futuro Papa Martinho V (1417-1431), dá a nota da nobreza; os simpáticos habitantes recebem com entusiasmo os visitantes.
     É interessante notar que depois que Constantino o Grande deu liberdade à Igreja, sob o pontificado do Papa São Marcos (336) todos os traços do paganismo nos costumes desapareceram de Genazzano e foi construída uma primeira igreja dedicada à Maria Santíssima sob a invocação de Mãe do Bom Conselho. Tempos depois, os Agostinianos construíram um mosteiro em um extremo da cidade.
     A importância da igreja primitiva foi decaindo com o passar dos séculos, se deteriorou e pouco restava de sua antiga relevância: o nome, um bonito baixo relevo em mármore representando a Virgem do Bom Conselho e o privilégio de ser ponto de peregrinação.
     Em meados do século XIV, o antigo templo foi confiado à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, a fim de assegurar assistência pastoral aos fiéis e a conservação do venerável edifício. O resultado da ação benévola dos frades foi que muitos fiéis de ambos os sexos ingressaram na Ordem Terceira de Santo Agostinho.
     Entretanto, as dificuldades financeiras continuavam, o que impedia a tão necessária reforma da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho.
Promessa à Beata Petruccia
     Petruccia de Nocera, viúva desde 1436 e sem filhos, era terciária agostiniana e dedicava a maior parte de seu tempo à oração e aos pequenos serviços na igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho. O estado em que se encontrava o templo a fazia sofrer e rezava fervorosamente para que ele fosse restaurado.
     Maria Santíssima atendeu suas preces e revelou-lhe, em sonhos, que decidira deixar Scútari e se estabelecer naquela pequena cidade. A filha espiritual de Santo Agostinho tomou então para si a tarefa de reconstruir o deteriorado e abandonado templo com o intuito de deixá-lo pronto para recebê-la.
     Um plano bem estudado compreendia a ampliação de todas as dimensões da igreja velha, reedificando sua estrutura. Petruccia aplicou toda sua herança na reconstrução; depois, vendeu seus pertences, reservando-se o mínimo para sobreviver. Apesar de sua generosidade, mal conseguira levantar algumas paredes! Petruccia já estava com 80 anos e ninguém se apresentava para auxilia-la... As novas paredes se elevavam a pouco mais de um metro do solo...
     A pobre anciã passou a ser motivo de chacotas e debiques, chamavam-na de “louca visionária” que desperdiçara inutilmente seus bens, chegando alguns a repreende-la severamente em público. Mas ela confiava na promessa da Senhora que viria. E se contentava em dizer-lhe: "Não vos preocupeis, meus filhinhos, com esta infelicidade aparente, pois vos asseguro que antes de eu morrer a Santíssima Virgem e nosso Pai Santo Agostinho levarão a cabo os trabalhos de reparação desta igreja".
A chegado do quadro milagroso
    No dia da Festa de São Marcos, Evangelista e Mártir, padroeiro da cidade de Genazzano, de 25 de abril de 1467, o povo estava em meio ao barulho e bulício de uma feira. Petruccia foi para a igreja para rezar. De repente ouviu-se uma melodia celestial e todos buscam de onde ela vem.  Uma nuvenzinha branca descia do Céu e dela saia aquela bela música. Atônito, estupefato, o povo observou a nuvem se dissipar e aparecer o belíssimo quadro da Senhora do Bom Conselho! Ele desceu suavemente e parou junto à única parede inacabada que Petruccia conseguira construir e ali manteve-se flutuando em meio a melodias angelicais, ao badalar de sinos e ao espanto geral dos moradores.
     A Senhora do Bom Conselho cumpria assim sua promessa: descia do céu a Senhora de Scútari para a igreja de Petruccia! Quanta alegria e consolo não teve Petruccia ao presenciar a chegada milagrosa do afresco!
     Na descrição acima dissemos que o afresco parou junto à parede, porque ele não se fixou à parede, mas permaneceu no ar, destacado do chão, sem apoio posterior. Este prodígio é atestado pelo historiador Raffaele Buonanno: "Todas estas maravilhas se resumem, enfim, no prodígio contínuo de encontrarmos hoje a imagem no mesmo lugar e do mesmo modo como ela aí foi deixada pela nuvem no dia de sua aparição, na presença de todo um povo que teve então a felicidade de vê-la pela primeira vez. Ela pousou a uma pequena altura do chão, a uma dis­tância de aproximadamente um dedo da parede nova e rústica da capela de São Brás, e ali ficou suspensa sem nenhum suporte".
O transbordar do amor
      Iniciou-se assim em Genazzano um longo e ininterrupto desfilar de milagres e graças que Nossa Senhora ali dispensa. O Papa Paulo II, tão logo soube do que havia sucedido, enviou dois prelados de confiança para averiguar o que se passara, os quais constataram a veracidade do que se dizia e testemunharam, diariamente, inúmeras curas, conversões e prodígios realizados pela Mãe do Bom Conselho. Nos primeiros 110 dias após a chegada de Nossa Senhora registraram-se 161 milagres!
     Logo surgiram fiéis desejosos de ajudar no término da reconstrução do templo, e hoje o belíssimo Santuário se encontra construído e mantém até os dias atuais a imagem flutuando: segurada por mãos angélicas, ela permanece junto à parece construída pela Beata Petruccia de Nocera!
     Petruccia faleceu poucos anos depois, após ter cumprido com fidelidade a ordem que a Senhora lhe dera. Grande exemplo de santidade e confiança em Deus, mesmo diante de todas as dificuldades e perseguições.
     Quando entram no Santuário, visitado por inúmeros fieis, os peregrinos permanecem embevecidos diante da maternal expressão da milagrosa imagem, e ali ficam em oração. Aquele rosto angelical certamente foi venerado muitas vezes por Petruccia... Que merecido prêmio já neste vale de lágrimas!
     Os católicos albaneses ainda têm esperança e rezam para que a Virgem do Bom Conselho, a Senhora de Scútari, volte para seu país e salve nele o catolicismo. São misteriosos os desígnios de Deus!
                                             *
     A Santa Igreja passa por uma crise sem precedentes na sua história. No Brasil, por exemplo, a porcentagem de fiéis católicos atingiu a taxa mais baixa em anos! Como Petruccia, que "o estado em que se encontra o templo nos faça sofrer e rezar fervorosamente para que ele seja restaurado". Que a confiança que ela depositava na Senhora, de que Ela viria, seja também a nossa ao recordarmos as palavras dEla em Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!"  

Nota: Embora o quadro tenha chegado à Genazzano no dia 25 de abril, a festa de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano foi fixada para o dia seguinte, para não coincidir com a festa do Santo protetor da cidade, São Marcos, Evangelista e Mártir.

O Santuário de Na. Sra. do Bom Conselho,
Genazzano, Itália
À esquerda a atual Igreja de Na. Sra. em Scútari, Albânia;
à direita, o Santuário de Genazzano.





segunda-feira, 23 de abril de 2018

Beata Helena Valentini de Údine, Religiosa Agostiniana – 23 de abril

    
     Na bela cidade de Údine, Itália, nasceu Helena em 1396 (ou 1397), na família dos Valentini, senhores de Maniago. Foi uma adolescente de boas qualidades e de edificante espírito religioso. Muito jovem se casou, em 1414, com o nobre Antônio Cavalcanti; o casal teve três filhos e três filhas.
     Seu esposo faleceu em setembro de 1441, por causa de uma doença contraída enquanto desempenhava uma embaixada de sua cidade em Veneza. Ela então decidiu retirar-se do mundo e providenciou o que se fazia necessário à vida dos filhos. Sob a influência da palavra vibrante do agostiniano Ângelo de São Severino, se fez terceira agostiniana. Entregou-se às obras de misericórdia com sua ação e seus bens. Antes e depois da oração, dedicava grande tempo à leitura. O Evangelho era sua leitura preferida.
     Autorizada pelo padre provincial dos agostinianos, em 1444 fez voto de silêncio absoluto, interrompido somente por ocasião do Natal para se entreter em breves e edificantes conversações com seus filhos e alguns familiares.
     Depois de ter emitido a profissão, até 1446, continuou a viver na casa deixada para ela pelo marido; em seguida foi morar com a Irmã Perfeita, ela também terceira agostiniana. Amava a Ordem Agostiniana de coração. Dando exemplo aos demais, obedecia ao Prior provincial e aos outros superiores.
     Levou sempre uma vida de penitência e de rigorosa mortificação, alimentando-se quase que somente de pão e água, dormindo sobre um duro leito de pedras recoberto de uma fina camada de palhas, flagelando-se continuamente e caminhando com trinta e três pedras nos sapatos “por causa do amor que tive aos bailes e danças que no mundo frequentei ofendendo ao meu Senhor, e pelo amor que levou o meu terno Jesus a caminhar durante trinta e três anos no mundo por amor de mim”.
     Todas as formas de penitência que ela se impunha sempre foram inspiradas pelo duplo motivo: imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo e antítese de sua vida anterior. Com grande força e ânimo, numa pequena cela na sua casa, enfrentou toda sorte de provações e somente saia para rezar e meditar na sua querida igreja de Santa Luzia.
     A sua vida de completa renúncia e de luta foi confortada por êxtases e visões celestes, e Deus a recompensou com o dom dos milagres e do conhecimento de coisas ocultas.
     Como resultado da fratura dos fêmures, a Beata permaneceu os últimos três anos de vida presa a seu pobre e duro leito, demonstrando uma grande serenidade e paciência até a morte, que ocorreu no dia 23 de abril de 1458.
     Foi sepultada na igreja de Santa Luzia aonde costumava abandonar-se à contemplação, oculta no pequeno “oratório” de madeira que mandara construir para livrar-se da admiração e curiosidade dos fiéis.
     Depois de vários traslados, em 1845 os despojos da Beata encontraram um digno local na Catedral de Údine, onde ainda hoje estão expostos à veneração pública. Seu culto foi confirmado em 1848 pelo Beato Pio IX. A sua memória litúrgica acontece em 23 de abril.
      O espírito de penitência, a humildade, a devoção à Paixão do Senhor, o amor à Eucaristia e o espírito de serviço ao próximo marcaram sua vida.

Fontes:
www.santiebeati.it/
http://es.catholic.net/op/articulos/35002/elena-valentini-de-udine-beata.html#
http://augustinians.net/index.php?page=helenudine_es

Este resumo apareceu pela 1ª vez neste blog em 22 de abril de 2013.

Údine, Itália
     
     Em 983 a.D., Údine é mencionada pela primeira vez, junta da doação do Castelo de Utinum pelo imperador Oto II aos patriarcas de Aquileia, então principais senhores feudais da região. Em 1223, com a fundação do mercado, a cidade transformou-se na mais importante para a economia, e transformou-se também no assento dos patriarcas.
     Udine, a histórica capital do Friuli Venezia Giulia, é conhecida por sua rica história, saborosos vinhos e boa comida. Fundada em 1220, é a maior cidade da região a 40 quilômetros da fronteira com a Eslovênia, tendo uma linda vista para os Alpes e o Mar Adriático.
     A cidade sofreu um grande terremoto em 1511 que destruiu as antigas construções, mas a reconstrução em estilo renascentista tornou Udine ainda mais maravilhosa. O patrimônio histórico e artístico de Udine está no Castelo que foi construído após o terremoto, um dos salões mais antigos do parlamento europeu.
     Em 1420, Údine foi conquistada pela República de Veneza. Em 1511 foi o palco de uma guerra civil curta, seguida por um terremoto e por uma epidemia. Údine remanesceu sob o controle veneziano até 1797, tendo grande importância. Depois de um curto domínio francês que seguiu, tornou-se parte do reino de Lombardia-Veneza e por fim incluída no reino recentemente formado, a Itália em 1866.
     Durante a 1ª. Guerra Mundial, até a derrota na Batalha de Caporetto, o alto comando italiano se estabeleceu em Údine, que foi apelidada de "Capitale della Guerra” ("Capital da Guerra") e "la Parigi del Fronte" ("a Paris da Fronteira"). Depois da guerra, ela foi feita capital de uma província que existiu durante pouco tempo (Província del Friuli) que incluía as atuais províncias de Gorizia, de Pordenone e de Údine. Após o oito de setembro de 1943, em que a Itália se rendeu aos aliados na 2ª. Guerra Mundial, a cidade passou à administração direta da Alemanha, que cessou em abril de 1945.
 
A Catedral de Údine

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Santa Inês de Montepulciano, Virgem - 20 de abril

    
     Inês nasceu em 28 de janeiro de 1268, na aldeia de Graciano, próxima da cidade de Montepulciano. Era filha de pais riquíssimos, da família dos Segni.
     Algumas das mais conhecidas legendas aconteceram em sua infância, a começar pelo seu nascimento, quando sua casa foi cercada por muitas luzes. Mal aprendeu a falar e já ficava pelos cantos recitando orações, procurando lugares silenciosos para conversar com Deus. Não tinha ainda seis anos quando manifestou aos pais a vontade de tornar-se religiosa, pois durante uma visita com sua família a Montepulciano conheceu as “freiras franciscanas do saco”, assim chamadas por causa do rústico hábito, e desejou ingressar naquele convento.
     Como seus pais dissessem que ela era muito jovem, ela implorou que eles mudassem para Montepulciano de modo que ela pudesse fazer visitas mais frequentes aquele convento. Por causa da instabilidade política, seu pai estava com receio de mudar de um lugar seguro, mas permitiu que ela visitasse com mais frequência as “freiras do saco”.
     Em uma dessas visitas um evento levou todos os autores dizerem que teria sido profético. Inês estava em Montepulciano com sua mãe e com uma mulher da casa, quando elas passaram por uma colina onde havia um bordel e um bando de corvos, voando baixo, atacaram a menina. Eles conseguiram arranhá-la antes que as mulheres pudessem afastá-los. Surpresas com o ataque, mas seguras de si, elas disseram que o ataque devia ser coisa do demônio que se ressentia da pureza da pequena Inês a qual um dia os afastaria daquela colina.
     Aos nove anos pediu para ser admitida no mosteiro onde foi imediatamente aceita. Sua formação religiosa foi entregue a experiente Irmã Margarete e Inês logo surpreendeu a todos pelo seu excepcional progresso. Por 5 anos ela teve uma paz completa que ela jamais voltaria a ter. Aos 14 anos foi indicada como auxiliar da tesoureira e nunca mais ficou sem sentir alguma responsabilidade pelos outros.
     Inês alcançou um alto grau de contemplação e foi abençoada com várias visões. Uma das mais belas foi a da visita da Virgem. Nossa Senhora veio com o Divino Infante em seus braços e permitiu que Inês O segurasse. Quando a Virgem foi de novo segurá-Lo ela não O soltou, e assim ela acordou de seu êxtase: a Virgem e o Menino Jesus haviam partido, mas Inês estava agarrada a um lindo crucifixo de ouro. Ela passou a usá-lo com uma corrente em seu pescoço e o guardou toda sua vida como um tesouro precioso.
     Em outra ocasião Nossa Senhora deu a ela três pequenas pedras e disse que algum dia ela deveria construir um convento com elas. A Virgem disse a ela para guardar as três pedras em honra à Santíssima Trindade.
     Algum tempo depois foi aberto em Procena, próximo de Orvieto, um novo convento Franciscano e as irmãs pediram às freiras de Montepulciano que enviassem uma superiora. Irmã Margarete foi selecionada, mas estipulou que Inês deveria ir com ela para ajudar na fundação da nova comunidade. Ali Inês serviu como “dona de casa” uma grande responsabilidade para uma jovem de 14 anos. Logo muitas outras jovens entraram para o Convento de Procena atraídas pelo exemplo de Inês.
     Ainda não completara dezesseis anos de idade quando suas companheiras de convento a elegeram superiora e o papa Nicolau IV referendou essa decisão incomum. Diz a tradição que o Papa teve uma visão para permitir que ela ocupasse o cargo.
     No dia que ela foi consagrada Abadessa, uma chuva de cruzes bancas flutuava dentro da capela e em volta das pessoas. Parecia ser uma comemoração celestial a uma situação bastante extraordinária: uma menina sendo consagrada Abadessa!
     Contudo sua atuação no Cristianismo fica bem demonstrada com uma vitória histórica que muito contribuiu para sua canonização. Inês dizia às religiosas que um dia transformaria aquele bordel da colina em convento. Partindo dela, prometer, lutar e conseguir não era surpresa alguma para ninguém. A surpresa foi ter conseguido ir além do prometido, tanto influenciou as mulheres, que as pecadoras se converteram e a casa se transformou num convento exemplar na ordem e na virtude.
     Por 20 anos Inês viveu em Procena. Era uma Superiora cuidadosa e às vezes fazia milagres para aumentar o suprimento de pão quando este era pouco no convento. Ela orava e a despensa milagrosamente ficava repleta de pães.
     A disciplina desta abadessa era legendária. Ela viveu de pão e água por 15 anos. Dormia no chão, com uma pedra como travesseiro. É dito que em suas visões os anjos lhe traziam a Sagrada Comunhão; quando ela se ajoelhava para orar, os lírios ou rosas por perto desabrochavam imediatamente.
     Quando suas visões ficaram conhecidas, os cidadãos de Montepulciano a chamaram de volta para uma pequena estadia. Ela foi sem muita vontade, porque não gostava de deixar sua clausura. Mas logo que chegou ficou sabendo que eles a haviam chamado para construir um novo convento. Em uma visão foi-lhe dito para deixar os Franciscanos e que ela seria no futuro uma Dominicana.
     Em 1306 Inês retornou a Montepulciano e iniciou a construção do convento no local do antigo bordel. Tudo o que ela tinha eram as três pedras dadas pela Virgem Maria e como tinha sido tesoureira, ela conhecia um pouco o que fazer. Após uma discussão com os moradores da colina, onde ela queria a fundação, a terra foi finalmente obtida e o Prior servita colocou a primeira pedra. Inês terminou a construção do convento e da igreja, a que deu o nome de Santa Maria Novella, bem antes do tempo normal e com várias aspirantes para o novo convento.
     Inês estava convencida que a nova comunidade precisava ser ancorada em uma Constituição ou Regras bem estabelecidas para obter de Roma a licença permanente. Ela explicou que as Regras deveriam ser as Dominicanas. O novo convento foi aprovado e ela foi indicada como Abadessa e os Dominicanos concordaram em providenciar os capelães e as diretrizes para a nova comunidade.
     Com a idade de 49 anos a saúde da Santa começou a decair rapidamente. Santa Inês veio a falecer logo depois, em 20 de abril de 1317, e disse às irmãs que estavam com ela: Vocês descobrirão que eu não as abandonarei. Eu estarei com vocês para sempre.
     Os frades e as irmãs dominicanas queriam embalsamar o corpo de Inês e para tanto iam enviar pessoas a Genova para comprar bálsamo. Mas, isso não foi necessário: das mãos e dos pés da Santa pingava um líquido de cheiro doce que embebia o papel com que cobriram o seu corpo. O eco do milagre fez com que muitos doentes acorressem desejando ser ungidos pelo óleo milagroso.
     São Raimundo de Cápua, o biografo de Santa Inês, relatou que 50 anos após a morte dela seu corpo ainda estava intacto como se ela tivesse acabado de morrer, e muitos foram os milagres de cura que tiveram lugar na igreja, atualmente conhecida como Igreja de Santa Inês. Esses milagres foram registrados por um notário público, já poucos meses após a morte da Santa.
     Ela foi enterrada em Montepulciano e seu túmulo logo se tornou local de peregrinação. Uma das mais famosas peregrinas a visitar seu Santuário foi Santa Catarina de Sena que foi venerá-la e também visitar uma sobrinha de nome Eugênia que era freira no convento. Quando ela se inclinou para beijar os pés de Inês ficou maravilhada ao ver que ela levantava seu pé suavemente de encontro aos seus lábios.
     Em 1435 seu corpo incorrupto foi levado para um lindo Santuário em uma igreja Dominicana em Orvieto, onde está até hoje. O Papa São Clemente VIII aprovou um Oficio para uso na Ordem de São Domingos e inseriu seu nome no Martirológio Romano.
     Ela foi canonizada pelo Papa Bendito XIII em 1726. É padroeira de Montepulciano.

Fontes: http://alexandrinabalasar.free.fr

Corpo incorrupto de Sta. Inês de Montepulciano


Este texto apareceu pela 1a. vez neste blog em 19/4/2014