sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Joana de Lestonnac, Viúva e Fundadora - 2 de fevereiro

     Numa fria manhã de 1556, Ricardo de Lestonnac, nobre magistrado e conselheiro do rei, que preside seu lar em Bordéus (França), recebeu do céu uma bênção: a primogênita, Joana, que encherá a nobre morada com a luz de seus olhos azuis e de seu encanto especial. Joana Eyquen de Montaigne, a nobre castelã, recebeu em seus braços com alegria a pequenina, mas se opõe tenazmente que a filha receba o batismo católico. A vontade firme do pai triunfa e Joaninha começa sua vida no campo do combate familiar, o que colocará em grave perigo a pureza de sua fé.
     O veneno é inoculado por meio de carícias maternas: historietas maliciosas contra os sacerdotes e o Vigário de Cristo, ausência total da Virgem Santíssima. Desta forma a nova apóstata calvinista tentava trazer para si o terno coração da pequena, a quem o tio, o célebre filósofo Miguel de Montaigne, chamou sem titubear "bela princesa, albergada num magnífico palácio".
     Seus tios, os senhores de Beauregard, se unem à mãe herege neste trabalho. Mas Miguel de Montaigne velava pela guarda de sua fé. A menina triunfou na luta com a firme ajuda de seu pai e com a cooperação de seu irmão Guy, que repetia à noite o que aprendera no colégio que freqüentava, dirigido pelos padres jesuítas. Era a nova Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio, que chegara a Bordéus.
     A devoção a Nossa Senhora se enraízou em sua alma, e seu desejo de sacrificar o porvir brilhante que o mundo lhe oferecia pela vida religiosa, cedeu somente diante da insistência paterna que teme os claustros e mosteiros invadidos pela heresia calvinista.
     Tendo Joana dezessete anos, o pai, atendendo aos insistentes pedidos de Gastão de Montferrant, Barão de Landiras e de la Mothe, concedeu-lhe a mão da filha. A vida matrimonial foi muito sólida e Joana foi mãe oito vezes. Os três primeiros morreram muito pequeninos. Os outros cinco - dois varões e três mulheres - foram crescendo sob o olhar atento da mãe.
     A baronesa, como a mulher forte do Evangelho, ensinava aos filhos os deveres da caridade católica: visitas aos pobres, aos colonos, atendimento abnegado aos pobres que lhes batem à porta. Não sem razão o mundo inteiro a chamaria um dia de "honra e glória da França e da Igreja".
     Em 1597, após 24 anos de matrimônio, Gastão de Montferrant faleceu. Seguiram-se grandes dores e tristezas: a morte do esposo, do filho mais velho, do pai e do tio. Joana ficou só e continuou com fortaleza a educação dos quatro filhos que lhe restaram.
     Seis anos mais tarde, tendo seu filho Francisco se casado e suas filhas Marta e Madalena se consagrado a Jesus nas Anunciadas de Bordéus, resolveu deixar a filha mais nova, Joaninha, sob os cuidados de Francisco e da esposa, e ingressar no convento.
     Na manhã de sua partida, saiu muito cedo do palácio para evitar as despedidas, porém, seu coração de mãe ainda enfrentou mais um sacrifício: é surpreendida com a súbita chegada da filha mais nova, que se lança em seus braços desfeita em prantos e pedindo para ela não deixar Bordéus.
     Aos 46 anos de idade, ela ingressou no Mosteiro Cisterciense de Toulouse. Mudou seu nome para Joana de São Bernardo. Este ramo feminino dos Cistercienses reformados nascera na Abadia de Feuillant, na Gasconha, para reagir à decadência da Ordem.
     Seis meses após ter vestido o santo hábito, sua palidez preocupava a comunidade e suas rigorosas penitências esgotaram suas forças por completo. A Madre Superiora a convenceu a voltar para o seu castelo.
     Naquela noite, esforçando-se para aceitar a vontade de Deus e mais esta prova, teve uma visão celestial que a faz ver o abismo do inferno. Nele caem muitas jovens em espantoso torvelinho e estendiam os braços implorando seu auxílio. Sobre este quadro espantoso apareceu magnífica e grandiosa a imagem de Maria. Ela compreendeu a vontade de Deus. A futura Companhia de Maria, em benefício da juventude feminina, começou a delinear-se naquela última vigília no convento cisterciense.
     Após deixar o mosteiro, Joana se retirou em La Mothe. Em 1605, encontrava-se em Bordéus e trabalhava como voluntária com outras senhoras e moças durante uma epidemia de peste, e aí descobriu sua vocação: o trabalho na sociedade, entre as jovens mais necessitadas de ajuda e instrução. Foi visitando e cuidando das pessoas nas regiões mais pobres da cidade, e em contato com as jovens que eram atraídas pelo chamado de Deus e por sua personalidade, que ela desejou realizar o trabalho apostólico que a atraia. Ela percebeu que a espiritualidade inaciana expressava sua própria espiritualidade.
     Ela manteve contatos com dois Jesuítas, Pe. de Bordes e Pe. Raimundo, que compartilhavam suas preocupações. O Papa Paulo V aprovou a fundação da Companhia de Nossa Senhora em 7 de abril de 1607.
     Em 11 de março de 1608, diante da generosa resposta de cinco primeiras companheiras, a cidade de Bordéus, engalanada, participou da tomada de hábito das religiosas que iniciaram o combate da Companhia de Maria.
     O Cardeal François d’Escoubleau de Sourdis, inicialmente protetor da obra, desejou mais tarde ligá-la às Ursulinas, e lhes negou a profissão em maio de 1610. Porém, a 7 de dezembro, em seu castelo de Lormont, recebeu uma graça particular da Santíssima Virgem que advogava em favor de suas filhas, e, na festividade da Imaculada, no mosteiro de Joana assistiu à profissão da fundadora e de suas primeiras companheiras, que já eram nove.
     Como todas as obras de Deus, forte vendaval de perseguição sacodiu a ainda frágil árvore. Por isso mesmo ela se enraizou mais fortemente e em breve as sementes lançadas germinarão: antes que a alma da fundadora voasse para o Céu, são quarenta as novas preciosas e florescentes ramagens. Joana enfrentou desde os desprezos de Lucia de Teula, fundadora frustrada de Toulouse, que não lhe poupou insultos e perseguições, até a traição de uma de suas filhas, única infiel no grupo de suas primeiras religiosas, que cedendo a uma tentação ambiciosa fez chegar ao prelado falsas acusações.
     "A parte que Jesus nos dá de sua Cruz nos faz conhecer quanto Ele nos ama", repetiria mais tarde a Santa fundadora.
     Em 1622, retiraram-lhe o cargo e ela deixou Bordéus. Entretanto, as outras casas continuam a dedicar-lhe a estima, o afeto e a confiança devidos à Fundadora da Ordem. Ela é considerada a Madre Geral, mesmo que o status lhe é recusado pela Igreja, e que ela não possa se comunicar com as outras casas naquele terrível período.
     A Fundadora, relativamente idosa, parte para fundar uma casa em Pau. Ela aí permaneceu até 1634, se ocupando da organização da vida da nova fundação e ensinando as meninas mais pobres. Num silêncio santo e exemplar, deixava admirados todos quantos tinham a dita de tratar com ela.
     No fim de seu mandato, em 1626, a superiora ingrata reconheceu seus erros e pediu publicamente perdão a Santa Joana de Lestonnac.
     A pedido dos superiores e por insistência do Cardeal de Sourdis, ela retornou a Bordéus para consagrar seus últimos anos à redação definitiva das Constituições que foram impressas em 1638. Todas as casas e a Ordem viverão sob estas Constituições em qualquer parte do mundo onde elas estiverem.
     No dia 2 de fevereiro de 1640, a religiosa que possuía uma grande devoção a Eucaristia, a Santíssima Virgem - a quem consagrou sua companhia -, que tributava um culto muito especial a seu anjo da guarda, a mãe caridosa e boa que distribuía aos mais necessitados os remédios adquiridos para a comunidade, após uma enfermidade rápida, rodeada de suas filhas e pronunciando com doçura celestial os nomes de Jesus, Maria e José, entregou sua alma a Deus, em meio a veneração e ao amor de filhas que viviam nas quarenta casas do Instituto.
     A ignominiosa Revolução Francesa profanou seus veneráveis despojos, enterrando-os junto à ossada de um cavalo. Ao fim da Revolução, o zelo e o amor da Madre Duterrail conseguiu, ao restaurar as casas da França após trabalhos imensos, encontrar os restos venerandos da Fundadora.
     Transcorridos trezentos anos de espera, Joana de Lestonnac foi beatificada pelo Papa Leão XIII em 1900, e, no dia 15 de maio de 1949, canonizada por Pio XII.
     O lema da Santa, "ou trabalhar ou morrer pela maior glória de Deus", ainda hoje ressoa como o ideal a ser vivido por suas filhas nas cento e cinqüentas casas da Companhia de Nossa Senhora.
 
Fontes: www.santiebeati.it - Domenico Agasso; Ciclo Santoral, Maria Angeles Viguri, ODN

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