terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Heroinas da Cristandade

Apresentação:
     Quando Constantino tornou-se senhor de todo o Ocidente, em 312, começou a professar publicamente a religião cristã. No ano seguinte publicou o famoso Edito de Milão, que concedia liberdade religiosa aos cristãos e lhes restituía todos os bens.
    Constantino deu aos pontífices, perseguidos até então, o Palácio de Latrão, e transformou em basílica outro palácio vizinho, a atual São João de Latrão. O imperador estendeu sua ação além das fronteiras do Império enviando missionários a vários povos bárbaros para exortá-los a adorarem o verdadeiro Deus e Jesus Cristo seu Filho.
     O Império Romano, que se estendera da Península Ibérica a Ásia, já estava todo ele "infiltrado" pelo Cristianismo. As perseguições cruéis levadas a cabo pelos imperadores romanos contra os cristãos não impediram que o seu número crescesse vigorosamente por todo o Império.
     No século III, Tertuliano, um sacerdote de Cartago, refutou eloqüentemente as calúnias que se propalavam contra os cristãos, dizendo aos pagãos:
     "Começamos ontem e já enchemos as vossas cidades, vossos campos e vossas fortalezas, o palácio e o senado; só deixamos os vossos templos. Numerosos como somos, bem poderíamos recorrer às armas, especialmente nós que não tememos a morte, se não fosse máxima nossa 'antes morrer que matar'. Que fazemos que mereça a morte? ... Atormentai-nos, pois, torturai-nos, esmagai-nos; mais ceifais, tanto mais nos multiplicamos. O sangue dos mártires é semente de cristãos".
     O crescente fervor religioso incitado pelas perseguições levara um grande número de cristãos a afastar-se cada vez mais da civilização e a embrenhar-se nos desertos e nas montanhas solitárias. Os desertos do Egito enxamearam-se com as celas ou cabanas destes anacoretas. A fama de santidade de Santos como Antão, Paulo eremita, Pacômio e outros, granjeou-lhes discípulos desejosos de alcançar a perfeição pelo caminho do ascetismo.
     Esses primeiros religiosos da Igreja usavam de quatro meios principais para seguir os conselhos evangélicos: a solidão, o trabalho manual, o jejum e a oração. Nasciam assim as primeiras comunidades monásticas, consistindo em cabanas em torno de outra, considerada superior, onde residia o abade. Com o passar do tempo, os grupos de cabanas foram se tornando mais complexas e ordenadas, e as construções foram se aperfeiçoando também.
     Aqueles primeiros eremitas e monges prestaram um incalculável serviço à Igreja Católica nascente, atraindo inúmeras bênçãos sobre o mundo, convertendo cristãos viciados e bárbaros pagãos, conservando os tesouros da ciência antiga e criando escolas de virtude e de saber.
     No século V, quando o Império Romano caiu em virtude das sucessivas invasões dos bárbaros do Norte, a Providência realizava uma purificação da velha cidade de Roma, conspurcada pelos crimes de seus imperadores, pelo culto de falsos deuses e pela fumaça de sacrifícios impuros.
     Os bárbaros, em contato com as comunidades cristãs existentes, se converteram ao Cristianismo. A Igreja os acolheu e os converteu à verdadeira religião, e impediu que eles apagassem a tocha da civilização. Os francos foram os primeiros a aceitar o Batismo e a praticar o Cristianismo. A França mereceu por este motivo o título de “filha primogênita da Igreja”.
     Inspiradas pelo Espírito Santo, novas formas de organização das comunidades monásticas foram surgindo. A necessidade de defesa perante ataques hostis obrigara os monges a se concentrarem em edificações de grandes dimensões, com fortes muralhas exteriores, capazes de fazer frente a um inimigo externo. Os espaços internos passaram a se organizar em torno de um ou mais pátios abertos, usualmente orlados por claustros.
     O grande propugnador da nova forma de monasticismo no Ocidente foi São Bento, cuja Ordem logo se espalhou por toda a Europa de então. O número de mosteiros beneditinos fundados de 520 a 700 é espantoso. Antes do Concílio de Constança, 1415, havia nada menos que 15.070 abadias somente desta ordem religiosa. Todas tiveram um papel de importante centro religioso, cultural e estético.
     Mas, o processo de evangelização dos diversos povos foi um fenômeno complexo e requereu muito tempo. Livre para estender a sua influência, a Igreja teve que enfrentar e vencer muitos obstáculos: heresias, escândalos, violência dos poderes humanos opor-se-iam à sua marcha, e fariam de sua ação evangelizadora e civilizadora uma luta contínua.
     Gloriosa Igreja Militante! Confortada pela assistência divina, a Igreja atravessaria os séculos, sempre perseguida e sempre triunfante, sem nunca cessar de afirmar os dogmas do seu imutável Credo, de combater o erro, de verberar os vícios, mesmo os ocultos sob mantos de púrpura, de fomentar e desenvolver a verdadeira civilização.
     Se por um lado os ataques das heresias foram constantes desde os primórdios do Cristianismo, Deus Nosso Senhor sempre atendeu às necessidades da Igreja suscitando escritores ilustres que, com zelo ardente, virtudes heróicas e profunda ciência, foram os baluartes indestrutíveis do Evangelho. Conhecidos como Padres da Igreja, ou Doutores da Igreja, eles combateram os heresiarcas Ario, Nestório, Eutiquio, Pelágio, Juliano o Apóstata, e tantos outros.
     De seus tesouros infinitos Deus também tirou auxiliares valorosos suscitando santos ilustres e heróicas ordens religiosas, almas vigorosas que penetrariam nas florestas umbrosas e sombrias que ocultavam tribos bárbaras comandadas por soberanos rudes e inflexíveis, que emulavam com seus deuses em crueldade. Muitos desses pequenos reinos - ou tribos - viviam imersos na superstição, mas diante da intrepidez dos missionários, e iluminados pela graça divina, abandonaram seus erros e abraçaram o Cristianismo.
     Irromperam aqueles heróis nas trevas, e levaram a luz até seus confins. Abriram clareiras, construíram igrejas, mosteiros, atraindo homens e mulheres de boa vontade que construíram casas à sombra benfazeja deles dando origem a cidades; esses desbravadores incansáveis secaram pântanos, plantaram, cultivaram, fizeram surgir jardins e pomares; copiaram minuciosa e pacientemente livros, levando o conhecimento e o saber às gentes; fundaram hospitais e, com abnegada caridade, curaram os enfermos; criaram hospedarias para os viajantes, os peregrinos e os pobres, ensinando a acolhida cristã e desinteressada.
     Santo Amado, Bispo de Estrasburgo, converteu os pagãos da Bélgica; São Patrício, os pagãos da Irlanda; São Bonifácio evangelizou de modo especial a Alemanha e a Baviera; Santo Anscário e Santo Alberto levaram a fé à Dinamarca e à Suécia; São Cirilo e São Metódio evangelizaram a Moravia e a Boêmia.
     A Europa Católica nascia!
     A elevação de Carlos Magno ao trono da França foi motivo de real alegria para a Igreja. Este imortal imperador foi o homem da Providência - grande pelo engenho, pela fé e pela santidade - que restaurou o império do Ocidente unindo os povos da nova Europa, e assentou as verdadeiras relações da Igreja e do Estado.
     É uma época fecunda em heróis e heroínas que passam pelas maiores aventuras, pelos maiores riscos a serviço de uma causa alta e em defesa de direitos efetivos e legítimos, e é isto que dá à vida o seu sentido.
     Depois deles, nos séculos futuros, outros e outros e outros vieram com a mesma coragem e determinação.
     Ao percorrermos hoje a Europa, nos encantamos diante de palácios, castelos, catedrais, monumentos, trajes, costumes etc. Quanto tudo isto deve ter custado àquelas almas! Quantas orações, quantas exortações, quanta penitência, quantas operosas ações civilizadoras foram necessárias para que aquelas maravilhas pudessem ser hoje contempladas! Almas de fogo e plenas do amor de Deus deram vida àquelas pedras. Quantas lágrimas e quanto sangue a implantação da Civilização Cristã terá custado!...
     Para refletirmos sobre algumas dessas almas desconhecidas, nos propusemos a trazê-las à luz para que nossos olhos as contemplem e nossas almas as admirem. O que são os belíssimos palácios de pedra em comparação às almas imortais, feitas à imagem e semelhança de Deus? E resgatadas pelo Preciosíssimo Sangue de Jesus Senhor Nosso, a rogos de Maria Santíssima?
     Por que demos preferência a Santas? Para que se constate o alto grau de virtude e de sabedoria que as mulheres alcançaram sob a tutela da Santa Igreja. Ao contrário do que dizem os ácidos críticos modernos da Igreja Católica, graças a Ela a mulher foi elevada a uma dignidade nunca antes atingida.
     Essas Santas contribuíram enormemente para a grandeza da Civilização Cristã e foram alçadas às glórias dos altares pela Igreja para estimular as mulheres de todos os tempos a tomá-las como exemplo. Muitas delas são lembradas ainda hoje nos seus países de origem. Seus nomes soam estranhamente aos nossos ouvidos. Mas, ao tomarmos contato com a breve descrição de suas vidas, vislumbramos tanta abnegação, tanta virtude no sofrimento, tanto desejo de levar a Verdade a todos, que esses nomes se tornam música celestial para nossas almas cansadas da mediocridade e dos desmandos do mundo contemporâneo.
     Muitíssimas ficarão para sempre no anonimato, pois grande parte dos documentos que as poderiam identificar se perdeu, as edificações em que viveram suas proezas tornaram-se ruínas, algumas relíquias foram destruídas pelo ódio dos inimigos da Igreja, e tantos outros contratempos. Contudo, elas estão certamente fruindo da bem-aventurança eterna, pois aos olhos de Deus nenhuma boa obra fica esquecida, nenhum de seus filhos, até os mais pequeninos, é olvidado.
     Elas viveram nos primeiros milênios da Cristandade, os efeitos de sua ação benfazeja se estenderam pelos séculos e ainda repercutem.
     Que essas almas de escol nos inspirem e nos façam crescer no amor de Deus e de sua Mãe, Maria Santíssima. Que por meio delas conheçamos mais e melhor todo o trabalho evangelizador e civilizador da Santa Igreja, escrínio das verdades eternas.

Nota
Fontes consultadas para os resumos biográficos
 - Pe. José Leite, S.J., “Santos de cada dia”, 3a. ed. Editorial A O - Braga; http://www.santiebeati.it/; http://www.enciclopediacatolica.com/; http://www.catolicismo.com.br/

Um comentário:

  1. Cara amiga, sou o Webmaster de dois Sites consagradas à Beata Alexandrina de Balasar:
    http://alexandrina.balasar.free.fr/
    http://alexandrinabalasar.free.fr/
    Este último foi Site Oficial da Beata durante 6 anos.
    Visitei o seu Blog, do qual gosto muito, ao ponto de copiar a "publicidade", para a colocar depois nos dois sites indicados.
    Gostaria me autorizasse a utilizar algumas das suas biografias de "Santas Heroínas", para os sites acima indicados.
    Claro que vou indicar a proveniência dos mesmos.
    Podera enviar um e-mail de confirmação aqui:
    alphonse.rocha@free.fr o que desde já agradeço.
    Afonso Rocha

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