quarta-feira, 30 de abril de 2014

Santa Grata de Bergamo - 1° de maio

    
     Segundo uma primeira tradição, Grata teria vivido entre os séculos IV e VI. Sua irmã seria Asteria, virgem e mártir, festejada em 10 de agosto.
     Santa Grata, alguns dias depois da execução de Santo Alexandre, bispo, tendo encontrado seus despojos – em torno dos quais havia nascido lírios, pois algumas gotas de sangue caíram na terra – ela recolheu-os e fez com que fossem sepultados em um horto fora da cidade. A Santa posteriormente continuou o apostolado do Santo.
     Outra versão coloca sua existência entre os séculos VIII e o IX, e diz que ela era filha de um tal Lupo, duque longobardo de Bergamo, vencido e convertido à fé católica por Carlos Magno. Provavelmente as tradições se referem a duas santas distintas.
     De acordo com a primeira tradição, a santa teria edificado três igrejas na região de Bergamo em honra a Santo Alexandre: Santo Alexandre in Colonna, Santo Alexandre da Cruz e outra sobre seu túmulo (a basílica e antiga catedral de Santo Alexandre, depois demolida em 1561 durante a construção das muralhas venetas).
     Na outra tradição, a santa, ajudada por sua poderosa família e pela nobreza de Bergamo, teria edificado três igrejas sobre algumas das colinas da cidade: Santa Eufêmia, São João e Santo Estevão (depois igreja do Santo Salvador). Depois de ter convertido os próprios pais e o marido, permaneceu viúva e se dedicou ao serviço dos doentes e dos necessitados no hospital fundado por ela.
     Os Bolandistas do século XVIII aceitaram a distinção das duas santas e publicaram pela primeira vez (Antuérpia, 1748) a Vita Sanctae gratae, composta entre 1230 e 1240 pelo Beato Pinamonte Pellegrino de Brembate, um dominicano, a pedido de Graça d’Azargo, Abadessa do Mosteiro de Santa Grata. Esta vida é a mais conhecida das legendas sagradas do citado autor. Gian Filippo Foresti, no cap. III de sua Crônica, nos dá um resumo daquela obra, enquanto a Abadessa Graça a transcreve na íntegra em um códice de seu mosteiro, decorando-a com miniaturas, uma das quais representa o Beato Pinamonte no ato de oferecer-lhe o seu trabalho. A partir desse códice, Branca de Gandino (século XIV) fez outra transcrição que está entre os códices da Biblioteca Municipal de Bergamo.
     O autógrafo de Pinamonte foi usado na edição feita na editora de Luigi Fantoni, em Rovetta, em 1822, e desapareceu, aparentemente na dispersão da livraria de Fantoni.
     Também Maria Aurélia Tasso, religiosa do mosteiro de Santa Grata, escreveu uma vida da santa, publicada em Pádua em 1723, impressa por José Comino de João Baldano, com o título fantástico: A vida de Santa Grata - virgem - Rainha da Alemanha – depois princesa de Bergamo - e Protetora daquela cidade. No frontispicio traz uma inscrição com a figura da santa e abaixo a inscrição: "Efiigies Sanctae Gratae Bergomi civitatis Patronae".
     Por vários séculos o corpo de Santa Grata permaneceu sepultado fora dos muros da cidade, em Borgo Canale, na igreja de seu hospital, a qual leva o seu nome e sobre a qual surgiria outra igreja no século XVIII, com o nome de Santa Grata inter vites.
     Em 9 de agosto de 1027, por ordem do Bispo Ambrósio II, os despojos foram solenemente transferidos para dentro do perímetro da cidade, sendo colocados na Igreja de Maria Vecchia, depois chamada de Santa Grata alle Colonnette.
     É também conhecido o fato de que o Bispo Ambrósio, no Domingo de Ramos, após ter benzido os ramos de oliveira na catedral de Santo Alexandre, costumava dirigir-se à catedral de São Vicente e dali, como recordação da transladação de Santa Grata, ia à igreja da santa, onde distribuía ramos de oliveira bento a cada uma das monjas, terminando assim a cerimônia.
     A celebração de Santa Grata (que nos documentos litúrgicos ora vem descrita como virgem, ora como viúva) acontece em 1º de maio, dia em que a recorda o Martirológio Romano. A transladação é celebrada no dia 9 de agosto.Fonte: santiebeati/it

terça-feira, 29 de abril de 2014

Beata Hildegarda de Kempten, Rainha - 30 de abril


Antiga gravura representando a Abadia de Kempten, tendo o Rei Carlos Magno e a Beata Hildegarda a direita
 

     Um historiador do século IX a classifica como “nobilissimam piissimamque reginam” (nobilíssima piíssima rainha). Descendente de Gofredo, Duque da Alemanha, e de alta nobreza sueca, Hildegarda era filha de Pabo, Conde de Thurgan (outros dizem de Hildebrando, Conde da Suécia).
     Era ainda uma adolescente quando Carlos Magno, Rei dos Francos, a tomou como esposa, em 771, logo após ter rompido o seu terceiro casamento com a filha de Desiderio, rei dos Longobardos, que não tinha a aprovação do Papa Estevão IV (768-772).
     Foi exemplar na vida cristã, seja em família como na corte; teve nove filhos dos quais três morreram em tenra idade. Foi fiel companheira de Carlos Magno a quem acompanhava sempre nas viagens, chegando a ir a Roma.
     Fez uma doação generosa à Abadia de Saint-Arnoul de Metz, onde, segundo a sua vontade, foi sepultada à sua morte, ocorrida em 30 de abril de 783, em Metz, quando tinha cerca de trinta anos.
     O epitáfio sobre sua tumba, composto por Paulo Diácono (720-799), monge beneditino, profundo conhecedor da história de Metz, exalta a singular beleza de sua pessoa e sobretudo da sua alma.
     Em 872, parte das suas relíquias foi transferida para a Abadia de Kempten, em Iller, na Suécia, próximo ao lago de Constança e de Mônaco, cujos monges a consideravam como sua fundadora.
     Em 963, suas relíquias foram expostas e desde então foi venerada como beata. Uma nova ‘Vita’ da Beata Hildegarda foi compilada por disposição de João de Werdenau, Abade de Kempten, e dedicada ao filho da rainha, o imperador Ludovico o Pio († 840). Ela exalta a virtude da soberana, narra a construção de vários mosteiros, fala de sua predileção pela Abadia de Kempten, onde tinha mandado colocar as relíquias dos mártires Jordano e Epímaco, e conta numerosas curas verificadas sobre sua tumba.
 

sábado, 26 de abril de 2014

Santa Zita, Virgem, Empregada doméstica - 27 de abril

    


     Zita nasceu no ano de 1218 em Montsagrati, aldeia próxima de Lucca, na Toscana, Itália. Sua família era pobre, mas muito católica. Sua irmã mais velha tornou-se freira cisterciense e seu tio Graziano era um eremita que a população local tinha como santo.
     Filha de camponeses tementes a Deus, sua mãe, apesar de ser uma mulher muito sofrida e totalmente analfabeta, fazia questão que Zita estudasse e para isso a incentivava dizendo que Deus teria muito orgulho dela se pusesse afinco em seu estudo.
     Aos 12 anos Zita tornou-se criada na residência de um rico negociante de lã de Lucca, a oito quilômetros de sua casa. Ela permaneceria com essa família pelos restantes 48 anos de sua vida. O conselho que sua mãe lhe deu ao despedir-se dela foi este: “Em tuas ações e palavras deves pensar: Isto agradará a Deus?” Foi um conselho que ajudou muito a jovem a comportar-se bem.
     O chefe da família, Pagano di Fatinelli, tinha um temperamento violento e mandava com gritos e palavras muito humilhantes. Todos os empregados protestavam por este trato tão rude, menos Zita que tudo aceitava de boa vontade para assemelhar-se a Nosso Senhor que foi humilhado e ultrajado.
     A residência dos Fatinelli ficava próxima da Igreja de São Frediano, na qual ela assistia a Santa Missa todos os dias. Zita rezava muitas orações e ao mesmo tempo cuidava de seus deveres de criada tão perfeitamente, que as outras empregadas a invejavam por sua abnegação no trabalho e por sua bondade. De fato, seu trabalho era parte de sua religião. Ela costumava dizer: “Uma criada não é santa se não estiver ocupada; na nossa posição pessoa preguiçosa é santidade falsa”.
     Para Zita seu emprego era um presente divino pelo qual ela agradecia a Deus todos os dias. As outras empregadas a humilhavam continuamente, porém Zita jamais respondia às suas ofensas nem guardava rancor ou ressentimento. Os empregados não gostavam dela porque ela demonstrava aversão às palavras grosseiras e às conversas imorais. Chamavam-na de “beata”, porém, com o correr dos anos, todos se deram conta de que ela era uma verdadeira santa.
     Um homem quis desrespeitá-la em sua castidade e ela o arranhou no rosto, o que o fez afastar-se. Entretanto, ele foi ter com o dono da casa e a caluniou. O patrão insultou-a. Zita não disse uma só palavra para defender-se, deixou que Deus se encarregasse de fazê-lo. Depois se soube toda a verdade e o patrão arrependeu-se dos maus tratos que lhe havia imposto. O seu apreço por aquela humilde criada cresceu enormemente.
     No princípio seus patrões ficavam muito irritados com suas generosas doações de alimento para os pobres, mas com o tempo eles foram vencidos por sua paciência e afabilidade, e se tornou uma amiga muito íntima deles. Eles a encarregaram de todos os assuntos domésticos. Na sua posição de comando, ela a todos os empregados tratava com bondade. Ela só era severa quando havia necessidade de combater algum vício entre os criados.
     Zita tinha total liberdade de fazer o seu horário de trabalho, o que lhe permitia ocupar-se com visitas aos doentes e aos encarcerados. Ela gastava o dinheiro que recebia por seu trabalho ajudando os pobres. Dormia no chão, numa esteira, porque havia dado sua cama e colchão a uma família muito necessitada.
     Um dia, em pleno inverno, com vários graus abaixo de zero, a senhora da casa lhe emprestou seu manto de lã para que ela fosse à igreja ouvir Missa. Eis que na porta da igreja Zita encontra um pobre tiritando de frio. Ela deixou o manto com ele, advertindo-o que devia devolvê-lo depois da Missa, para que ela pudesse por sua vez devolvê-lo à sua patroa. Ao sair da igreja não o encontrou: o pobre havia desaparecido... O Sr. Fatinelli ficou furioso e a estava repreendendo quando um ancião bateu na porta e devolveu o manto. As pessoas da cidade interpretaram que aquele ancião era um Anjo, e desde então a porta de São Frediano é chamada “O Portal do Anjo”.
     Numa época de grande escassez e fome, Zita repartiu entre os mais pobres os grãos que havia na dispensa. Quando o furibundo capataz da casa chegou para contar a quantidade de grãos que ainda havia na dispensa, a Santa se pôs a rezar pedindo a Deus que a ajudasse. O homem encontrou ali todos os grãos, não faltava nada.
     Rapidamente espalhou-se em Lucca a notícia de suas boas ações e das visões celestes com as quais Deus Nosso Senhor a obsequiava. A ela também foram atribuídos vários milagres. Ela era muito procurada por pessoas importantes.
     Por ocasião de sua morte, em 27 de abril de 1278, o povo aclamou-a Santa. A família Fatinelli, a quem servira toda a vida, de joelhos a venera. Durante 48 anos trabalhou como criada, demonstrando que qualquer ofício pode levar a uma grande santidade.
     Tão venerada era Santa Zita após sua morte, que tanto o poeta Fazio degli Uberti (Dittamonde, III, 6), quanto Dante (Inferno, XI, 38) designam a cidade de Lucca simplesmente como “Santa Zita”.
     O ofício em sua honra foi aprovado por Leão X. Em 1580 seu túmulo foi descoberto na Igreja de São Frediano e quando seu corpo foi exumado, 300 anos depois de sua morte, se conservava incorrupto (1652). Foi sugerido então que o seu culto fosse aprovado solenemente. O Papa Inocêncio XII a declarou Santa em 5 de setembro de 1696. Em 1748 seu nome entrou para o Calendário Romano.
     A mais remota biografia da Santa é preservada num manuscrito anônimo pertencente à família Fatinelli, e foi publicada em Ferrara no ano de 1688 pelo Mons. Fatinelli (“Vita beata Zita virginis Lucensis ex vetustissimo códice manuscripto fideliter transumpta”). Para a publicação de uma “Vita e miracoli di S. Zita vergine lucchese” (Lucca, 1752), Bartolomeo Fiorito usou aquele manuscrito e outras informações tiradas do processo levado a efeito para provar o culto imemorial da Santa.
     Ainda hoje seu corpo incorrupto pode ser venerado na Capela de Santa Zita da Igreja de São Frediano (*), em Lucca. São milhares de peregrinos que vão visitar o seu sepulcro, e Santa Zita continua dando-nos uma lição: num trabalho humilde se pode ganhar uma grande glória para o Céu.
     Ela foi proclamada padroeira das empregadas domésticas do mundo inteiro pelo Papa Pio XII. Santa Zita é apresentada com uma sacola e chaves, ou com filões de pão e um rosário. 
 
(*) São Frediano, viveu no século VI, era príncipe da Irlanda. Foi em peregrinação a Roma e fixou-se numa ermida no Monte Pisano, perto de Lucca. O papa elegeu-o Bispo de Lucca, mas a diocese foi atacada pelos Lombardos. Acredita-se que São Frediano tenha fundado um grupo de eremitas o qual se uniu ao de São João Latrão em 1507. 
 
Etimologia: Zita = do toscano antigo, “menina, moça” (hoje citta).

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano - 26 de abril

 

     Nossa Senhora do Bom Conselho, uma das invocações de Maria Santíssima, ainda hoje desperta admiração dos fiéis que conhecem sua história e dos que vão admirá-la em Genazzano, na Itália. Comemorada no dia 26 de abril, a lista de milagres obtidos por sua intercessão cresce continuamente também nos dias atuais.
 
Sua História
1.      Na Albânia
     A veneração a Nossa Senhora do Bom Conselho começou na Idade Média, mas ainda não se descobriu a origem dessa invocação da Virgem Maria.
     Na cidade de Scurati, na Albânia, havia muitas capelas sob esta invocação e em uma delas havia um quadro que, segundo os povos nativos, era responsável por muitos milagres. 
     Esta capela se tornou centro de peregrinação no período da guerra contra os otomanos, que haviam invadido o país. Dois albaneses católicos, Gjorgji e De Sclavis, foram rezar para a Virgem pedindo a graça de sair da cidade com vida. Ao terminarem a oração, a imagem se desprendeu do altar, flutuou no ar, saiu da igreja e mostrou um caminho seguro para os dois homens. Os dois amigos seguiram a imagem até chegar a Roma, onde o quadro desapareceu no ar.
2.      Na Itália
     Na cidade de Genazzano, na Itália, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, construída no século V, ameaçava ruir. Uma viúva do local, Petruccia de Geneo, sentiu-se movida a reparar o templo com seus próprios, mas reduzidos, recursos. Sem encontrar ajuda, ela gastou o que possuía sem conseguir terminar as obras.
     No dia 25 de abril de 1467, festa de São Marcos Evangelista, patrono da cidade, por volta das 16 h, no momento em que muitas pessoas estavam na igreja e nas proximidades, uma nuvem, desceu do céu e cobriu uma das paredes inacabadas da igreja. Todos ficaram estupefatos e quando a nuvem se dissipou puderam ver um quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho. Os sinos começaram a tocar sozinhos e muitas pessoas se converteram depois de terem presenciado o milagre. A própria Petruccia, que estava longe, veio depressa, e ao ver a imagem caiu em prantos.
     Logo a notícia do milagre se espalhou e muitas pessoas foram a Genazzano para admirar o quadro milagroso. Os dois albaneses, que haviam perdido o quadro de vista, ficaram sabendo da história da chegada do quadro àquela cidade e foram vê-lo e revelaram que se tratava do quadro que permanecera numa capela da Albânia por muitos anos. A partir de então os dois passaram a viver em Genazzano para estar sempre junto a Nossa Senhora do Bom Conselho. 
     Um notário registrou os principais milagres; este relatório existe até hoje e nele constam 171 milagres apenas naquela época. Os católicos se uniram e foi possível a construção da bela igreja que abriga o milagroso quadro atualmente.
     Além de suas propriedades miraculosas, a imagem por si mesma é extraordinária, pois ela desde o século XV permanece como que suspensa no ar, sem moldura ou fixação, afastada da parede cerca de três centímetros, apenas parcialmente tocando uma base em sua borda inferior. Relatos diversos afirmam ainda que a fisionomia da Virgem muda de acordo com certas circunstâncias.
     Alguns santos e fieis conhecidos pela sua devoção à Mãe do Bom Conselho: Santa Rita de Cássia (monja agostiniana), o Beato Estevão Bellesini (pároco do Santuário de Genazzano), o Papa Leão XIII, Petruccia (terceira da Ordem de Santo Agostinho e benfeitora do Santuário de Genazzano). Pio XII colocou seu papado sob a proteção da Virgem do Bom Conselho.
     3.      Atualidade
     O povo da Albânia não se esqueceu da imagem desaparecida, e ainda a festeja duas vezes no ano, rezando para que ela volte para sua antiga casa. 
     O Papa João Paulo II visitou a Albânia e levou um novo afresco para a capela onde antes ficava o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, marcando assim a reconciliação da Santa Igreja com o país. Desde esse dia é o Vaticano que arca com as despesas de reforma e manutenção do santuário.
     4.      Mãe do Bom Conselho no Brasil
     Uma réplica do quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano é venerada há várias décadas na Igreja de São Luís, na capital paulista. Ela chegou ao Brasil milagrosamente e permaneceu sob os cuidados dos padres jesuítas, que a levaram para a capela do famoso Colégio São Luís. Em 1872, o quadro da Mãe do Bom Conselho foi entronizado no altar-mor da nova igreja, anexa ao colégio.
Oração
     Gloriosíssima Virgem Maria, escolhida pelo eterno Conselho para Mãe do Verbo Humanado, tesoureira das divinas graças e advogada dos pecadores, eu, o mais indigno dos vossos servos, a vós recorro para que me sejais guia e conselheira neste vale de lágrimas.
     Alcançai-me, pelo Preciosíssimo Sangue do vosso divino Filho, o perdão dos meus pecados, a salvação da minha alma e os meios necessários para obtê-la.
     Alcançai também para a Santa Igreja o triunfo sobre os seus inimigos e a propagação do reino de Jesus Cristo em todo o mundo.
     Amém.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Beata Teresa Maria da Cruz, Fundadora - 23 de abril

    
    Teresa Adelaide Cesina Manetti nasceu numa família humilde em San Martino, em Campo Bisenzio (Florença, Itália), em 2 de março de 1846. A Fundadora das Carmelitas Terceiras de Santa Teresa era conhecida pelo apelido carinhoso de Bettina, dado por seu pai.
     Ficou órfã de pai muito cedo e logo conheceu a dureza da vida. Apesar disso, ajudava aos pobres, privando-se até do que lhe era mais necessário. Era uma jovem alegre, vivaz, com caráter generoso, gostava de ser admirada e de chamar atenção, com seus belos olhos azuis e cabelos castanhos encaracolados. Gostava de inventar moda e suas companheiras a acompanhavam.
     Aos 19 anos compreendeu que Jesus a queria para si. Desapegada de suas vaidades, das ilusões do mundo, decide mudar de vida. Foi muito criticada pelas pessoas, mas isso não a perturbava, o que ela queria era ser toda de Jesus. Passou a dedicar-se aos mais necessitados.
     Em 15 de julho de 1874, juntamente com duas amigas, que agora a seguiam para fazer o bem, retirou-se numa casinha no campo situada à beira de um rio de Bisenzio, onde começou uma vida de oração, penitência e caridade. Ali “oravam, trabalhavam e reuniam algumas jovens para educá-las com boas leituras e ensinar-lhes a doutrina cristã”.
     Naqueles anos, foram de muita importância as sugestões e os conselhos do jovem pároco, Pe. Ernesto Jacopozzi, que acompanhou as atividades de Bettina até 1894.
     Em 16 de julho de 1876, foram admitidas na Ordem Terceira do Carmelo Teresiano, e mudou seu nome para Teresa Maria da Cruz.
     Em 1877, uma mãe doente disse a Bettina que morreria feliz se ela cuidasse de suas crianças e ela viu nesse pedido um sinal de Deus. E a partir desse momento as mãos postas em oração se abriram para o serviço. Após receberem as primeiras órfãs, o número delas foi crescendo dia a dia. Aquelas meninas abandonadas eram seu “maior tesouro”.
     Em 12 de julho de 1888, as 27 primeiras religiosas vestiram o hábito da Ordem das Carmelitas Descalças, às quais se haviam juntado em 12 de junho de 1885.
     O sucesso da Congregação levou a Madre, com a ajuda de Deus e do povo de San Martino, a realizar seu sonho: construir um grande convento e uma igreja (1880-1887). As atividades do Instituto se ampliaram e novas sedes foram abertas na Toscana, e depois em toda a Itália e em outras partes do mundo.
     Em 27 de fevereiro de 1904, o Papa São Pio X aprovou o Instituto com o nome de Carmelitas Terceiras de Santa Teresa.
     Madre Teresa Maria da Cruz com grande alegria viu o Instituto estender-se até a Síria e o Monte Carmelo, na Palestina.
     O nome “da Cruz” assentava muito bem à Madre; frequentemente ela dizia: “Tritura-me, Senhor, espreme-me até a última gota!” Sua caridade não tinha limites. Entregava-se a todos e em tudo, esquecendo-se sempre de si mesma. O bispo Andrés Casullo, que a conhecia muito bem, afirmava a seu respeito: “Ela deixava de viver a própria vida para fazer o bem”.
     Em 1908, Madre Teresa Maria da Cruz foi atacada por uma terrível doença que, apesar dos cuidados, levou-a a morte terrena no dia 23 de abril de 1910. Ela havia completado a subida de seu Calvário, depois de passar por noites escuríssimas: estava preparada pela graça de Deus. Faleceu enquanto repetia uma vez mais: “Ó meu Jesus, eu quero sofrer mais...” E murmurava em êxtase: “Está aberto!... Já vou!”
A fama de sua santidade foi confirmada por numerosos testemunhos de graças e milagres, o que levou a se iniciar, em 1930, o processo de sua beatificação. Seus escritos, ao mesmo tempo simples e profundos, foram aprovados em 27 de novembro de 1937.
O Papa João Paulo II a beatificou em 19 de outubro de 1986. Em 7 de dezembro de 1999 o Concelho Comunal de Campi Bisenzio a proclamou Patrona da Cidade, acolhendo o pedido de uma petição popular que recolhera milhares de assinaturas entre os concidadãos de “Bettina”.
 

sábado, 19 de abril de 2014

Santa Inês de Montepulciano, Virgem - 20 de abril

    
     Inês nasceu em 28 de janeiro de 1268, na aldeia de Graciano, próxima da cidade de Montepulciano. Era filha de pais riquíssimos, da família dos Segni.
     Algumas das mais conhecidas legendas aconteceram em sua infância, a começar pelo seu nascimento, quando sua casa foi cercada por muitas luzes. Mal aprendeu a falar e já ficava pelos cantos recitando orações, procurando lugares silenciosos para conversar com Deus. Não tinha ainda seis anos quando manifestou aos pais a vontade de tornar-se religiosa, pois durante uma visita com sua família a Montepulciano conheceu as “freiras franciscanas do saco”, assim chamadas por causa do rústico hábito, e desejou ingressar naquele convento.
     Como seus pais dissessem que ela era muito jovem, ela implorou que eles mudassem para Montepulciano de modo que ela pudesse fazer visitas mais frequentes aquele convento. Por causa da instabilidade política, seu pai estava com receio de mudar de um lugar seguro, mas permitiu que ela visitasse com mais frequência as “freiras do saco”.
     Em uma dessas visitas um evento levou todos os autores dizerem que teria sido profético. Inês estava em Montepulciano com sua mãe e com uma mulher da casa, quando elas passaram por uma colina onde havia um bordel e um bando de corvos, voando baixo, atacaram a menina. Eles conseguiram arranhá-la antes que as mulheres pudessem afastá-los. Surpresas com o ataque, mas seguras de si, elas disseram que o ataque devia ser coisa do demônio que se ressentia da pureza da pequena Inês a qual um dia os afastaria daquela colina.
     Aos nove anos pediu para ser admitida no mosteiro onde foi imediatamente aceita. Sua formação religiosa foi entregue a experiente Irmã Margarete e Inês logo surpreendeu a todos pelo seu excepcional progresso. Por 5 anos ela teve uma paz completa que ela jamais voltaria a ter. Aos 14 anos foi indicada como auxiliar da tesoureira e nunca mais ficou sem sentir alguma responsabilidade pelos outros.
     Inês alcançou um alto grau de contemplação e foi abençoada com várias visões. Uma das mais belas foi a da visita da Virgem. Nossa Senhora veio com o Divino Infante em seus braços e permitiu que Inês O segurasse. Quando a Virgem foi de novo segurá-Lo ela não O soltou, e assim ela acordou de seu êxtase: a Virgem e o Menino Jesus haviam partido, mas Inês estava agarrada a um lindo crucifixo de ouro. Ela passou a usá-lo com uma corrente em seu pescoço e o guardou toda sua vida como um tesouro precioso.
     Em outra ocasião Nossa Senhora deu a ela três pequenas pedras e disse que algum dia ela deveria construir um convento com elas. A Virgem disse a ela para guardar as três pedras em honra à Santíssima Trindade.
     Algum tempo depois foi aberto em Procena, próximo de Orvieto, um novo convento Franciscano e as irmãs pediram às freiras de Montepulciano que enviassem uma superiora. Irmã Margarete foi selecionada, mas estipulou que Inês deveria ir com ela para ajudar na fundação da nova comunidade. Ali Inês serviu como “dona de casa” uma grande responsabilidade para uma jovem de 14 anos. Logo muitas outras jovens entraram para o Convento de Procena atraídas pelo exemplo de Inês.
     Ainda não completara dezesseis anos de idade quando suas companheiras de convento a elegeram superiora e o papa Nicolau IV referendou essa decisão incomum. Diz a tradição que o Papa teve uma visão para permitir que ela ocupasse o cargo.
     No dia que ela foi consagrada Abadessa, uma chuva de cruzes bancas flutuava dentro da capela e em volta das pessoas. Parecia ser uma comemoração celestial a uma situação bastante extraordinária: uma menina sendo consagrada Abadessa!
     Contudo sua atuação no Cristianismo fica bem demonstrada com uma vitória histórica que muito contribuiu para sua canonização. Inês dizia às religiosas que um dia transformaria aquele bordel da colina em convento. Partindo dela, prometer, lutar e conseguir não era surpresa alguma para ninguém. A surpresa foi ter conseguido ir além do prometido, tanto influenciou as mulheres, que as pecadoras se converteram e a casa se transformou num convento exemplar na ordem e na virtude.
     Por 20 anos Inês viveu em Procena. Era uma Superiora cuidadosa e às vezes fazia milagres para aumentar o suprimento de pão quando este era pouco no convento. Ela orava e a despensa milagrosamente ficava repleta de pães.
     A disciplina desta abadessa era legendária. Ela viveu de pão e água por 15 anos. Dormia no chão, com uma pedra como travesseiro. É dito que em suas visões os anjos lhe traziam a Sagrada Comunhão; quando ela se ajoelhava para orar, os lírios ou rosas por perto desabrochavam imediatamente.
     Quando suas visões ficaram conhecidas, os cidadãos de Montepulciano a chamaram de volta para uma pequena estadia. Ela foi sem muita vontade, porque não gostava de deixar sua clausura. Mas logo que chegou ficou sabendo que eles a haviam chamado para construir um novo convento. Em uma visão foi-lhe dito para deixar os Franciscanos e que ela seria no futuro uma Dominicana.
     Em 1306 Inês retornou a Montepulciano e iniciou a construção do convento no local do antigo bordel. Tudo o que ela tinha eram as três pedras dadas pela Virgem Maria e como tinha sido tesoureira, ela conhecia um pouco o que fazer. Após uma discussão com os moradores da colina, onde ela queria a fundação, a terra foi finalmente obtida e o Prior servita colocou a primeira pedra. Inês terminou a construção do convento e da igreja, a que deu o nome de Santa Maria Novella, bem antes do tempo normal e com várias aspirantes para o novo convento.
     Inês estava convencida que a nova comunidade precisava ser ancorada em uma Constituição ou Regras bem estabelecidas para obter de Roma a licença permanente. Ela explicou que as Regras deveriam ser as Dominicanas. O novo convento foi aprovado e ela foi indicada como Abadessa e os Dominicanos concordaram em providenciar os capelães e as diretrizes para a nova comunidade.
     Com a idade de 49 anos a saúde da Santa começou a decair rapidamente. Santa Inês veio a falecer logo depois, em 20 de abril de 1317, e disse às irmãs que estavam com ela: Vocês descobrirão que eu não as abandonarei. Eu estarei com vocês para sempre.
     Os frades e as irmãs dominicanas queriam embalsamar o corpo de Inês e para tanto iam enviar pessoas a Genova para comprar bálsamo. Mas, isso não foi necessário: das mãos e dos pés da Santa pingava um líquido de cheiro doce que embebia o papel com que cobriram o seu corpo. O eco do milagre fez com que muitos doentes acorressem desejando ser ungidos pelo óleo milagroso.
     São Raimundo de Cápua, o biografo de Santa Inês, relatou que 50 anos após a morte dela seu corpo ainda estava intacto como se ela tivesse acabado de morrer, e muitos foram os milagres de cura que tiveram lugar na igreja, atualmente conhecida como Igreja de Santa Inês. Esses milagres foram registrados por um notário público, já poucos meses após a morte da Santa.
     Ela foi enterrada em Montepulciano e seu túmulo logo se tornou local de peregrinação. Uma das mais famosas peregrinas a visitar seu Santuário foi Santa Catarina de Sena que foi venerá-la e também visitar uma sobrinha de nome Eugênia que era freira no convento. Quando ela se inclinou para beijar os pés de Inês ficou maravilhada ao ver que ela levantava seu pé suavemente de encontro aos seus lábios.
     Em 1435 seu corpo incorrupto foi levado para um lindo Santuário em uma igreja Dominicana em Orvieto, onde está até hoje. O Papa São Clemente VIII aprovou um Oficio para uso na Ordem de São Domingos e inseriu seu nome no Martirológio Romano. Ela foi canonizada pelo Papa Bendito XIII em 1726. É padroeira de Montepulciano.
 
Fontes: http://alexandrinabalasar.free.fr

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Beata Maria da Encarnação Acarie, Carmelita - 18 de abril

    

      Bárbara Avrillot nasceu em Paris, no dia 1º de fevereiro de 1566, filha de Nicolau Avrillot, Senhor de Champstreaux, riquíssimo, influente na corte francesa e na vida religiosa por ser um homem muito devoto, assim como sua descendência.
     Como era costume na época, apenas adolescente Bárbara foi enviada às Irmãs Menores da Humildade de Nossa Senhora, que habitavam em Longchamp. Regressou à família aos catorze anos e não pôde optar pela vida religiosa, pois aos dezesseis anos foi entregue como esposa ao Visconde de Villemor, Pedro Acarie, Senhor de Montbrost e de Roncenay, proprietário de muitas terras, muito atuante na política da corte e cuja influência era tão forte quanto à de sua família, homem de costumes irrepreensíveis.
     O casal teve seis filhos. “A bela Acarie”, como era conhecida em Paris, iniciou a vida matrimonial e de mãe dando a todos exemplo de como sendo mãe e esposa viver uma vida religiosa e de acordo com os mandamentos de Deus, enfrentando também os deveres na administração do lar, além de colocar a família no caminho da santidade.
     Era incansável no auxílio aos necessitados, especialmente durante o assédio de Paris pelo rei Henrique IV, em 1590, durante as guerras religiosas em que se enfrentaram os católicos e os huguenotes, com a intervenção militar dos espanhóis.
     Filha devota da Igreja, Madame Acarie participou das ações contra a heresia protestante que procurava se estender na França. Deus a favoreceu com graças místicas extraordinárias, mas também lhe mandou provas exteriores e interiores.
     O rei Henrique IV, protestante, após desfazer a Liga Católica à qual seu marido pertencia, mandou-o para o exílio e confiscou todos os seus bens. Foram quatro anos de várias atribulações financeiras e de aflição de espírito. Porém Bárbara não se abateu, tomou a defesa do marido, não se detendo até provar a inocência dele e reaver todos os bens.
     Foi com essa fibra que educou os filhos, com generosidade, no respeito e no serviço aos mais pobres, doentes e mais desamparados. Ensinou-os a viver de maneira simples, sóbria, modesta, e no amor à verdade, pois a verdade é Cristo. Ensinou-lhes também o espírito de sacrifício e a força de vontade perante as dificuldades.
     Nesse período conheceu o religioso Francisco de Sales, depois também Fundador e Santo, o qual aprovava sua atitude e comportamento, vindo a tornar-se o seu diretor espiritual.
     O Edito de Nantes de 13 de abril de 1598 tolera o protestantismo, o que causa muito sofrimento aos Acarie. Como resultado, orações e trabalhos, ela mesma uma leiga, para introduzir a reforma do Carmelo na França, o que lhe foi inspirado após ler os escritos de Santa Teresa d'Ávila. Em 1602 acolheu as primeiras vocações, obteve a autorização do rei, que tinha por ela uma grande consideração, e em 1603 o papa Clemente VIII enviou-lhe sua autorização para a fundação e ela pôde construir o primeiro mosteiro carmelita na França.
     Em 29 de agosto de 1604, seis Carmelitas Descalças espanholas, entre as quais a futura Beata Ana de São Bartolomeu e a uma futura Serva de Deus, Ana de Jesus, chegaram a Paris e no dia 17 de outubro do mesmo ano foi iniciada a vida monástica naquela cidade. Iniciando assim uma forte influência na espiritualidade católica de seu tempo, Bárbara Avrillot teve a felicidade de ver a Ordem se expandir para Pontoise, Dijon, Amiens nos anos 1605/1606, e três de suas filhas ingressarem no Carmelo de Amiens.
     Em 1613 seu esposo adoeceu gravemente e depois de nove dias morreu na paz do homem justo, assistido pela santa viúva confortada pela confirmação celeste da sua salvação eterna.
     Em 7 de abril de 1614, livre de todos os deveres terrenos, Bárbara ingressou no Carmelo de Amiens como conversa, tomando o nome de Maria da Encarnação. Fez seus votos a uma de suas filhas, que se tornara abadessa do mosteiro.
     Viveu sua vida de clausura com humildade, trabalhando na cozinha, atendendo as irmãs doentes, sofreu muito com a incompreensão de uma nova priora proveniente de outro Carmelo, teve muitos êxtases e visões que a confortavam nas suas longas doenças e provações. Manteve-se sempre ativa e preparada para discussões sobre o tema da fé e sempre humilde e afetuosa como simples carmelita de sua comunidade. 
     Por motivos de saúde, foi transferida para o Carmelo de Pontoise em 7 de dezembro de 1616. Ali, após uma longa enfermidade, entregou a alma a Deus em 18 de abril de 1618, recitando várias vezes os Salmos 21 e 101. Esse dia era uma Quinta-Feira Santa. O seu corpo repousa na capela daquele convento.
     Irmã Maria da Encarnação, Madame Acarie, é considerada a "Mãe Fundadora do Carmelo na França" porque mais do que todos contribuiu para a difusão da reforma carmelita de Santa Teresa d'Ávila em solo francês.
     O decreto do papa Urbano VIII fez com que a causa de beatificação de Irmã Maria da Encarnação fosse reaberta somente em 1782 e concluída com a cerimônia de beatificação por Pio VI em 5 de junho de 1791.
 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Santa Catarina Tekakwitha, o Lírio dos Mohawks - 17 de abril

     No ano de 1655, uma jovem índia foi capturada durante uma invasão dos Iroqueses. Seu nome era Kahenta. Nascera Algonquin e fora convertida pelos padres jesuítas. Levada para o território dos Mohawks, ela se casou com um chefe Mohawk pagão, que a salvara das torturas e morte, destino de muitos cativos. A aldeia dos Mohawks ficava em Ossernenon, ao longo da margem sul do Rio Mohawk, próximo da atual Auriesville, Estado de Nova York.
     No ano de 1656, nasceu a pequena Tekakwitha, “a que põe as coisas em ordem”, e tempos depois seu irmãozinho. Tekakwitha tinha mais ou menos quatro anos quando uma epidemia de varíola exterminou muitos habitantes da aldeia, entre eles seus pais e irmão. A pequena sobreviveu, mas a doença deixou marcas em seu rosto, sua visão é afetada e sua saúde se ressentiria para sempre. Tendo ficado órfã, seu tio, o novo chefe da aldeia, a adotou.
     Após a epidemia, a aldeia foi abandonada e os sobreviventes construíram um novo povoado chamado Caughnawaga, há umas cinco milhas de distância.
     Embora sua mãe tivesse sido batizada, Tekakwitha não o fora, mas ela era católica no fundo da alma. Ela sentia muita solidão, em parte devido à sua pouca visão e à sua aparência, mas também porque percebia o que tinha de errado na vida dos Mohawks. Ela era uma criança doce e tímida. Ajudava suas tias a trabalhar no campo, onde cultivavam milho, feijão e abóbora; cuidava da tenda em que viviam. Apesar de sua visão deficiente, ela também se tornou muito hábil no trabalho com contas.
     Talvez devido às marcas em seu rosto, ela não gostava de danças e celebrações. As torturas brutais de prisioneiros era algo em que toda a aldeia participava com entusiasmo, mas Tekakwitha não podia ver os sofrimentos impingidos às vítimas e permanecia sozinha em sua tenda.
     Os Iroqueses foram vencidos pelos Franceses quando ela tinha em torno de dez anos. Um tratado de paz foi assinado, que permitia aos padres jesuítas a ida às aldeias Mohawks. Embora contra a oposição da sua tribo, da sua família e especialmente de seu tio, Tekakwitha com freqüência encontrava-se com os padres que vinham à aldeia e aprendia tudo que podia sobre Deus.
     No ano de 1670, a Missão de São Pedro foi estabelecida na aldeia Caughnawaga e uma capela foi construída em uma das tendas. Em 1674, o Padre James de Lamberville, jesuíta missionário, chegou a Caughnawaga para cuidar da Missão de São Pedro.
     Tekakwitha compreendia apenas algumas coisas sobre a Fé pregada pelos missionários, mas havia nela um grande desejo de aprender tudo que pudesse sobre o Catolicismo. Ela desejava mais que tudo ser batizada e viver uma vida católica.
     Seus tios têm outros planos para ela: frustrados por suas contínuas recusas ao casamento decidem enganá-la. Uma noite, eles pedem que ela vista suas melhores roupas, pois receberiam convidados. Eles chegaram: era um jovem e sua família. Os tios fazem-no sentar-se ao lado de Tekakwitha e ordenam que ela sirva sopa ao rapaz. Logo ela percebeu a trama: se ela oferecesse a ele a tigela, isto significaria que ela aceitava o casamento. Ela atirou a sopa no fogo e correu para fora da tenda em lágrimas, escondendo-se na plantação de milho até que os convidados tivessem partido.
     Um dia, o Pe. de Lamberville, sabendo embora da hostilidade de seu tio, seguiu um forte impulso e foi visitá-la e ela revelou o seu grande desejo de ser batizada. Vendo a sinceridade da jovem, ele concordou em instruí-la. No dia 5 de abril de 1676, com a idade de vinte anos, Tekakwitha foi batizada na pequena capela da Missão, recebendo o nome de Catarina.
     A família de Catarina não aceitou sua escolha e passou a tratá-la como uma escrava; ela se tornou objeto de crueldades por parte de seu povo. Quando ela ia para a capela ou para a fonte, as crianças atiravam lama e pedras nela. Certa vez, quando se encontrava sozinha na tenda, um homem entrou abruptamente, brandindo um grande porrete de guerra e, dirigindo-se a ela, ameaça-a com a morte caso não renuncie à religião dos Roupas Pretas (era assim que os índios designavam os missionários). Catarina responde que ela preferia morrer a desistir de sua fé. Vendo-a tão calma, com suas mãos cruzadas e sua cabeça curvada, o atacante subitamente perdeu a coragem, largou o porrete e fogiu da tenda.
     Em virtude das hostilidades crescentes e porque ela desejava devotar sua vida a Deus, ela quer deixar Caughnawaga. Havia uma outra aldeia com o nome de Missão de São Francisco Xavier, em Sault St. Louis, próxima da colônia francesa de Montreal, uma missão jesuítica no Canadá para índios convertidos que como Catarina não tinham tranqüilidade nem segurança em suas aldeias. Uma antiga amiga de sua mãe, Anastastia Tegonhatsiio, já tinha ido para lá, mas seu tio não a deixaria ir.
     Em julho de 1677, o Pe. de Lamberville conseguiu que ela escapasse enquanto seu tio estava ausente numa viagem de negócios. Com ela foram mais duas pessoas.
     A viagem a pé, de mais de dois meses, não foi muito fácil: além das 300 milhas por densas florestas, vales profundos, rios e pântanos, seu tio, ao saber da fuga estava ao seu encalço. Catarina e seus companheiros, entretanto, conseguem escapar. Quando eles chegam ao Lago George, chamado na língua de Catarina, Andiarocte, eles encontram uma canoa e atravessaram os Lagos George e Champlain em direção ao Canadá. Finalmente eles chegam sãos e salvos na aldeia da Missão; Catarina corre para a capela para render graças a Deus.
     Catarina recebeu a 1a Comunhão no Natal do ano de 1677. Foi o dia mais feliz de sua vida. Ela tem então um lema: “Quem pode dizer-me o que mais agrada a Deus, para que eu o faça?” Embora não soubesse nem ler nem escrever, ela se dedica a ajudar os outros. Tem uma vida plena de oração, penitência, devotada a ensinar os mais jovens, a cuidar dos doentes e dos mais idosos.
     Era grande sua devoção a Mãe de Deus. Aprendeu rapidamente a Ladainha Lauretana de cor. Seu Rosário estava sempre à mão e Nossa Senhora era o seu modelo. A vida religiosa a atraia, mas os missionários negam-lhe permissão, pois ela só tem três anos de conversão.
     A 25 de março de 1679, Catarina tornou-se Esposa de Cristo: após a Sagrada Comunhão ela fez voto de perpétua virgindade. Na mesma ocasião ela se ofereceu a Maria Ssma. como filha.
     Catarina e Maria Teresa (Tegaiaguenta) tornaram-se grandes amigas e nesse ano de 1679 obtêm permissão para começar um pequeno convento na Missão.
     Como resultado de tribulações e austeridades, algum tempo depois de ter feito os votos ela caiu doente. Em breve está tão fraca, que não pode visitar a capela ou deixar o leito. Durante meses ela suportou grandes dores e febre contínua, mas nunca perdeu sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e em Sua Mãe Ssma.
     Na Quinta-feira da Semana Santa, dia 17 de abril de 1680, por volta das quinze horas, ela expirou pronunciando com grande dificuldade e dor: “Jesus, Maria, eu Vos amo!”
     O Pe. Pierre Cholenec, um dos presentes no instante de sua morte, conta que, “no momento de sua morte, a face de Catarina, tão desfigurada em vida, quinze minutos após seu falecimento subitamente mudou e em instantes tornou-se tão bela, que assim que eu vi isto (eu estava rezando ao seu lado) eu dei um grito, fiquei tão aturdido, e mandei chamar o padre que estava atendendo as cerimônias da Quinta-feira Santa. Ao tomar conhecimento deste prodígio, ele acorreu com algumas pessoas que estavam com ele. Nós pudemos contemplar aquela maravilha até o momento de seu funeral. Eu admito francamente que meu primeiro pensamento, na ocasião, fora que Catarina podia ter entrado no Céu naquele instante e que ela tinha recebido – como por antecipação – em seu corpo virginal uma pequena indicação da glória que sua alma já teria possuído no Paraíso”.
     A devoção por Catarina começou imediatamente. Antes de sua morte ela prometera, tal qual Santa Teresa de Lisieux, que se lembraria dos seus amigos da Terra e que os ajudaria do Céu. Ela logo cumpriu sua promessa: curas aconteciam quando ela era invocada ou quando se usava sua relíquia.
     Catarina foi declarada Venerável a 3 de janeiro de 1943 pelo Papa Pio XII; foi beatificada por João Paulo II em junho de 1980. Catarina Tekakwitha foi a primeira americana nativa declarada bem-aventurada. Em 21 de outubro de 2012 foi canonizada pelo Papa Bento XVI.
     Santuários dedicados a Santa Catarina Tekakwitha foram erigidos em São Francisco Xavier, Caughnawaga, em Auriesville e em muitos outros lugares. Milhares de fiéis peregrinam a esses locais até nossos dias.
 
Este é o mais antigo retrato da Beata Kateri Tekakwitha, pintado pelo Pe. Chauchetière entre 1682-1693. Ele se encontra na sacristia da igreja de São Francisco Xavier, na Reserva Kanawaké Mohawk, próximo de Montreal, Quebec, Canadá.