"Deus
te ungiu com o óleo da alegria" (Salmo 54,8)
Vilibaldo foi educado na Abadia de Waltham, perto de Winchester. Vinibaldo, de temperamento menos ativo e mais contemplativo, foi educado em casa. Quando tinha seis anos de idade, nasceu-lhe uma irmã que foi batizada com o nome de Valburga, equivalente no grego a Eucheria, que significa “graciosa”. Muito cedo perderam a mãe e uma amizade muito profunda ligou os dois irmãos.
Em 721, Vilibaldo, então com cerca de vinte anos, manifestou o desejo de visitar a Terra Santa. Deixou a abadia com a licença de seu superior e voltou para Dorsetshire para persuadir o irmão a acompanhá-lo na viagem. Ricardo estava enfermo e Vinibaldo não queria deixá-lo só. Sequer mencionou ao pai os planos do irmão mais velho. Mas, este revelou seu plano e tão eloquente foi, que o pai resolveu acompanhar os filhos na peregrinação.
Valburga tinha então 11 anos apenas. Ela sabia, contudo, que as peregrinações, muitos frequentes entre os saxões, exigiam muito dos viajantes que enfrentavam dificuldades e perigos; muitos meses se haviam de passar antes que fosse possível receber notícias dos peregrinos; o seu pai era velho, talvez não resistisse aos rigores da penosa e longa peregrinação... Todavia, nada fez para dissuadir seu pai de tão santa decisão.
A Rainha Cuthberga fundara recentemente em Dorsetshire a Abadia de Wimbourne. Esposa do Rei Alfredo, a rainha sentira um chamado para uma dedicação total a Deus e obtivera licença do esposo para se tornar monja. O magnífico mosteiro duplo de Wimbourne tornou-se logo célebre pela santidade de seus habitantes e austeridade da sua disciplina.
Ricardo resolveu levar a pequena Valburga para esta grande abadia, para que dela cuidassem as monjas enquanto ele se ausentava. Ao se despedir de seu pai, Valburga não imaginava que não o tornaria a ver: o santo homem faleceu na Itália, sendo sepultado pelos dois filhos em Lucca.
Enquanto seus irmãos abraçavam a vida monástica em Roma, Valburga adotou também o estado religioso, passando vinte e seis anos em Wimbourne.
Destes vinte e seis anos pouco se sabe, mas, tendo em vista que o nível intelectual das monjas daquele mosteiro era muito elevado, pois escreviam com fluência o latim e o grego, e com facilidade citavam os clássicos, sendo notáveis suas iluminuras e transcrições de Missas, Sagradas Escrituras etc., além de bordados em fio de ouro e prata, presume-se que Valburga recebeu sólida instrução e aperfeiçoou-se em todos estes trabalhos.
Aconteceu então que São Bonifácio, tio de Valburga, o grande apóstolo da Alemanha, foi a Roma pedir ajuda para o seu trabalho missionário naquela região. O Papa instou Vilibaldo e Vinibaldo a acompanharem o dedicado tio.
Mais tarde, por meio de uma carta dirigida a Lioba, sua prima, e a Valburga, sua sobrinha, São Bonifácio convidou-as a fundar um mosteiro em sua diocese, para mostrar às mulheres daquela região o exemplo das virgens cristãs. Após breves preparativos Santa Lioba e Santa Valburga, com algumas companheiras, deixaram sua terra natal para devotar suas vidas à conversão da Alemanha.
Durante a viagem da Inglaterra para a Alemanha as monjas enfrentaram uma tempestade que obrigou os marinheiros a se desfazerem da carga. Valburga implorou a Deus e, sobrevindo repentina calma, os viajantes desembarcaram sãos e salvos em Antuérpia. Ao desembarcar, os marinheiros proclamaram o milagre que haviam testemunhado, de modo que Valburga foi recebida em todos os lugares com alegria e veneração. Na mais antiga igreja desta cidade há uma gruta onde Santa Valburga costumava rezar enquanto esperava para reiniciarem a viagem. Ela é muito venerada naquela cidade desde sua permanência ali.
Vilibaldo fundou o Mosteiro de “Eihstat”, que se tornaria mais tarde a Diocese de Eichstätt. Valburga tornou-se abadessa de um mosteiro beneditino feminino em Heidenheim - morada dos pagãos, em alemão - local onde já se instalara seu irmão Vinibaldo com seus monges. Em breve o significado desse nome perderia o sentido, pois os dois mosteiros converteram gradualmente a aridez espiritual e material da região, e os campos deram abundantes colheitas.
À morte de seu irmão, Valburga assumiu a direção do mosteiro masculino que ele dirigira. Ela era muito respeitada e amada ainda em vida. Sua vida de profunda oração, sua caridade e coragem, bem como os milagres que ela realizava, tornaram-na venerada pelo povo que vivia à sombra dos mosteiros dirigidos por ela.
Nos últimos anos, conforme relata o monge Wolfhard que escreveu sua vida mais ou menos cem anos depois de sua morte, ela "confirmada no santo amor de Deus, tendo vencido o mundo e todos os seus atrativos, repleta de fé, saturada de caridade com os adornos da sabedoria e a joia da castidade, notável pela benevolência e humildade, foi receber o galardão que devia coroar tantas virtudes".
Santa Valburga foi assistida por seu irmão São Vilibaldo em seus últimos momentos, tendo ele lhe administrado os Sacramentos. Ela faleceu em 25 de fevereiro de 779 e foi sepultada ao lado do irmão Vinibaldo.
São Vilibaldo viveu até 786, e após sua morte a devoção à Santa Valburga gradualmente declinou, e seu túmulo foi negligenciado. Por volta de 870, Otkar, então bispo de Eichstätt, decidiu restaurar a igreja e o mosteiro de Heidenheim, que estavam caindo em ruínas. Os operários profanaram o túmulo de Santa Valburga. Uma noite ela apareceu para o bispo, repreendendo-o e ameaçando-o. Isso levou ao traslado solene dos seus restos mortais para Eichstätt em 21 de setembro do mesmo ano. O corpo de Santa Valburga que foi encontrado incorrupto e coberto por um fluido precioso, qual puríssimo óleo.
Em 893, o Bispo Erchanbold, sucessor de Otkar, abriu o santuário para retirar uma parte das relíquias para Lioba, Abadessa de Monheim, e o corpo foi descoberto mais uma vez como imerso em um precioso óleo ou orvalho, que até hoje (salvo durante um período em que Eichstätt foi colocado sob interdição, e quando o sangue foi derramado na igreja por ladrões que feriram gravemente o tocador de sino) continuou a fluir dos restos sagrados.
Há mais de mil anos esta misteriosa umidade oleosa, que é coletada das relíquias de Santa Valburga pelas monjas, vem operando milagrosas curas. Os documentos mais antigos que relatam os milagres atribuídos ao óleo foram escritos entre 893 e 900.
Este óleo tornou-se conhecido como "óleo de Santa Valburga" e vem sendo um sinal de sua contínua intercessão. O óleo é colocado pelas religiosas em pequenas ampolas de vidro que são dadas aos peregrinos. Curas atribuídas à intercessão de Santa Valburga acontecem até os nossos dias.
No Martirológio Romano ela é comemorada em 1 de maio, seu nome está ligado à Santo Asafe, cujo principal festival é celebrado na Bélgica e na Baviera. No Breviário Beneditino sua festa é atribuída a 25 (no ano bissexto 26) de fevereiro.
Ela é a padroeira de Eichstätt, Oudenarde, Furnes, Antuérpia, Gronigen, Weilburg e Zutphen, e é invocada como patrona especial contra a hidrofobia, e em tempestades também por marinheiros.
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No
século XVI, a terra natal de Santa Valburga, Inglaterra, separou-se da Igreja
Católica após séculos de fidelidade a Roma. Naquele século, muitos católicos
foram martirizados por não aceitarem a nova igreja fundada pelo rei Henrique
VIII, que se autoproclamou chefe da Igreja Anglicana. Depois dele, os reis da
Inglaterra sempre exerceram aquele cargo até os dias de hoje.Neste início do século XXI, entretanto, uma onda de conversões de anglicanos percorreu todo o Reino Unido (Inglaterra e suas ex-colônias).
Ampola que continha o "óleo de Santa Valburga" e é guardada com
todo respeito por ter contido um dom desta grande Santa.