segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Beata Eugênia Ravasco, Fundadora - 30 de dezembro

     Eugênia Ravasco nasceu em Milão no dia 4 de janeiro de 1845, terceira dos seis filhos do banqueiro genovês Francisco Mateus e da nobre senhora Carolina Mozzoni Frosconi. Foi batizada na Basílica de Santa Maria da Paixão e recebeu o nome de Eugênia Maria. A família rica e religiosa ofereceu-lhe um ambiente cheio de afetos, de fé e uma fina educação.
     Depois da morte prematura de dois filhinhos e também da perda da jovem esposa, o pai retornou a Gênova, levando consigo o primogênito Ambrósio e a última filha Elisa, com apenas um ano e meio. Eugênia ficou em Milão com a irmãzinha Constância, entregue aos cuidados da tia, Marieta Anselmi.
     No ano de 1852 se reuniu à sua família em Gênova. Após três anos, em março de 1855, morreu também seu pai. O tio, Luís Ravasco, banqueiro e cristão convicto, assumiu os seus sobrinhos órfãos. Providenciou a todos uma boa formação e confiou as duas irmãs a uma governanta qualificada. Eugênia, de caráter vivo e exuberante, sofreu muito com a maneira bastante severa usada pela Sra. Serra, mas também soube submeter-se docilmente.
     Em 21 de junho de 1855, com dez anos, recebeu a Primeira Comunhão e a Crisma na Igreja de Santo Ambrósio (hoje de Jesus) em Gênova, tendo sido preparada pelo Canônico Salvatore Magnasco. Daquele dia em diante se sentiu atraída pelo mistério da Presença Eucarística: quando passava diante de uma igreja entrava para adorar o Santíssimo Sacramento. O culto à Eucaristia, de fato, é o fundamento da sua espiritualidade, unido ao culto do Coração de Jesus e de Maria Imaculada.
     Movida pela grande compaixão que tinha em sua alma por aqueles que sofrem, desde sua adolescência se doou com amor generoso aos pobres e aos necessitados, contente de fazer algum sacrifício.
     Em dezembro de 1862, morreu o seu Tio Luís, que para ela era mais que um pai. Dele herdou não só a retidão moral, mas também a coerência cristã e a generosidade para com os pobres. Confiando em Deus e aconselhada pelo Canônico Salvatore Magnasco, futuro Arcebispo de Gênova, e de sábios advogados, ela assumiu a responsabilidade de administrar os bens da família, até então nas mãos de administradores nem sempre honestos.
     Fez de tudo, porém não pode salvar o seu irmão Ambrósio da estrada que o levava à ruína moral e física. Este foi dos seus sofrimentos o mais atroz e também uma grande prova para sua fé.
     Em 31 de maio de 1863, entrou na Igreja de Santa Sabina, em Gênova, para saudar Jesus Eucarístico. Através das palavras do sacerdote, que naquele momento falava aos fiéis, Eugênia recebeu o convite divino a “consagrar-se a fazer o bem por amor ao Coração de Jesus”. Este foi o evento que iluminou o seu futuro e lhe transformou a vida, consagrou sem reservas à glória de Deus todo o seu ser: a energia da mente e do coração e também o patrimônio herdado da sua família: “esta riqueza — repetia — não é minha, mas do Senhor, eu sou somente a administradora” (cfr.: Positio C.L, 70).
     Suportou com firmeza a reação dos parentes, as críticas e o desprezo dos senhores da sua condição social. Começou com coragem a fazer o bem ao redor de si. Ensinou o Catecismo na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, colaborou com as Filhas da Imaculada na Obra de Santa Dorotéia como assistente das crianças vizinhas. Abriu a sua casa para dar-lhes instrução religiosa e escola de costura e bordado. Com as damas de Santa Catarina de Portoria, assistiu aos doentes do Hospital de Pammatone. Visitou os pobres nas suas casas levando o conforto da sua caridade. Sentia grande dor especialmente ao ver tantas crianças e jovens abandonados a si mesmos, expostos a todos os perigos e sem conhecimento das coisas de Deus.
     Em 6 de dezembro de 1868, com 23 anos fundou a Congregação Religiosa das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria com a missão de fazer o bem à juventude. Assim, as escolas, o ensino do Catecismo, as associações e os Oratórios surgiram. O projeto educativo de Madre Ravasco era: educar os jovens e formá-los para uma vida cristã sólida, operosa, para que fossem “honestos cidadãos em meio à sociedade e santos no céu”.
     Em 1878, numa época de grande hostilidade à Igreja e de laicização social, Eugênia Ravasco, atenta às necessidades do seu tempo, abriu uma Escola Normal Feminina, com o objetivo de dar às jovens uma orientação cristã e de preparar professoras cristãs para a sociedade. Por esta obra, que tanto amava, enfrentou com fortaleza, confiando só em Deus, os ataques maldosos da imprensa contrária.
     Inflamada de ardente caridade, que lhe vinha do Coração de Jesus, e animada da vontade de ajudar o próximo na vida espiritual, de acordo com os párocos organizou exercícios espirituais, retiros, celebrações religiosas e missões populares. Sentia grande conforto ao ver tantos corações voltarem para Deus e fazerem experiência da sua misericórdia através da oração, do canto sacro e dos Sacramentos. Rezava: “Coração de Jesus, concede-me fazer este bem e nenhum outro em toda parte”.
     Estendeu o olhar à missão Ad Gentes, um projeto que se realizou após sua morte. Promoveu o culto ao Coração de Jesus, à Eucaristia e ao Coração Imaculado de Maria. Abriu Associações para as mães de família do povo e para as aristocratas; a estas últimas propôs que ajudassem as jovens necessitadas e as igrejas pobres. Com sua caridade aproximou os moribundos e os encarcerados afastados da Igreja. Viveu de fé, de oração, de sofrimento e de abandono à vontade de Deus.
     Em 1884, junto com outras Irmãs, Eugênia Ravasco fez a Profissão Perpétua. Continuou a interessar-se pelo desenvolvimento e consolidação do Instituto que foi aprovado pela Igreja Diocesana em 1882, e seria de Direito Pontifício em 1909.
     Abriu algumas casas que por ela foram visitadas, não obstante a sua pouca saúde. Guiou a sua comunidade com amor, prudência e visão de futuro. Considerando-se a última entre as Irmãs, empenhou-se para manter acesa em suas filhas a chama da caridade e do zelo pela salvação do mundo, propondo-lhes como modelo os Corações Santíssimos de Jesus e de Maria. O seu ideal apostólico foi: “Arder de desejo pelo bem dos outros, especialmente da juventude”, o seu empenho de vida: “Viver abandonada em Deus e nos braços de Maria Imaculada”.
     Purificada com a prova da doença, da incompreensão e do isolamento dentro da comunidade, Eugênia Ravasco não deixou jamais de trabalhar.
     Em 1898, fundou a Associação de Santa Zita para as jovens operárias. Ao mesmo tempo construiu o “teatrinho”, para os momentos de lazer dos jovens do Oratório e das numerosas Associações do Instituto.
     Madre Eugênia morreu em Gênova, com 55 anos, na Casa Mãe do Instituto, na manhã de 30 de dezembro de 1900. “Deixo-vos todas no Coração de Jesus”, foi sua saudação final às filhas e às caríssimas jovens.
     Em 1948, sua Eminência José Siri, Arcebispo de Gênova, introduziu o Processo Diocesano. Em 5 de julho de 2002, João Paulo II firmou o Decreto de Aprovação da cura da menina Eilen Jiménez Cardozo, de Cochabamba, na Bolívia, alcançada pela intercessão de Madre Eugênia Ravasco. E em 27 de abril de 2003, Madre Eugênia foi beatificada na Praça de São Pedro em Roma.

Fonte: www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20030427_ravasco_po.html

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Isabel, a Libertadora

      Isabel I, apelidada de "Isabel, a Católica", foi a Rainha de Castela e Leão de 1474 até sua morte, além de Rainha Consorte de Aragão a partir de 1479 e Imperatriz titular do Império Bizantino de 1502 até sua morte. Era filha do rei João II e sua esposa Isabel de Portugal.
     Isabel nasceu em 22 de novembro de 1451, em Madrigal de Altas Torres e faleceu em 26 de novembro de 1504, em Medina del Campo.
     A Rainha Isabel de Castela e Leão - patrocinadora da descoberta das Américas por Cristóvão Colombo - é conhecida na História como "Isabel, a Católica", mas também pode ser vista como "Isabel, a Libertadora".
     Durante a guerra de dez anos para reconquistar o Reino de Granada e reintegrá-lo à Espanha católica, ela libertou milhares de cativos católicos reduzidos à mais dura escravidão por seus senhores muçulmanos. À medida que as tropas da virtuosa rainha invadiam as muralhas de cidade após cidade muçulmana, as masmorras internas despejavam uma verdadeira seção transversal da sociedade castelhana escravizada: nobres; senhoras; clero; cavaleiros; religiosos; comerciantes; camponeses; homens, mulheres e crianças.
     Todos os que foram capturados pelos muçulmanos em suas cruéis razias foram levados como gado de volta ao reino de Granada e vendidos como escravos no mercado aberto. Qualquer um que não fosse capaz de se resgatar estava condenado a uma vida que parecia pior do que a morte. Infelizmente, e para pôr fim às suas torturas e sofrimentos, muitos se desesperaram e apostataram da fé católica, submetendo-se ao Islã. A tentação de fazer isso era tão forte e a sorte dos cativos tão lamentável, que Deus inspirou São Pedro Nolasco a fundar os Mercedários em 1218 - uma ordem religiosa dedicada à redenção dos cativos que corriam o risco de perder a Fé. Embora essa ordem digna tenha crescido imensamente e feito muito bem nos séculos seguintes, milhares e milhares de católicos ainda definhavam na escravidão muçulmana quando a guerra pela reconquista de Granada começou em dezembro de 1481.
     Nos dez anos seguintes, até a queda da capital Granada em janeiro de 1492, os cativos cristãos foram libertados da escravidão a cada vitória espanhola. Milhares desses ex-escravos católicos seguiram o exemplo do leproso samaritano curado e seguiram para onde quer que a Rainha Isabel estivesse para agradecer a soberana de joelhos por sua liberdade recuperada. Ela ordenou que suas tropas derrubassem suas correntes, que ela então ordenou serem penduradas do lado de fora dos muros do Mosteiro de São João dos Reis, que ela construiu em Toledo em ação de graças a Deus por sua vitória nas guerras que ela foi forçada a lutar para garantir seus direitos à Coroa no início de seu ilustre reinado. Hoje, mais de 500 anos depois, muitas dessas correntes antigas ainda podem ser vistas onde foram penduradas pela primeira vez em gratidão silenciosa e homenagem ao heroísmo e caridade das Cruzadas de uma rainha verdadeiramente católica.



Foto de San Juan de los Reyes, Toledo, Espanha por MRMaeyaert. Penduradas nas paredes externas estão as algemas usadas pelos católicos presos pelos muçulmanos.

Contos sobre honra, cavalaria e o mundo da nobreza - nº 459
Isabella, a Libertadora - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas

Soror Josefa Menéndez e as Mensagens do Coração de Jesus

 
   Nasceu em Madrid, em 4 de fevereiro de 1890. Ainda muito jovem entrou para a Sociedade do Sagrado Coração, na França, onde muito cedo foi objeto das revelações do Divino Mestre. Teve uma vida breve, faleceu em 1923, aos 33 anos de idade. E em 30 de novembro de 1948, foi iniciado seu processo de beatificação. 
      Dez anos antes de se instaurar o processo, o Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII, deu a conhecer ao mundo um livro escrito pela Irmã Josefa, intitulado “Apelo ao Amor”, que relatava as experiências místicas da religiosa durante sua breve vida.
     Nas revelações, encontramos em palavras pungentes a manifestação do amor infinito e aparentemente incompreensível de Deus que se entregou por nós. 
Belíssimas Colocações de Nosso Senhor Jesus Cristo…
     “Ah! Se as almas soubessem como as espero cheio de misericórdia! Sou o Amor dos amores! E não posso descansar senão perdoando!”
     “Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer à misericórdia e implorar perdão. Vosso Deus não consentirá que vossa alma seja presa do inferno”.
     “Estou sempre esperando com amor que as almas venham a Mim! Não desanimem! Venham! Atirem-se nos meus braços! Não tenham medo! Sou seu Pai!”. 
     Além das mensagens do Sagrado Coração, Josefa Menéndez teve também revelações sobre o Inferno, que Deus permitiu para nosso conhecimento e reflexão. É tão terrível a experiência desta alma privilegiada, mas ela sofreu para a salvação das almas, segundo vontade do Divino Redentor. 
Soror Josefa Menéndez e o juízo particular da alma religiosa
     A meditação desse dia, dia 22 de setembro de 1922, era sobre o Juízo Particular da alma religiosa.
     Minha alma não podia afastar esse pensamento, apesar da opressão que sentia. 
     De repente senti-me atada e acabrunhada com tal peso, que num instante percebi com mais claridade do que nunca o que é a santidade de Deus e como lhe aborrece o pecado.
     Vi como num relâmpago toda a minha vida diante de mim, desde a minha primeira confissão até o dia de hoje.
     Tudo estava presente: os meus pecados, as graças que recebi no dia de minha entrada em religião, minha tomada de hábito, meus votos, as leituras, os exercícios, os conselhos, as palavras, todos os socorros da vida religiosa, da vida de uma freira, os conselhos que me foram dados, as palavras que eu ouvi, todos os socorros para amar verdadeiramente a Igreja, a Nossa Senhora e a Deus, tudo esteve presente diante de mim em um só momento.
     Não há expressão que possa dizer a confusão terrível que a alma sente nessa hora: “agora é inútil, estou perdida para sempre”.
     Instantaneamente achei-me no Inferno, mas sem ter sido arrastada como das outras vezes. A alma lá se precipita por si mesma, como se desejasse desaparecer da vista de Deus para poder odiá-lo e amaldiçoá-lo.
     A minha alma deixou-se cair num abismo cujo fundo não se pode ver, pois é imenso. Imediatamente ouvi outras almas se regozijarem vendo-me nos meus tormentos.
     Ouvir aqueles horríveis gritos já é um martírio, mas creio que nada é comparável em dor à sede de maldição que se apodera da alma; e quanto mais maldiz, mais aumenta a sede.
     Nunca tinha experimentado aquilo; outrora a minha alma ficava cheia de dor diante daquelas horríveis blasfêmias, embora não pudesse produzir nenhum ato de amor. Mas hoje dava-se o contrário. Vi o Inferno como sempre: longos corredores, cavidades, fogo; ouvi as mesmas almas a gritar e a blasfemar.
     Pois como já escrevi, embora não se vejam as formas corporais, mantêm-se os tormentos como se os corpos estivessem presentes e as almas se reconhecessem. Gritavam: Olá, aqui estás como nós; éramos livres de fazer ou não fazer aqueles votos. Agora, agora... E maldiziam os seus próprios votos.
     Fui empurrada para aquele lixo inflamado e esmagada como que entre duas tábuas ardentes, e era como se pontas de ferro em brasa se me enfiassem no corpo.
     Senti como se quisesse, sem conseguir, arrancar minha língua, tormento que me reduzia a extremos de dor.
     Os olhos pareciam sair-me das órbitas. Creio que por causa do fogo que tanto os queimava.
     Não havia uma só unha que não sofresse horrivelmente. Não se pode nem mover o dedo para buscar alívio.
     Não se pode nem mover um dedo para buscar alívio, nem mudar de posição, o corpo fica como que achatado e dobrado pelo meio.
     Os ouvidos ficam acabrunhados com os tais gritos de confusão que não cessam um instante. Um cheiro nauseabundo e repugnante asfixia e invade tudo. É como se carne em putrefação estivesse queimando com piche e enxofre, mistura que não se pode comparar a coisa alguma no mundo dos vivos.
     Tudo senti como das outras vezes. E embora fossem horríveis esses tormentos, nada seriam se a alma não sofresse.  Mas sofre de maneira que não se pode descrever. Não posso explicar o que foi esse sofrimento, muito diferente dos que experimentei das outras vezes, pois se o tormento de uma alma no mundo é terrível, nada é em comparação com o de uma alma religiosa.
     Essa necessidade de odiar é uma sede que consome. Nem uma recordação que lhe possa dar o mais pequeno alívio.
     Um dos maiores tormentos, acrescenta Josefa, é a vergonha que a envolve. Parece que todas as almas danadas que a cercam lhe gritam sem cessar: "Que nós nos tenhamos perdido, nós que não tínhamos os mesmos socorros que tu, que há de extraordinário? Mas tu, que te faltava? Tu comias à mesa dos eleitos.
     Tudo o que estou escrevendo, conclui ela, não é senão uma sombra ao lado do que a alma sofre, pois não há palavras que possam exprimir tormento semelhante.
 
     Para entendermos os tormentos do Inferno, basta esta afirmação de Santo Afonso de Ligório: “O fogo da terra – e ele entende não o fogo de uma vela, que é em si mesmo o elemento fogo como tal, mesmo no que ele tem de mais ígneo, de mais combustível – é como um fogo de pintura em comparação com o fogo do Inferno".  
Reflexão: Quando vemos as horríveis blasfêmias, os pecados que são cometidos impunimente nos dias de hoje – sacrilégios, aborto, eutanásia etc. – quem de nós ousaria aproximar-se de Nossa Senhora, dizendo: "Minha Mãe, eu aprovei, ou fiquei indiferente a que pessoas próximas fizesse isto". A reação de Nossa Senhora, a repulsa dEla seria tal, que nós não ousaríamos olhá-la. Ora, por mais que Ela seja santa, Deus é infinito, e se a repulsa dEla é incomensurável, a de Deus é infinita.
     O mundo hoje é tão indiferente diante das ações a que nos referimos no parágrafo anterior, para não dizer complacente... Mas, segundo a Doutrina Católica, Deus odeia essas ações, Ele não é indiferente a elas. O olhar do homem indiferente pousa no pecado e não censura, mas o olhar de Deus pousa naquilo e execra e destina às chamas eternas do Inferno aquele que pecou, caso ele não se arrependa. 
   Na economia comum da graça, salvo os casos excepcionais, à medida que os homens vão pecando, insistindo no caminho do pecado, a possibilidade da misericórdia vai minguando. E quando há uma torrente de pecados cometidos numa cidade, num país, no mundo, o normal é que haja uma torrente de almas que caem no Inferno. Não queremos dizer com isso que cada pecador vai para o Inferno, mas queremos dizer que o número de pecadores que vão para o Inferno aumenta enormemente por causa do número de pecados.
     Lembremo-nos que Nossa Senhora em Fátima insistia sempre com as três crianças – Jacinta, Francisco e Lúcia – para que rezassem pelos pecadores. E a pequena Jacinta fazia muitos sacrifícios, extraordinários para sua idade, pelos pecadores. Mas é preciso que eles se convertam... Senão as orações destas almas santas serão inúteis!
     É bom lembrar que, assim como Deus atormenta no Inferno os precitos, Ele acaricia no Céu e inebria de carícias os seus eleitos; Ele fala aos seus eleitos e lhes diz coisas, e mostra de Si coisas que os deixariam ébrios de alegria, se no Céu pudesse haver ebriedade. É o afago contínuo, é a palavra de bem-aventurança, de afeto, a carícia incessante, sempre igual e sempre diversa, e que nunca termina. Ele disse de Si mesmo: "Eu serei eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande".

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Santa Odília (ou Otília) de Hohenburg, Fundadora e Abadessa – 13 de dezembro

 
    A vida de Santa Odília é conhecida graças a um texto anônimo escrito pouco antes do ano 950.
     No século VII a Alsácia fazia parte da Alemanha. Na época de Childerico II, havia na Alsácia um duque franco chamado Adalrico, 1º. Duque da Alsácia, casado com Beresinda, sobrinha de São Leodegário, Bispo de Autun. Eles viviam em Obernheim, nas montanhas do Vosges, cerca de 40 km ao sul de Strasburg, no sopé do Monte Hohenburg.
     O duque havia sido batizado a pouco e não era um cristão muito fervoroso, mas aprovava as obras de caridade feitas por sua esposa, uma cristã fervorosa. Eles esperavam um filho que assegurasse a sua descendência, mas, por volta do ano 660 nasceu-lhes uma filha... e cega! O pai encolerizado considerou tal nascimento uma desgraça e desonra para a família. A mãe tentou apaziguá-lo dizendo que era a vontade de Deus, que Ele devia ter seus desígnios, tudo em vão: o pai chegou a desejar que matassem a menina.
     Beresinda conseguiu finalmente dissuadi-lo desse crime, mas ele a fez prometer que levaria a criança para longe sem dizer a que família pertencia. Beresinda cumpriu a primeira parte da promessa, mas não a segunda, pois confiou a menina aos cuidados de uma ama que estivera a seu serviço e lhe disse que era sua filha. Beresinda providenciou a ida de toda a família da ama para o local que hoje é conhecido como Baume-le-Dames, próximo de Besançon, onde havia um convento em que a menina poderia educar-se mais tarde.
     Ali viveu ela até os doze anos sem ter sido batizada. Foi então que um anjo revelou a Santo Heraldo, Bispo de Regensburg, abade do mosteiro recém-fundado de Eberheim-Münster, que ele devia ir ao convento de Baume, aonde encontraria uma jovem cega de nascença. Ele devia batizá-la e dar-lhe o nome de Odília.
     Santo Heraldo foi consultar São Hidulfo em Moyenmoutier e, juntos, se dirigiram a Baume, onde fizeram o que tinha sido indicado na revelação. Depois de ungir a cabeça de Odília, Santo Heraldo passou o óleo do Crisma em seus olhos e ela recobrou a visão. No momento do batismo, o bispo Heraldo disse: "Que os teus olhos do corpo se abram, como foram abertos os teus olhos da alma". Odília deste momento em diante passou a enxergar e recebeu o dom da profecia. Tornando-se uma das maiores místicas católicas, com previsões que impressionam ainda hoje.
     Odília permaneceu no convento servindo a Deus. Entrementes, Santo Heraldo havia comunicado a Adalrico a cura de sua filha. O pai não se abrandou diante de tal milagre e proibiu o filho, Hugo, de ajudar a irmã. O milagre que Odília recebera e os progressos que fazia em seus estudos provocaram a inveja de algumas das religiosas que tornaram sua vida difícil. Odília, sabendo da existência de seu irmão, resolveu então escrever para ele e pedir-lhe ajuda. Hugo desobedeceu ao pai e mandou vir a irmã.
     Um dia em que Hugo e Adalrico estavam em uma colina dos arredores, Odília se apresentou em uma charrete, seguida por uma multidão. Quando Adalrico soube de quem se tratava, descarregou sua pesada espada sobre a cabeça de Hugo e o matou de um golpe. Os remorsos finalmente mudaram seu coração e começou a amar sua filha tanto quanto a havia odiado antes.
     Odília se fixou em Obernheim com algumas companheiras que se dedicavam como ela aos atos de piedade e às obras de caridade entre os pobres.
     Adalrico, convertido graças às orações da filha, deu a ela o castelo que possuía no Monte Hohenburg. Odília transformou-o em mosteiro e foi sua primeira abadessa.
     O Monte Hohenburg tem mais de 2.000 m de altura e fica próximo do vale do Reno. Como a montanha era muito escarpada e dificultava o acesso dos peregrinos, Santa Odília fundou outro convento, Niedermünster, um pouco mais abaixo, a 703 m, e edificou um hospital junto a ele para acolher pobres e leprosos. São João Batista lhe apareceu e indicou o local e as dimensões da capela que devia construir ali em sua honra.
     A regra adotada por Santa Odília foi a beneditina, o que sugere a influência de seu tio-avô, São Leodegário, grande apóstolo do monasticismo beneditino na região. Em apenas dez anos o mosteiro já abrigava 130 religiosas, entre as quais três filhas de Adelardo, outro irmão de Santa Odília. Estas sobrinhas foram: Santa Eugênia, sucessora de Santa Odília, Santa Atala, abadessa do mosteiro de Santo Estevão de Strasburg, e Santa Gundelinda.
     Odília governou os dois conventos e tornou-se popularíssima na Alsácia, na Lorena e na região de Baden. Conta-se que após a morte do pai Santa Odília soube, durante uma visão, que ele fora livre do Purgatório graças às suas orações e penitências.
     Uma Fonte de Santa Odília existe ainda hoje. Ela fica fora do mosteiro, e, segundo a tradição, Santa Odília a fez surgir tocando a rocha com o cordão de seu hábito. Ela voltava da costumeira visita aos doentes, quando encontrou um homem cego que lhe pediu água. Como ela não tivesse água à mão, fez o milagre. E o homem ficou curado da cegueira. Muitas outras visões da Santa são narradas e numerosos milagres lhe são atribuídos.
     Depois de governar o mosteiro durante muitos anos, Santa Odília morreu no dia 13 de dezembro de 720, deitada sobre uma pele de urso. Como Santa Odília não pudera receber o Santo Viático, as prementes orações de suas irmãs de hábito alcançaram a graça dela recobrar a vida. Após descrever as belezas do Céu para elas e receber o Viático, a Santa morreu novamente e foi sepultada na Igreja do mosteiro.
     As suas fundações são mencionadas pela primeira vez em 783, numa doação feita para a abadessa da época. Carlos Magno garantiu imunidade às fundações de Santa Odília, o que foi confirmado em 9 de março de 837 por Luís, o Pio (Böhmer-Mühlbacher, "Regesta Imperii", I, 866, 933). 
   A Igreja de São João Batista e o túmulo da Santa foram mencionados pela primeira vez pelo Papa Leão IX em 17 de dezembro de 1050. O Imperador Frederico I mandou restaurar a igreja e o mosteiro. A Abadessa Relinde estabeleceu ali uma escola para as filhas da nobreza. Uma outra abadessa, Herrade de Landsberg (1167-1195) tornou-se a famosa autora de um importante trabalho teológico chamado Hortus Deliciarum (Paradiesgarten). Em 1546, Niedermünster foi destruído num incêndio, e as religiosas não mais retornaram
     Algumas relíquias da Santa foram transferidas para outros locais. O Imperador Carlos IV, por exemplo, recebeu o braço direito em 4 de maio de 1353, relíquia que hoje se encontra em Praga. Outras relíquias, que ficaram no mosteiro primitivo, foram salvas da Revolução Francesa - inclusive o sarcófago, que recebeu posteriormente um revestimento de mármore - e foram colocadas sob o altar em 1842. As relíquias que foram levadas para Einsiedeln no século XVII foram destruídas pela Revolução.
     Seu túmulo é venerado e ainda hoje milhares de peregrinos a procuram e lhe prestam culto. O Monte Santa Odília é o local da Alsácia mais frequentado pelos católicos. Todos os imperadores alemães, desde Carlos Magno, a homenagearam. Até o Papa Leão IX e o Rei Ricardo I da Inglaterra foram visitar seu túmulo.
     Santa Odília foi designada patrona da Alsácia em 1807 pelo Papa Pio VII. Ela é também patrona de Strasburg e é invocada e muito venerada como protetora dos doentes da visão, dos cegos e dos médicos oftalmologistas. É venerada também na diocese de Mônaco, Meissen e nas abadias beneditinas femininas da Áustria.
     Os mosteiros e os hospitais fundados por ela foram entregues aos monges beneditinos, que mantiveram a finalidade inicial dada por Santa Otília: a assistência aos pobres e doentes incuráveis. 
     Santa Odília é festejada no dia de sua morte, 13 de dezembro. No Monte Santa Odília ela é celebrada no dia do aniversário da transladação de suas relíquias, ocorrida em 7 de julho de 1842.
     Desde o século XV, a Baviera e a Alsácia adotaram a versão Otília de seu nome.

Etimologia: O nome Odília significa “rica”, “proprietária”, “poderosa”. É o mesmo que Odália e Odélia, que vêm do germânico Odelia, derivado a partir da raiz od, ot, elementos que dão ideia de bens, posses, riquezas. Com outros nomes vindos da mesma raiz, Odília tem o mesmo significado de Otília e Odete.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Odília_da_Alsácia
https://santosesantasdedeus.blogspot.com/2012/12/13-de-dezembro-dia-de-santa-otilia-ou.html
http://saintsresource.com/odilia-of-alsace
http://www.paulinas.org.br/

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Beata Maria Clementina Anuarite Nengapeta, a Sta. Inês africana – 1º dezembro

 

A 1ª mulher bantu a ser elevada aos altares da Igreja Católica

     Anuarite Nengapeta nasceu no dia 29 de dezembro de 1939. Era a quarta das seis filhas de Amisi e Isude. A família de pagãos africanos da etnia Wadubu vivia na periferia de Wamba, no Congo. Ao ser batizada em 1943, acrescentaram-lhe o nome Afonsina. Na ocasião, também receberam esse sacramento sua mãe e quatro irmãs. A mais velha nunca abraçou a doutrina católica. Seu pai até começou a preparar-se para a conversão, mas depois desistiu, pois formou outra família enquanto trabalhava como soldado do exército congolês.
     Aqueles que a conheceram em sua aldeia dizem que ela era uma criança alegre, vivaz e dedicada. Eles lembram que em Wamba, onde frequentou a escola primária, ela tinha o hábito de visitar os pobres e os doentes. O nervosismo, porém, era o ponto fraco do seu caráter. Era muito sensível e instável. Gostava de frequentar a igreja, ia à missa aos domingos com a mãe e as irmãs. Em seguida, ficava estudando o catecismo para poder receber a primeira comunhão, que ocorreu em 1948.
     Como era comum entre as crianças africanas, ela começou ainda muito jovem ajudando seus pais em casa: tirando água do poço, juntando lenha e cozinhando algumas coisas no fogão. Como seus companheiros da mesma idade, ela temia as cobras que encontrava no caminho para o poço e gostava de brincar com cachorros e cabras na aldeia. Ela era uma típica criança africana.
      Desde criança Anuarite sabia bem o que queria: certo dia, na escola primária, durante a recreação, aproximou-se da professora e disse-lhe: “Quero o trabalho de Deus”. Dito e feito: não só levou a cabo este trabalho, mas levou-o em frente até o fim, dando a sua vida por Cristo.
     Mas Afonsina Anuarite era extraordinariamente inteligente. Por causa disso, depois de deixar o ensino fundamental, ela foi para o ensino médio em Bafwabaka. Iniciou os seus estudos e diplomou-se no colégio das Irmãs do Menino Jesus de Nivelles, missionárias na África.  
     Em 1957, ingressou na Congregação da Sagrada Família. Foi aceita e durante o noviciado teve como orientador espiritual o Bispo de Wamba. Em 1959, diplomou-se professora, vestiu o hábito e emitiu os votos definitivos, tomando o nome de Maria Clementina. Desde então se dedicava e empenhava muito nas funções que lhe eram destinadas: foi sacristã, auxiliar de cozinheira e professora de uma escola primária. Após um curso complementar em 1963, tornou-se diretora do internato para meninas, onde ela mesma havia estudado alguns anos antes.
     Devota extremada de Maria e de Jesus, vivia feliz por ter-se consagrado ao seu serviço.  Dentro da comunidade de irmãs, ela era conhecida como "a luz do sol à sua disposição". Ela estava sempre serena, alegre e pronta para o que fosse necessário. Depois da escola, ela ia com as irmãs encarregadas da manutenção para ajudá-las a pegar lenha, pescar no rio Nepoko e lavar e passar roupas. Em muitos domingos, as irmãs e os alunos puderam desfrutar de bolo e outras sobremesas. 
     No caderno de anotações da Irmã Anuarite – agora parte do material de seu processo de canonização em Roma – podem ser encontradas receitas de bolos e sobremesas, além de textos de meditação e suas anotações pessoais. Para alegrar os alunos internos, ela sempre conseguia encontrar novas receitas em algum lugar. Naquele dia 29 de novembro, a irmã Anuarite havia preparado algo para seu vigésimo quinto aniversário. Mas tudo acabaria diferente...   
     O Congo da época era governado pelos brancos. Em 1960, havia uma grande campanha contra esse domínio europeu. Fervilhava o ódio racial e não durou muito para traduzirem-se em barbárie os ideais políticos. A revolução dos Simbas explodiu no ano seguinte, iniciando um violento massacre para eliminar todos os europeus, seus amigos e colaboradores negros.
     No Convento de Bafwabaka, tudo era calmo até 1964. Em agosto daquele ano, os rebeldes já tinham ocupado grande parte do país. A cada dia avançavam mais, saqueando e matando milhares de civis congoleses indefesos. Mais de cento e cinquenta missionários, entre sacerdotes, religiosos e irmãos já haviam morrido também.
     Os rebeldes chegaram ao convento em 29 de novembro e levaram as trinta e seis integrantes da Sagrada Família, entre elas Irmã Maria Clementina Anuarite, de caminhão, para Isiro. Na noite do dia 1º de dezembro de 1964, o Coronel Olombe tentou seduzi-la. Mas ela se recusou a satisfazer seus desejos carnais: “Eu prefiro morrer antes de cometer o pecado”. Além disso, para defender a superiora, ameaçada de morte por causa da sua rejeição, Anuarite dirige-se aos soldados com as seguintes palavras: “Matai-me só a mim”. O Coronel Olombe a esbofeteou e golpeou com a coronhada do fuzil, depois disparou, matando-a. Antes de perder os sentidos e diante da aproximação da morte, encontrou forças para perdoar seu algoz: “Eu o perdoo... Tu não percebes o que estás fazendo... O Pai te perdoe”.
    Ela foi beatificada em 15 de agosto de 1985 pelo Papa João Paulo II durante sua visita à África. Ela foi a primeira mulher bantu elevada aos altares. Seu memorial é 1º de dezembro.
     Na solenidade de beatificação, o sumo pontífice definiu Anuarite como modelo de fidelidade para todos os católicos do mundo. Depois, enalteceu sua castidade, e a igualou a Santa Inês, mártir do início da cristandade, dizendo: "Anuarite é a Inês do continente africano".

Fontes:
Irmã Anuarita de Bafwabaka: Uma Mary Goretti da África Central - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas
http://www.osservatoreromano.va/pt/news/mulher-de-palavra-desconcertante-e-misteriosa