Um pouco depois, a Santíssima Virgem lhe
apareceu várias vezes, nas margens do Gave. Este privilégio não excita seu amor
próprio.
- Eu não sei, dizia ela, se a
Santíssima Virgem me escolheu por ser a mais ignorante!
E numa outra ocasião, acrescentava:
- Que mérito posso ter? A
Santíssima Virgem se serviu de mim como duma pedra… fez como os bois de
Betarram, que descobriram uma estátua.
Às três horas da tarde do dia 16 de abril de 1879, os olhos que
tinham visto Maria Santíssima se fecharam para sempre. Ainda na agonia ouviram
Bernadete dizer “Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por mim, pobre pecadora”. Alguns momentos depois, soltou o
último suspiro. Tinha pedido orações por si, ainda mesmo depois que falecesse.
Uma imensa multidão assistiu ao seu funeral no dia 19 de abril de 1879, que
foi necessário ser adiado por causa da grande afluência de gente totalmente
inesperada.
O documento mais significativo
acerca das aparições e da própria Bernadete, é uma carta datada de 1862, onde
Bernadete relata com clareza todo o ocorrido durante as dezoito visões. Somente
parte da carta está disponível ao acesso público:
Eu
tinha ido com duas outras meninas na margem do rio Gave quando eu ouvi um som
de sussurro. Olhei para as árvores e elas estavam paradas e o ruído não eram
delas. Então eu olhei e vi uma caverna e uma senhora vestindo um lindo vestido
branco com um cinto brilhante. No topo de cada pé havia uma rosa pálida da
mesma cor das contas do rosário que ela segurava. Eu queria fazer o sinal da
cruz, mas eu não conseguia e minha mão ficava para baixo. Aí a senhora fez o
sinal da cruz ela mesma e na segunda tentativa eu consegui fazer o sinal da
cruz embora minhas mãos tremessem. Então eu comecei a dizer o rosário enquanto
ela movia as contas com os dedos sem mover os lábios. Quando eu terminei a Ave
Maria, ela desapareceu.
Eu perguntei às minhas duas companheiras
se elas haviam notado algo e elas responderam que não haviam visto nada.
Naturalmente elas queriam saber o que eu estava fazendo e eu disse a elas que
tinha visto uma senhora com um lindo vestido branco, embora eu não soubesse
quem era. Disse a elas para não dizer nada sobre o assunto porque iriam dizer
que era coisa de criança.
Voltei no domingo ao mesmo lugar sentindo
que era chamada ali. Na terceira vez que fui a senhora reapareceu e
falou comigo e me pediu para retornar todos os próximos 15 dias. Eu disse que
viria e então ela disse para dizer aos padres para fazerem uma capela ali. Ela
me disse também para tomar a água da fonte. Eu fui ao rio que era a única água
que podia ver. Ela me fez realizar que não falava do rio Gave e sim de um
pequeno fio d’água perto da caverna. Eu coloquei minhas mãos em concha e tentei
pegar um pouco do liquido sem sucesso. Aí comecei a cavar com as mãos o chão
para encontrar mais água e na quarta tentativa encontrei água suficiente para
beber. A senhora desapareceu e fui para casa.
Voltei todos os dias durante 15 dias e
cada vez, exceto em uma Segunda e uma Sexta a Senhora apareceu e disse-me para
olhar para a fonte e lavar-me nela e ver se os padres poderiam fazer uma capela
ali. Disse ainda que eu deveria orar pela conversão dos pecadores. Perguntei a
ela, várias vezes, o que queria dizer com isto, mas ela somente sorria. Uma vez
finalmente, com os braços para frente, ela olhou para o céu e disse-me que era
a Imaculada Conceição. Durante 15 dias ela me disse três segredos que não era
para revelar a ninguém e até hoje não os revelei.
Bernadete foi submetida a
métodos de interrogatórios, constrangimentos e intimidações pelas autoridades
civis que seriam inadmissíveis nos dias de hoje. Não obstante, nunca vacilou em
afirmar com toda a convicção a autenticidade das aparições, o que fez até a sua
morte.
Para fugir à curiosidade geral,
Bernadete refugiou-se como "pensionista indigente" no hospítal das
Irmãs da Caridade de Nevers em Lourdes, em 1860. Ali recebe instrução e, em
1862, fez de próprio punho o primeiro relato escrito das aparições (acima).
No dia 18 de janeiro de 1862,
Mons. Bertrand Sévère Laurence, Bispo de Tarbes, reconheceu pública e
oficialmente a realidade do fato das aparições.
Em julho de 1866, Bernadete
iniciou o seu noviciado no Convento de Saint-Gildard e, em 30 de outubro de
1867, fez a profissão de religiosa da Congregação das Irmãs da Caridade de
Nevers. Dedicou-se à enfermagem até ficar imobilizada, em 1878, pela doença que
lhe causou a morte.
Desde 1858 até hoje, contínuas
multidões se têm reunido em Lourdes, às vezes presididas por Papas ou seus
Legados, e muito mais frequentemente por Bispos e Cardeais. Os milagres de
curas são estudados com todo o rigor e só reconhecidos quando de todo certos.
Mais numerosas são as curas de almas, embora mais dificeis de contar.
Reduzida à sua expressão mais
simples, poderiamos sintetizar desta forma a mensagem de Lourdes: A Virgem sem pecado, que vem socorrer os
pecadores. E para isso propõe três meios: a fonte de águas vivas, a oração, a penitência.
Fonte:
Lourdes e suas aparições – ‘Santos de cada dia’, Pe. José Leite, S.J. 3ª.
Edição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário