Sametana (ou Samthann) de Clonbroney não é
tão conhecida hoje, embora a sua influência sobre o Cristianismo Celta tenha
sido profundo. Sua
legenda não a retrata como uma reformadora, mas simplesmente como mais uma
pessoa santa na história da “Ilha dos santos”. No
entanto, seu relacionamento espiritual com o jovem monge Maelruin levou-o a
realizar a mais poderosa reforma da história do Cristianismo Celta. Sua vida está
repleta de diferentes maravilhas: palavras de sabedoria, profecias, curas e
milagres.
Há
três manuscritos em que a Vida de
Santa Sametana é relatada, sendo a cópia mais completa um manuscrito do século
XIV, em Oxford, na Bodleian Library, Rawlinson B. 485 ff.150-3, como parte do
Codex Insulensis. Charles Plummer usou todos os três manuscritos nesta edição
latina, que foi traduzida para o inglês por Dorothy Africa. Há pequenas variações
entre os três manuscritos, não há omissões ou adições importantes, o que faz
deles cópias confiáveis dos originais.
Das quatro primeiras santas irlandesas que constam das Vidas latinas (Santas Brígida, Ita,
Monena e Sametana), cronologicamente Sametana é a última, tendo os Anais de
Ulster relatado sua morte em 19 de dezembro de 739. É também das primeiras
menções a seu mosteiro em Clonbroney (Ir. Clúan-bróaig).
Referências ao mosteiro continuaram a aparecer esporadicamente de meados
do século VIII até o século IX, e depois muito raramente. O mosteiro, que deve
ter sido fundado no século V, deixou de aparecer em relatos após a morte da
Abadessa Caillechdomhnaill, em 1163.
Samthann era uma donzela de Ulster, Irlanda, confiada por
sua família à guarda do rei irlandês Cridan. Embora
ela não quisesse se casar, o rei prometeu-a a um nobre. Na
noite antes do casamento, o nobre, que se hospedara no castelo do rei Cridan,
acordou com a visão de um faxo de luz que partia do telhado da residência real.
Após
ter subido para ver para onde a luz se dirigia, ele descobriu que ela descia em
direção ao quarto de Sametana e banhava o seu rosto com uma luz celestial enquanto
ela dormia. Este
incidente milagroso, seguido de outro após o casamento, convenceu o nobre e o
rei Cridan a atenderr ao desejo de Sametana de consagrar a sua virgindade a
Deus. O
rei lhe disse: "Nós te damos em casamento e te unimos a Deus, o cônjuge de
tua escolha".
Ao contrário das três santas
monjas do século VI, Sametana não foi a fundadora do mosteiro, mas herdeira
dele, após a então abadessa e fundadora Fuinnech ter uma visão profética da
grandeza de Sametana. Isto fez com que Sametana fosse convidada a se mudar da
Abadia de Urney (Ulster), onde ela foi monja e prioresa, para Clonbroney, que
ficava a leste da moderna cidade de Longford.
A Vida de São Patrício indica que Clonbroney foi fundado pelo Santo para
duas irmãs de nome Emer, cujo irmão, Guasacht, foi feito bispo de Granard
também por ele. Todos os três eram filhos de Milchú, a quem São Patrício em sua
juventude servira como escravo em Ulster. Embora a história não pareça
plausível, deve haver uma ligação entre Sametana e Granard, pois na sua Vida é relatado que ela viajou para lá.
Sametana também tem origens em Ulster e as genealogias ligam-na de perto a São Patrício
na Vida deste último.
Muitos milagres foram atribuídos a ela. Quando
um trabalhador contratado por ela para construir um oratório silenciosamente
desejou para si e para os seus colaboradores uma festa de 40 pães com manteiga,
queijo e leite, ele ficou aturdido ao ver esta refeição sonhada ser trazida a
eles. Rindo
de seu espanto, Sametana disse-lhe: "O desejo de seu coração está atendido,
não é?"
Quando um monge perguntou a ela em qual posição
a oração deve ser feita, se deitado, sentado ou em pé, ela respondeu: "Em qualquer
posição a pessoa deve orar!" Para alguém que falava de peregrinação, mas
na realidade estava apenas ansioso para viajar e revestia
isto com desculpas, ela disse: “Deus está perto de todos os que O invocam, e o
Reino dos Céus pode ser alcançado de qualquer lugar". Tudo quanto desta Santa se conta respira
misericórdia e bondade.
O Pe. José Leite, S.J., em seu livro Santos
de Cada Dia, conta dois fatos interessantes sobre esta Santa.
Um dia, na margem do ribeiro ao lado da abadia, [a Santa] encontra uma
ermitã com um saco e neste um bebê que ela acabava de dar à luz e se dispunha a
afogar, destruindo qualquer escândalo. “Deus
seja louvado, minha Irmã”, diz Sametana, tomando-lhe conta do saco, “ora eu precisamente procurava um rapazinho
para o educar!” E tão bem o educou que veio a ser um dos melhores abades
que teve a Abadia de São Cainnech. Quanto à Irmã, mais feita para ser
enclausurada do que ermitã, Sametana conservou-a algum tempo na abadia,
animou-a, restabeleceu-a de todo, e depois mandou-a a santificar-se num
convento onde homens só se viam através das grades da sala de visitas.
Tendo ido o barco da abadia a Escócia buscar lã, foi apanhado no
regresso por uma tempestade medonha. “Se
nós não deitamos toda a carga da Velha ao mar, todos pereceremos sem exceção!”,
exclamou o quartel-mestre. O mar logo amainou. Infelizmente, porém, a bonança,
que veio a seguir, imobilizou o navio e os alimentos começaram a escassear. “Será que a Velha nos vai agora levar a
morrermos de fome?”, exclamou de novo o quartel-mestre. Logo a seguir,
levantou-se um pé de vento que pôs de novo a embarcação a caminho.
Ao chegarem, os homens do navio foram beijar a mão da abadessa. “Está claro”, disse Sametana ao
quartel-mestre, pondo-lhe a mão no ombro, “não
é crime nenhum chamar-me ‘Velha’, mas dizer isto não bastava: era preciso rezar
e vós estáveis todos perdidos se eu não tivesse rezado substituindo-vos”.
Foi isto dito com tanta amabilidade que o marinheiro, enternecido até ao fundo
do coração, não deixou desde esse momento nem um dia sem rezar alguma coisa.
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