quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Santa Ana Line, Viúva, mártir inglesa – 27 de fevereiro

 

Padroeira dos casais sem filhos, convertidos e viúvas
 
     Desde a instauração do anglicanismo pelo rei Henrique VIII, em 1531, os países da Comunidade Britânica viviam dias difíceis. Os católicos eram perseguidos, os sacerdotes ou eram expatriados ou condenados à morte. Muitos retornavam clandestinamente à Inglaterra para dar assistência religiosa aos leigos e corriam o risco de serem presos e condenados. Vários mosteiros e igrejas foram queimados. Foram anos de intensa perseguição e muitos foram os mártires da Fé católica, leigos e eclesiásticos. Tal situação perdurou ainda pelo século XVII.
     Ana viveu nesta época. Ela nasceu no ano de 1567 em Dunmow, no Condado de Essex, segunda filha de William Heigham e de Ana Alien. Ana havia se convertido ao catolicismo junto com seu irmão Guilherme. Depois de tentar sem sucesso fazê-la apostatar, o pai, um abastado e rigoroso calvinista, deserdou-a e ao irmão, e expulsou-os de casa.
     Pouco tempo depois, provavelmente em 1586, Ana desposou Roger Line, ele também um jovem católico convertido, deserdado pelo mesmo motivo. Mas Ana logo ficou sozinha e sem recursos, porque seu esposo e seu irmão foram presos quando assistiam à Missa, naquele tempo uma grave transgressão. Depois de pagarem uma multa, foram banidos do país. Roger foi para Flandres onde recebia uma pequena pensão do Rei da Espanha, Felipe II, parte da qual enviava para a esposa em Londres. Ana pode contar com aquele auxílio até 1594, ano da morte de Roger Line.
     Ana ficou viúva num momento em que sua saúde estava bastante afetada. Mais do que nunca teve que confiar na Divina Providência para o seu sustento.
Sta. Ana Line jovem
     Quando em 1595 o jesuíta Pe. João Gerard instituiu em Londres uma casa de refúgio para os sacerdotes que retornavam secretamente à cidade, ou que já exercitavam o ministério, Ana foi chamada para governá-la e administrá-la, encargo que ela desenvolveu dia a dia com o afeto de uma mãe e a devoção de uma criada. O sacerdote, cuja autobiografia descreve sua prisão, tortura e fuga posterior da Torre de Londres, que naquela época era uma prisão, confiou em Ana porque ela era "uma mulher de grande prudência e bom senso" e precisava se refugiar na casa, tanto quanto os sacerdotes que iam para lá.
     Em 1597, como esta casa se tornara insegura após a fuga do Pe. Gerard da prisão da Torre, um novo local foi escolhido e Ana nele continuou a desempenhar suas funções. 
     No dia 2 de fevereiro de 1601, Festa da Purificação, o altar e os paramentos para a Missa estavam prontos e o jesuíta Pe. Francis Page foi investido para iniciar a procissão e a bênção das velas, e para rezar a Missa das Candeias na casa administrada por Ana Line, quando guardas vieram prendê-lo. Um vizinho o havia delatado. O padre conseguiu esconder-se num local especialmente preparado por Ana para isto, tirou as vestes para não ser preso e evitar a morte, e depois fugiu. Mas, as autoridades viram o altar e prenderam Ana Line por suspeita de ajudar algum presbítero, já que era sua residência. Ana e dois leigos foram capturados e levados para a prisão de Newgate.
     No dia 26 de fevereiro de 1601 ela foi levada ao tribunal de Old Bailey. Ana estava tão fraca, que foi necessário conduzi-la sobre uma cadeira, tão grave eram suas condições de saúde. O juiz Popham a processava sob a alegação de ter dado refúgio e assistência aos padres missionários. As autoridades não tinham provas de que ela tivesse ajudado algum sacerdote, já que nenhum padre foi preso durante a invasão de domicílio.
     Ela disse à corte que longe de arrepender-se de haver ocultado um padre, ela somente se entristecia por “não poder receber mil”. Foi acusada segundo a ata 27 da Rainha Isabel, quer dizer, por dar albergue a um sacerdote, ainda quando isto não pudesse provar-se, e condenada pelo juiz John Popham a pena capital: seria enforcada no dia seguinte em Tyburn.
     No dia seguinte foi levada à forca e valentemente proclamando sua fé alcançou o martírio pelo que havia rogado. No mesmo dia foram executados dois sacerdotes, o Beato Mark Barkworth, O.S.B. e o Beato Roger Filcock, S.J. O Pe.  Roger Filcock havia sido por muito tempo amigo e frequente confessor da Sra. Line. Sendo mulher, foi poupada do esquartejamento que eles sofreram.
     No cadafalso, antes de colocar a cabeça no laço, declarou em voz alta dirigindo-se à multidão que assistia as execuções: “Fui condenada à morte por ter concedido refúgio a um padre católico; contudo estou tão longe de arrepender-me, que desejaria de todo coração ter hospedado mil em vez de um só”.
     O Pe. Filcock, ainda pendurado na forca proclamou: "Ó bendita Senhora Line, que agora recebeu sua recompensa, vai à nossa frente, mas nós te seguiremos rapidamente nas bem-aventuranças se for do agrado do Todo-Poderoso".
     Antes de morrer, o Pe. Filcock rezou com o Pe. Mark Barkworth, que depois foi enforcado e esquartejado. Por sua parte, Pe. Francis Page, que fugiu no dia da festa da Apresentação do Senhor, foi executado pelo crime de "ser sacerdote" em 20 de abril de 1602.
     Ana Line foi beatificada pelo Papa Pio XI em 15 de dezembro de 1929, e canonizada pelo Papa Paulo VI em 25 de outubro de 1970, junto com os 40 Mártires da Inglaterra e Gales.
     O Pe. Mark Barkworth e o Pe. Francis Page foram beatificados entre um grande grupo de mártires em 1929 pelo Papa Pio XI, já o Pe. Roger Filcock foi beatificado entre os 85 mártires de Inglaterra e País de Gales pelo Papa João Paulo II em 1987.
     A Santa é comemorada no dia 27 de fevereiro. Sua festa com os outros 39 Mártires é em 25 de outubro. Algumas dioceses católicas da Inglaterra, tal como a Diocese de Leeds, comemoram-na com as Santas mártires Margarida Clitherow e Margarida Ward no dia 30 de agosto.
     Graças a mulheres de seu calibre a fé foi preservada na Inglaterra e os riscos que ela enfrentou foram pequenos e grandes. Hoje, há duas igrejas em Essex sob a invocação de Santa Ana Line - modernas e muito feias -, mas com verdadeira devoção à Santa. Percebe-se que existe um verdadeiro culto local que reflete a gratidão pelo dom da fé católica que foi passado para os contemporâneos.
     Santa Ana Line é patrona dos casais sem filhos, dos convertidos, das viúvas.

Fontes:
MORRIS, Life of Fr. John Gerard; CHALLONER, Memoirs, I, 396; FOLEY, Records S.J. I, 405; VII, 254; Douay Diaries, p. 219, 280; Hist. MSS. Com. Rep. Rutland Coll. Belvoir Castle, I, 370; GILLOW, Bibl. Dict. Eng. Cath.
STANLEY J. QUINN (Catholic Encyclopedia)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Santa Valburga, Princesa, Abadessa – 25 de fevereiro

     

     Nasceu em Devonshire, por volta de 710; morreu em Heidenheim, 25 de fevereiro de 777. Ela é a padroeira de Eichstadt, Oudenarde, Furnes, Antuérpia, Gronigen, Weilburg e Zutphen, e é invocada como padroeira especial contra a hidrofobia, em tempestades e também por marinheiros. 
     Valburga era filha de São Ricardo, um dos sub-reis dos saxões ocidentais, e de Winna, irmã de São Bonifácio, apóstolo da Alemanha, e tinha dois irmãos, São Willibaldo e São Winibaldo.
     São Ricardo, ao iniciar com seus dois filhos uma peregrinação à Terra Santa, confiou Valburga, então com onze anos, à abadessa de Wimborne. Na escola claustral e como membro da comunidade, ela passou vinte e seis anos se preparando para o grande trabalho que realizaria na Alemanha. O mosteiro era famoso pela santidade e disciplina austera. Havia um alto padrão em Wimborne, e a criança era treinada em aprendizado sólido e em realizações adequadas à sua posição. 
     Graças a isso, ela mais tarde pôde escrever a Vida de São Winibaldo e um relato em latim das viagens de São Willibaldo na Palestina. Ela é, portanto, vista por muitos como a primeira autora feminina da Inglaterra e da Alemanha. Apenas um ano após sua chegada, Valburga recebeu a notícia da morte de seu pai em Lucca.
     Durante este período, São Bonifácio estava lançando as bases da Igreja na Alemanha. Viu que na maior parte esforços dispersos seriam inúteis, ou exerceriam apenas uma influência passageira. Ele, portanto, determinou colocar todo o país sob um sistema organizado. À medida que avançava em suas conquistas espirituais, estabeleceu mosteiros que, como fortalezas, deveriam abrigar as regiões conquistadas, e de cujas torres de vigia a luz da fé e do aprendizado deveria irradiar longe e perto.
     São Bonifácio foi o primeiro missionário a chamar as mulheres em seu auxílio. Em 748, em resposta ao seu apelo, a abadessa Tetta enviou para a Alemanha Santa Lioba e Santa Valburga com muitas outras freiras. Elas navegaram com bom tempo, mas de repente surgiu uma terrível tempestade. Em seguida, Valburga orou, ajoelhando-se no convés, e imediatamente o mar se acalmou. Ao desembarcar, os marinheiros proclamaram o milagre que haviam testemunhado, de modo que Valburga foi recebida em todos os lugares com alegria e veneração.
     Há uma tradição na Igreja de Antuérpia, que a caminho da Alemanha Valburga fez alguma estadia lá; e na igreja mais antiga daquela cidade, que agora leva o título de Santa Valburga é apontada uma gruta na qual ela costumava rezar. Esta mesma igreja, antes de adotar o Ofício Romano, costumava celebrar a festa de Santa Valburga quatro vezes por ano. Em Mainz, ela foi recebida por seu tio, São Bonifácio, e por seu irmão, São Willibaldo.
A viagem para a Alemanha
     Depois de viver algum tempo sob o governo de Santa Lioba em Bischofsheim, ela foi nomeada abadessa de Heidenheim e, portanto, foi colocada perto de seu irmão favorito, São Winibaldo, que governava uma abadia lá. Após a morte de São Winibaldo ela governou o mosteiro dos monges, bem como o seu próprio. 
     Sua virtude, doçura e prudência, somadas aos dons da graça e da natureza com os quais ela foi dotada, bem como os muitos milagres que ela realizou, a tornaram querida por todos. Foi sobre essas monjas que Ozanam escreveu: "O silêncio e a humildade velaram os trabalhos das monjas dos olhos do mundo, mas a história lhes atribuiu seu lugar no início da civilização alemã: a Providência colocou as mulheres sempre ao lado do berço". 
     Em 23 de setembro de 776, ela ajudou na transladação do corpo de seu irmão São Winibaldo por São Willibaldo, quando se descobriu que o tempo não havia deixado vestígios nos restos sagrados. Pouco depois disso, ela adoeceu e, tendo sido assistida em seus últimos momentos por São Willibaldo, expirou.
     São Willibaldo a colocou para descansar ao lado de São Winibaldo, e muitas maravilhas foram feitas em ambos os túmulos. São Willibaldo sobreviveu até 786 e, após sua morte, a devoção a Santa Valburga diminuiu gradualmente, e seu túmulo foi negligenciado. 
     Por volta de 870, Otkar, então bispo de Eichstadt, decidiu restaurar a igreja e o mosteiro de Heidenheim, que estavam caindo em ruínas. Tendo os trabalhadores profanado o túmulo de Santa Valburga, ela uma noite apareceu ao bispo, repreendendo-o e ameaçando-o. Isso levou à trasladação solene dos restos mortais para Eichstadt em 21 de setembro do mesmo ano. Eles foram colocados na Igreja de Santa Cruz, agora chamada de Sta. Valburga. 
     Em 893, o bispo Erchanbold, sucessor de Otkar, abriu o santuário para retirar uma parte das relíquias para Liubula, abadessa de Monheim, e foi então que o corpo foi descoberto pela primeira vez imerso em um óleo precioso ou orvalho, que daquele dia até hoje (exceto durante um período em que Eichstadt foi colocado sob interdição, e quando o sangue foi derramado na igreja por ladrões que feriram gravemente o sineiro) continuou a fluir dos restos sagrados, especialmente do peito. 
     Este fato fez com que Santa Valburga fosse contada entre os Elaephori, ou santos produtores de óleo. Porções das relíquias de Santa Valburga foram levadas para Colônia, Antuérpia, Furnes e outros lugares, enquanto seu óleo foi levado para todos os cantos do globo.
     As várias transladações das relíquias de Santa Valburga levaram a uma diversidade de festas em sua homenagem. No Martirológio Romano, ela é comemorada em 1º de maio, seu nome está ligado ao de Santo Asafe, dia em que seu principal festival é celebrado na Bélgica e na Baviera. No Breviário Beneditino, sua festa é atribuída a 25 (no ano bissexto 26) de fevereiro. 
     Ela é representada no hábito beneditino com um pequeno frasco ou garrafa; como abadessa com um báculo, uma coroa a seus pés, denotando seu nascimento real; às vezes ela é representada em um grupo com São Filipe e São Tiago, o Menor, e São Sigismundo, rei da Borgonha, porque se diz que ela foi canonizada pelo Papa Adriano II em 1º de maio, a festa desses santos. Se, no entanto, como alguns afirmam, ela foi canonizada durante o episcopado de Erchanbold, não no de Otkar, então não poderia ter sido durante o pontificado de Adriano II. 
     A comunidade beneditina de Eichstadt está florescendo, e as freiras cuidam do santuário da santa; as de Heidenheim foram impiedosamente expulsas em 1538, mas a igreja está agora nas mãos dos católicos.
Gertrude Casanova (Enciclopédia Católica de 1913)
25 de Fevereiro - Princesa, Abadessa, Milagreiro - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Santa Apolônia, mártir – 9 de fevereiro

     Apolônia de Alexandria (m. 249) fez parte de um grupo de virgens mártires que padeceram em Alexandria, no Egito, durante um levante local contra o Cristianismo antes da perseguição de Décio. De acordo com a legenda, durante sua tortura teve todos os seus dentes violentamente arrancados ou quebrados. Por esta razão, é popularmente considerada como a padroeira da Odontologia, dos dentistas e daqueles que sofrem de dor de dente ou outros problemas dentais [1].
História
     Historiadores cristãos têm afirmado que nos últimos anos do imperador Filipe, o Árabe (r. 244–249), durante as não bem documentadas festividades para comemorar o milênio da fundação de Roma (tradicionalmente teria ocorrido no ano de 753 a.C., o que nos dá a data aproximada do milênio como no ano de 248 d.C.), a fúria do povo de Alexandria se transformou em um ódio ainda maior, e embora um de seus poetas já profetizasse uma calamidade, mesmo assim, foram cometidos sangrentos abusos contra os cristãos, a quem as autoridades nada faziam para proteger.
     São Dionísio, bispo de Alexandria, (247–265), relata o sofrimento de seus paroquianos em uma carta endereçada a Fábio, bispo de Antioquia, que teve grande parte de seu texto preservado no livro de Eusébio intitulado a História Eclesiástica (VI.41[2]) [3]. Após descrever como um homem e uma mulher cristãos chamados Metras e Quinta, foram capturados e mortos pela multidão, e como as casas de muitos outros cristãos foram saqueadas, Dionísio continua seu relato:
     “Naquele momento Apolônia, parthénos presbytis [4] foi considerada por eles uma pessoa de alta estima. Então aqueles homens também a agarraram e com vários golpes quebraram todos os seus dentes. Eles então ergueram fora dos portões da cidade uma pilha de madeira e ameaçaram queimá-la viva se viesse a recusar-se a repetir diante deles palavras ímpias (como uma blasfêmia contra Cristo, ou uma invocação a algum deus pagão). Deram-lhe, diante de um pedido seu, um minuto de liberdade, e ela então se jogou rapidamente no fogo, sendo queimada até a morte”.
     Esta breve narrativa era mais estendida e moralizada no livro "Lenda Dourada" de Jacopo de Varazze (c. 1260) [5][6].
Suicídio  
     Apolônia e um grupo inteiro de jovens mártires não esperaram pela morte com a qual haviam sido ameaçadas, talvez para preservar sua castidade ou então porque viram-se confrontadas com a alternativa de renunciar sua fé ou serem assassinadas, voluntariamente abraçaram a morte que havia sido preparada para elas, uma atitude que perigosamente se aproxima do suicídio, segundo alguns. Santo Agostinho de Hipona toca nesta questão sobre o suicídio no primeiro livro da De Civitate Dei (I:26) [7]:
     “Mas, dizem eles, durante o tempo da perseguição certas mulheres santas jogavam-se às águas com a intenção de serem arrastadas pelas ondas e afogarem-se, e assim preservar sua castidade ameaçada. Apesar de elas abrirem mão de suas vidas conscientemente, mesmo assim receberam uma grande distinção como mártires da Igreja Católica e seus festejos são celebrados com grande cerimônia. Este é um tema sobre o qual eu não ouso emitir um julgamento esclarecedor. Pois eu sei, sem objeção, que a Igreja era divinamente autorizada através de revelações confiáveis a honrar desta forma a memória destes cristãos. Pode ser que seja este o caso. Mas pode também ser que não, que elas agiram desta maneira, não por um capricho humano, mas sob o comando de Deus, não erroneamente, mas através da obediência, da mesma forma que supomos ocorreu com Sansão? Quando, entretanto, Deus dá um comando e o faz de forma clara, quem atribuiria a esta obediência o título de crime ou condenaria esta piedosa devoção e serviço de boa vontade?
     A narrativa de São Dionísio não sugere a menor reprovação quanto a esse ato de Santa Apolônia; aos seus olhos, ela era tão mártir quanto as outras, e como tal era reverenciada na Igreja de Alexandria. Com o tempo, sua festa também se tornou popular no Ocidente. Uma narrativa posterior duplicou erroneamente Apolônia, tornando-a uma virgem cristã de Roma no reinado de Juliano, o Apóstata, sofrendo o mesmo destino dentário.
Veneração
     A Igreja Católica Romana celebra Santa Apolônia no dia 9 de fevereiro, e ela é popularmente invocada contra a dor de dente devido ao suplício que sofreu. Costuma ser representada nas artes com uma torquês ou tenaz através da qual um dente é preso. Posteriormente no século XIV a ilustração de um manuscrito francês foi amplamente distribuída como um pôster que era considerado apropriado para gabinetes odontológicos nos Estados Unidos. Nele, o dente sagrado preso no tenaz brilha por si, como se fosse um bico de luz [8].
     Santa Apolônia é uma das duas santas padroeiras da Catânia. Na Alemanha, Apolônia faz parte dos 14 Santos Auxiliares ("vierzehn heiligen" ou "Nothelfer"), escolhidos como os patronos da vida diária, sendo considerada a protetora contra a dor de dente [9].
    William S. Walsh, em Curiosities of Popular Customs And of Rites, Ceremonies, Observances, and Miscellaneous Antiquities de 1897, notou que, apesar da maior parte de suas relíquias estarem preservadas na própria igreja de Santa Apolônia em Roma, sua cabeça está na Basílica de Santa Maria em Trastevere, seus braços na Basílica de São Lourenço Fora dos Muros, partes de sua mandíbula na Catedral de São Basílio, e outras relíquias estão na igreja Jesuíta da Antuérpia, na igreja de Santo Agostinho em Bruxelas, na igreja Jesuíta em Mechelen, na igreja da Santa Cruz em Liège, no tesouro da Sé do Porto, na toponímia lisboeta bem como no próprio Convento de Santa Apolônia, e em muitas igrejas na cidade de Colônia. Essas relíquias consistem, muitas vezes, apenas de um dente ou pedaço de osso. Na Idade Média, objetos que se dizia serem seus dentes eram vendidos como curas para dor de dente [10].
     Há uma estátua de Santa Apolônia na igreja de Locronan, França. A Ilha Maurícia foi originalmente chamada de Santa Apolônia em sua homenagem em 1507 pelos navegadores portugueses [11]. Uma igreja paroquial em Eilendorf, um subúrbio de Aachen, Alemanha, recebeu o nome em homenagem a Santa Apolônia.
     Em algumas regiões da Itália, Santa Apolônia é referenciada como a fada do dente, coletando os dentes de leite caídos das crianças enquanto elas dormem e deixando um presente em troca [12].
     Havia uma igreja dedicada a ela em Roma, próxima à Basílica de Santa Maria em Trastevere, mas ela não mais existe. Só o seu pequeno quarteirão, a Piazza Sant'Apollonia ou Praça de Santa Apolônia ainda permanece. Uma das principais estações de trem de Lisboa também recebe o nome desta santa.
Devoção na Inglaterra
     Na Inglaterra existem 52 imagens conhecidas de Santa Apolônia em várias igrejas que resistiram à destruição dos comissários do século XVI.. Elas estão concentradas em Devon e Anglia Oriental. A maioria destas imagens são painéis panorâmicos atrás da cruz ou vitrais, com apenas uma sendo principalmente de pedra (Stoke-in-Teignhead, Devon). Sua imagem é o suporte lateral do brasão da Associação Odontológica Britânica [13].

Oração a Santa Apolônia
     "Ó bom Deus, rogamos que a intercessão da gloriosa mártir de Alexandria, Santa Apolônia, nos livre de todas as enfermidades do rosto e da boca. Lembrai-vos principalmente das criaturas inocentes e indefesas. Afastai, se possível, a amargura das dores de dente. Iluminai, fortificai e protegei os cirurgiões-dentistas, para que sempre se dediquem ao próximo com o amor que de vós emana, e nos seja dado usufruir de vosso reino”.
     Santa Apolônia, intercedei a Deus por nós. Amém

Referências
1. ↑ «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: St. Apollonia». www.newadvent.org. Consultado em 24 de outubro de 2024
2. ↑ Eusébio de Cesareia. «41». História Eclesiástica. The Martyrs in Alexandria. (em inglês). VI. [S.l.: s.n.]
3. ↑ Historia Ecclesiae, Eusébio de Cesaréia I:vi: 41.
4. ↑ virgem presbítera, com isso ele provavelmente não quis se referir a uma virgem de idade avançada como é geralmente dito, mas a uma diaconesa) [carece de fontes]
5. ↑ «Apollonia von Alexandria - Ökumenisches Heiligenlexikon». www.heiligenlexikon.de (em alemão). Consultado em 24 de outubro de 2024
6. ↑ «Sant' Apollonia». Santiebeati.it (em italiano). Consultado em 24 de outubro de 2024
7. ↑ A Cidade de Deus, Agostinho de Hipona, I:26.
8. ↑ «Virgin Martyr Apollonia - Troparion & Kontakion». www.oca.org. Consultado em 24 de outubro de 2024
9. ↑ «LITANIES». www.catholictradition.org. Consultado em 24 de outubro de 2024
10. ↑ William S. Walsh, Curiosidades de trajes populares e de ritos, cerimônias, observâncias e antiguidades diversas, 1897.
11. ↑ Jacques Auber, Histoire de l'océan Indien, 1955, p. 233
12. ↑ «La fatina dei denti». QC QuotidianoCanavese (em italiano). 22 de agosto de 2019. Consultado em 24 de outubro de 2024
13. ↑ «The British Dental Museum». British Dental Assocation (em inglês). Consultado em 24 de outubro de 2024

Fonte: Apolônia de Alexandria – Wikipédia, a enciclopédia livre

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Santa Doroteia e S. Teófilo, Mártires - 6 de fevereiro

     
     Estes mártires são recordados em uma Passio muito antiga e comemorados no Martirológio Jeronimiano no dia 6 de fevereiro. O Martirológio Romano relata: Em Cesareia, na Capadócia, na moderna Turquia, os santos mártires Doroteia, virgem, e Teófilo, advogado.
     Nobre, muito rica e de grande educação, Doroteia viveu em Cesareia, capital da província romana da Capadócia, e foi martirizada no ano de 304 por ser cristã, vítima das perseguições do imperador romano Diocleciano.
     A jovem teve os pais martirizados no Anfiteatro, fez um voto de castidade a Cristo e transformou a própria casa numa espécie de igreja, onde passava os dias em meio a jejuns e orações, e valendo-se da própria fortuna para fazer caridade aos pobres. Tanto zelo e piedade atraiam os cristãos de Cesareia que a procuravam para ouvir os mais sábios conselhos. Isso fez com que seu nome fosse citado no Tribunal Romano como praticante da fé cristã.
     Na época governava o pretório de Cesareia o nobre Saprício, que mandou trazer a jovem à sua presença e a interrogou. Como a moça respondesse sabiamente a todas as perguntas, desarticulando as intenções dos juízes de ridicularizarem a religião cristã, e muito zelosa de sua pureza, foi obrigada a viver durante uma semana na companhia de duas jovens sacerdotisas pagãs chamadas Crista e Calista, para que elas fizessem Dorotéia abandonar sua fé.  Mas, a constância de Doroteia acabou por convertê-las à fé cristã, e elas foram mortas.
     Convencido de que a jovem não sacrificaria aos deuses, e grandemente irritado com suas respostas, Saprício ordenou que fosse estendida no cavalete. “É inútil contemporizar, disse Doroteia, tenho pressa de chegar a Jesus, meu Senhor, que me chamou à sequela de seus santos”. Saprício então mandou esbofeteá-la; vendo, depois, que ela continuava a manifestar a sua alegria, formulou assim a sentença: “Ordenamos que Doroteia, jovem repleta de orgulho, que recusou sacrificar aos deuses imortais e conservar assim a sua vida, desejosa de morrer por um homem chamado Jesus Cristo, morra à espada”.
     Ao escutar a moça dizer que iria para o céu onde era eterna a primavera, um dos pretores, de nome Teófilo, zombou dela dizendo: "Pois já que vais ao jardim de teu esposo onde a primavera é eterna, envia-me de lá frutos e rosas perfumadas".
     Doroteia prometeu realizar sua vontade. Antes de a espada cair sobre sua cabeça, ela rezou e pediu a Deus que realizasse sua promessa. Um Anjo apareceu-lhe e ela entregou em suas mãos o lenço com que enxugara o rosto, dizendo: "Vai e leva a Teófilo e diz que Doroteia, serva de Cristo, lhe envia os frutos e as flores que ele pediu. E diz também que, se ele quiser mais, que vá ter com ela no Paraíso". Dito isso, a espada caiu sobre Doroteia, que subiu radiante ao céu.
     No tribunal, Teófilo continuava a zombar do caso de Doroteia quando lhe apareceu o Anjo e transmitiu-lhe o recado da virgem cristã. Assombrado com o estupendo milagre de receber as maçãs e as rosas em época de inverno rigoroso, Teófilo imediatamente foi tocado pela Graça de Deus e passou a afirmar aos amigos que o Deus dos cristãos era de fato O verdadeiro.
     No início todos pensaram que se tratava de mais uma ironia de Teófilo, mas devido à sua insistência, foi denunciado. Saprício então o convocou para julgamento cobrando sua coerência com as convicções antigas, mas Teófilo afirmou que havia se convertido à fé em Cristo e que não a renegaria jamais. Foi torturado e decapitado também.
     O culto de Santa Dorotéia foi muito difundido durante a Idade Média, sendo invocada entre os "Santos Auxiliadores". Inúmeros artistas inspiraram-se na conversão de Teófilo retratando em quadros o milagre de Santa Dorotéia, chamada até hoje de a "Santa das flores": Doroteia, sentada aos pés da Virgem Maria tendo ao colo o Menino Jesus; Doroteia tem numa mão um feixe de margaridas, na outra uma cesta cheia de flores e frutos. A cabeça está coroada de rosas. Em outras representações, a cesta está nas mãos de um anjo encarregado de levá-la a Teófilo, estando o mensageiro ao lado direito da Santa.
     Doroteia é a santa das flores e faz parte daquela florescência de jovens que, com a sua virgindade e com a sua graça, perfumaram o cristianismo primitivo.
     Santa Doroteia é Patrona das Floristas.

Etimologia: Doroteia = dom de Deus, do grego, como Teodora.

S. Doroteia - Informações sobre o Santo do dia - Vatican News
Santa Doroteia – mártir | Paulus Editora

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Santa Vereburga de Chester, 3 de fevereiro


Princesa pagã meio feroz, princesa cristã meio gentil
 
    Beneditina, padroeira de Chester, abadessa de Weedon, Trentham, Hanbury, Minster em Sheppy e Ely, nascida em Staffordshire no início do século VII; morreu em Trentham, 3 de fevereiro de 699 ou 700.
     Sua mãe era Santa Ermenilda, filha de Ercomberto, rei de Kent, e Santa Sexburga, e seu pai, Wulfhere, filho de Penda, o mais feroz dos reis da Mércia. Santa Vereburga uniu assim em suas veias o sangue de duas raças muito diferentes: uma ferozmente cruel e pagã; a outra um tipo de valor gentil e santidade cristã. Nela, da mesma forma, centrou-se o sangue real de todos os principais reis saxões, enquanto seu pai, no assassinato de seu irmão mais velho, Peada, que havia se convertido ao cristianismo, sucedeu ao maior reino da heptarquia.

Da esquerda para a direita: Santa Eteldreda e Santa Vitburga, irmãs de Santa Sexburga; Sta. Vereburga, neta de Sta. Sexburga. Todas as três estão incorruptas, embora o túmulo de Sta. Vereburga tenha sido destruído sob Henrique VIII.

     Se Wulfhere era um pagão obstinado que atrasou sua conversão prometida, ou um cristão relapso, é controvertido, mas a lenda do crime terrível e antinatural que lhe foi imputado por alguns escritores deve ser descartado aqui com a autoridade de todos os cronistas anteriores e contemporâneos, como os bollandistas apontaram. Os mártires, Santos Wulfald e Ruffin, não eram filhos de Wulfhere e Santa Ermenilda, nem vítimas da tirania daquele rei. Ermenilda imediatamente conquistou o coração de seus súditos, e seu zelo deu frutos na conversão de muitos deles, enquanto sua influência sobre o caráter apaixonado de seu marido o transformou em um rei cristão modelo.
     Vereburga herdou o temperamento e os dons de sua mãe. Por causa de sua beleza e graça, a princesa foi ansiosamente procurada em casamento, sendo o principal entre seus pretendentes Werebode, um guerreiro obstinado, a quem Wulfhere era muito devedor; mas a constância de Vereburga superou todos os obstáculos, de modo que finalmente ela obteve o consentimento de seu pai para entrar na Abadia de Ely, que havia sido fundada por sua tia-avó, Santa Eteldreda, e cuja fama era generalizada.
     Wulfhere não sobreviveu por muito tempo à consagração de sua filha. Com sua morte, Santa Ermenilda assumiu o véu em Ely, onde acabou sucedendo sua mãe, Santa Sexburga, como abadessa. Kenred, irmão de Vereburga, sendo uma mera criança com a morte de seu pai, seu tio Ethelred sucedeu-o ao trono. Este rei convidou Vereburga a assumir a direção de todos os mosteiros de freiras em seu domínio, a fim de que ela pudesse levá-los ao alto nível de disciplina e perfeição que tantas vezes o edificaram em Ely. A santa, com alguma dificuldade, consentiu em sacrificar a reclusão que prezava e empreendeu o trabalho de reformar os mosteiros da Mércia existentes e de fundar novos que o rei Ethelred generosamente doou, a saber, Trentham e Hanbury, em Staffordshire, e Weedon, em Northamptonshire.
     Tinha sido privilégio de Sta. Vereburga ser treinada por santos, em casa por S. Chad (depois bispo de Lichfield), e por sua mãe, e no claustro por sua tia-avó. Sua posição não mudou a humildade que sempre a caracterizou, de modo que, em devoção a todos os que estavam sob seus cuidados, ela parecia mais a serva do que a mãe. Seu único pensamento era superar suas irmãs na prática da perfeição religiosa. Deus recompensou sua confiança infantil com muitos milagres, que fizeram de Sta. Vereburga um dos santos saxões mais conhecidos e amados. 
     O [milagre] do ganso roubado apelou mais para a imaginação popular. A história, imortalizada na iconografia de Sta. Vereburga, relata que, por um simples comando, ela baniu um bando de gansos selvagens que estava causando estragos nos campos de milho de Weedon, e que desde então nenhuma dessas aves foi vista naquelas partes. Ela também foi dotada dos dons de profecia e de ler os segredos dos corações. Sabendo o quanto suas diferentes comunidades eram dedicadas a ela e como cada uma se esforçaria para garantir a posse de seu corpo após a morte, ela decidiu evitar essa rivalidade piedosa escolhendo Hanbury como seu local de sepultamento. 
Catedral de Chester
     Mas as freiras do mosteiro de Trentham decidiram manter os restos mortais. Elas não apenas se recusaram a entregá-los àqueles que vieram de Hanbury, mas até trancaram o caixão em uma cripta e colocaram um guarda para vigiá-lo. O povo de Hanbury enviou novamente um grande grupo para fazer valer suas reivindicações. Chegando a Trentham à meia-noite, todos os ferrolhos e barras cederam ao toque, enquanto os guardas foram dominados pelo sono e não sabiam que o caixão estava sendo carregado para Hanbury.
     Tão numerosas e maravilhosas foram as curas operadas no túmulo da santa que, em 708, seu corpo foi solenemente transladado para um lugar mais visível na igreja, na presença de seu irmão, Kenred, que agora sucedera ao rei Ethelred. Apesar de ter estado nove anos na tumba, o corpo estava intacto. Tão grande foi a impressão causada em Kenred que ele resolveu renunciar à coroa e seguiu os passos de sua irmã. Em 875, por medo dos dinamarqueses e para mostrar maior honra a santa, o corpo foi removido para Chester. A Igreja de São Pedro e São Paulo, no local da atual catedral de Chester, foi novamente dedicada a Sta. Vereburga e São Osvaldo, provavelmente no reinado de Athelstan. 
     O grande Leofric, conde da Mércia (que também foi denominado conde de Chester), e sua esposa, Lady Godiva, repararam e ampliaram a igreja e, em 1093, Hugh Lupus, conde de Chester, doou ricamente a abadia e sua igreja. Pela instrumentalidade deste nobre, Chester, que estava nas mãos de cônegos seculares, tornou-se uma grande abadia beneditina, o nome de Santo Anselmo, então monge em Bee, sendo associado a essa transformação. A abadia possuía uma influência e posição tão imensas que, na época da supressão sob Henrique VIII, o conde de Derby era o senescal do abade. 
Altar de Sta. Vereburga
na Catedral de Chester
     Na vasta onda de iconoclastia que varreu o país no reinado daquele tirano, a catedral foi saqueada por apóstatas que espalharam as relíquias de Sta. Vereburga. Fragmentos do santuário foram usados como base de um trono episcopal. Muitos dos rótulos e figuras foram mutilados e, ao restaurá-los, os trabalhadores, por engano, colocaram cabeças femininas nos ombros masculinos e vice-versa. Apenas trinta das figuras originais permanecem, quatro tendo sido perdidas. Mais tarde, todos esses fragmentos foram removidos para a extremidade oeste do corredor sul do coro, onde foram colocados quase na posição original do santuário, que tem 10 pés de altura. 
     A festa de Sta. Vereburga é celebrada em 3 de fevereiro.

Acta SS., I FEV.; BRADSHAW, Metrical Holy Lyfe e História de Saynt Werburge, etc., ed. HAWKINS (impresso em fac-símile para a Chetham Society, 1848); BUTLER, Vidas dos Santos (Londres, 1833); DUGDALE, Monasticon anglicanum (Londres, 1846); DUNBAR, Dict. de Mulheres Santas (Londres, 1905), s.v.; HIATT, Chester, a Catedral e a Sé (Londres, 1898); LELAND, Collectanea (Londres, 1770); LEWIS, Dicionário Topográfico da Inglaterra (Londres, 1831), s.v.; Nova legenda Angliae, ed. HORSTMAN (Oxford, 1901); SPELMAN, Hist. e Destino do Sacrilégio (Londres, 1895); TANNER, Notitia Monast. (Londres, 1744).
IRMÃ GERTRUDE CASANOVA (Enciclopédia Católica)
3 de fevereiro - Princesa pagã meio feroz, princesa cristã meio gentil - nobreza e elites tradicionais análogas