quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Santa Teodora de Rossano Abadessa – 28 de novembro

Martirológio Romano: Próximo de Rossano, na Calábria, Santa Teodora, abadessa, discípula de São Nilo o Jovem e mestra de vida monástica. 

     Teodora nasceu cerca de 910, filha de Eusébio e Rosália. Dedicou-se bem jovem às obras de caridade e para conservar sua virgindade resolveu abandonar os hábitos mundanos e entrou, aos 15 anos, no Mosteiro de Santo Opoli, colocando-se sob a direção de São Nilo o Jovem (*).
     Distinguiu-se por sua grande devoção, tornando-se guia natural de outras jovens que a tomavam como exemplo.
     Algum tempo depois, São Nilo desejou premiar tanto empenho: quando da construção do Oratório de Santa Anastásia, realizada graças à generosidade de um devoto de nome Eusébio, o Santo entregou-o a direção de Teodora, que reuniu ali todas as jovens que desejavam se consagrar a Deus e as monjas suas companheiras do Mosteiro de Santo Opoli.
     Teodora permaneceu ali por toda sua vida. Faleceu em 28 de novembro de 980 tendo, segundo a tradição, 70 anos.
     Quanto ao local de sua sepultura, há dúvidas: segundo alguns, ela foi sepultada na Catedral de Rossano, mas segundo testemunhos escritos por dois contemporâneos da Santa, Eugênio e Beltrano, o corpo da abadessa foi sepultado no Mosteiro de Santa Anastásia, onde normalmente eram custodiados os restos mortais das mulheres beatas.


(*) Nilo de Rossano, ou Nilo o Jovem, batizado com o nome de Nicolau (Rossano 910 – Tuscolo 26 de setembro de 1004) era monge basiliano, abade e fundador da Abadia de Santa Maria de Grottaferrata. O Abade Nilo, nascido na Calábria bizantina e portanto grego de origem e de rito, fundou vários mosteiros; decidiu fundar um mosteiro na colina de Tuscolo, onde teria aparecido Nossa Senhora. É venerado como santo pela Igreja Católica e é santo patrono de Rossano onde é festejado no dia 26 de setembro. No ano 2004, foi celebrado o milênio de São Nilo.

Oratório de São Marcos de Rossano
     Dedicado originalmente a Santa Anastasia é o monumento mais antigo de Rossano e uma das construções bizantinas mais bem conservadas da Itália.

Postado neste blog em 27 de novembro de 2015

domingo, 24 de novembro de 2019

Santa Gioconda Virgem, venerada em Reggio Emilia – 25 de novembro

    
Fachada da Igreja de São Próspero

     Na diocese de Reggio Emilia, lembramos a virgem Santa Gioconda, que viveu no século V. Na tradição local, acredita-se que a santa foi discípula do bispo Próspero, que no século V governou o destino da diocese por mais de 22 anos.
     Não temos documentação histórica sobre esta santa, mesmo que a tradição nos diga que ela cresceu na escola do bispo patrono da diocese e que ele próprio a teria consagrado ao Senhor.
     O culto de Santa Gioconda se estendeu a toda a cidade de Reggio e a toda a diocese por volta do ano 1030, embora em alguns textos seja mencionado que suas relíquias foram encontradas juntamente com as de São Venerio e de São Próspero no ano 1144.
     Segundo a tradição, argumenta-se que a origem espanhola do bispo pode ser atribuída à mesma Gioconda.
     Na última revisão diocesana, que remonta a 1989, é proposta na memória da santa uma meditação de uma passagem da Exortação Apostólica sobre a alegria cristã de autoria de Paulo VI.
     Em 1989, o corpo da santa, que é preservado e venerado na igreja da cidade dos santos Pedro, apóstolo, e Próspero, bispo, foi submetido a uma investigação científica para verificar sua autenticidade. De fato, as antigas urnas que continham os restos mortais da virgem Santa Gioconda, do eremita São Venerio e do bispo Beato Tomas, anteriormente enterradas sob o altar da igreja de São Pedro, estavam sem lacre no palácio do bispo.
     Uma estátua representando Santa Gioconda é encontrada na fachada da Igreja de São Próspero e no transepto no final da nave da Igreja de São Pedro, podemos admirar Nossa Senhora do Lírio, tendo aos seus pés os olhares e os gestos dos personagens no primeiro planos que, São Pedro e Santa Gioconda, que se voltam para a Virgem, com anjos em voo que cercam e parecem sustentar o quadro com Nossa Senhora e o Menino.
     Finalmente, no santuário de Ghiara, há uma imagem de Santa Gioconda no tambor da cúpula central.
     A festa de Santa Gioconda, na própria diocese, foi fixada para 25 de novembro.

Fonte: www.santiebeati.it/


Gioconda é um nome feminino de origem italiana, derivado da palavra gioconda, que significa literalmente “sorridente”, na tradução para o português. Os etimologistas acreditam que este nome tenha se originado a partir do latim jucundus, que quer dizer “agradável” ou “encantador”.

Santa Lucrécia de Mérida, Mártir - 23 de novembro

    
     Não se deve confundir esta Santa Lucrécia de Mérida com a mais conhecida Santa Lucrécia, o Leocricia, de Córdoba, de que fala Santo Eulógio a propósito da perseguição muçulmana; entre uma e outra mediam pelo menos quatro séculos.
     Da santa que veneramos hoje apenas existem notícias de que existiu em Mérida um templo dedicado a ela, porém foi antes da invasão muçulmana na Espanha, e dele não restou senão rastros.
     Notícias tomadas da História da Cidade de Mérida, de D. Bernabé Moreno de Vargas (1576-1648), pág. 113-114, Madrid, 1633, e do Suplemento à última edição do ano cristão do Padre Juan Croiset, tomo II, pág. 338 ss., por D. Juan Julián Caparrós, Madrid, 1743, conjecturam que esse templo pode ter estado onde, em seu tempo, estava a ermida de Nossa Senhora de Loreto, lamentavelmente desaparecida também, e cujo local de construção, próximo ao Matadouro Regional, também é objeto de conjecturas.
     A imagem reproduzida em vários santorais de internet possivelmente não seja de Santa Lucrécia de Mérida, mas a de Santa Lucrécia de Córdoba, muito mais difundida.
     Lucrécia aparece mencionada no Martirológio Jeronimiano e em outros martirológios antigos, como tendo vivido na época de Diocleciano, e embora não se possa considerar seguro este dado, parece que ela foi martirizada sob a presidência de Daciano.
     Conhecemos este perseguidor porque em sua viagem pela Península, nos primeiros anos do século IV, seu caminho foi semeado de mártires cristãos, porém não se sabe com certeza o ano em que esteve em Mérida. Os autores antigos dão datas entre 305 e 308, porém parece que a maior probabilidade seja o ano de 306 ou depois.
     Uma “passio” não autêntica é conservada, mas que expressa bem o tipo das vidas de mártires dos primeiros séculos. Nela há um diálogo que resume, se não as frases pronunciadas por um e outro naquele momento, a fortaleza das mártires cristãs, débeis em sua figura, mas cheias de uma fortaleza sobrenatural.
     De fato, vendo Daciano que todas as suas admoestações eram inúteis, disse: “... elege por último um destes dois extremos: ou como néscia padecer diferentes penas entre os sentenciados a morte, ou sacrificar aos deuses como sabia e nobre pessoa”. A isto respondeu Lucrécia: “Sacrifica tu aos demônios, que eu só ofereço sacrifício ao verdadeiro Deus e a Jesus Cristo, seu único Filho”.



Postado neste blog em 23 de novembro de 2015

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria no Templo – 21 de novembro

    
     Na festa da Apresentação da Virgem Maria celebramos o fato de que os pais de Nossa Senhora a levaram para o Templo aos três anos de idade e Ela iria morar lá por um longo período como virgem consagrada, onde Ela poderia contemplar exclusivamente a Deus.
     Há uma beleza especial nesta festa, uma vez que destaca o fato de que Nossa Senhora ter sido escolhida antes mesmo do novo tempo começar. Ela é chamada de Raiz de Jesse (Isaías, 11:1) da qual Nosso Senhor Jesus Cristo nasceria.
     Ela é apresentada à sinagoga, a instituição encarregada de manter essa promessa. Assim, a sinagoga recebe Nossa Senhora como um primeiro passo. Neste ato, as esperanças das idades logo seriam cumpridas.
     Nossa Senhora, uma alma supremamente santa, é recebida no Templo e entrou ao serviço de Deus. Apesar da corrupção da nação de Israel e da transformação do Templo em um antro dos fariseus, uma luz incomparável apareceu: a santidade de Nossa Senhora.
     Sem saber, Nossa Senhora começou a se preparar para se tornar a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em uma atmosfera de graça no Templo, ela foi separada de todos para servir a Deus.
     Ela aumentou seu amor por Deus até formar o desejo ardente pela iminente vinda do Messias e pedia a Deus para ter a honra de ser a serva de Sua Mãe. Ela não sabia que era a escolhida para esta honra. É por isso que Ela ficou perplexa quando o Arcanjo Gabriel cumprimentou-a para pedir sua permissão para a Encarnação.
     A magnífica preparação de Nossa Senhora para ser a Mãe de Jesus Cristo começou com sua Apresentação no Templo, uma festa que a Igreja celebra em 21 de novembro.
     É apropriado que peçamos a Nossa Senhora neste dia que Ela nos prepare com o melhor da doutrina católica para servir a Deus por meio dEla.
     Devemos apresentar-nos perante Nossa Senhora, pedindo-lhe que nos ajude a assumir a tarefa da nossa santificação, como o Espírito Santo fez com Ela no Templo de Jerusalém.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Santa Hilda de Whitby, Abadessa - 17 de novembro

    
     Não se sabe o local de nascimento de Hilda, mas, de acordo com São Beda o Venerável, foi no ano de 614. Era a segunda filha de Hereric, sobrinho de Eduino, primeiro rei cristão da Nortúmbria (atual Inglaterra), e de sua esposa Bregusvita. Sua irmã mais velha, Heresvita, se casou com Etelrico, irmão do rei Anna da Anglia Oriental. Quando era apenas um bebê, seu pai foi envenenado no exílio, na corte do rei de Elmet (hoje em dia West Yorkshire). Presume-se que ela cresceu na corte de Eduino, na Nortúmbria.
O batismo de Hilda
     Em 12 de abril de 627, Festa da Páscoa, o rei Eduino foi batizado junto com sua corte, que incluía Hilda, na pequena capela de madeira construída, especialmente para a ocasião, próximo do local em que está hoje a Catedral de York. A cerimônia foi oficializada pelo monge bispo Paulino, que viera de Roma com Agostinho (Santo Agostinho de Canterbury). Ele acompanhava Etelburga, uma princesa cristã que voltava para Kent para casar-se com Eduino.
     Desconhecem-se os detalhes da vida de Hilda de 627 a 647. Parece que depois da morte de Eduino em uma batalha, em 633, ela foi viver com sua irmã. São Beda resume sua história num ponto chave de sua vida quando, na idade de 33 anos, ela decidiu ir viver em um convento de Chelles, na França, acompanhando sua irmã que enviuvara. Santo Adriano, bispo de Lindisfarne, dissuadiu-a de tal propósito e aconselhou-a a voltar para a Nortúmbria e viver como monja beneditina.
Os mosteiros de Santa Hilda
     Não se sabe exatamente aonde Hilda iniciou sua vida de monja, apenas que ela se fixou com algumas companheiras junto ao Rio Wear. Elas aprenderam as tradições do monaquismo celta trazidas pelo Bispo de Iona, Santo Adriano. Depois de um ano, Santo Adriano nomeou Hilda a segunda Abadessa de Hartepool. Não restam vestígios desta abadia, porém o cemitério monástico foi encontrado próximo da atual Igreja de Santa Hilda.
     Em 657, Hilda fundou com suas rendas um novo mosteiro duplo em Whitby (então conhecido como Straneshalch), aonde permaneceu o resto de sua vida até sua morte em 680. (Whit = Pentecostes; by = mantido por). Whitby era então a capital da Nortúmbria. Hilda governou os dois mosteiros com grande prudência durante 30 anos.
Vida monástica em Whitby
Ruinas da Abadia de Whitby
     Em Whitby erguem-se impressionantes ruínas de uma abadia beneditina do século XII. Entretanto, não foi este o edifício que Hilda conheceu. Evidências arqueológicas mostram que o seu mosteiro tinha estilo celta, com seus monges vivendo em pequenas casas para duas ou três pessoas. Na tradição dos mosteiros duplos, como os de Hartepool e Whitby, os monges e as monjas viviam separados, porém podiam rezar juntos na Missa.
     São Beda nos conta que as ideias originais do monaquismo eram seguidas com rigor na abadia de Hilda. Todas as propriedades e bens eram comuns, praticavam-se os conselhos evangélicos, especialmente a paz e a caridade, todos tinham que estudar as Sagradas Escrituras e praticar obras de caridade. Entretanto, o número de monges e monjas que viviam em Whitby não é conhecido.
     Cinco monges de Whitby se tornaram bispos e um foi venerado como santo, São João de Beverly. A rainha Eanfreda de Deira e sua filha Alfreda se tornaram monjas, e juntas foram abadessas de Whitby depois da morte de Hilda.
     São Beda descreve Santa Hilda como uma mulher de grande energia, uma audaz e eficaz administradora e mestra. Gozava da reputação de grande sabedoria por toda a Inglaterra, e todas as grandes personalidades a consultavam: reis, príncipes e bispos. Entretanto, ela também se preocupava com as pessoas comuns, como Caedmon, um pastor e bardo religioso. Santa Hilda teve o dom da profecia e foi celebrada por todos os escritores e historiadores ingleses, tanto pela sabedoria divina que possuía como pela santidade altíssima. Mesmo tendo um temperamento forte, ela inspirava afeto. São Beda disse: "Todos os que a conheciam a chamavam de 'mãe' por causa de sua grande devoção e graça".
O Sínodo de Whitby
     Na segunda metade do século VI, os monges irlandeses, discípulos de São Patrício e São Columbano, chegaram à Inglaterra e fundaram uma série de mosteiros, entre eles o de Iona. Paralelamente, Roma havia enviado para lá vários monges, entre eles Santo Agostinho de Canterbury, com idêntica missão de evangelização. Esses empreendimentos missionários acabaram se chocando devido a diferenças que existiam entre eles de ritual, de estilo e de organização.
     A Nortúmbria ficou durante alguns anos sem saber a quem dar razão, se aos monges irlandeses ou aos romanos. Então, o rei Oswin da Nortúmbria decidiu resolver a questão convocando o Sínodo de Whitby, o que aconteceu no ano de 664. São Beda o Venerável se refere a esta reunião em sua Historia eclesiástica dos ingleses.
     O rei Oswin escolheu o mosteiro de Santa Hilda como sede para o Sínodo de Whitby, o primeiro sínodo da Igreja em seu reino. A maioria dos presentes, incluindo Santa Hilda, seguiam as tradições do Cristianismo celta, porém, vários no reino, incluindo a rainha Eanfreda e sua filha, a monja Alfreda, que vivia com Hilda no mosteiro, seguiam as tradições da Igreja Romana. Convencidos por São Vilfrido, um mensageiro de Roma, decidiu-se optar pelas tradições romanas. Santa Hilda aceitou esta decisão e aderiu às novas regras dando um bom exemplo de devoção e de obediência.
     Muitas das tradições celtas continuaram em uso, porém pontos essenciais como festas e celebrações foram mudados. São Cutberto de Lindisfarne, um Santo da Nortúmbria, demonstrou com sua vida como as tradições beneditinas e celtas podem ser combinadas efetivamente.
Morte de Santa Hilda
     Santa Hilda faleceu em 17 de novembro de 680 ao cabo de longa e penosa doença que durou seis anos. Não cessou, entretanto, de trabalhar durante esses anos. No último ano de vida ela fundou outro mosteiro em Hackness. Ela entregou a alma a Deus depois de receber o viático, e, segundo a tradição, os sinos do mosteiro de Hackness tocaram no momento de sua morte.
O legado de Santa Hilda
     As sucessoras de Santa Hilda foram Eanfreda, viúva do Rei Oswin, e sua filha Alfreda. Depois das mortes destas, não se sabe mais nada da Abadia de Whitby, além do fato de ter sido destruída pelos invasores daneses em 867. Depois da invasão da Inglaterra por Guilherme I, monges vindos de Evesham fundaram outra abadia beneditina para homens. E continuou existindo até a dissolução dos mosteiros por Henrique VIII em 1539.
     A partir do século XIX até hoje, surgiu no mundo todo um renovado interesse e uma grande devoção por Santa Hilda. Com o crescimento da educação feminina, muitas escolas e universidades foram fundadas em sua honra. A Universidade Santa Hilda, em Oxford, recebeu este nome em sua homenagem. Santa Hilda é considerada uma das padroeiras da educação e da cultura, inclusive da poesia, graças ao apoio que dedicava a Caedmon.
 
Santa Hilda recebendo o pastor e bardo Caedmon
Etimologia: Hilda, do alemão, abreviatura de nomes como Hildegarda. Do alto alemão antigo Hiltia: “combate, guerra”, também se traduz por “guerreira

Postado neste blog em 15 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Santa Francisca Xavier Cabrini, Fundadora – 13 de novembro

    
     Há 81 anos, no dia 13 de novembro de 1938, o Papa Pio XII beatificava Madre Cabrini. O mesmo papa a canonizaria em 7 de julho de 1946. Nas dioceses de Milão e de Lodi sua memória se celebra em 13 de novembro. A festa litúrgica é 22 de dezembro.
     Por conta do enorme aumento no número de peregrinos que iam até a sua sala no Hospital Columbus, em Chicago, o Cardeal Stritch consagrou um Santuário Nacional em honra à santa no complexo do hospital. Ele foi dedicado em 1955, 38 anos após a morte da santa. Este santuário tem a missão especial de fomentar a devoção à primeira santa norte-americana.
*
      Madre Cabrini nasceu dia 15 de julho de 1850 em Sant'Angelo Lodigiano, Lombardia, Itália. Filha do agricultor Agustine Cabrini e de sua esposa Estella, era a última de treze filhos. No dia em que nasceu, um bando de pombos brancos sobrevoou a sua casa. No batismo recebeu o nome de Maria Francisca.
     Quando pequena, Chiquinha (como era conhecida) gostava de brincar de barquinhos e de colher violetas. Quem a conheceu dizia que tinha pequena estatura e grande espírito. Recebeu uma educação no convento de Arluno e formou-se professora. Sua mãe rezava por uma hora antes de ir para a missa e ela seguia seu exemplo. Às vezes se refugiava num local onde sozinha podia rezar tranquila.
     Quando adolescente, era franzina e muito tímida. Mais tarde disse: "Quem diria que eu fui por tanto tempo tão tímida? Não ousava levantar os olhos, por medo de faltar a modéstia. Chegou o dia, porém, em que compreendi que na verdade devia tê-los bem aberto para o bem do Instituto. E nada mais pôde me intimidar".
     Parece que o destino de Madre Cabrini era mesmo as viagens, pois ela gostava de Geografia e vivia debruçada nos Atlas.
     Ficou órfão bem jovem e aos 18 anos queria ser religiosa, mas sua saúde delicada impediu que recebesse o véu. O Padre Serati pediu que ela ensinasse na escola de meninas "A Casa da Providência", um orfanato em Codogno, Itália, e lá ela ensinou por seis anos.
     Ela fazia tão bem seu trabalho, que quando o orfanato fechou, em 1880, o Bispo de Todi pediu que ela fundasse o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus para cuidar das crianças pobres nas escolas e em hospitais.
     Segundo a tradição, embora elas não tivessem dinheiro para prover o que era necessário para as crianças, sempre que Francisca enviava uma das Irmãs para buscar leite, o pote estava sempre cheio, e quando buscava pão, o cesto de pão estava também cheio. Milagrosamente não faltava comida para as crianças.
     Madre Cabrini colocou sua obra sob a proteção do grande missionário São Francisco Xavier, de quem era devota e a quem desejaria imitar sendo missionária na China, assumindo ela mesma o nome do seu patrono. No mesmo ano ela abriu uma casa para moças e no ano seguinte abriu outra casa em Milão. 
     Em 1887 foi a Roma para conseguir a aprovação das Regras do Instituto e pedir permissão para abrir outra casa em Roma. Conseguiu a aprovação para abrir duas casas: uma escola para crianças pobres e um orfanato. Em 1888 conseguiu a aprovação da Constituição do Instituto.
     De 1901 a 1913, 4.7 milhões de italianos imigraram. Era um verdadeiro problema social. Como havia muitos emigrantes italianos em Nova York, o Arcebispo Corrigan enviou um convite formal a ela para ir para a América, e logo depois o Papa Leão XIII deu a sua permissão e bênção para que ela fosse para os Estados Unidos.
     Ela e seis outras freiras chegaram em Nova York em 1889. Elas trabalharam principalmente com os emigrantes italianos. Em março de 1889 ela já tinha o terreno que queria. Apesar de toda fragilidade e saúde precária, nos próximos 28 anos ela viajou pelos Estados Unidos fundando escolas, orfanatos e hospitais. Nada a fazia parar.
     No dia 11 de junho de 1894, numa audiência com o Papa, ela recebeu a aprovação para uma expedição que desejava fazer para o Brasil. Em 1896 ela montou um colégio em Lima (Peru). Na mesma ocasião esteve no Equador e na Argentina.
     Ela fundou 67 instituições incluindo escolas, hospitais e orfanatos na América, Chile, Venezuela, Brasil e Argentina. Para expandir sua obra, Santa Francisca fez vinte e quatro travessias oceânicas, fato extraordinário para a época. Ela se tornou a mãe dos imigrantes italianos em toda a América.
     Em 1900 ela retornou à Argentina e apesar de muito debilitada abre o Colégio Internacional de Rosário. Debilitada pela constante febre, se vê obrigada a retornar à Itália. Nomeia as irmãs responsáveis pela continuação de suas obras. Era o ano de 1902. E quando todos pensavam que era o fim, ela se recuperou da febre para continuar o seu trabalho. Visitou uma a uma de suas obras na Itália, França e Espanha. Quanta força tinha!
     Em New Orleans, verão de 1905, uma epidemia de febre amarela matou muita gente. E as irmãs de Madre Cabrini permaneceram firmes porque sabiam que o povo precisava delas.
     Madre Cabrini com 57 anos e com a saúde debilitada não se deu por vencida e voltou a viajar. Ao invés de ficar na Itália, resolveu vir ao Brasil. Aqui já havia uma casa que tinha sido aberta por um grupo de irmãs da Argentina.
     No ano de 1908 ela enfrentava uma epidemia e uma perseguição no Rio de Janeiro. Não se deixou abater e ainda teve forças para procurar um terreno na Tijuca para abrir um colégio.
     Depois de um ano no Rio de Janeiro, Madre Cabrini voltou para os Estados Unidos a fim de percorrer suas obras. Vai para a Itália e o Papa São Pio X, com um decreto de 16 de julho de 1910, confirma Madre Cabrini como Superiora Geral vitalícia.
     Em dezembro de 1911, com as poucas forças que lhe restam, resolve voltar aos Estados Unidos, onde ainda tem forças para reerguer o Hospital Columbus de Nova Iorque. Amplia e constrói escolas e orfanatos.
     Ela faleceu de malária em 22 de dezembro de 1917 em Chicago, Illinois, USA. Foi enterrada na Capela do Colégio Madre Cabrini em Nova York. Em 1931, seu corpo foi exumado e estava parcialmente incorrupto. Ele está agora preservado num caixão de vidro no altar do Santuário de Santa Francisca Cabrini, parte da Escola Madre Cabrini, em Manhattan. Na época, seu coração foi removido e está preservado na capela da matriz internacional da congregação em Roma.
    Quando Madre Cabrini faleceu, o Instituto contava com 4.000 freiras.
     Santa Francisca Cabrini é considerada a primeira santa dos Estados Unidos, já que ela obteve a cidadania americana em 1913. Mas os títulos mais importantes são o de Santa dos Italianos na América e o concedido pelo Papa Pio XII em 8 de setembro de 1950: o de patrona universal dos imigrantes. Além dos EUA, também há uma estátua de bronze em homenagem à santa na Argentina.
     No Brasil, a primeira igreja a ser fundada em honra da Santa localiza-se em São Carlos-SP. Em Nova Friburgo (RJ), um monumento a Santa Francisca Xavier Cabrini foi idealizado pelo presidente da Associação Ítalo-Brasileira de Arte e Cultura (Aibac), Giuseppe Arno, que erguido na Praça do Suspiro, onde já funciona a Praça das Colônias – um complexo dedicado às representações dos países colonizadores do município.

Transplante de olhos feito por Deus
     O caso é referido em quase todas as biografias da santa. Foi um dos milagres aprovados para a Beatificação de Madre Cabrini.
     Aconteceu no Hospital Columbus, de Nova York. A superiora e responsável pela direção geral do Hospital era a Madre Teresa Basigalupi. No processo, a Madre Teresa omite o nome da Irmã encarregada da Seção.
     O acidente aconteceu por volta do meio-dia de 14 de março de 1921. O Dr. Michel Joseph Horan e a enfermeira Srta. Maria Redmond assistiram ao parto, e foi esta quem lavou os olhos do bebê com uma solução de nitrato de prata a 50 por cento, em vez de 1 por cento, que seria o correto. O recém-nascido era Peter, filho primogênito do jovem casal Peter e Margaret Smith.
     Quando uma hora mais tarde outra enfermeira - Srta. Sifert - acudiu apavorada pelo estado dos olhos do bebê, a Irmã responsável pela Seção compreendeu a tragédia que ocasionara ao fornecer por erro um vidro diferente do devido. O Dr. Paulo Casson acudiu. Os olhos do bebê estavam inflamados e pretos, tão inchados que não se abriam. Não teve dúvidas: o menino iria morrer e se escapasse certamente ficaria absolutamente cego.
     Às 21 horas o Dr. Horan voltou ao leito do bebê trazendo o especialista em oftalmologia Dr. Keaney, que só com ajuda de um instrumento próprio (Lindhbers) conseguiu abrir as pálpebras inchadas e coladas. A conjuntiva estava gravemente queimada. A córnea de ambos os olhos aparecia ensanguentada, e dos lugares queimados surgia uma secreção amarelo-acinzentada. "Prognóstico: morte, e certamente em poucas horas" (qualquer espécie de inflamação pulmonar em crianças desse tamanho é mortal quase em cem por cento dos casos).
     As irmãs e as enfermeiras, nos horários em que não estavam obrigadas a ficar junto aos doentes, reuniram-se na Capela e rezaram durante toda a noite pedindo um milagre pela intercessão da Madre Fundadora. Sabiam que somente um milagre resolveria a situação do menino, do jovem casal e do próprio Hospital.
     Chegou a manhã do dia 15. Pelas 9 horas o Dr. Horan voltou com o especialista Dr. Keaney, para ver se havia alguma possibilidade de atenuação do dano causado. E o Dr. Keaney... não encontrou nada de errado no menino! Peter Smith "estava absolutamente bem. Não ficou traço algum de cicatriz apesar da queimadura profunda que houvera". Os Drs. Horan, Casson e Keaney "reconheceram espantados que havia se dado um milagre. O menino deixou o hospital absolutamente curado e em estado normal".
     Só havia um pormenor: os médicos constataram que os olhos do garoto estavam perfeitos, mas que não eram dele: eram verdes e não tinham os caracteres dos pais do garoto. Chamaram a Irmã e perguntaram o que havia acontecido, e ela falou da novena a Santa Francisca.
     Numa 2ª exumação, o corpo da Santa estava intacto faltando-lhe apenas os olhos, que não estavam na cavidade ocular. Verificaram que os olhos do referido menino eram os da santa. O rapaz na ocasião já era formado de Medicina, mas da data do seu nascimento até aquela exumação da Santa vinte e oito anos haviam se passado!
     Na manhã de 7 de julho de 1946, Peter Smith, que já havia sido ordenado sacerdote na Igreja da Escola Madre Cabrini de Nova Iorque, assistiu à solene canonização de Santa Francisca Xavier Cabrini por Pio XII. Estavam também presentes Paulo Pezzini e Ettore Pagetti, protagonistas das duas curas milagrosas aprovadas para a Canonização. As curas de Peter Smith e da religiosa Delfina Grazioli foram os milagres aprovados para a Beatificação. 

Fontes:
https://cruzterrasanta.com.br/santa-francisca-xavier-cabrini/418/101/

Postado neste blog em 21 de dezembro de 2011

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Beata Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus, Fundadora - 9 de novembro

     
     Maria del Carmen Gonzalez-Ramon Garcia-Prieto nasceu em Antequera, no território da diocese de Málaga, Espanha, em 30 de junho de 1834, filha de Salvador Gonzalez e Joana Ramos.
     Desde a infância, transcorrida na casa paterna, demonstrou um temperamento amável, espontâneo e sensível. Os primeiros estudos foram feitos com o auxílio de professores e preceptores particulares.
     Desde os anos da sua infância e juventude a Beata Carmem praticava uma intensa vida de piedade. A fonte inesgotável da qual aprendeu a viver era a Eucaristia. Aproximava-se diariamente para receber a Sagrada Comunhão, o que não era frequente na época. Nela radica a sua força. Por isso ela pode afirmar: "Os sofrimentos desta vida parecem nada, comparados com a honra de poder receber diariamente Jesus Sacramentado".
     Juntamente com a Eucaristia, os Mistérios de Belém e o Calvário iluminam o caminho espiritual desta Beata e marcam a sua entrega aos irmãos.
     Em 1857, contraiu matrimônio com Joaquim Munoz del Cano de Hoyos, mas os 24 anos de vida conjugal foram para ela um cálice amargo, que ela soube suportar com admirável fortaleza, alcançando com seu exemplo a conversão do esposo.
     A Paixão do Senhor, a sua Morte redentora, é também uma força muito viva na Madre Carmem do Menino Jesus para superar os longos e difíceis anos de seu matrimônio e também os sofrimentos que teve que suportar como fundadora. Quando ela afirma que "a vida do Calvário é a mais segura e proveitosa para a alma", experimentou como o amor a Jesus Cristo, que sofre e morre para nos salvar, dá sentido ao silêncio e à paciência nas acusações e calúnias, ao perdão generoso, à doação de si, à docilidade constante à vontade de Deus.
     Tendo enviuvado em 1881, começou a dedicar-se inteiramente aos atos de piedade e cheia de desejo de servir a Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa dos humildes e necessitados, transformou sua residência em um verdadeiro asilo de caridade. Em seu coração nasceu o desejo de consagrar a Deus os restantes dias de sua vida e guiada por seu diretor espiritual, o capuchinho Padre Barnabé da Astorga, empreendeu a fundação de um novo instituto religioso, a Congregação das Irmãs Terceiras Franciscanas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
     Ela compreendeu a missão que Deus lhe confiava: aproximar de Jesus as almas que Ele colocou no seu caminho, contar as maravilhas do Senhor "que tanto nos ama", ensinar a descobri-lo e a amá-lo. E, ao mesmo tempo, enxugar as lágrimas dos pobres e enfermos dando-lhes ajuda e conforto; ocupando-se da educação das crianças e jovens, do cuidado dos enfermos e idosos, das jovens operárias, dos menores necessitados de cuidados.
Madre Carmen ca. 1895-99
     A contemplação da pobreza e humildade do Divino Nascimento ensinou-a a fazer-se pequena, a não procurar grandezas materiais, a acolher com amor as crianças, principalmente as pobres, a fazer-lhes todo o bem que pode. "Vede nas crianças a presença do Menino Jesus", dizia às suas irmãs.
     Madre Carmem devia ser o instrumento para enxugar as lágrimas, diminuir o pranto, confortar no sofrimento. Pelo espírito franciscano Deus dispô-la a ser portadora de Paz e de Bem; pela devoção ao Coração de Jesus manso e humilde, estimulou-a a "manifestar a todos o amor que Deus nos tem" (cf. Constituições, 5); no Coração Imaculado de Maria ensinou-lhe "a atitude diante de Deus e da vida" (Ibid., 6).
     No dia 17 de setembro de 1881, junto com oito companheiras, a fundadora emitiu os votos temporários e em 20 de fevereiro de 1889 fez a profissão perpétua assumindo o nome de Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus. Naquela ocasião foi eleita a primeira superiora geral da Congregação, cargo que desempenhou sempre com grande prudência, diligência e amável magnanimidade.
     Sob seu governo o instituto cresceu rapidamente, graças também às numerosas vocações. Nasceram centros para os jovens, escolas e hospitais para o cuidado dos pobres e dos necessitados em geral.
     Em 1897 Madre Carmen deixou a direção da Congregação a cargo das mais novas e dois anos depois, no dia 9 de novembro de 1899, faleceu, já gozando de uma indiscutível fama de santidade.
     Há quase 130 anos esta cidade de Antequera recebe a bênção que Deus envia através da Madre Carmem e pode contar as obras que o Senhor faz por meio da Congregação em diversas regiões da Espanha e em vários países da América: República Dominicana, Nicarágua, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.
Madre Carmen com suas religiosas  c. 1896
      A Madre Carmem repetia: "Bendito seja Deus, que tanto nos ama", no sofrimento e na alegria. E a sua alma não queria ficar com esse tesouro só para ela. Por isso exclamava: "Quando olho para o céu, aumentam os meus desejos de ir pelo mundo afora ensinar as almas a conhecer e a amar Deus".
     Somente em 1948 os processos informativos foram entregues à cúria de Málaga, para depois ser introduzida a causa de beatificação, em 19 de dezembro de 1963, com decreto da Sagrada Congregação dos Ritos. Nos dois anos seguintes foram celebrados em Málaga os processos apostólicos e em 17 de abril de 1984 ela foi declarada Venerável.
     Finalmente, em 6 de maio de 2007, Madre Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus foi beatificada. 
Vista panoramica de Antequera
Fontes:
1. Homilia do Cardeal José Saraiva Martins no rito de beatificação de Madre Maria do Monte Carmelo (excertos) -Antequera (Espanha), 6 de maio de 2007
2. www.santiebeati.it/

Postado neste blog em 8 de novembro de 2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A Morte de São José

Estamos na oitava da Celebração dos Fieis Defuntos. Nesta quarta-feira, dia da semana que a Santa Igreja dedica ao nosso Pai Amantíssimo, São José, este blog se deparou com o texto que segue, sugerindo-nos uma reflexão sobre a morte tendo como exemplo sublime a morte do grande Patriarca.

A Morte de São José

     No dia 19 de março comemora-se a festa de São José. A propósito, é oportuno reproduzir o Conto inspirado no conjunto escultural representando São José em agonia (foto), que se venera na igreja de São José, no centro do Rio de Janeiro, ao lado da Assembleia Legislativa
     São José chegara ao fim de seus dias. Ninguém como ele, entre tantos varões veneráveis que o precederam na santidade, fora incumbido de missão tão alta. Ele era o guarda e protetor do Filho de Deus feito homem e de sua Mãe Santíssima.
     Deus Pai o escolhera pessoalmente para esse mister elevado entre todos. E São José cumprira sua missão com tanta perfeição, tanta dignidade, tanta humildade junto a seus inefáveis protegidos, tanta força e astúcia contra os inimigos de Jesus, insuflados por toda parte pelo demônio, que esteve inteiramente à altura dos desígnios divinos.
     Tanto quanto é possível a uma simples criatura, ele teve proporção com o sublime encargo de ser esposo da Santíssima Virgem e pai adotivo do Verbo de Deus encarnado.
     Quanto isto significa!
     Aproximava-se, porém, o tempo em que Jesus iria iniciar sua missão pública; a Virgem Maria não mais se encontrava na situação de uma jovem mãe que precisa de proteção diante de um mundo hostil e de línguas aleivosas.
     A missão de São José chegara magnificamente a seu termo, e ele agonizava placidamente.
     De um lado e de outro da cama, Nosso Senhor e Nossa Senhora, emocionados, o contemplavam com amor e gratidão, tristes porque ele partia, mas supremamente consolados por saber que o aguardava a melhor das recompensas celestes.
     Do lado de fora, como quer uma antiga tradição, a morte impaciente, mas temerosa, não ousava entrar para recolher sua presa, pois esperava um sinal do Altíssimo, postado ao lado do moribundo.
     São José tivera sempre tal veneração pela Virgem Santíssima, uma ideia tão elevada de seus méritos e virtudes, tal respeito por sua virgindade imaculada, que jamais ousara tocar sequer um fio de seu cabelo.
     Agora, posto ele em seu leito de morte, a Santíssima Virgem, como recompensa por tanta dedicação lhe segura a mão, num supremo ato de reconhecimento e amizade.
     Aquele toque quase divino comunicou a São José, ainda lúcido, tal alegria sobrenatural, que ele, varão castíssimo, sentiu sua alma invadida por uma graça de superior virginalidade, como se a inundasse um rio de águas puríssimas, cristalinas e benfazejas.
     Essa sensação inefável –– até então para ele desconhecida, porque acima do que a natureza humana pode alcançar –– o elevou a um patamar de indizível união com Deus, inacessível à nossa compreensão atual, mas que um dia no Céu ele poderá nos contar.
     Estava São José nesse verdadeiro êxtase, quando sentiu pousar sobre seu ombro direito a mão amiga do Filho de Deus. Incontinenti, viu-se submerso em Deus, e Deus nele.

     Era a visão beatífica, não concedida até então a nenhum mortal, pois o acesso ao Céu fora fechado pelo pecado de Adão, e lhe era comunicada por antecipação, ainda que fugazmente.
     São José notou em seguida que uma coorte de pessoas se aproximava dele. Reconheceu na primeira fila o patriarca Abraão e o profeta Moisés, seguidos de todos os justos que o haviam precedido com o sinal da fé.
     Só então ele se deu conta de que não estava mais nesta Terra, e que adentrara os umbrais do Limbo.
     Todos os habitantes daquele lugar o interrogavam atropeladamente: Quando se consumará a Redenção? Quando nos será aberto o Paraíso celeste que tanto esperamos, alguns há milhares de anos? Como é o Filho de Deus? E sua Mãe Santíssima, como é a sua presença?
     São José a todos respondia com atenção e bondade, mas já começando a sentir uma saudade imensa daqueles dois seres perfeitíssimos, com quem conviveu tão proximamente nesta Terra de exílio.

Autor: Gregório V Lopes

Excerto da Mística Cidade de Deus (*), 3º tomo, 5º livro, cap. 15: O Feliz Trânsito de São José assistido por Jesus e Maria:
Doutrina da Rainha do Céu Maria Santíssima
A hora da morte
     880. Minha caríssima filha, não é sem motivo que teu coração sentiu particular compaixão pelos que se acham em perigo de morte, desejando ajudá-los nessa hora. Realmente, conforme entendeste, naqueles momentos sofrem as almas incríveis e perigosos trabalhos por parte das ciladas do demônio, da própria natureza e dos objetos visíveis. Aquele instante é o termo do processo da vida que receberá a última sentença: de morte ou de vida eterna, de pena ou glória perpétua.
     O Altíssimo, que te inspirou aquele desejo, quer aceitá-lo para que o executes. De minha parte, te confirmo o mesmo e te admoesto a colaborares com todo esforço possível para nos obedecer. Adverte, pois, amiga: quando Lúcifer e seus ministros das trevas reconhecem, pelos acidentes e causas naturais, que a pessoa está com perigosa e mortal enfermidade, imediatamente preparam toda sua malícia e astúcia, para investir contra o pobre e ignorante enfermo, e tentar derrubá-lo com diversas tentações. Como a esses inimigos está a terminar o prazo de perseguir a alma, querem suprir a falta de tempo pela violência da ira e maldade.
Tal vida, tal morte
     883. Daqui compreenderás o grande perigo da morte, e quantas almas perecem naquela hora, quando começam a frutificar os méritos e os pecados.
     Não te declaro os muitos que se condenam, para não morreres de pena, se tens verdadeiro amor ao Senhor. A regra geral, porém, é que à virtuosa vida segue-se boa morte; o resto é duvidoso, raro e contingente. O remédio e segurança é prevenir-se muito antes. Por isto, advirto-te que, ao veres a luz no amanhecer de cada dia, penses ser aquele o último de tua vida. E, como se de fato fosse, pois não sabes se o será, ordenes tua alma de modo a receber alegremente a morte, se ela vier. Não demores um instante em te arrependeres dos pecados, com propósito de os confessar se os tiveres, e emendar até a mínima imperfeição.
     Não deixes em tua consciência falta alguma repreensível, sem te doeres e te lavares com o sangue de Cristo, meu Filho santíssimo. Põe-te no estado em que possas aparecer na presença do justo Juiz, que te examinará e julgará até o mínimo pensamento e movimento de tuas potências.



(*) A Mística Cidade de Deus é um livro escrito no século XVII pela freira franciscana Venerável Maria de Jesus de Ágreda. De acordo com Maria de Ágreda, o livro foi, em grande medida, ditado pela bem-aventurada Virgem Maria e centrado na vida da Virgem Maria e o plano divino para a criação e a salvação das almas.