sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Beata Maria Teresa de São José, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus – 20 de setembro

    
      Ana Maria Tauscher nasceu em Sandow, uma pequena cidade cerca de 100 km sudeste de Berlim (atualmente Polônia), no dia 19 de junho de 1855. O pai de Ana Maria, Herman Traugott Tauscher, um pastor protestante de alto cargo, exercia a profissão que era a mesma de seus antepassados desde a época de Martinho Lutero. Sua mãe, embora luterana, tinha um grande amor pela Santíssima Virgem, motivo pelo qual, em 24 de julho, quando sua filha foi batizada, colocou-lhe o nome de Ana Maria. O batismo foi administrado pelo avô, que também era luterano.
     Sua infância transcorreu de modo feliz e despreocupado. Em maio de 1862 seu pai foi nomeado superintendente em Arnswalde, e a família se mudou, tendo aumentado com o nascimento de outras meninas: Lisa e Madalena.
     Seu pai foi novamente transladado, desta vez para Berlim, em 1865. Ana Maria começou a sentir-se mal e devido sua saúde delicada e com vistas aos estudos, seus pais mandaram-na, com sua irmã Lisa, para um colégio para meninas situado no campo.
A pequena Ana Maria
     Durante a Páscoa de 1872 seu pai a fez voltar para casa para que recebesse a Confirmação. Foi uma grande prova para ela, porque se sentia cada vez mais distanciada do luteranismo.  Desde a idade de 15 anos, Ana Maria aspirava a uma verdade ainda mais profunda que aquela que lhe tinha sido transmitida através da sua educação luterana. 
     Aos 22 anos ela começou a ler quotidianamente a Sagrada Escritura e a Imitação de Cristo. Um dia, frente a alguns colegas de seu pai, ela defendeu mesmo a doutrina da infalibilidade pontifícia. Ela também acreditava na virgindade de Maria, sem nunca ter estado em contato com católicos, nem ter lido obras católicas.
     Sua mãe faleceu em 1874, com somente 45 anos de idade, e Ana Maria, abatida pela dor, teve que encarregar-se do cuidado da família. Cinco anos depois seu pai casou-se de novo e a eximiu dessa responsabilidade. Ela pode então realizar o desejo que cultivava há muito tempo: constituir uma associação de moças que se dedicassem a diversos trabalhos manuais para vende-las e assim ajudar as missões.
     Em fevereiro de 1886, estando em Berlim na casa de amigos, Ana Maria leu num jornal de Colônia um anúncio propondo um trabalho de enfermeira chefe num hospital psiquiátrico. No dia 6 de março de 1886, Ana Maria deixou Berlim para começar a trabalhar na clínica de Lindenburg.  
     Ela não tinha nenhuma experiência de enfermeira, mas sua entrega e seu amor quase maternal logo transformaram o asilo num autêntico Lar. À exceção do diretor, todas as pessoas da clínica de Lindenburg eram católicas. Um dos sacerdotes que visitava os doentes ofereceu-lhe um catecismo da Igreja Católica. E assim ela começou rapidamente a preparar, em segredo, a sua conversão.
     Quando Ana Maria fez a sua profissão de fé na Igreja Católica, em 30 de outubro de 1888, deixou para trás todo o seu passado. Desaprovada por seu pai, despedida do hospital de Lindenburg, Ana Maria colocou toda a sua confiança em Deus. Apesar de se ter proposto para vários empregos, ela não conseguia um outro trabalho, porque seu diretor tinha feito uma carta de recomendação pouco favorável. A partir de então, ela se viu sem trabalho e sem casa. Graças à ajuda de amigos católicos, Ana Maria foi recebida num convento, onde também eram cuidadas pessoas idosas. 
     Todas as tardes e todas as noites, Ana Maria vinha junto ao Senhor, frente ao altar do Santíssimo Sacramento, fortalecendo assim os laços que a uniam ao seu Divino Esposo. Continuava, no entanto, a sua séria procura de trabalho.
     Ana Maria desejava entrar numa ordem religiosa, mas tinha constantemente aquilo a que chamava “tentações do orgulho” de fundar a sua própria Congregação. Ela não podia partilhar com ninguém esta sua ideia. Esperava que entrando numa comunidade esta provação desaparecesse. Os seus confessores sabiam que Deus a chamava para o seu serviço, mas aconselharam-na a não entrar numa ordem já existente. Passados 10 meses, ela recebeu uma carta da Condessa de Savigny, uma católica fervorosa que vivia em Berlim, e que lhe propunha trabalho de dama de companhia. Apesar da sua tristeza à ideia de deixar Colônia, Ana Maria aceitou.
     Acompanhando a Condessa de Savigny nas suas viagens, Ana Maria começou a ler A Vida de Santa Teresa de Jesus, a grande santa reformadora do Carmelo no século XVI. A humildade de Teresa, o seu amor por Deus, o seu desejo ardente de salvar almas e o seu heroísmo correspondiam perfeitamente a Ana Maria. Desde então ela queria uma só coisa: entrar no Carmelo. Mas, uma vez mais o seu confessor a dissuadiu, e ela continuou a resistir à “sua tentação”. Quando o seu confessor partiu para as missões, Ana Maria procurou o conselho de um outro padre. As palavras dele foram libertadoras: “Pare de resistir à graça!” (A.p.98). 
Ana Maria jovem
   
Ana Maria começou desde logo a trabalhar naquilo para que se sentia chamada. Em Berlim, ela tinha presenciado o grande desespero das crianças sem casa. Colocou-se em contato com o Delegado Episcopal de Berlim e obteve autorização para abrir um Lar para crianças. Com 500 marcos que a Condessa lhe tinha dado em sinal de agradecimento, Ana Maria abriu o primeiro Lar São José, a 2 de agosto de 1891. Começou por instalar três crianças, uma educadora e uma empregada doméstica em alguns quartos de um prédio antigo, situado em “Pappelallee”. As crianças a chamavam “Mãe” e muito rapidamente passou a ser conhecida como “Mãe da Pappelallee”. Mas ainda faltava algo: a presença eucarística. Ana Maria não se cansava de rezar: “Senhor, se vierdes, eu venho também”. (A.p.111), e estava firmemente decidida a só se instalar no Lar São José quando o Santíssimo Sacramento aí estivesse presente.
     A Eucaristia se tinha tornado o centro da vida e do trabalho de Madre Maria Teresa de São José. “Deus inflamou o meu coração com tanta veemência de amor, que todo o sofrimento que a graça de Deus mais tarde me mandou, ou permitiu que caísse sobre mim, não me parecia mais que uma gota de água que cai em cima de um ferro incandescente”. (A.p.65)
     Com Jesus e por seu amor, ela estava pronta para tudo suportar, mas a sua ausência era para ela uma verdadeira tortura.
     Coração de Jesus, ninguém pode compreender como anseio por Vós. Ninguém é capaz de contar as lágrimas de desejo que chorei por Vós. Senhor, se vierdes, eu venho também!” (A.p.) Era esta a sua oração constante. Era a fonte que alimentava todas as suas atividades apostólicas.
     A 8 de dezembro de 1891, Cristo veio morar na “Pappelallee”. Para Ana Maria foi “o dia mais feliz da sua vida”.
     As nossas almas ganham vida nova na grande fonte de amor que é o SS. Sacramento e todos os dias se reacendem no fogo do Divino Amor que nunca descansa, mas que espalha ao redor de si as suas centelhas que são as obras de caridade em que Ele se consume”. (A.p.402)
     Em 1891, contemplando a beleza de um pôr-do-sol, ela compreendeu a razão de ser das suas fundações: “A consagração das Servas do Divino Coração de Jesus a: I – expiação dos pecados, II – Santificação pessoal, III – Salvação das almas” (A.p. 99).
     Ela conhecera o Carmelo através de Santa Teresa de Jesus e tinha encontrado no zelo e nas orações dos santos do Carmelo, que tinham oferecido suas vidas como vítimas de Amor pela salvação das almas e glória da Igreja, uma fonte de inspiração para a sua própria vocação. A sua Congregação deveria seguir a espiritualidade carmelita. Santa Teresa tinha aberto o caminho.
     A partir de novembro de 1896, Madre Maria Teresa e as jovens que a ela se uniram, cuidam das crianças e fazem missão nos domicílios, observando ao mesmo tempo a regra Primitiva da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
     Em 1897, mais de quarenta jovens já se tinham associado à obra de Madre Maria Teresa servindo nos Lares São José. Para além dos dois Lares de crianças em Berlim, havia ainda mais dois em Boêmia e um outro em Oldenburg. Em Berlim, ela abriu também um centro para os padres que trabalhavam ou estudavam nesta cidade. No entanto, Madre Maria Teresa não fundava os Lares São José para serem somente instituições sociais.
     Tal como a sua mãe espiritual, Santa Teresa de Jesus, a maior alegria da Madre Maria Teresa era a de ser filha da Igreja. A sua humildade era imensa ao se aperceber que Deus a tinha chamado a si, “uma filha do deserto”, para fundar uma comunidade religiosa, e para guiar outras mulheres já nascidas no seio da Igreja. Como uma verdadeira filha da Igreja, sempre se mostrou fiel e obedeceu aos bispos e aos ensinamentos da Igreja. A “voz do Bispo” representava para ela a “voz de Deus”, mesmo quando se tratava de encerrar um convento ou um Lar.
     Madre Maria Teresa viu a Igreja ser perseguida e devendo fazer face a inúmeros entraves. Em profunda união com o Sagrado Coração de Jesus, os sofrimentos e a glória do Corpo Místico de Cristo – a Igreja – tornam-se seus próprios sofrimentos e sua glória.
     Madre Maria Teresa esperava obter do Cardeal Kopp, Bispo de Breslau (de que Berlim dependia nessa altura), o reconhecimento da sua fundação como Congregação religiosa. Apesar de financiar o trabalho das Irmãs, o prelado continuou inflexível e recusou a aprovação canônica da Congregação.
     Madre Maria Teresa decidiu ir procurar ajuda em Roma. Lá, encontrou o Padre Geral da Ordem do Carmelo e expôs-lhe o seu desejo de reunir numa mesma espiritualidade os dois aspectos do espírito do Carmelo – oração contemplativa e zelo apostólico - para responder às necessidades da época. Esta iniciativa entusiasmou de tal maneira o Superior Geral que ele abençoou o seu escapulário e a ajudou a obter uma carta de recomendação do Cardeal Parocchi, protetor da Ordem do Carmelo.
     Contudo, devido a situação tensa vivida na Igreja da Alemanha, o Cardeal Kopp continuou a recusar considerar como religiosas as irmãs que trabalhavam nos Lares São José. Madre Maria Teresa começou a procura de um bispo que aceitasse receber as suas noviças e criar uma Casa Mãe em sua diocese. Durante seis anos viajou desde a Baviera até à Holanda, passando pela Inglaterra e pela Itália. Finalmente, em 1904, em Rocca di Papa, Itália, surge a Casa Mãe. Aí se manteve durante 18 anos, tendo sido transferida para Sittard depois da 1ª. Guerra Mundial.
     Em Berlim, muitos padres e outros católicos criticaram severamente Madre Maria Teresa no seu desejo de criar uma nova Congregação religiosa. As jovens que tinham intenção de entrar para a comunidade, ou ajudá-la, eram constantemente dissuadidas. A calúnia e a difamação dos opositores pareciam vir de todo o lado, onde quer que Madre Maria Teresa se instalasse. Mas nunca ela retorquiu dizendo mal deles. Durante todos esses anos, teve que enfrentar a solidão, o afastamento da sua família, a doença e a pobreza.
     O sofrimento tinha-se tornado para Madre Maria Teresa uma fonte de alegria profunda, pois era um meio que ela utilizava para unir sua alma a Deus, e para, com o Salvador, participar na redenção do mundo.
     Ao fundar as Carmelitas do Divino Coração de Jesus, Madre Maria Teresa entregou-se inteiramente a Deus como vítima do seu amor. Passou a sua vida servindo os pobres e rezando, trabalhando e sofrendo pela salvação das almas e pela liberdade da Igreja. Em 1930, o trabalho e o sacrifício de Madre Maria Teresa foram coroados pela aprovação de sua Congregação pelo Papa Pio XI.
     Madre Maria Teresa percorreu a Europa e os Estados Unidos para fundar os Lares para as crianças, e mais tarde os Lares para os idosos. Os últimos anos de sua vida passou-os em Sittard (Países Baixos), dirigindo a Congregação a partir da Casa Mãe, aí estabelecida desde 1922.
     Apesar de muito enfraquecida fisicamente e quase cega, passava largas horas em oração, de joelhos, frente ao Santíssimo Sacramento e continuou sempre meiga e atenciosa para com as suas Irmãs.
     Antes de morrer, a 20 de setembro de 1938, deixou às suas Irmãs, como sendo sua última vontade e testamento, uma linda declaração: “Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja sempre louvado e exaltado o Senhor” (A.P. 445).
     Na noite em que morreu, Madre Maria Teresa pediu que lhe trouxessem o crucifixo que a tinha acompanhado durante todas as suas viagens. Desde esse momento e até seu último suspiro não mais o largou. Durante toda a noite, só teve uma oração: “Tenho de voltar à casa do pai! Deixem-me ir para a casa!” (A.p. 445).
     Madre Maria Teresa de São José foi beatificada a 13 de maio de 2006.

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