quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Santa Maura de Constantinopla, Esposa e Mártir - 30 de novembro

     
Uma narração mais extensa do martírio de Santa Maura é encontrada em Passio, F. Halkin, Hagiographica inedita decem [Corpus Christianorum. Série Graeca 21. Turnhout: Brepols, 1989]: 27-29.
     Maura e seu esposo, Timóteo, suportaram enormes sofrimentos e torturas por causa da fé em Cristo durante a perseguição do Imperador Diocleciano (285-305). Timóteo era de uma aldeia no Egito chamada Perapa, onde seu pai, Pikolpossos, era sacerdote; foi ordenado entre o clero como leitor da Igreja, onde também foi o custódio e o copiador dos livros dos Serviços Divinos.
     Timóteo foi denunciado como guardião dos livros cristãos quando o imperador deu ordens para que os livros fossem confiscados e queimados. Então levaram Timóteo diante do governador Ariano, que lhe ordenou entregar todos os Livros Sagrados. Timóteo foi submetido a terríveis torturas por não obedecer à ordem; aguentou a dor com grande valentia e sempre dando graças a Deus por permitir-lhe tal sofrimento em Seu nome.
     Ariano foi então informado que Timóteo tinha uma jovem esposa chamada Maura, com a qual havia contraído matrimônio uns vinte dias antes. Ariano procurou por Maura com a esperança de quebrar a vontade de Timóteo, mas o santo recomendou a sua esposa que não temesse as torturas e que emulasse seu caminho. Maura lhe respondeu: "Estou disposta a morrer contigo". Maura confessou sua fé em Cristo e Ariano ordenou que arrancassem seus cabelos e lhe cortassem os dedos de suas mãos.
     Maura sofreu o tormento com alegria e agradeceu ao governador pela tortura que ela recebia como perdão por seus pecados. Ariano então ordenou que lançassem Maura em um caldeirão com água fervendo, mas ela não sentiu nenhuma dor e permaneceu ilesa. Tendo Ariano suspeitado de que seus funcionários tivessem sentido compaixão por Maura e houvessem enchido o caldeirão com água fria, pediu que Maura salpicasse sua mão com a água do caldeirão; quando a mártir fez isto, Arriano gritou de dor com a mão escaldada.
     Ariano reconheceu momentaneamente o poder do milagre e confessou que o Deus em que Maura acreditava era o Deus verdadeiro, e ordenou a sua libertação. Porém o diabo tinha grande poder sobre o governador e Ariano insistiu novamente que Maura oferecesse sacrifícios aos deuses pagãos, sem conseguir convencê-la. Ele foi então possuído de uma grande ira satânica que o levou a inventar novas torturas.
     A população começou a murmurar e a pedir que não continuassem abusando da mulher inocente, ao que Maura lhes respondeu: “Que ninguém me defenda! Eu tenho um só defensor e é Deus, em quem confio".
     Finalmente, depois de ambos os mártires serem torturados por longo tempo, Arriano ordenou que fossem crucificados; foram colocados na cruz por dez dias, um de frente ao outro. No décimo dia de martírio e sofrimentos pela crucifixão os santos ofereceram suas almas ao Senhor. Isto ocorreu no ano 286.
     Barônio introduziu Santa Maura, Virgem e mártir, no Martirológio Romano no dia 30 de novembro, sem uma explicação suficiente, porque não se conhece nenhuma virgem mártir com este nome nascida em Constantinopla.
     No século VI, existia uma igreja dedicada a Timóteo e Maura em um distrito central de Constantinopla, confirmando a proeminência de seu culto, conforme Raymond Janin, La géographie ecclésiastique de l’impire Byzantin. 1: Le siège de Constantinopla et le patriarcat O ecuménique. 3: Les églises et les monastérios, Paris (1969).
     Mas eles haviam sofrido o martírio pela fé na Tebaida, onde o governador Ariano queria se apoderar dos livros sagrados e fazê-los renegar Cristo. Como os dois mártires se recusassem a obedecer à sua ordem, o governador infringiu-lhes diversos tormentos e os condenou finalmente à crucificação. Os sinassários bizantinos os mencionam no dia 10 de novembro e 3 de maio. Entretanto, pode ser que a confusão do Martirológio Romano tenha origem em outra fonte.
 
https://theo.kuleuven.be/apps/press/theologyresearchnews/2022/02/14/united-in-perpetual-love-the-story-of-timothy-and-maura/
https://pravoslavie.ru/103401.html
https://www.goarch.org/chapel/saints?contentid=39
 
Postado neste blog em 30 de novembro de 2015

domingo, 27 de novembro de 2022

27 de novembro: 192 anos da Medalha Milagrosa e 1º Domingo do Advento

Preparemo-nos para o Natal do Menino Jesus. Advento é tempo de oração, reflexão e renascimento espiritual. "Vinde Ó Menino Jesus!"
 
*
 
Palavras escritas por Santa Catarina Labouré sobre a aparição de Nossa Senhora e a revelação da Medalha Milagrosa em 27 de novembro de 1830
 
     Vi a Santíssima virgem à altura do quadro de São José. A Santíssima Virgem, de estatura média, estava de pé, vestida de branco, com um vestido de seda branco-aurora... com um véu branco que Lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até embaixo.
     Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e por cima uma renda a mais ou menos três centímetros de altura, sem franzido, isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos.
     O rosto bastante descoberto, bem descoberto mesmo, os pés apoiados sobre uma esfera, quer dizer, uma metade da esfera... tendo uma esfera de ouro, nas mãos, que representava o globo. Ela tinha as mãos elevadas à altura do cinto de uma maneira muito natural, os olhos elevados para o Céu... seu rosto era magnificamente belo.
     Eu não saberia descrevê-lo... e depois, de repente, percebi anéis nos dedos, revestidos de pedras, mais belas umas que as outras, umas maiores e outras menores, que despediam raios mais belos uns que os outros.
     Partiam das pedras maiores os mais belos raios, sempre alargando para baixo, o que enchia toda a parte de baixo. Eu não via mais os seus pés... Nesse momento em que estava a contemplá-La, a Santíssima Virgem baixou os olhos, olhando-me. Uma voz se fez ouvir, e me disse estas palavras:
     A esfera, que vedes, representa o mundo inteiro, particularmente a França e cada pessoa em particular.
     Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi; a beleza e o fulgor; os raios tão belos...
     É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem, fazendo-me compreender quanto era agradável rezar à Santíssima Virgem e quanto ela era generosa para com as pessoas que rezam a Ela, quantas graças concedia às pessoas que rezam a Ela, que alegria Ela sente concedendo-as...
     Formou-se um quadro em trono da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia, no alto, estas palavras: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós, escrita em letras de ouro.
     A inscrição, em semicírculo, começava à altura da mão direita, passava por cima da cabeça e acabava na altura da mão esquerda. Então, uma voz se fez ouvir, e me disse:
     Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança.
     No mês seguinte, outra vez Santa Catarina viu Nossa Senhora. Ela estava, como em novembro, segurando o globo de ouro, encimado por uma pequena cruz também de ouro, e dos anéis jorravam os mesmos raios de luz desigual.
     “Dizer-vos o que entendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o globo a Nosso Senhor, é impossível transmitir. Como eu estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo do meu coração, e me disse: Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas que as pedem”.
     Santa Catarina reparou que de algumas pedras dos anéis não partiam raios. Uma voz lhe esclareceu o porquê disso: “Estas pedras das quais nada sai são graças que os homens se esquecem de Me pedir”.
     Durante mais de um ano, a religiosa incansavelmente insistiu com o Sacerdote para que fossem cunhadas as medalhas, conforme Nossa Senhora determinara. Mas ele, inflexível, sempre resistia.
     Afinal, depois de um longo período de aflição para a santa religiosa, o Pe. Aladel, acompanhando seu superior numa audiência com o Arcebispo de Paris, Mons. De Quélen, aproveitou a oportunidade para expor ao Prelado o que acontecera na Rue Du bac, ocultando, porém, o nome da vidente. Essa audiência se deu em janeiro de 1832.
     O Arcebispo, diferentemente do Pe. Aladel, desde logo viu com bons olhos a iniciativa e incentivou a confecção da medalha. Encorajado, o Pe. Aladel mudou de atitude e, quatro meses depois, em maio, encomendou à Casa Vachette um primeiro lote de 20 mil medalhas.
     No momento que iam ser cunhadas as primeiras medalhas, uma terrível epidemia de cólera, proveniente da Europa oriental, atingia Paris.
     O morbo se manifestou a 26 de março de 1832 e se estendeu até meados do ano. A 1° de abril, faleceram 79 pessoas; no dia 2, 168; no dia seguinte, 216, e assim foram aumentando os óbitos, até atingirem 861 no dia 9.
     No total, faleceram 18.400 pessoas, oficialmente; na realidade, esse número foi maior, dado que as estatísticas oficiais e a imprensa diminuíram os números para evitar a intensificação do pânico popular.
     No dia 30 de junho, as primeiras 1500 medalhas foram entregues pela Casa Vachette, e as Filhas da Caridade começaram a distribuí-las entre os flagelados. Na mesma hora refluiu a peste e começaram, em série, os prodígios que em poucos anos tornariam a Medalha Milagrosa mundialmente célebre.
     O Arcebispo, que recebera logo algumas das primeiras medalhas, alcançou imediatamente uma graça extraordinária por meio delas, e passou a ser entusiasta propagandista e protetor da nova devoção.
     Também o Papa Gregório XVI recebeu um lote de medalhas, e passou a distribuí-las a pessoas que o visitavam.
     Até 1836, mais de 15 milhões de medalhas tinham sido cunhadas e distribuídas, no mundo inteiro. Em 1842, essa cifra atingia a casa dos 100 milhões. Dos mais remotos países chegavam relatos de graças extraordinárias alcançadas por meio da medalha: curas, conversões, proteção contra perigos iminentes etc.
 
Extraído do livro: “A verdadeira História da Medalha Milagrosa” – Armando Alexandre dos Santos
 
Postado neste blog em 27 de novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Beata Ana Michiel Justiniani, Esposa e Monja – 22 de novembro

     A Beata Ana Michiel Justiniani foi uma religiosa que viveu no século XII. Para alguns estudiosos ela é considerada filha do Doge Vital Michiel II.
     A tradição diz que todos os filhos da família Justiniani morreram em Constantinopla. Então o doge pediu ao Papa que dissolvesse os votos monásticos feitos por Nicolau Justiniani para que ele pudesse se casar para garantir a continuação da linhagem Justiniani. Obtida a dissolução dos votos e tendo deixado o mosteiro, ele casou-se com Ana Michiel e do casamento nasceram seis filhos: quatro rapazes e duas moças.
     Por volta de 1160, Nicolau Justiniani decidiu, de comum acordo com sua esposa, retornar como monge ao mosteiro de São Nicolau al Lido.
     Ana Michiel também decidiu abraçar a vida religiosa e fundar o mosteiro de São Adriano di Costanziaco na grande ilha perto de Torcello, depois de ter tomado o véu em São Biagio della Giudecca.
     No mosteiro, a Beata Ana viveu "na mais profunda humildade, na penitência e no exercício de todas as mais belas virtudes".
     Não sabemos nada sobre a morte da Beata Ana Michiel Justiniani e o local onde foi sepultada.
     Ambos os cônjuges Justiniani sempre foram venerados como beatos em Veneza, sendo assim representados nas imagens existentes em algumas igrejas venezianas. A partir do século XVII, muitos autores locais costumam atribuir o título de beatos a Ana Michiel e a Nicolau Justiniani.
     O teólogo beneditino Gabriel Bucelino em sua menologia da Ordem de São Bento atribui a festa à Beata Ana Michiel Justiniani em 22 de novembro, enquanto o suplemento a esta menologia, escrito pelo Padre Robert Schindele, atribui a festa à Beata Ana Michiel e ao Beato Nicolau Justiniani em um único dia, 17 de julho.
 
http://www.santiebeati.it/dettaglio/98803

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Santa Matilde de Hackeborn, o “Rouxinol de Deus” - 19 de novembro

     
Santa Gertrudes a Grande, no IV livro da obra Liber specialis gratiae (O livro da graça especial), no qual se narram as graças especiais que Deus outorgou a Santa Matilde, afirma: “O que escrevemos é bem pouco em comparação com o que omitimos. Unicamente para a glória de Deus e utilidade do próximo publicamos estas coisas, porque nos pareceria injusto manter o silêncio sobre tantas graças que Matilde recebeu de Deus, não tanto para ela mesma, segundo nosso parecer, mas para nós e para os que virão depois de nós” (Mechthild von Hackeborn, Liber specialis gratiae, VI, 1).
     Com Gertrudes nós nos introduzimos na família do Barão de Hackeborn, uma das mais nobres, ricas e poderosas da Turíngia, aparentada com o imperador Frederico II, e entramos no Mosteiro de Helfta no período mais glorioso da sua história.
     O barão já havia dado uma filha ao mosteiro, Gertrudes de Hackeborn (1231/1232 - 1291/1292), dotada de uma destacada personalidade. Abadessa durante 40 anos, foi capaz de deixar uma marca peculiar na espiritualidade do mosteiro, levando-o a um florescimento extraordinário como centro de mística e de cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrudes ofereceu às monjas uma elevada instrução intelectual, que lhes permitia cultivar uma espiritualidade fundada na Sagrada Escritura, na Liturgia, na tradição patrística, na Regra e espiritualidade cistercienses, com particular predileção por São Bernardo de Claraval e Guilherme de Saint-Thierry. Foi uma verdadeira mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo apostólico.
     Santa Matilde, desde a sua juventude, acolheu e vivenciou o clima espiritual e cultural criado pela irmã, oferecendo depois sua marca pessoal.
     Matilde de Hackeborn, uma das grandes figuras do mosteiro de Helfta e do monaquismo alemão no século XIII, nasceu em 1241 ou 1242, no Castelo de Helft, Saxônia, na nobre e poderosa família Hackeborn, que era possuidora de terras na Turíngia. A terceira filha do barão nasceu tão frágil que se chegou a acreditar estar morta, mas o padre que foi batizá-la profetizou que ela chegaria a ser santa e que Deus obraria grandes coisas por meio dela.
       Aos 7 anos, com sua mãe, visitou sua irmã Gertrudes no mosteiro de Rodersdorf. Ficou tão fascinada por esse ambiente, que desejou ardentemente fazer parte dele. Entrou como educanda e, em 1258, converteu-se em monja do convento que entrementes havia se transferido para Helfta, na propriedade dos Hackeborn.
     Distinguiu-se pela humildade, fervor, amabilidade, limpeza e inocência de vida, familiaridade e intensidade na relação com Deus, com Nossa Senhora e com os santos. Dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como “a ciência, a inteligência, o conhecimento das letras humanas, a voz de uma suavidade maravilhosa: tudo a tornava adequada para ser um verdadeiro tesouro para o mosteiro, sob todos os aspectos”. (Ibid., Proemio).
     Assim, o “rouxinol de Deus” - como era chamada -, ainda muito jovem, converteu-se em diretora da escola do mosteiro, diretora do coro e mestra de noviças, serviço que levou a cabo com talento e infatigável zelo, não somente em benefício das monjas, mas de todo aquele que desejasse acudir à sua sabedoria e bondade.
     Iluminada pelo dom divino da contemplação mística, Matilde compôs numerosas orações. É mestra de fiel doutrina e de grande humildade, conselheira, consoladora, guia no discernimento: “Ela - lê-se - distribuía a doutrina com uma abundância que nunca tinha sido vista no mosteiro, e temos grande temor de que nunca se volte a ver algo semelhante. As monjas se reuniam ao seu redor para escutar a palavra de Deus, como a um pregador. Era o refúgio e a consoladora de todos e tinha, como dom singular de Deus, a graça de revelar livremente os segredos do coração de cada um. Muitas pessoas, não só no mosteiro, mas também estranhos, religiosos e leigos, vindos de longe, testemunhavam que esta santa virgem lhes havia libertado de suas penas e que nunca haviam provado tanto consolo como ao seu lado. Além disso, ela compôs e ensinou tantas orações que, se fossem reunidas, superariam o volume de um saltério" (Ibid., VI,1).
     Em 1261, chegou ao convento uma menina de 5 anos, de nome Gertrudes: foi confiada aos cuidados de Matilde, então com 20 anos, que a educou e guiou na vida espiritual até fazer dela não somente sua discípula excelente, mas sua confidente. Em 1271 ou 1272, entrou no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. O lugar acolheu, assim, 4 grandes mulheres - duas Gertrudes e duas Matildes -, glória do monaquismo germânico.
     Em sua longa vida transcorrida no mosteiro, Matilde passou por contínuos e intensos sofrimentos, aos quais acrescentou as duríssimas penitências escolhidas para a conversão dos pecadores. Dessa forma, participou da Paixão do Senhor até o final da sua vida (cf. ibid., VI, 2). A oração e a contemplação foram a fonte da sua existência: as revelações, seus ensinamentos, seu serviço ao próximo, seu caminho na fé e no amor têm aqui sua raiz e seu contexto.
     No primeiro livro da obra Liber specialis gratiae, as redatoras recolhem as confidências de Matilde indicadas nas festas do Senhor, dos santos e, de modo especial, de Nossa Senhora. É impressionante a capacidade que esta santa tinha de viver a Liturgia em seus vários componentes, inclusive os mais simples, levando-a à vida monástica cotidiana. Algumas imagens, expressões, aplicações talvez estejam longe da nossa sensibilidade, mas se considerarmos a vida monástica e sua tarefa de mestra e diretora de coro, perceberemos sua singular capacidade de educadora e formadora, que ajuda suas irmãs a viverem intensamente, partindo da Liturgia, cada momento da vida monástica.
     Na oração litúrgica, Matilde deu particular importância às horas canônicas, à celebração da Santa Missa, sobretudo à Santa Comunhão. Nesse momento, ela frequentemente se elevava em êxtase, em uma intimidade profunda com Nosso Senhor em seu Coração ardentíssimo e dulcíssimo, em um diálogo estupendo no qual pedia iluminação interior, enquanto intercedia de modo especial por sua comunidade e por suas irmãs. No centro estão os mistérios de Cristo, aos quais Nossa Senhora remete constantemente, para caminhar pela senda da santidade: “Se desejas a verdadeira santidade, fica perto do meu Filho; Ele é a própria santidade que santifica tudo” (Ibid., I,40). Nesta sua intimidade com Deus está presente o mundo inteiro, a Igreja, os benfeitores, os pecadores. Para ela, céu e terra se unem.
     Suas visões, seus ensinamentos, as circunstâncias da sua existência são descritos com expressões que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. Capta-se, assim, seu profundo conhecimento da Sagrada Escritura, seja tomando símbolos, termos, paisagens, imagens ou personagens. Sua predileção era pelo Evangelho:
     “As palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam em seu coração sentimentos de tal doçura, que frequentemente, pelo entusiasmo, não conseguia terminar sua leitura... Era tão fervente a forma como lia estas palavras, que suscitava a devoção em todos. Assim também, quando cantava no coro, estava toda absorta em Deus, transportada por tal ardor, que às vezes manifestava seus sentimentos com os gestos. Outras vezes, elevada em êxtase, não ouvia quem a chamava ou a movia e com dificuldade recuperava o sentido das coisas exteriores” (Ibid., VI, 1).
     Em uma das suas visões, o próprio Jesus lhe recomenda o Evangelho; abrindo-lhe a ferida do seu dulcíssimo Coração, disse-lhe: “Considera quão imenso é meu amor; se queres conhecê-lo bem, em nenhum lugar o encontrarás expresso mais claramente que no Evangelho. Ninguém jamais sentiu a expressão de sentimentos mais fortes e mais ternos que estes: como meu Pai me amou, assim eu vos amei” (Jo 15, 9) (Ibid., I,22).
     A discípula Gertrudes descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde de Hackeborn, duríssimos, mas iluminados pela presença da Beatíssima Trindade, de Nosso Senhor, de Nossa Senhora, de todos os santos, e também de sua irmã de sangue, Gertrudes. Quando chegou a hora em que o Senhor quis levá-la com Ele, ela lhe pediu para poder viver mais um pouco no sofrimento pela salvação das almas, com o que Jesus aquiesceu, contente com este último sinal de amor.
     Matilde tinha 58 anos. Percorreu o último trecho do caminho caracterizado por 8 anos de graves doenças. Sua obra e sua fama de santidade se difundiram amplamente. Chegada a sua hora, “o Deus de Majestade (...), única suavidade da alma que o ama (...), cantou-lhe: Venite vos, benedicti Patris mei... (Vinde, benditos do meu Pai, vinde receber o Reino) e a associou à sua glória” (Ibid., VI,8).
     Santa Matilde de Hackeborn nos confia ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora. Convida a louvar o Filho com o Coração da Mãe e venerar Maria com o Coração do Filho: “Eu vos saúdo, ó Virgem veneradíssima, neste dulcíssimo orvalho, que do Coração da Santíssima Trindade se difundiu em vós; eu vos saúdo na glória e no gozo com que agora vos alegrais eternamente, Vós que, com preferência a todas as criaturas da terra e do céu, fostes escolhida antes ainda da criação do mundo! Amém” (Ibid., I, 45).
     Matilde percorreu um caminho de íntima união com Nosso Senhor, entrando em diálogo com o seu dulcíssimo e ardente Coração, fonte de luzes interiores e ocasião de intercessão pelas suas irmãs. Pouco após a sua morte, a sua obra e a sua fama de santidade já tinham se difundido grandemente.
     Matilde faleceu em 19 de novembro de 1299 com 59 anos de idade. A fama e a importância que a ela atribui sua discípula, Santa Gertrudes de Helfta, a Grande, acabou por fazer sombra a Santa Matilde, que a partir do século XVI passou para um segundo plano.
 
Fonte: http://zecalambert.blogspot.com.br/2010/10/santa-matilde-de-hackeborn.html
 
Postado neste blog em 19 de novembro de 2015

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Santa Gertrudes, a Grande - 16 de novembro

     
É certo que Gertrudes era de uma família abastada, mas sabemos apenas que ela nasceu em Eisleben, Alemanha, no ano 1256. Não era de família nobre, como acreditaram alguns, confundindo-a com Gertrudes, a Abadessa de Helfta. Seus pais a colocaram como aluna das beneditinas de Roderdorf quando tinha apenas cinco anos.
     Muito piedosa e culta, Gertrudes de Hackeborn vendo a estupenda inteligência de sua homônima, incentivou-a muito não apenas na observância monástica, mas também nas atividades intelectuais que Santa Lioba e suas freiras anglo-saxãs haviam transmitido às suas fundações na Germânia.
     A pequena Gertrudes encantava a todos. “Nessa alma, Deus reuniu o brilho e o frescor das mais belas flores à candura da inocência, de maneira que encantava todos os olhares como atraía todos os corações”, diz sua biógrafa e contemporânea.
     A comunidade transferiu-se para Helfta e a Abadia seguia na época a regra cisterciense. Para uma jovem de seu tempo, não era coisa tão comum, mas Gertrudes recebeu uma cultura universal e clássica. Estudou latim, filosofia e teologia; se comprazia com a leitura de Virgílio e Cícero, e a filosofia de Aristóteles.
     A educação de Gertrudes foi confiada à irmã da priora, Matilde de Hackeborn (*), muito adiantada na via mística e na santidade. Esta procurava incutir nas almas de suas alunas o fogo do amor de Deus que devorava seu coração. E encontrou em Gertrudes um campo propício para isso.
     A narração das experiências místicas de Matilde, Lux divinitatis, constitui um elegante texto poético. Por volta de 1290, Matilde tivera uma visão relacionada com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Estas religiosas eram influências decisivas na vida interior de muitas jovens que delas se aproximavam, e certamente devem ter influenciado Gertrudes.
     Em 27 de janeiro de 1281, depois de um mês de terrível provação, Nosso Senhor apareceu-lhe e fez-lhe compreender sua falta: “Provaste a terra com meus inimigos e sugaste algumas gotas de mel entre os espinhos. Volta a mim, e te inebriarei na torrente de meu divino amor”.  E, como dirá ela mesma, o Senhor “mais brilhante que toda luz, mais profundo do que qualquer segredo, docemente começou a aplacar aquela perturbação que havia entrado em meu coração”.
     Nessa visão, não de modo visível externamente, foram-lhe impressos os sagrados estigmas de Cristo Senhor Nosso, e em seguida foi agraciada com êxtases.
     Após tais acontecimentos, que ela chama de “sua conversão”, entregou-se com ardor ao estudo da teologia escolástica e mística, da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, São Gregório Magno, São Bernardo e Hugo de São Vítor.
     No mosteiro ela não exercia outra função senão a de irmã-substituta da irmã-cantora, Santa Matilde. Apesar de sempre doente e lutando tenazmente contra suas paixões, atendia às inúmeras pessoas que a vinham consultar. Gertrudes desejaria viver na solidão, mas as notícias correm e pessoas chegam ao mosteiro para fazerem confidências, para interrogá-la, ou simplesmente para vê-la.
     E esta contemplativa enferma tem momentos de assombrosa atividade no contato com as pessoas e no empenho em divulgar-lhes a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e o culto a São José. A outros mais distantes auxilia com seus escritos, a exemplo de Matilde, e o faz com elegância que é fruto de seus estudos. O empenho da adolescência e da juventude na disciplina escolástica preparara Gertrudes para ser uma apóstola do modo adequado ao seu tempo. E é uma precursora de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Margarida Maria Alacoque.
     Santa Gertrudes foi objeto das complacências divinas, como mais tarde haveria de ser Santa Margarida Maria Alacoque. Ambas penetraram no amor íntimo de Jesus, embora de maneira diversa.
     Santa Gertrudes é a Santa da Humanidade de Jesus Cristo e a teóloga do Sagrado Coração. Ela vê o Coração Divino não com a coroa de espinhos e a cruz; não se sente chamada à vocação especial de vítima expiatória pelos pecados do mundo. A chaga do peito que Jesus lhe apresenta é uma porta dourada por onde ela entra. Como São João Evangelista, ela repousa sobre o peito de Jesus, onde seu Coração é para ela um banho de purificação, um asilo e um descanso.
     Um dia Gertrudes não pôde assistir com as Irmãs uma conferência espiritual. Apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: “Queres, minha queridíssima, que o sermão o faça Eu”? Ela aceitou e Jesus fez que ela descansasse sobre o seu Coração e ela ouviu duas pulsações: “Com estas duas pulsações opero Eu a salvação dos homens”, disse-lhe Ele. A primeira pulsação servia para tornar o Pai propício aos pecadores, para lhes desculpar a malícia e movê-los à contrição; a segunda era um grito de alegria e congratulação pela eficácia do sangue de Jesus na salvação dos justos. Era um grito que atraía os bons para trabalharem constantemente na obra de sua perfeição.
     Enfim, dirijo-Me aos justos, e lhes dou provas dulcíssimas de Meu amor, excitando-os com invencível perseverança a progredir dia a dia e hora a hora. E como o bater do coração humano não é interrompido nem pela ação da vista, nem do ouvido, nem do trabalho manual, do mesmo modo o governo do Céu, da terra e do universo inteiro não poderá, até o fim do mundo, nem suspender por um instante, nem retardar, nem impedir este doce bater de Meu Divino Coração”. (Sta. Gertrudes, "O Arauto do Divino Amor", tradução segundo a edição de Solesmes, Mame e Fils, editores, Paris, vol. 1, pg. 268)
     Num ano em que o frio ameaçava os homens, animais e colheitas, durante a Missa Santa Gertrudes implorava a Deus que desse remédio a esses males. E teve a seguinte resposta: “Filha, hás de saber que todas tuas orações são ouvidas”. Ao que ela replicou: “Senhor, dai-me a prova desta bondade fazendo com que cessem os rigores do frio”. Ao sair da igreja, a santa notou que os caminhos estavam inundados pela água produzida pela neve derretida. O tempo favorável continuou, e começou mais cedo a primavera.
     A fama de santidade acompanhava Gertrudes já em vida e perdurou no tempo. As suas obras, o Arauto da bondade divina e os sete Exercícios, em belíssima prosa latina, foram editadas no século XVI pelo cartuxo João Lamperge e foram logo traduzidas para várias línguas europeias.
     Os especialistas afirmam que os livros da Santa Gertrudes, junto com as obras de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Catarina de Sena, são as obras mais úteis que uma mulher tenha dado à Igreja para alimentar a piedade das pessoas que se dedicam à vida contemplativa.
     Santa Gertrudes havia escrito uma preparação para a morte, para proveito dos fiéis. Consistia em um retiro de cinco dias, o primeiro dos quais consagrado a considerar a última enfermidade; o segundo, a confissão; o terceiro, a unção dos enfermos; o quarto, a comunhão; e o quinto a dispor-se para a morte. Certamente ela se preparou desse modo para seu falecimento, que ocorreu no Mosteiro de Helfta, em 17 de novembro de 1302.
     Gertrudes já era considerada santa no momento de sua morte; Clemente XII incluiu o seu ofício no Calendário Romano em 1677. Mas somente em 1739 o seu culto foi estendido à Igreja Universal.
     Santa Teresa de Ávila e São Francisco de Sales promoveram muito o culto a essa santa extraordinária. Gertrudes é uma das padroeiras dos escritores católicos.
 
A Abadia de Helfta
     A famosa Abadia de Helfta foi fundada por Gertrudes de Hackeborn. Gertrudes pertencia à dinastia dos Hackeborn e era irmã de Santa Matilde de Hackeborn (*).
     Bem jovem entrara na abadia cisterciense de Roderdorf e foi eleita abadessa em 1251. Em 1253, fundou o convento de Hederleben com a ajuda de seus dois irmãos, Alberto e Luís, mas, como faltasse água ali, deram-lhe o Castelo de Helpeda (Helfta), próximo de Eisleben (moderna Alemanha) e as terras ao seu arredor. Em 1258 ela mudou-se para Helfta com toda a comunidade.
   Durante o período em que Gertrudes foi abadessa, Helfta tornou-se famosa em todo o Sacro Império Romano-Germânico, devido às práticas de ascetismo de suas monjas, ao misticismo de algumas e da grande capacidade intelectual que abrilhantou a vida monástica feminina da Idade Média.
     Gertrudes exigia que suas religiosas fossem educadas nas artes liberais, mas acima de tudo tivessem amplo conhecimento das Escrituras. Era considerada um modelo de abadessa, mais especialmente por sua conduta durante o ano de enfermidade que precedeu o seu falecimento.
     Gertrudes de Hackeborn nunca escreveu, nem recebeu qualquer revelação de Deus, nem tão pouco foi canonizada. Não deve ser confundida com Santa Gertrudes, a Grande.
Sta. Gertrudes (de joelhos), Sta. Juliana de Liège,
Sta. Clara e Sta. Bárbara
 
(*) Santa Matilde de Hackeborn (ou de Helfta) – festa litúrgica 19 de novembro.
 
Fontes:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/30050
https://pt.frwiki.wiki/wiki/Gertrude_de_Helfta
 
Postado neste blog em 15 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Beata Maria Teresa de Jesus Scrilli, Fundadora - 13 de novembro

     
Maria Scrilli nasceu no dia 15 de maio de 1825 em Montevarchi, cidade do Grão Ducado de Toscana. Era a segunda menina que nascia no lar dos Scrilli-Checcucci; esperava-se que fosse um varão e a desilusão foi grande.
     “Naquela mesma manhã de domingo e muito cedo… a poucas horas de nascida, fui levada à pia batismal de forma privada, com grande desgosto de meus pais por terem tido uma segunda filha”, conta ela mesma. Era menosprezada até pela própria mãe...
     O que poderia ter sido um verdadeiro trauma para a criança serviu para ir modelando seu caráter sem nenhuma animosidade; ela soube compreender a tempo que a inveja corrói o coração e não o vazio pela ausência de amor. Maria Teresa vai dedicar toda a sua vida sem amargura, sem um mínimo de ressentimento para com sua própria mãe. Ela encontrará a solução para seu problema de afetividade junto da Virgem Maria, que será sua Mãe verdadeira; uma terníssima devoção mariana modelará seu coração feito para entregar-se aos que são vítimas do desamor.
     Aos 21 anos ingressou no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, em Florença, mas não prospera em seu propósito. Da experiência carmelitana adquire base para toda sua espiritualidade futura. Do Carmelo de Florença sai com uma decisão: será contemplativa, porém “contemplativa em ação”.
     Seu amor ao sofrimento e o desejo de reparar as ofensas que se faziam ao Senhor, eram sustentados pela contínua meditação sobre a Paixão de Cristo, e em alguns apontamentos pessoais tomados durante um curso de exercícios espirituais, anotou entre os seus propósitos: "1. considerar-se sobre a terra como peregrino; 2. não basta, é preciso ser crucificado; 3. nem isto é suficiente. É necessário morrer; 4. mais ainda torna-se necessário ser sepultado" (Apontamentos pessoais, p. 173).
     Desde 1849 aquela região toscana vivia um virulento anticlericalismo originado pelo liberalismo mais radical, então em moda. A sociedade jazia sob um grande nível de analfabetismo e de miséria. Maria Scrilli consciente que a falta de cultura e a ignorância degrada especialmente a mulher, começou em sua própria casa de Montevarchi a ensinar um grupo de meninas que encontra pela rua. “O número de minhas pequenas alunas chegou a doze; as mantinha gratuitamente, porém elas correspondiam com tantas demonstrações de agradecimento, que não tinha outro remédio senão mantê-las”, escreve Maria.
A Beata jovem
     Logo se juntaram a ela outras companheiras. “Éramos Edvige Sacconi, Ersilia Betti, Teresa del Bigio e eu… Escrevi algumas normas que nos regulavam, porém normalmente o fazia verbalmente”.
     Para responder às ansiedades do seu tempo, Madre Maria Teresa Scrilli quis dar às jovens, em especial às mais carentes, uma preparação humana completa do ponto de vista cultural, escolar e religioso, que correspondesse às necessidades da sua vida específica de mulher, preparando-as para um trabalho digno. Às suas filhas pediu para fazerem, além dos três votos habituais de castidade, obediência e pobreza, um quarto voto, ou seja o de "apresentar-se para a utilidade do próximo por meio da instrução moral cristã e civil a dar ao sexo feminino" (Regras e Constituições, 1854-55, 1).
     Em 1854 nasceu o Pio Instituto das Irmãzinhas Pobres do Coração de Maria, aprovado pelo Bispo de Fiésole. Em agosto de 1857, Pio IX esteve no mosteiro de Santa Maria Madalena de Pazzi e as abençoou: “... e pôs sua mão sobre minha cabeça, enquanto eu me inclinava e lhe beijava os pés”, escreve, interpretando aquele gesto como um sinal de aprovação.
     Em junho de 1859 as tropas piemontesas entraram em Montevarchi e ocuparam o convento das religiosas; por um decreto de 30 de novembro o Instituto foi suprimido: toda a obra da Beata veio abaixo e as monjas secularizadas voltaram para casa.
     Madre Maria Teresa se refugiou em Florença de onde trata de reconstruir seu instituto, até que em 1878 o Arcebispo Eugenio Cecconi lhes concede recompor a comunidade, ficando restabelecido em 1892.
     “O Instituto, sem dúvida, segundo os desígnios de Deus, devia fundar-se com lagrimas, com dor e com os combates da fundadora”. Algumas Irmãs abandonaram a casa, outras faleceram e nenhuma outra ingressava. A melhor colaboradora, Clementina Mosca, se transfere para as dominicanas de clausura. Todo o projeto de Madre Maria Scrilli desmorona. Porém seu ânimo não decai. Sabe muito bem que se aquilo é obra de Deus e Maria sua Mãe o quer, a obra seguirá adiante; ela tem consciência de que ela - como o grão de trigo - deve morrer e desaparecer para que uma nova vida surja.
     E assim aconteceu. Madre Maria Teresa se ofereceu como vítima por aquela obra da Igreja. Caiu gravemente enferma e morreu no maior dos desamparos. Era o dia 14 de novembro de 1889. Após a morte de Madre Maria Teresa se pressagia a total extinção do Instituto, pois o panorama era desolador: uma Irmã anciã, outra doente, praticamente paralítica, e uma noviça.
     Eis que acontece o milagre: inesperadamente Clementina Mosca (1862-1934) retorna: «o anjo enviado por Deus» adota o nome de Maria de Jesus e recolhe o precioso legado de Madre Maria Teresa.
     Sob a liderança desta segunda fundadora o Instituto cresceu em membros e multiplicou as fundações, ampliando sua ação apostólica: ensino, cuidado dos doentes e outros trabalhos de caridade. Elaborou as Constituições e conseguiu que sua congregação fosse reconhecida de direito diocesano pelo Cardeal Mistrangelo, em 1929. No mesmo ano o Prior Geral Elias Magennis as afiliou a Ordem já com o nome definitivo de Instituto de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
     Nas primeiras Regras e Constituições do seu Instituto Madre Maria Teresa recomendava às suas companheiras: "Estamos nesta terra para cumprir a vontade de Deus e conduzir almas a Ele" (Regras e Constituições, 1854-1855, 7). Em vários trechos da sua Autobiografia este desejo é ainda mais claro: "Comparava-me a mim mesma, a Deus doada, ao ouro na mão do ourives, e à cera na mão do seu operário, disposta a tomar qualquer forma que ele quisesse" (Autobiografia, 45).
     A Beata Maria Teresa Scrilli perseverou até à morte na fidelidade ao seu Senhor. "Amo-te, meu Deus, nos teus dons. Amo-te na minha nulidade, porque também nela compreendo a tua infinita sabedoria: amo-te nas vicissitudes múltiplas, diversas e extraordinárias, com as quais Tu acompanhaste a minha vida. Amo-te em tudo, na dificuldade e na paz, pois não procuro, nem jamais procurei as tuas consolações, mas Tu, Deus das consolações" (Autobiografia, 62).
     Maria Teresa Scrilli foi beatificada em 8 de outubro de 2006. 
 
Fontes: www.santiebeati/it; www.es.catholic.net/santoral/articulo.php?id=42556
http://wwww.ordemterceiradocarmose.com.br/2014/11/13-de-novembro_12.html
 
Postado neste blog em 12 de novembro de 2012

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Beata Vicência Maria Poloni, Co-Fundadora - 11 de novembro

     
     A Beata Vicência Maria Poloni, nasceu na cidade de Verona, Itália, em 26 de janeiro de 1802, filha de Caetano Poloni e Margarida Biadego, e foi batizada no mesmo dia com o nome de Luigia Francisca Maria Poloni na Igreja de Santa Maria Antiga.
     Última de 12 filhos, Luigia cresceu em um ambiente católico e fervorosamente empenhado na caridade. A mãe foi a sua primeira formadora, e o pai, farmacêutico, exemplo de virtude cristã e social, era membro estimado e influente da confraria da “Sagrada Fraternidade”.
     A atenção aos outros, o espírito de sacrifício, um olhar atento acompanhado de mãos operosas foram virtudes adquiridas por Luigia com a educação, fundamentadas naqueles valores que dão credibilidade e densidade a fé. A inteligência prática e perspicaz de Luigia, bem como a sua cortesia e reserva, proporcionavam um serviço atento, sério e gratuito a quem acorria a ela. Na sua juventude, muitos foram os que ela confortou e que a consideravam como uma “mãe”.
     Após a morte do pai, Luigia viu-se obrigada a gerir o negócio da família, revelando os seus dotes administrativos, que contudo não a impediam de frequentar como voluntária o Lar de Idosos, onde prestava assistência na enfermaria dos doentes crônicos.
O Beato Carlos Steeb
     Luigia conhecera o Padre Carlos Steeb, seu confessor, quando auxiliava seu pai nas atividades apostólicas.
     O Padre Carlos Steeb, nasceu dia 18 de dezembro de 1773, em Tübingen (Würtemberg, Alemanha), no seio de uma família de convicções profundamente luteranas. Frequentou uma escola de renome, de tradição humanista (“Anatolicum”), fez um estudo sério e sistemático. Aos 15 anos o estudo na área do comércio levou-o a deslocar-se a Paris, onde permaneceu por pouco tempo devido à agitação da Revolução Francesa.
     Em seguida foi para Verona, onde fez amizade com pessoas que professavam convictamente a fé católica, o que o fez questionar a problemática da fé luterana. Após um período de longa e profunda reflexão, converteu-se ao Catolicismo e tornou-se sacerdote. Ao informar a sua família desta decisão foi rejeitado por todos, que não o reconheceram mais como filho, privando-o do direito hereditário e de qualquer comunicação com os seus familiares.
     A ele Luigia confessara o seu desejo de professar os votos religiosos. Ele a aconselhou a rezar e a esperar para que o Senhor revelasse os desígnios dEle para a sua vida. Após tê-la provado longamente no serviço aos anciãos e doentes, ele propôs a ela ser fundadora de um instituto religioso que cuidasse dos pobres e dos necessitados. “Mãos piedosas” era como o Beato Carlos Steeb chamava aquela família de Irmãs da Misericórdia na qual há muito tempo ele desejava concretizar e tornar visível a sua experiência interior: a misericórdia.
     A este trabalho sentiu-se chamada Luigia, que disse o seu sim a Deus em 2 de novembro de 1840, dando início ao Instituto das Irmãs da Misericórdia; professou definitivamente em 10 de setembro de 1848, assumindo o nome de Vicência Maria Poloni.
     Ao escrever a Regra para as religiosas do Instituto, o Beato Carlos Steeb evidenciava no mistério da Encarnação e Redenção o modelo mais alto para conjugar a misericórdia. Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, por amor da Humanidade se fez carne. A misericórdia é um dom de Deus que deve ser representado pelas Irmãs por diversas formas visíveis de caridade; misericórdia é um sentimento profundo que se comove perante o sofrimento e o desânimo dos outros.
     Desde então, Madre Vicência dedicou a sua vida a Deus como educadora de numerosos jovens, consagrando-se ao serviço dos pobres e enfermos e percorrendo um caminho que deixou três marcas: uma profunda vida interior que fazia de Cristo o eixo de sua rota; um grande amor a Deus e a Eucaristia; e enfim, um estilo de humildade, simplicidade e caridade que orienta o agir somente por Deus, amado e servido no próximo sofredor.
     A atualidade da vida da Madre Vicência é-nos dada sobretudo pela eterna novidade da misericórdia. Numa época em que aparentemente parece que não necessitamos de mais nada porque tudo está acessível, na realidade a misericórdia é mais do que nunca necessária.
 Madre Vicência faleceu dia 11 de novembro de 1855, deixando como testamento uma só coisa: a caridade. Foi beatificada em 21 de setembro de 2008.
     O Beato Carlos Steeb faleceu dia 15 de dezembro de 1856; foi beatificado por Paulo VI a 6 de julho de 1975.
     As Irmãs da Misericórdia estão presentes hoje, além da Itália, na Alemanha, Portugal, Albânia, Tanzânia, Angola, Burundi, Argentina, Brasil, Chile.
Panorama de Verona, Itália
Fontes:
http://hagiopedia.blogspot.com/2013/11/beata-vicenta-maria-poloni-luisa-poloni.html
http://padreadautofarias.blogspot.com/2012/11/beata-vicenza-maria-poloni-fundadora.html
 
Postado neste blog em 10 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Santa Isabel da Trindade, Carmelita - 8 de novembro

     
Maria Isabel Catez nasceu no dia 18 de julho de 1880 em um acampamento militar, no Campo de Avor, perto de Bourges, França, pois seu pai era capitão do exército francês.
     Sua mãe contava: “Quando tinha apenas 1 ano, já se manifestava sua natureza ardente e colérica”. No entanto, sua mãe, atenta, soube modelar a fúria de Isabel e fazer sobressair nela a ternura. Ela tomou a iniciativa de escrever em seu diário pessoal, aos 18 anos: “Eu tive hoje a alegria de oferecer a meu Jesus muitos sacrifícios sobre o meu defeito dominante, mas como eles me custaram! Eu reconheço minha fraqueza... Parece-me que quando recebo uma observação injusta, eu sinto esquentar todo o meu sangue nas veias, tanto que meu ser se revolta... Mas Jesus estava no meu coração e então eu estava pronta a tudo suportar por amor a Ele”.
     Ainda criança a família se mudou para a cidade de Dijon. Com apenas 7 anos e 2 meses, perdeu o pai tão querido, que a morte lhe roubou.
     O dia da primeira comunhão, a 19 de abril de 1891, foi “o grande dia” da vida de Isabel, então com 10 anos. Chorou de alegria. Ao sair da igreja, descendo as escadas diz à sua amiguinha Marie-Louise Hallo: “Não tenho fome, Jesus saciou-me”.
     Estudou piano desde os 8 anos de idade no Conservatório vindo a tornar-se uma “excelente pianista”, segundo a expressão do seu professor de música.
     Não atingira ainda os 14 anos e já escolhera Cristo para seu único esposo. Confirmou-se na sua vocação com a leitura da História de uma Alma, autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus. Deste livro copiou por seu punho e letra o Oferecimento ao Amor Misericordioso e três poesias.
     Aos 18 anos sua mãe pretendeu casá-la, mas Isabel respondeu: “O meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já dele não posso dispor”. O desgosto da mãe foi grande. Mas foi mais amargo quando soube que Isabel queria entrar para o Carmelo, aonde tantas vezes tinham ido e que ficava apenas a 200 metros de sua casa. Entre lágrimas a mãe apenas consentiria na entrada da filha no Carmelo quando essa alcançasse a maioridade, aos 21 anos de idade.
     Isabel entrou no Carmelo de Dijon do dia 2 de agosto de 1901, quando recebeu o nome de Irmã Isabel da Santíssima Trindade. Este início foi marcado por muitas graças sensíveis e se tornou um período em que ela descobriria um profundo amor pelo silêncio, próprio da espiritualidade carmelitana.
     Irmã Isabel tomou o hábito a 8 de dezembro de 1901. No decurso do ano de 1902, o sofrimento interior visita Isabel. A sua noite ilumina-se com as claridades da fé e da confiança, como ela explica nesse mesmo ano à Senhora de Sourdon: “O abandono, eis o que nos entrega a Deus. Sou muito nova, mas parece-me que algumas vezes sofri bastante. Oh! Então quando tudo se obscurecia, quando o presente era tão doloroso e o futuro me aparecia ainda mais sombrio, fechava os olhos e abandonava-me como uma criança nos braços desse Pai que está nos céus...
     Irmã Isabel fez sua profissão simples no dia 8 de dezembro de 1901 e sua profissão perpétua dia 21 de janeiro de 1903, tendo recobrado a paz e a serenidade interior. Na véspera de sua profissão perpétua, ela passou a noite toda em oração, como era o costume no Carmelo. Ela afirma ter recebido nesse momento sua vocação: “Na noite que precedia o grande dia, enquanto eu estava no coro à espera do Esposo, eu compreendi que meu céu começaria na terra, o céu na fé, com o sofrimento e a imolação por Aquele que eu amo”.
     Ela descobriu a passagem de São Paulo sobre o Louvor de Glória, nas Cartas aos Efésios: “Em Cristo, segundo o propósito daquele que opera tudo de acordo com a decisão de sua vontade, fomos feitos seus herdeiros, predestinados a ser, para louvor da sua glória, os primeiros a pôr em Cristo nossa esperança” (Ef 1, 11-12). Escreve um seu biógrafo: “A Irmã Isabel da Trindade foi verdadeiramente a alma de uma ideia: ser, para a Santíssima Trindade, um louvor de Glória”.
     Numa carta à sua mãe, que à maneira francesa tratava por “tu”, assim se expressa: “Ele escolheu a tua filha para associá-la à sua grande obra de Redenção. Ele marcou-a com o selo da sua Cruz e sofre nela como que uma extensão da sua Paixão... Não ambiciono chegar ao Céu somente pura como um Anjo, mas transformada em Jesus Crucificado”. 
    Esta crucifixão atingiu-a, sobretudo nos últimos nove meses de vida, por meio de uma doença que a transformou numa hóstia de imolação. No Céu, para onde voou, consumou-se a união desta grande Mestra da vida espiritual. Nos fins de março de 1906, a Irmã Isabel foi colocada na enfermaria. As Irmãs rezavam pela sua cura e Isabel juntou o seu pedido às orações da comunidade, mas sentiu que Jesus lhe dizia que os ofícios da terra já não eram para ela.
     No dia 1º de novembro comungou pela última vez e dois dias antes da sua morte disse ao seu médico: “É provável que dentro de dois dias eu esteja no seio da Santíssima Trindade. É a Virgem Maria, aquele ser tão luminoso, tão puro, com a pureza do mesmo Deus, quem me levará pela mão e me introduzirá no céu tão deslumbrante”.
     Alguns dias antes de sua morte, Isabel dissera às suas Irmãs esta frase tão bela e que ficou célebre: “Tudo passa! No declinar da vida só o amor nos resta...” A sua última noite foi terrivelmente penosa, pois às suas horríveis dores juntou-se-lhe também a falta de ar, mas ao amanhecer Isabel sossegou, e inclinando a cabeça abriu os olhos e exclamou: “Vou para a Luz, para o Amor, para a Vida”, e adormeceu para sempre. Era a madrugada do dia 9 de novembro de 1906.
     A sua vida e os seus escritos tiveram uma difusão surpreendente. Estes escritos são: Diários, Cartas, Poemas (refletem a sua alma, mas são de pouca qualidade literária), umas Orações (vide abaixo) entre as quais é célebre a sua elevação à Santíssima Trindade.
     Isabel da Trindade foi beatificada por João Paulo II no dia 25 de novembro, festa de Cristo Rei, de 1984; foi canonizada em 16 de outubro de 2016.
 
     Ó meu Deus, Trindade que eu adoro
     Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente, para me estabelecer em vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada amada e o lugar de vosso repouso. Que nunca aí eu vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda acordada em minha fé, perfeita adoradora, toda entregue à vossa Ação criadora.
     Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-vos de glória, quereria amar-vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha incapacidade e peço-vos para me «revestirdes de vós mesmo», para identificar a minha alma com todos os movimentos de vossa alma, me submergir, me invadir, e vos substituir a mim, a fim que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-vos, quero tornar-me inteiramente dócil ao vosso ensino, a fim de tudo aprender de vós.
 
Fontes: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.; www.santiebeati/it;
https://www.carmelitas.pt/site/santos/santos_ver.php?cod_santo=25
 
Postado neste blog em 8 de novembro de 2012

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Mélanie Calvat, a vidente de La Salette

     
Há 191 anos, no dia 7 de novembro de 1831, Mélanie Calvat nascia em Corps (Grenoble, França). Era a 4ª de dez filhos da família de um lenhador. Colocada ao serviço dos agricultores locais, em 19 de setembro de 1846, enquanto pastoreava perto da aldeia de La Salette, junto com Maximino Giraud (1835 -1875), tornou-se protagonista de uma das grandes aparições marianas dos séculos XIX e XX: Rue du Bac (1830), Lourdes (1858) e Fátima (1917).
     Os dois adolescentes viram uma mulher sentada com a cabeça entre as mãos, os cotovelos sobre os joelhos, numa atitude de profunda tristeza. Vestia-se como as mulheres da região e tinha no pescoço um colar com um crucifixo em cujos lados apareciam os símbolos da Paixão de Jesus: um alicate e um martelo. A "Bela Senhora" - como a chamaram os dois videntes - passou-lhes uma longa mensagem a ser transmitida. Mélanie e Maximino contaram o que aconteceu para o pároco e a partir desse dia toda a comunidade ficou agitada.
     Desde o início acreditava-se que a "Bela Senhora" de "La Salette" era a Santíssima Virgem que aparecera naquela tarde de sábado, em que se iniciava, com o Ofício, a festa litúrgica de Nossa Senhora das Dores, então celebrada no 3º domingo de setembro.
     Começaram as peregrinações ao local da aparição - onde nasceu uma fonte de água que começou a operar milagres – e uma comissão de teólogos e eclesiásticos analisou a mensagem que, em 1851, teve sua veracidade aprovada bispo de Grenoble, Philibert de Bruillard. Isto abriu caminho para a devoção a Nossa Senhora de La Salette expandir-se na França e no exterior.
     No ano seguinte, o Bispo instituiu a congregação dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette e começou a construção de um santuário dedicado a Virgem ‘Reconciliadora dos pecadores’ no lugar da aparição, que em 1879 foi elevado à categoria de Basílica.
     A partir da Aparição, Mélanie Calvat iniciou um caminho de sofrimentos e de mal-entendidos que se estenderam por toda sua vida. Ela passou quatro anos nas Irmãs da Providência em Corps, mas foi o novo bispo de Grenoble, Mons. Jacques Marie Achille Ginoulhiac, que se recusou a aceitar os seus votos religiosos.
Mélanie e Maximino
     Para escapar de Napoleão III, a quem ela acusou de cesaropapismo, e do clero francês, que se lhe tornara amplamente hostil, Mélanie começou seu êxodo pela Europa até aterrissar na Itália, em Castellammare di Stabia (Nápoles). Ali ela passou 17 anos sob a direção espiritual do Abade Luís Salvatore Zola (1822-1898) dos Cônegos Regulares Lateranenses (**)
     Depois, quando este foi nomeado arcebispo de Lecce, em 1892, ela o seguiu mudando-se para Galatina (Lecce). E na pequena cidade de Salento, no dia 8 e 9 de agosto de 1897, ela conheceu o Padre Aníbal Maria de França (fundador dos Rogacionistas, canonizado em 2004). Dele lhe haviam falado o Cônego Vincenzo De Angelis de Oria, confessor de Maria Palma Matarrelli, de quem Mélanie também tinha se aproximado em segredo, e o beato de Palermo, Giacomo Gusman. O padre a tinha procurado com insistência convidando-a a assumir o ramo feminino de sua obra, ameaçado de supressão devido a uma série de incidentes desagradáveis e ​​de intrigas.
     Dada a gravidade das circunstâncias, Mélanie aceitou o convite e no dia 14 de setembro de 1897 foi para Messina e pôs mãos às rédeas com decisão diante da situação delicada. O Padre Aníbal convidou todos a seguirem as suas instruções: "Coragem, a Superiora é uma santa, ela falou com Nossa Senhora: por isso sejam felizes em obedecê-la”. As dificuldades foram superadas e assim como uma rajada de ar a sua presença limpou o ambiente de brigas e descontentamentos. E isto foi suficiente para tranquilizar a autoridade eclesiástica. Depois de pouco mais de um ano, Mélanie deixou Messina assegurando ao Padre: "Eu sou de vossa Congregação".
     Para agradecer à Virgem Maria pela presença de Mélanie e a fim de mantê-la em Messina, em 2 de agosto de 1898, o Padre Aníbal fez uma peregrinação a La Salette. Aquele ano de bênção foi considerado o início efetivo da obra feminina graças às orações e à ação de Melanie; como consequência, o Padre quis inclui-la como cofundadora do Instituto.
     Depois dela ainda ter estado na França e na Itália, em 16 de junho de 1904, Mélanie se retirou incógnita em Altamura (Bari), onde faleceu em 14 de dezembro de 1904.
     Ao ler um relato de sua vida em 1910, o Papa São Pío X exclamou ao bispo de Altamura, em cuja diocese havia morrido e fora enterrada, "Santa! Santa!" Sugeriu ao bispo que se apresentasse imediatamente sua causa de beatificação. Apesar disto, Mélanie Calvat não está atualmente beatificada nem canonizada pela Igreja Católica.
A "mensagem" e os "segredos" de La Salette
     Deve-se distinguir o conteúdo da "mensagem" e dos "segredos" de La Salette.
     Na mensagem que Maria deu aos dois adolescentes, enquanto se queixava com eles dos pecados da humanidade admoestava as pessoas a se converterem, a respeitar o dia santo dedicado a Deus, a condenarem as blasfêmias. Era um convite à penitência para afastar as catástrofes naturais, para escapar da punição divina, mas também para difundir o Evangelho da misericórdia e da reconciliação no mundo todo.
     Pelo contrário, os "segredos" confiados aos dois videntes foram divididos da seguinte forma: o segredo de Mélanie consistia no anúncio de grandes calamidades para a França e para a Europa, com referências ao anticristo e à ruína de Paris, e uma dura repreensão contra pessoas consagradas, mas infiéis; o segredo confiado a Maximino Giraud anunciava a misericórdia e a esperança.
     Em julho de 1851, a pedido da autoridade eclesiástica, Mélanie e Maximino escreveram seu segredo, que foi entregue ao Papa Pio IX.
     Enquanto isso o "segredo", lançado na íntegra em 1858, com a sua linguagem profética, repreensões tristes e o patético apelo ao clero, os anúncios de castigos da justiça divina, foram julgados muito duros e a ira de uma grande parte do episcopado francês chegou a tons inéditos. Mélanie foi reputada exaltada, louca, visionária e o segredo nascido de sua mente desequilibrada.
Sto Aníbal e Mélanie
     
Santo Aníbal, entretanto, diria dela: “Sabei que a França inteira ficará tomada de uma santa inveja para convosco no dia em que, como queremos esperar, este túmulo será glorificado não mais com o simples concurso vosso, altamuranos e futuras filhas deste pio instituto, mas com o concurso de peregrinos de diversos povos que, além da própria França, aqui virão para prestar honras à afortunada pastorinha de La Salette, quando a Santa Igreja a terá elevado aos altares, rodeada com a luminosa auréola dos Santos!
 
(*)     Santo Aníbal Maria De França (1851 - 1927) deve seu nome a um ancestral da casa real da França. Este ancestral era irmão do rei São Luís, cujo nome é Carlos de Anjou (seu título na família real).
     Ele é o fundador das Congregações Religiosas dos Rogacionistas e das Filhas do Zelo Divino. Esta segunda ordem foi fundada com a ajuda de Mélanie de la Salette.
     Foi canonizado em 16 de maio de 2004 por João Paulo II: perspicaz e possuidor de notáveis ​​habilidades literárias, respondeu generosamente ao chamado do Senhor assim que o ouviu, adaptando esses talentos ao seu ministério. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14,23).
 
(**) O Servo de Deus, Mons. Luís Salvatore Zola, foi um dos primeiros e o mais convicto apoiador de Mélanie. Em 1879 concedeu o imprimatur à publicação editada pela mesma Mélanie Calvat sobre a história da aparição de La Salette e seu "segredo".
 
Fonte: http://www.padreannibale.altervista.org/Padre_Annibale/index.html
 
* * *

     No livro de Pie Regamey, “Les plus beaux textes sur la Vierge” – Os mais belos textos sobre a Virgem – (Livre De Poche Chrétien, 1962), vem um depoimento feito por Mélanie Calvat (excertos):
     “A Santíssima Virgem era alta e bem proporcionada. Parecia tão leve que um sopro poderia atingi-La. Entretanto, Ela permanecia imóvel e inalterável”.
     “Sua fisionomia era majestosa, imponente, mas não imponente como são as grandes da terra. Ela impunha um temor respeitoso, ao mesmo tempo em que sua majestade impunha respeito entremeado de amor. Ela atraía”.
     “Ao seu redor, como em sua pessoa, tudo inspirava majestade, esplendor, magnificência de uma rainha incomparável. Ela parecia bela, clara, imaculada, cristalina, celeste”.
     “Parecia-me também como uma boa mãe cheia de bondade, amabilidade, amor para conosco, compaixão e misericórdia”.
     Mélanie descreveu também o pranto de Nossa Senhora:
     “A Santa Virgem chorava quase o tempo todo enquanto falava. Suas lágrimas corriam lentamente até os joelhos e desapareciam como faíscas de luz”.
     “Eram brilhantes e cheias de amor. Eu desejava consolá-la, para que não chorasse mais. Mas me parecia que tinha necessidade de mostrar suas lágrimas, para melhor evidenciar seu amor esquecido pelos homens”.
     “Eu quis me jogar nos seus braços e dizer-lhe: Minha mãe querida, não choreis! Quero vos amar por todos os homens da terra. Mas parece que Ela dizia: Há tantos que não me conhecem".
     “As lágrimas de nossa terna mãe, longe de diminuir seu ar de Majestade, Rainha e Senhora, pareciam embelezá-la, torná-la mais bela, mais poderosa, mais cheia de amor, mais maternal, mais encantadora. Eu talvez tivesse ingerido suas lágrimas, que faziam meu coração estremecer de compaixão e de amor”.
     “É compreensível que vendo chorar uma mãe, e uma tal mãe, se queira empregar todos os meios imagináveis para a consolar, para transformar suas dores em alegria”.
 
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Postado neste blog em 7 de novembro de 2013