terça-feira, 9 de outubro de 2018

Santa Públia de Antioquia, Abadessa - 9 de outubro


Martirológio Romano: Em Antioquia, na Síria, hoje Antakya, na Turquia, a comemoração de Santa Públia, que depois da morte do esposo entrou num mosteiro e, à passagem do imperador Juliano o Apóstata, cantando com as suas companheiras virgens as palavras do salmo “Os ídolos dos gentios são ouro e prata” e “Sejam como eles os que os fazem”, por ordem do imperador foi esbofeteada e asperamente repreendida. († c. 362)

    Públia era uma matrona síria que ingressou em um mosteiro após o falecimento de seu esposo. Ela reuniu em sua casa algumas virgens e viúvas para consagrar-se às práticas de piedade na vida em comum. Logo foi eleita abadessa do mosteiro.
     Em 362, o imperador Juliano, o Apóstata, (assim chamado porque depois de ser cristão voltou ao paganismo) passou por Antioquia em uma campanha contra a Pérsia. Ao passar diante da casa de Públia, Juliano ouviu estas mulheres cantar o Salmo 115: “Os ídolos dos gentios são de ouro e prata e estão feitos pela mão do homem; não têm boca e não podem falar”. “Que os que constroem os ídolos e todos os que põem confiança neles sejam como seus deuses”.
     Juliano tomou como uma alusão pessoal e mandou calá-las para que nunca mais fosse possível que cantassem. Públia respondeu por suas companheiras citando o Salmo 67: “Deus se levantará e destruirá seus inimigos”. Juliano mandou-a chamar e ordenou que fosse esbofeteada constantemente, até que as demais deixassem de cantar. Prometeu condená-las a morte quando voltasse da campanha da Pérsia, mas Juliano nunca voltou dessa campanha, e assim Públia e suas companheiras acabaram suas vidas em paz.
     Públia faleceu em 364. Alguns escritores (Tritenio ou Lezana) em seus escritos sobre a Ordem do Carmo a incluem como santa desta Ordem.
Fonte:
-"La leyenda de oro para cada día del año". Volumen 3. Pedro de Ribadaneira, Barcelona, 1866.

Quem foi Juliano, o Apóstata
    Flávio Claudio Juliano nasceu em Constantinopla em 331 ou 332. Era filho de Júlio Constâncio, (meio irmão do imperador Constantino I) e sua segunda esposa, Basilina. Seus avós paternos eram o imperador romano do Ocidente, Constâncio Cloro, e sua segunda esposa, Flávia Maximiana Teodora.
     Ainda criança, Juliano testemunhou o assassinato de sua família por seu primo, o imperador cristão Constâncio II em 337, quando este, após a morte de Constantino I, procurava eliminar possíveis rivais ao trono. Juliano e seu irmão Constâncio Galo viveram encerrados numa vila em Macellum, na Capadócia. Aí recebeu Juliano uma severa educação cristã, tendo sido até ordenado leitor (das Sagradas Escrituras). No entanto, continuou a ler apaixonadamente os autores clássicos pagãos, que sempre o fascinaram mais. Mais tarde, por volta de 350, encontramo-lo em Constantinopla e Nicomédia a estudar junto de filósofos neoplatônicos, como Máximo de Éfeso, que esteve por trás da sua conversão a uma forma mística de paganismo associada a magia. Durante mais ou menos 10 anos, Juliano ocultou esta sua conversão.
     Constâncio nomeou-o César em 355, quando foi chamado a Milão. Foi então enviado à Gália para conter as invasões de francos e alamanos, aonde foi vitorioso e restabeleceu a linha fronteiriça do Reno. Em 360, Constâncio decidiu retirar as melhores tropas de Juliano, deslocando-as ao oriente, para a campanha contra os persas. O descontentamento entre os militares foi grande. Com o início da marcha das tropas, nas imediações de Lutécia (atual Paris), elas se amotinaram e trataram de aclamar Juliano como Augusto. Constâncio recusou tal aclamação, o que fez com que Juliano marchasse contra ele em 361. Constâncio, então em Antióquia, decide contra-atacar, mas morre em Tarso, vítima de uma febre.
     Ao entrar em Constantinopla, Juliano logo impôs um programa de reformas. Livrou-se dos funcionários mais odiados de Constâncio e proclamou a liberdade de culto para cristãos e pagãos, reabilitando o clero que estava no exílio. Reduziu de forma drástica o pessoal do palácio imperial. Diminuiu alguns impostos e reforçou o controle das finanças públicas. 
     Em sua religião helenística, acolheu toda a cultura grega, tentando devolver à literatura pagã o seu conteúdo religioso. Cristãos como São Gregório de Nazianzeno indignaram-se com a medida. É verdade que houve um favorecimento dos pagãos, mas proibiu-se qualquer ação depreciativa contra os cristãos. Isso não impediu que Juliano atacasse duramente o cristianismo, como na sua obra Contra os Galileus.
Juliano, o Apóstata, e a Reconstrução do Templo de Jerusalém
      Juliano sabia que, segundo a predição de Jesus Cristo, não devia ficar pedra sobre pedra do edifício do templo, e quis dar um desmentido ao “Deus dos galileus”. Posto que não gostasse dos judeus, chamou-os para a obra e prodigalizou-lhes dinheiro e promessas. Encarregou o conde Alípio, um dos seus mais fiéis oficiais, de vigiar e apressar os trabalhos.
      Começaram por arrancar os antigos alicerces. O número dos operários era incalculável, e o seu ardor parecia que superaria todos os obstáculos. Contudo, São Cirilo, Bispo de Jerusalém, zombava de todos os seus esforços e dizia publicamente que era chegado o tempo em que se cumpririam literalmente os oráculos do Senhor: “Nem sequer porão uma pedra sobre outra” — repetia o santo prelado sem se perturbar. Efetivamente, tirados os velhos fundamentos, sobreveio um horrível terremoto, que encheu as escavações, dispersou os materiais amontoados, derrubou os edifícios vizinhos, matou ou feriu uma parte dos trabalhadores.
      Passados poucos dias, lançaram outra vez mão à obra. Mas imensos globos de fogo saíram das entranhas da terra, repeliram os materiais e devoraram os obreiros e as ferramentas. Este terrível fenômeno reproduziu-se várias vezes. O fogo só cessou de aparecer depois de abandonada a obra. Este fato é incontestável. Atestam-no São Cirilo, testemunha ocular, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São Crisóstomo e São Gregório Nazianzeno, contemporâneos deste prodígio. Além desses, os historiadores Rufino, Sócrates, Sozomeno, Teodoreto, Zonoras, Epifânio, o diácono Nicéforo, Calixto, o ariano Filostorgo, o judeu David Gunzi, o rabino Gédaliah e o próprio Amiano Marcelino, pagão, amigo íntimo e zeloso defensor de Juliano.
      A este respeito, São Crisóstomo exclama: “Cristo edificou a sua Igreja sobre a pedra, e nada pôde derrubá-la. Ele derrubou o templo, e nada pôde reedificá-lo. Ninguém abate o que Deus eleva, nem eleva o que Deus abate”. Segundo a maior parte dos autores eclesiásticos, juntou-se um fogo vindo do céu às chamas saídas da terra, e apareceram cruzes luminosas nos ares, e até sobre a roupa dos trabalhadores. Tão extraordinário prodígio espantou todos os espectadores. Muitos judeus, e até idólatras, confessaram a divindade de Jesus Cristo e pediram o batismo.
      Deste modo, em lugar de destruir a profecia do Salvador, Juliano completou-a, tirando até a última pedra do templo de Jerusalém. Ele ficou confundido, mas nem por isso abriu os olhos à luz.
(Pe. Rivaux, “Tratado de História Eclesiástica” – Livraria Chardron, Porto, 1876, Tomo I, pp. 305-307).
Expedição de Juliano contra os persas
      Depois de magra refeição, Juliano sentou-se numa cama de campanha para redigir seu diário. Durante esse trabalho, viu ele aparecer a seu lado o gênio do império, o mesmo que já o tinha visitado no palácio de Lutécia (atual Paris) na noite em que as legiões gaulesas o tinham saudado com o título de Augusto. Desta vez o espectro estava vestido com um manto negro. Fitou longamente em Juliano um olhar tristonho e saiu da tenda sem pronunciar uma única palavra.
      O imperador saiu em disparada, aterrorizado, ao encalço do fantasma. Por causa de seus gritos, acorreram à sua tenda seus mágicos e sacerdotes pagãos habituais, tendo Máximo à frente. Tentaram tranquilizá-lo. Aconselharam-no a oferecer um sacrifício aos gênios protetores. À meia-noite, a vítima, uma novilha branca, foi levada para junto do altar. Mas no momento em que a faca do sacerdote lhe abria o pescoço, uma estrela que deslizava lentamente descreveu um arco no zênite, traçando um rastro de luz que se extinguiu repentinamente no horizonte. “É o deus Marte que se vinga de mim!” — exclamou Juliano.
      A última noite de Juliano, perturbada por essa série de presságios funestos, findou em consultas aos mágicos e sacerdotes. Os intérpretes oficiais da vontade dos deuses declararam unanimemente que esses fenômenos eram uma advertência do céu, e que se tornava necessário suspender todos os planos de ataque para o dia seguinte.
      Sob um sol tórrido, Juliano acabava de depor sua couraça quando um clamor intenso irrompeu em torno dele. Era o exército persa que, aproveitando a situação excepcional, invadia o acampamento. Sem se dar o tempo de revestir a armadura, Juliano monta a cavalo, voa até a retaguarda onde tinha lugar o ataque, e organiza a resistência. Alguns instantes depois, um grupo de arqueiros persas faz chover sobre o imperador e sua escolta uma saraivada de flechas. Uma delas, após arranhar o braço direito do imperador, vem enterrar-se-lhe no fígado.
      Diz Teodoreto que nesse momento Juliano levou a mão à ferida, recolheu o sangue que saía aos borbotões e o lançou ao céu, gritando: “Venceste, Galileu!

(Pe. J.E. Darras, “Histoire Generale de L’Église” – Ed. Louis Vivès, Paris, 1867, vol. 10)

Etimologia: Públia = forma feminina de Públio, “formoso, belo”.
Nome do general vencedor de Aníbal: Públio Cornélio Escipion.
Nome da Rainha de Aragão e Condessa de Barcelona (1136-1173)

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