domingo, 27 de julho de 2014

Santa Natália e comp., mártires de Córdoba - 27 de julho

     
      Em 711, um exército muçulmano vindo do Norte da África conquistou a Ibéria visigótica cristã. Sob o seu líder, Tárique (Tariq ibn Ziyad), eles desembarcaram em Gibraltar e colocaram a maior parte da Península Ibérica sob o jugo do Islã numa campanha que durou oito anos. A região foi rebatizada de Al-Andalus pelos novos líderes. Quando os califas omiadas foram depostos pelos abássidas em Damasco em 750 d.C., os sobreviventes da dinastia se mudaram para Córdoba e ali passaram a governar um emirado, tornando a cidade um centro da cultura islâmica ibérica.
     Uma vez conquistada a Ibéria, a sharia (lei islâmica) foi imposta em todo o território. Os cristãos e os judeus eram chamados de dhimmis ("povos do livro") e estavam sujeitos à jizyah, um imposto pago por pessoa, que os permitia viver sob o regime islâmico. Sob a sharia, a blasfêmia contra o Islã, seja por muçulmanos ou dhimmis, e a apostasia eram motivos suficientes para a pena de morte.
     Apesar de quatro basílicas cristãs e diversos mosteiros - mencionados no Martirológio de Eulógio - terem permanecido abertos, os moçárabes (cristãos em território muçulmano) foram gradualmente aderindo ao Islamismo, num processo estimulado pela taxação e pela discriminação legal imposta aos cristãos (como as leis regulando os filhos de casamentos entre cristãos e muçulmanos).
     De forma incomum, Recafredo, bispo de Córdobra, ensinava as virtudes da tolerância e da acomodação com as autoridades muçulmanas, que não ajudou a estancar as conversões. Para espanto de Eulógio, cujos textos são a única fonte para os martírios e que passou a ser venerado como santo ainda no século IX, o bispo ficou do lado das autoridades muçulmanas contra os martírios, que ele entendia serem obra de fanáticos. O fechamento dos mosteiros começou a aparecer nos registros a partir da metade deste mesmo século.
     Santo Eulógio encorajava os mártires como forma de reforçar a fé da comunidade cristã, como nos tempos das perseguições aos cristãos sob o Império Romano. Ele compôs tratados e um martirológio para justificar a autoimolação dos mártires, dos quais um único manuscrito contendo sua Documentum martyriale, os três livros de sua Memoriale sanctorum e sua Liber apologeticus martyrum, foi preservado em Oviedo, no reino cristão das Astúrias, no extremo noroeste da Ibéria.
     Santo Eulógio foi enterrado na Catedral de San Salvador, em Oviedo, para onde as suas relíquias foram transladadas em 884 d.C.
As execuções
     Os quarenta e oito cristãos (a maioria monges) foram martirizados em Córdoba na década de 860 por decapitação por ofensas religiosas contra o Islã.
     A Acta detalhada destes martírios foi atribuída ao habilmente chamado "Eulogius" ("benção"), que foi um dos últimos a morrer. Embora a maior parte dos mártires de Córdoba terem sido hispânicos, beto-romanos ou visigodos, houve um árabe, um sírio, um monge grego e dois outros cujos nomes eram gregos.
Santa Natália e seus companheiros
     Santa Natália de Córdoba nasceu nesta cidade por volta do ano 825 d.C., em plena dominação muçulmana. Reinava então o emir Abderramán II, que acreditando que com isto amansaria o caráter indomável dos cristãos, desencadeou contra eles uma perseguição que enfrentou ainda maiores problemas.
     Natália nascera de pais maometanos. Mas após a norte do pai, sendo ainda bem pequenina, sua mãe se casou em segundas núpcias com um cristão, que a converteu. Natália, portanto, foi educada nos preceitos cristãos e casou-se com Aurélio, também cristão, mas na clandestinidade, para evitar as perseguições.
     Certo dia, Aurélio presenciou um espetáculo humilhante em que João, um cristão, amarrado a um jumento com o rosto voltado para a cauda do animal, era conduzido ao lugar da execução sob a gritaria dos infiéis. A partir daquele momento, os esposos resolveram ser mais corajosos e praticar sua religião em público para animar aos demais cristãos, evitando que eles aderissem à religião oficial naquele momento e lugar.
     Juntaram-se a eles o casal Felix e Liliana. Pressentindo que chegava a sua hora, o casal distribuiu os seus bens aos pobres e necessitados. Félix e Liliana fizeram o mesmo.
     Natalia, Aurélio, Felix e Liliana eram ibéricos cuja ascendência, ainda que religiosamente mesclada, legalmente requeria que eles professassem o islamismo. Após terem recebido quatro dias de prazo para se retratarem, eles foram condenados como apóstatas por revelarem que eram cristãos em segredo.
     O diácono Jorge era um monge da Palestina que foi preso juntamente com os dois casais. Mesmo tendo recebido o perdão por ser estrangeiro, ele escolheu denunciar o Islã para poder morrer com eles.
     Após juiz e verdugo tentarem de todos os meios que eles renegassem sua Fé, nem as promessas nem as torturas os demoveram; finalmente foram degolados em 27 de julho de 852.
     Seus corpos foram sepultados e venerados pelos cristãos; mas, por estarem pouco seguros em Córdoba, Carlos o Calvo seis anos mais tarde providenciou o traslado do corpo de Santo Aurélio e a cabeça de Santa Natália para Saint-Germain (Paris).
Etimologia: Natália, do latim Natalis, derivado de nascor, nascere, natus, que significa “nascer”. Derivado de Natal: “nascida do Natal de Jesus”. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Santa Cristina, a Admirável - 24 de julho


Martirológio Romano: Em Sint-Truiden, no Brabante, moderna Bélgica, Beata Cristina, virgem, dita a Admirável, porque nela, na mortificação do corpo e nos êxtases místicos, o Senhor operou maravilhas.
     Nascida de família aldeã, em Brusthem, na diocese de Liège, cerca do ano de 1150, Cristina ficou órfã aos quinze anos; vivia com duas irmãs mais velhas e ocupava-se em guardar os rebanhos nos campos.
     Os fatos que a seu respeito narram o dominicano Tomás de Cantimpré (+ 1270) e o Cardeal Tiago de Vitry não merecem grande crédito, mas compõem a sua legenda.
     Tomás de Cantimpré, antigo professor de Teologia em Lovaina, afirma narrar o que ouviu da boca dos que a conheceram, mas mostra-se demasiado crédulo. Quanto a Tiago de Vitry, trata-se de cronista sério que afirma ter conhecido Cristina pessoalmente.
     “Deus operou nela”, escreve ele, “coisas verdadeiramente maravilhosas. Já estava morta há muito tempo, mas conseguiu a graça de retomar o corpo, a fim de sofrer o seu Purgatório cá na terra. Desta forma sujeitou-se a mortificações inauditas, ora rolando-se por cima do fogo, ora permanecendo nos túmulos dos mortos. Acabou por ser favorecida com graças sublimes e gozar duma paz profunda. Muitas vezes, transportada em êxtase, levou as almas dos mortos para o Purgatório e outras vezes tirou-as do Purgatório para as levar para o Paraíso”. (ed. in Acta SS. Iulii, V, Veneza 1748, pp. 650-60).
     Ativados pela contemplação, os ardores da sua alma tornaram-se tão intensos, que o corpo não pôde resistir: ela caiu doente e “morreu” pela primeira vez quando tinha pouco mais de vinte anos. No dia seguinte, levaram os seus despojos à igreja para a cerimônia dos funerais.
     Durante a missa de Réquiem, viram-na de repente mexer-se, levantar-se no esquife e voar, como um pássaro, até à abóbada do templo, tal era o desgosto que lhe causava a presença dos pecadores que assistiam às cerimônias. Os assistentes fugiram espantados, à exceção da irmã mais velha, que ficou imóvel, mas não sem terror, até ao fim da missa. Atendendo à ordem do sacerdote, Cristina desceu ilesa e voltou para casa, onde tomou a refeição com as suas irmãs.
     Contou depois aos amigos, que vieram interrogá-la, que logo depois da sua morte os anjos a tinham sucessivamente transportado ao Inferno, onde encontrara muitas pessoas conhecidas; a seguir ao Purgatório, onde ainda encontrara mais; e por fim ao Paraíso, onde lhe foi dada a escolha de ficar para sempre ali ou de voltar a Terra para, com os seus sofrimentos, trabalhar no resgate das almas do Purgatório, orar e sofrer pelos fiéis defuntos, o que ela aceitara sem hesitação.
     A sua existência transcorreu no meio de milagres e fenômenos misteriosos. O odor do pecado repugnava-lhe de tal forma, que só depois de algum tempo conseguia suportar o contato com os seus semelhantes. Envergonhados das suas aparentes extravagâncias, que o público atribuía a uma legião de demônios, suas próprias irmãs e amigos a perseguiam.
     Cristina retirou-se primeiro no castelo de Looz, depois em Saint-Troud, onde faleceu cerca do ano de 1224, no Convento de Santa Catarina, cuja superiora declarou ter sido Cristina sempre duma submissão perfeita.
     Suas relíquias, conservadas em Nonnemielen, se encontram atualmente na igreja dos Redentoristas de Saint-Troud.
 
Fonte: www.portalcatolico.org.br; Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J. 3a. ed. Editorial A.O. – Braga.
 
Etimologia: Cristina, do latim Christinus, diminutivo derivado de Christus, do grego Christó: “o ungido, consagrado”, derivado do verbo chrio: “ungir”.

domingo, 20 de julho de 2014

Beata Lucrécia Garcia Solanas, Viúva e mártir de 1936 - 21 de julho


     Lucrécia Garcia Solanas nasceu em Aniñon, perto de Zaragoza, no dia 13 de agosto de 1866. Em 9 de outubro de 1910 casou-se com José Gaudi Negre, que faleceu em 1926. Não se sabe se tiveram filhos. Desde então ela passou a viver no convento das monjas do Instituto das Descalças Mínimas de São Francisco de Paula, em Barcelona, em uma casa fora da clausura, para ficar próxima de sua irmã, Madre Maria de Montserrat.
     Sempre à disposição das monjas, atuava como porteira recebendo as mensagens para elas; era mediadora entre o mosteiro e o mundo exterior. Muito piedosa, se habituara a seguir as orações da comunidade.
     Sua história foi recentemente relatada pelo Monsenhor Vicente Cárcel Ortí, historiador e autor de vários livros que contam a história de católicos perseguidos na Espanha.
     Conforme seu relato, tudo começou no dia 19 de julho de 1936, quando Lucrécia foi correndo ao convento para avisar as religiosas para deixarem o lugar imediatamente, uma vez que várias igrejas em Barcelona estavam sendo queimadas pelos responsáveis pela perseguição religiosa.
     Madre Maria de Montserrat, superiora daquele Instituto, que apesar da violência até aquele momento não quisera deixar o convento, ordenou às irmãs que se vestissem como civis, se escondendo em uma torre nas proximidades do local, além de se refugiarem em vários lugares, incluindo o porão da casa da viúva, que ficava ao lado do convento.
     Em 21 de julho um grupo armado entrou no mosteiro, forçando a porta com dinamite. Os “vermelhos” entraram na igreja adjacente, a profanaram e depois a queimaram. Tentando saquear o mosteiro, os republicanos profanaram os corpos de duas irmãs enterradas alguns meses antes, deixando-os expostos ao ridículo público.
     De onde estavam escondidas, algumas das Irmãs podiam ouvir o ruído dos milicianos que com a ajuda de cães buscavam suas vítimas.
     No dia 22 de julho, o grupo de refugiadas aumentou, porque algumas delas voltaram por não poderem permanecer mais em suas casas. No dia seguinte, o porteiro do convento as traiu. Os anticatólicos as encontraram na torre rezando o Rosário. Perguntaram quem era a Madre Superiora para interrogá-la sobre as riquezas que esperavam encontrar no mosteiro.
     A Madre ofereceu a própria vida em troca da de suas Irmãs, disse aos milicianos que Lucrécia era uma leiga, porém eles não a escutaram e quiseram saber onde estavam as outras monjas. Encontraram-nas no sótão, rezando de joelhos. Todas foram aprisionadas e começou para elas o Calvário.
     Os comunistas insultaram as religiosas, colocaram seus rosários ao redor de seus pescoços e, ridicularizando-as, puseram-nas em fila para arrastá-las pela rua. Somente uma delas, irmã de um famoso anarquista, foi poupada. Amparo Bosch Vilanova, testemunha ocular, descreveu o fim das outras Irmãs: “Colocaram-nas em fila como se fossem receber a Comunhão, empurraram-nas para a rua onde havia um caminhão, onde as jogaram como sacos de batatas, com uma violência tal, que com certeza lhes quebraram algum osso”.
     O caminhão se dirigiu a Santo André, onde as mulheres, depois de terem sido submetidas a prolongadas torturas, foram assassinadas. Algumas testemunhas disseram que por volta das 19 h desse dia foram ouvidos vários disparos. Os corpos das monjas foram deixados amontoados. Era um total de dez, nove religiosas e uma leiga. Tinham feridas de arma branca no peito e nas partes íntimas, as roupas arrancadas.
     Enquanto eram torturadas pelos “vermelhos”, todas as monjas, e com elas Lucrécia, temiam mais a violação do que a morte e em seus corpos deixaram sinais de uma luta terrível. Uma mulher relatou que os próprios agressores ficaram perturbados diante da valentia dessas mulheres, inclusive comentado no bar, depois de tê-las martirizado: “Que monjas mais valentes morreram hoje!” Segundo outras testemunhas, as dez mártires haviam dado suas vidas rezando de joelhos e pedindo o perdão para seus verdugos.
     No dia 13 de outubro de 2013, 522 mártires da Guerra Civil Espanhola foram beatificados em Tarragona. Entre os mártires estavam sacerdotes, religiosos, religiosas, vários leigos que deram sua vida em defesa da Fé, inclusive Lucrécia Garcia Solanas. 
 
 
Etimologia: Lucrécia, do latim Lucretius: “que atrai, que lucra”. Alguns estudiosos acreditam que deriva do Monte Lucretilis, em Sabina, Itália, de onde a gens Lucretia proveio.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Santa Edviges da Polônia, Rainha - 17 de julho

    

 

     Edviges d'Anjou foi rainha da Polônia a partir de 1384 e grã-duquesa da Lituânia a partir de 1386. Filha de Luís I, rei da Hungria e da Polônia e de Isabel Kotromanic da Bósnia, sucedeu seu pai em 1382 na Polônia, enquanto sua irmã Maria herdou o trono da Hungria.
     Embora seja chamada de "rainha", Edviges foi de fato coroada como "Rei da Polônia" (Hedvigis Rex Poloniæ e não Hedvigis Regina Poloniæ). O gênero masculino do seu título significava que ela era monarca de pleno direito, enquanto que o título de rainha era atribuído às esposas dos reis. Edviges pertencia à Casa Real dos Piast, antiga dinastia nativa da Polônia, sendo bisneta de Ladislau I, que reunificou o reino polonês, em 1320.
     Como rainha, Edviges teve efetivamente poderes limitados, mas foi muito ativa na gestão política do reino e na vida diplomática e cultural de seu país.
     No final do primeiro milênio, os apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo tinham ido à terra dos Piast. Naquela época Mieszko I recebeu o Batismo, e isto constituiu ao mesmo tempo o Batismo da Polônia. Séculos depois, os poloneses batizados contribuíram para a evangelização e o Batismo dos seus vizinhos, graças à obra de Edviges.
     Após consultas ao Arcebispo de Bodzanta, ao Bispo de Cracóvia Jan Radlica, a outros nobres do reino polonês, e muita oração diante do Crucifixo de Wawel, ficou estabelecido seu casamento com Jogaila, Grão-Duque da Lituânia, o qual havia prometido receber o Batismo – bem como toda sua Nação, último país pagão na Europa – e unir a Lituânia à Polônia. As bodas se realizaram a 18 de fevereiro de 1386. Convertido ao Catolicismo, o grão-duque foi batizado recebendo o nome de Ladislau II.
     Consciente da missão de levar o Evangelho aos irmãos lituanos, Edviges fê-lo juntamente com o seu esposo. Um novo país cristão, renascido das águas do Batismo, surgiu no Báltico, como no século X a mesma água fizera renascer os filhos da Nação polonesa. Uma vez aberta a estrada para a cristianização da Lituânia, Edviges, coerente no agir, procurou assegurar ao povo recém-batizado uma formação religiosa fundando em Praga um Colégio para os futuros sacerdotes daquela Nação.
     Edviges fora educada na leitura religiosa clássica desde tenra infância. Lia a Sagrada Escritura, o Saltério, as Homilias dos Padres da Igreja, as meditações e orações de São Bernardo, os Sermões e a Vida dos Santos, etc. Algumas destas obras foram traduzidas para a língua polonesa para ela e para seus súditos. A Rainha ordenou a execução de um saltério em três versões linguísticas, chamado Saltério Floriano, o qual se encontra hoje na Biblioteca Nacional de Varsóvia.
     Ela doou as próprias joias para financiar a recuperação da Academia de Cracóvia que, no século XIX, passou a se chamar Universidade Jagelônica, em homenagem à Dinastia Jagelônica, sucessora dos Piast. Nesta Universidade educaram-se e ensinaram pessoas que tornaram o nome da Polônia, e daquela cidade, famosos no mundo inteiro. A fama desta Universidade foi durante séculos um motivo de orgulho para a Igreja de Cracóvia. Dela saíram estudiosos da qualidade de São João Kanty, que exerceram não pouca influência no desenvolvimento do pensamento teológico da Igreja universal.
     Visitando os hospitais medievais (Biecz, Sandomierz, Sącz, Stradom) podemos admirar as numerosas obras fundadas pela misericórdia da soberana.
     A Santa Rainha tinha compreendido o ensinamento de Nosso Senhor e dos Apóstolos. Muitas vezes ela se ajoelhara aos pés do Crucifixo de Wawel para aprender dEle mesmo o amor generoso. E com Ele, do Cristo de Wawel, este Crucifixo negro que os habitantes da Cracóvia visitam em peregrinação na Sexta-Feira Santa, a Rainha Edviges aprendeu a dar a vida pelos irmãos. A sua profunda sabedoria e a sua intensa atividade brotavam da contemplação, do vínculo pessoal com o Crucificado.
     Perita na arte da diplomacia, ela lançou os fundamentos da grandeza da Polônia do século XV. Incentivou a cooperação religiosa e cultural entre as nações, e enriqueceu a Polônia com um patrimônio espiritual e cultural. Graças à profundidade da sua mente Cracóvia se tornou um importante centro do pensamento na Europa, o berço da cultura polonesa e a ponte entre o Ocidente e o Oriente cristãos.
     A sua bondade e senso de justiça era fruto de uma vida de muito sofrimento. Coroada aos dez anos, em 1384, aos doze deixou seu país natal. Em 1387 perdeu sua mãe, em 1395 sua irmã. Era vítima de calúnias difundidas no mundo europeu que tentavam criar animosidades entre seu esposo bem mais velho e ela; enfrentou dificuldades políticas e humanas, sofreu também com o fato de durante vários anos não poder dar um herdeiro ao trono.
     Para aproximar os súditos poloneses, lituanos e rutenos dos frutos espirituais da Igreja, pediu ao Papa Bonifácio IX a graça de poder celebrar o Ano Santo de 1390 no próprio país. Seu pedido foi motivado pelos grandes perigos políticos e sociais a que estariam expostos os peregrinos numa viagem à Roma. O Papa atendeu seu pedido, enviando, em 1392, o seu legado, João de Pontremoli, com a bula e as respectivas instruções.
     A Santa Rainha fundou, em 1393, o Colégio dos 16 Salmistas, para que noite e dia se louvasse a glória de Deus.
     Finalmente a Santa Rainha recebeu a graça de se tornar mãe, mas gozou por pouco tempo a alegria da maternidade física, porque a herdeira do trono, Isabel Bonifácia, morreu pouco depois. Quatro dias depois, em 17 de julho de 1399, Edviges falecia, em decorrência de complicações do parto, aos 25 anos e cinco meses. A Dieta da Polônia elegeu Ladislau II para sucedê-la. Este teve como sucessores os filhos havidos com sua última mulher, Sofia de Halshany.
     Apesar da veneração espontânea do povo polonês que a considerava Santa, foram necessários seiscentos anos para que o seu culto fosse reconhecido oficialmente pela canonização, o que ocorreu no dia 8 de junho de 1997, em Cracóvia, Polônia, durante a visita de João Paulo II àquela cidade.
O Crucifixo Negro e a Rainha Santa Edviges
     O Crucifixo Negro foi trazido para a Polônia por ela mesma em 1384. Santa Edviges passava horas rezando diante do crucifixo e em várias ocasiões Nosso Senhor lhe falou por meio dele. Desde 1745 o Cristo Negro, de 13 pés de altura, ocupa a parte central do altar barroco da Catedral. A Santa Sé declarou que ouvir a Santa Missa neste lugar obtém a graça de livrar uma alma do Purgatório.
     Quando a Rainha Edviges foi beatificada, em 1987, suas relíquias foram transferidas para o altar do Crucifixo Negro.
 
Etimologia: Edviges = do alemão antigo Haduwig, composto de sinônimos “luta” (hadu) e “combate” (wig). Outros: “lutadora que odeia”. Hedwig em alemão; Jadwiga em polonês; Eduvigis em espanhol; Edvige em italiano; Hedvigis em latim.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Nossa Senhora do Carmo - 16 de julho

    
 
     A palavra Carmelo, em hebraico "carmo", significa vinha, e "el" significa senhor, portanto, "Vinha do Senhor". Este nome nos leva para esta famosa montanha da Palestina, onde o profeta Elias e seu sucessor, Elizeu, fizeram história com Deus e com Nossa Senhora, que foi prefigurada por uma nuvenzinha branca que, num período de grande seca, prenunciava a chuva redentora que cairia sobre a terra ressequida (cf I Rs 18,20-45).

     Esta montanha foi o cenário de importantes acontecimentos na história do Antigo Testamento. A sensibilidade vivaz e poética dos autores bíblicos usa a imagem do Carmelo para evocar a ideia da beleza e da fecundidade. Por sua rica vegetação, pelo verde de suas árvores e arbustos, pela grande variedade da flora e da fauna, o Carmelo é considerado na Bíblia como terra de uma grande e rara formosura. Os profetas a utilizaram repetidamente nesta perspectiva.
     E a Igreja canta a formosura da Virgem Maria com essas imagens bíblicas. O título mariano da Ordem Carmelitana - Nossa Senhora do Carmo - está intimamente relacionado com a dedicação do primeiro oratório no Monte Carmelo a Nossa Senhora pelos carmelitas.
São Simão Stock
     Na Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João Batista. Chamava-se Simão. Mas, diante de sua vida solitária na convexidade de uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock.
     Simão nasceu no ano de 1165 no Castelo de Harford, no condado de Kent, Inglaterra, em atenção às preces de seus piedosos pais, que uniam a mais alta nobreza à virtude. Alguns escritores julgam mesmo que tinham parentesco com a família real.
     Sua mãe consagrou-o à Santíssima Virgem desde antes de nascer. Em reconhecimento a Ela pelo feliz parto, e para pedir sua especial proteção para o filhinho, a jovem mãe, antes de o amamentar, oferecia-o à Virgem, rezando de joelhos uma Ave-Maria. Bela atitude de uma senhora altamente nobre!
     O menino aprendeu a ler com pouquíssima idade. A exemplo de seus pais, começou a rezar o Pequeno Ofício da Santíssima Virgem, e logo também o Saltério. Esse verdadeiro pequeno gênio, aos sete anos de idade iniciou o estudo das Belas Artes no Colégio de Oxford, com tanto sucesso que surpreendeu os professores. Foi também nessa época admitido à Mesa Eucarística, e consagrou sua virgindade à Santíssima Virgem.
     Perseguido pela inveja do irmão mais velho, e atendendo a uma voz interior que lhe inspirava o desejo de abandonar o mundo, deixou o lar paterno aos 12 anos, encontrando refúgio numa floresta onde viveu inteiramente isolado durante 20 anos, em oração e penitência.
     Nossa Senhora revelou-lhe então seu desejo de que ele se juntasse a certos monges que viriam do Monte Carmelo, na Palestina, à Inglaterra, “sobretudo porque aqueles religiosos estavam consagrados de um modo especial à Mãe de Deus”. Simão saiu de sua solidão e, obedecendo também a uma ordem do Céu, estudou teologia, recebendo as sagradas ordens. Dedicou-se à pregação, até que finalmente chegaram dois frades carmelitas no ano de 1213. Ele pôde então receber o hábito da Ordem, em Aylesford.
     Em 1215, tendo chegado aos ouvidos de São Brocardo, Geral latino do Carmo, a fama das virtudes de Simão, quis tê-lo como coadjutor na direção da Ordem; em 1226, nomeou-o Vigário-Geral de todas as províncias européias.
     São Simão teve que enfrentar uma verdadeira tormenta contra os carmelitas na Europa, suscitada pelo demônio através de homens ditos zelosos pelas leis da Igreja, os quais queriam a todo custo suprimir a Ordem a vários pretextos. Mas o Sumo Pontífice, mediante uma bula, declarou legítima e conforme aos decretos de Latrão a existência legal da Ordem dos Carmelitas, e a autorizou a continuar suas fundações na Europa.
     São Simão participou do Capítulo Geral da Ordem na Terra Santa, em 1237. Em um novo Capítulo, em 1245, foi eleito 6° Prior-Geral dos Carmelitas.
 
A Aparição da Mãe de Deus a São Simão Stock
     Na manhã do dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava com maior empenho à Mãe do Carmelo sua proteção, recitando a bela oração por ele composta:
     "Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!"
     Terminada esta prece, levanta os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz. Rodeada de anjos, em grande cortejo, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário dizendo a São Simão Stock, com inexprimível ternura maternal:
     “Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno’’.
     Essa graça especialíssima foi imediatamente difundida nos lugares onde os carmelitas estavam estabelecidos, e autenticada por muitos milagres que, ocorrendo por toda parte, fizeram calar os adversários dos Irmãos da Santíssima Virgem do Monte Carmelo.
     São Simão Stock atingiu extrema idade e altíssima santidade, operando inúmeros milagres, tendo também obtido o dom das línguas; foi chamado à pátria celeste por Deus em 16 de maio de 1265.
     Há mais de 760 anos, desde o dia 16 de julho de 1251, todos os que trouxeram o Escapulário, com verdadeira piedade, com sincero desejo de perfeição cristã, com sinais de conversão, sempre foram protegidos na alma e no corpo contra tantos perigos que ameaçam a vida espiritual e corporal.
     O Escapulário é a devoção de papas e reis, de pobres e plebeus, de homens cultos e analfabetos. É a devoção de todos. Foi a devoção de São Luís IX, de Luís XIII, Luís XIV da França, Carlos VII, Filipe I e Filipe III da Espanha, Leopoldo I da Alemanha, Dom João I, de Portugal.
 
As promessas específicas de Nossa Senhora do Carmo
Primeira: Quem morrer com o Escapulário não padecerá o fogo do inferno.
     Em primeiro lugar, ao fazer a sua promessa, Maria não quer dizer que uma pessoa que morra em pecado mortal se salvará. A morte em pecado mortal e a condenação são uma e a mesma coisa. A promessa de Maria traduz-se, sem dúvida, por estas outras palavras: “Quem morrer revestido do Escapulário, não morrerá em pecado mortal”. Para tornar isto claro, a Igreja insere, muitas vezes, a palavra “piamente” na promessa: “aquele que morrer piamente não padecerá do fogo do inferno”.
Segunda: Nossa Senhora livrará do Purgatório quem portar seu Escapulário, no primeiro sábado após sua morte.
     Embora às vezes se interprete este privilégio ao pé da letra, isto é, que a pessoa será livre do Purgatório no primeiro sábado após sua morte, “tudo que a Igreja, tem para explicar estas palavras, tem dito oficialmente em várias ocasiões, é que aqueles que cumprem as condições do Privilégio Sabatino serão, por intercessão de Nossa Senhora, libertos do Purgatório pouco tempo depois da morte, e especialmente no sábado”. De qualquer modo, se formos fiéis em observar as palavras da Virgem Santíssima, Ela será muito mais fiel em observar as suas.
 
Fontes: Na Sra do Carmo - Por: Pe.Wagner Augusto Portugal  http://www.catequisar.com.br

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Beata Angelina de Montegiove, Fundadora - 14 de julho

    
     Angelina nasceu em 1377 no ancestral Castelo de Montegiove, cerca de 40 k de Orvieto, na Úmbria, então parte dos Estados Papais. Era filha de Tiago Angioballi, Conde de Marsciano, e de Ana, filha do Conde de Corbara (por isso a Beata às vezes é referida como Angelina de Corbara).
     Quando tinha doze anos ficou órfã de mãe. Angelina consagrou a Deus sua virgindade, correspondendo às graças que recebia desde a infância. Mas, três anos depois seu pai decidiu casá-la com o Conde de Civitella, senhor de Abruzos. Em vão a jovem implorou que o pai a deixasse consagrar-se a Deus; foi ameaçada de morte se não consentisse no casamento no prazo de oito dias.
     Nessa aflição, Angelina recorreu ao Senhor que lhe recomendou cumprir a vontade do pai. Ela desposou então o conde, decorrendo a cerimônia em meio a grandes festejos tradicionais. Ao aproximar-se a noite, a jovem refugiou-se no quarto, e, cheia de angústia, ajoelhou-se aos pés do Crucifixo pedindo a Deus que a protegesse. Deus lhe mandou então o seu Anjo da Guarda para protegê-la.
     Surpreendida por seu esposo em conversa com o Anjo, o conde perguntou-lhe o motivo de suas lágrimas. Ao saber do voto que fizera, tocado pela graça quis imitá-la. Ajoelhou-se e prometeu, com sua jovem esposa, guardar a castidade e considerá-la como irmã. E ambos agradeceram a Deus a grande graça recebida.
     Aos 17 anos, com a morte do marido, Angelina voltou aos seus queridos projetos de vida inteiramente dedicada a Deus. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e vestiu o humilde hábito de São Francisco, tornando-se promotora da virgindade e da pureza de costumes.
     Tornou-se famosa por causa de seus milagres e muitas jovens da nobreza vieram juntar-se a ela. Com elas iniciou uma missão apostólica pregando os valores do arrependimento e da virgindade, bem como o empenho em aliviar os necessitados.
     Logo começaram a acusar Angelina de sedução, de encantamento: a feiticeira tinha algo de magia para arrastar a juventude! E de heresia, devido a uma suposta oposição maniqueísta ao casamento. Angelina se defendeu pessoalmente diante de Ladislau, rei de Nápoles, que retirou as acusações, mas expulsou-a do seu reino, bem como as suas companheiras, para evitar mais reclamações.
     Com suas discípulas, partiu no dia 31 de julho de 1395, dirigindo-se a Assis, onde foram venerar os túmulos de São Francisco e Santa Clara. Em Assis, na Igreja de Santa Maria dos Anjos, à luz de Deus, Angelina compreendeu a sua missão: fundar um mosteiro de terceiras claustradas.
     Fixou-se em Foligno e, em 1397, Angelina e suas seguidoras emitiram os três votos. Ela se juntou ao Mosteiro de Santa Ana, uma pequena comunidade de mulheres terceiras franciscanas fundada em 1388 pelo Beato Paoluccio Trinci (+ 1390), um frade franciscano. Conhecido como o “Mosteiro das Condessas”, devido ao nível social de muitas das ingressas, ele o havia estabelecido como resultado de sua visão de ter mulheres nobres da cidade como uma força evangelizadora na sociedade. Essas mulheres tinham vida ascética no mosteiro, mas, não sendo monjas, seguiam uma estrutura informal, livres para ir e vir, o que possibilitava a elas cuidarem dos pobres e dos doentes da região.
     Angelina tomou um papel de liderança no pequeno grupo e começou a organizar suas vidas numa forma mais regular e foi aclamada superiora. Em 1403 ela obteve uma bula papal do Papa Bonifácio IX, que reconhecia formalmente o mosteiro.
     A reputação da comunidade de Foligno era tão grande, que rapidamente seu exemplo foi imitado em outras cidades, tendo Angelina como superiora geral destes mosteiros: Florença, Spoleto, Assis e Viterbo, bem como outras onze, antes da morte de sua morte em 1435.
    As diversas comunidades foram reconhecidas como Congregação pelo Papa Martinho V, em 1428. Este decreto também permitia que elas elegessem uma Geral que teria o direito de visitar canonicamente as outras comunidades. A Congregação teve sua primeira eleição geral em 1430, na qual Angelina foi eleita a primeira Geral. Neste cargo, ela desenvolveu os Estatutos a serem obedecidos por todas as casas.
     Esta independência não foi bem recebida pelos Frades Menores, aos quais havia sido dada total autoridade sobre as terceiras naquele mesmo ano. O Geral dos frades, Guilherme de Casala, ordenou que as Irmãs da Ordem Terceira da Congregação confirmassem a obediência a ele. Angelina submeteu-se e numa cerimônia pública, ocorrida na igreja dos frades em Foligno, no dia 5 de novembro de 1430, jurou obediência ao Provincial local.
     Este ato de obediência, entretanto, foi repudiado pelo capítulo da comunidade no Mosteiro de Santa Ana, dizendo que ele era inválido por que fora obtido sob pressão e sem sua aprovação. A Santa Sé confirmou sua autonomia no ano seguinte. Para evitar futuros conflitos, a Congregação colocou-se sob a obediência de seus bispos locais, sob a direção espiritual dos frades da Ordem Terceira Regular de São Francisco da Penitência.
     Angelina faleceu aos 58 anos, em 14 de julho de 1435 e foi enterrada na Igreja de São Francisco, em Foligno. Em 1492, após um milagre, o seu corpo foi encontrado intacto. Após a exumação, foi encerrado em uma urna preciosa e colocado num altar em frente ao túmulo da Beata Ângela de Foligno.
     A Congregação de Angelina tornou-se muito popular nos séculos 15 e 16 devido à regra de que suas comunidades deviam ser pequenas e simples. Em 1428, o Papa Martinho V dera um mandato específico para elas se dedicarem à educação e instrução das meninas. O trabalho das irmãs foi apostólico até que se tornaram, em 1617, uma ordem de enclaustradas, tomando votos solenes de estrita exclusão de contato com o mundo exterior, limitando-se à educação das meninas dentro do claustro.
     No século XVII, havia cento e trinta e cinco mosteiros destas terceiras na Itália e na França. Já no tempo de Pio II cada Superiora havia se tornado independente. Em 1903, o apostolado exterior foi novamente permitido e a Congregação passou a ser conhecida como Irmãs Franciscanas da Beata Angelina. Desde 2000, elas têm casas no Brasil, Madagascar e Suíça, bem como na Itália.
     Em 8 de março de 1825 o Papa Leão XII aprovou o seu culto, e a sua festa litúrgica é celebrada no dia 14 de julho.
 
Etimologia: Angelina, diminutivo de Ângela = do latim Angelus: “anjo”; do grego Ággelos, derivado de ággelos: “mensageiro”.

sábado, 12 de julho de 2014

Santa Mildred, Abadessa de Minster-in-Thanet - 13 de julho

     Mildred foi uma abadessa do mosteiro Minster-in-Thanet em Kent (sudeste da Inglaterra), um dos conventos mais ricos da Inglaterra anglo-saxã. (Minster, que deriva de monasterium em latim, foi o termo Inglês Antigo para praticamente qualquer instituição eclesiástica, e não distingue claramente entre conventos e mosteiros, ou conventos e igrejas.)
     Há inúmeros textos sobre a Vitae de Santa Mildred, com análises detalhadas de David Rollason em A Legenda de Mildred: um estudo da hagiografia medieval na Inglaterra (Leicester: Universidade de Leicester Imprensa 1982) e de Stephanie Hollis, A História da Fundação de Minster-in-Thanet, Inglaterra anglo-saxã, 27 (1998).
     A sequência de textos sobre Mildred é particularmente importante porque a versão mais antiga, agora perdida, parece ter sido composta no início do século VIII. Além disso, Hollis argumentou que o texto original apresenta as tradições das mulheres que viviam em Minster-in-Thanet, em vez das tradições monásticas masculinas que normalmente aparecem em outros textos. O início da Igreja anglo-saxã parece ter se caracterizado por dar mais destaque às mulheres do que mais tarde e os textos sobre Mildred fornecem uma visão útil de como isto se dava.
     O primeiro e o principal texto, uma versão relativamente simples e completa, é uma abreviação no Inglês Antigo da legenda original de Mildred que foi perdida (ou talvez uma versão independente com base nas mesmas tradições), conhecida como Tha Halgan ("Os Santos"), ou a Legenda Real de Kent, que talvez tenha sido composta em Kent (o se pode deduzir por no texto aparecer a palavra sulung distintamente da região de Kent), entre 725 e 974.
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     Mildrith, também conhecida como Mildthryth, Mildryth ou Mildred era a filha do rei Merewalh de Magonsaete, um sub-reino de Mércia, e de Santa Eormenburga, filha do rei Etelberto de Kent e, como tal, personagem das Legendas Reais de Kent.
     Suas irmãs, Milburga e Mildgytha também foram canonizadas. Goscelin, se baseando numa história agora considerada perdida dos governantes do reino de Kent, escreveu uma hagiografia sobre Mildred.
     A família materna de Mildred possui laços íntimos com os monarcas Merovíngios de Gaul, e acredita-se que Mildred tenha sido educada na prestigiosa Abadia de Chelles. Ela entrou na abadia de Minster-in-Thanet, a qual sua mãe havia estabelecido, e da qual se tornou abadessa em 694.
     Acredita-se que seus laços com Gaul foram mantidos, já que existe uma série de dedicações a Mildred em Pas-de-Calais, incluindo em Millam. Mildred morreu provavelmente em 716 (ou 733), em Minster-in-Thanet e foi enterrada lá.
     Seus restos mortais foram transferidos para a Abadia de Santo Agostinho, na Cantuária, em 1030; a data é comemorada em 18 de maio. Mildred parece ter sido substituída na função de abadessa por Edburga de Minster-in-Thanet, correspondente de São Bonifácio.
     Santa Mildred é celebrada no dia 13 de julho.
 
Etimologia: Mildred, do alemão antigo Miltr(a)aud: (milti) “graciosa, risonha” e (trud) “amável, afetuosa, familiar”.
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     A Abadia de Minster-in-Thanet é o coração de Thanet. Em 597, o Papa S. Gregório Magno enviou para ali Santo Agostinho da Cantuária, que iniciou sua missão de evangelização do povo anglo-saxão. Alguns anos depois de sua chegada à Thanet, a Cristandade já havia se espalhado por toda a região da Inglaterra e a vida monástica começou a florescer. Minster-in-Thanet foi uma das primeiras fundações monásticas. O mosteiro foi construído no ano de 670 d.C. pela mãe de Santa Mildred, que foi a segunda abadessa do mosteiro.
     Santa Mildred era uma das mais amadas Santas anglo-saxãs e é a padroeira de Thanet. Durante o período em que foi abadessa, a igreja do mosteiro era dedicada aos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. O mosteiro foi atacado inúmeras vezes e provavelmente destruído durante as invasões viking nos séculos 9 e 10. Escavações dos anos 1930 descobriram as fundações de seus edifícios.
     A história da fundação da Abadia de Minster-in-Thanet está bem documentada nas antigas crônicas e atestada por vários capítulos da Legenda dos Reis de Kent.
     Em 1027 a propriedade foi dada à Abadia de Santo Agostinho e o mosteiro foi reconstruído. A Ala Saxã, a mais antiga das partes da abadia, com uma pequena capela, ainda está em uso pela comunidade atual. Os monges logo assumiram a vida de oração e reedificaram a igreja do mosteiro bem como a igreja paroquial, que se tornou conhecida como a catedral. Por muitos anos os monges serviram de sacerdotes na paróquia de Thanet.
     Com os habitantes da região, os monges tornaram as terras agriculturáveis e construíram instalações para acomodar hóspedes e peregrinos que visitavam as relíquias de Santo Agostinho da Cantuária.
     A Abadia foi o lar dos monges por 500 anos. Na época de Henrique VIII, os monges foram obrigados a abandoná-la e a propriedade passou para mãos particulares.
     Em 1937, a comunidade beneditina católica de Santa Valburga, da Bavária, reestabeleceu a vida monástica da Abadia. Mais uma vez, ela se tornou local de oração e dedicação a Deus.
     Como nos dias de Santa Mildred, hospitalidade é um importante aspecto da vida monástica e uma forma de partilhar as ricas heranças beneditinas. As irmãs têm uma Casa de Hóspedes que fica no local do antigo mosteiro. A Abadia atrai centenas de visitantes todo ano. Embora seja um monumento antigo, é também o local de uma comunidade viva. Alguns vão à Abadia por motivos históricos, outros por perspectivas arqueológicas. Mas vários vão para encontrar a paz e para rezar na capela, desfrutando da sacralidade de um local aonde a adoração a Deus vêm sendo cantada por muitos séculos.