Em 711, um exército muçulmano vindo do
Norte da África conquistou a Ibéria visigótica cristã. Sob o seu líder, Tárique
(Tariq ibn Ziyad), eles desembarcaram em Gibraltar e colocaram a maior parte da
Península Ibérica sob o jugo do Islã numa campanha que durou oito anos. A
região foi rebatizada de Al-Andalus pelos novos líderes. Quando os califas
omiadas foram depostos pelos abássidas em Damasco em 750 d.C., os sobreviventes
da dinastia se mudaram para Córdoba e ali passaram a governar um emirado,
tornando a cidade um centro da cultura islâmica ibérica.
Uma vez conquistada a Ibéria, a sharia (lei islâmica) foi imposta
em todo o território. Os cristãos e os judeus eram chamados de dhimmis
("povos do livro") e estavam sujeitos à jizyah, um imposto
pago por pessoa, que os permitia viver sob o regime islâmico. Sob a sharia,
a blasfêmia contra o Islã, seja por muçulmanos ou dhimmis, e a apostasia
eram motivos suficientes para a pena de morte.
Apesar de quatro basílicas cristãs e diversos mosteiros - mencionados no
Martirológio de Eulógio - terem permanecido abertos, os moçárabes (cristãos em
território muçulmano) foram gradualmente aderindo ao Islamismo, num processo
estimulado pela taxação e pela discriminação legal imposta aos cristãos (como
as leis regulando os filhos de casamentos entre cristãos e muçulmanos).
De forma incomum, Recafredo, bispo de Córdobra, ensinava as virtudes da
tolerância e da acomodação com as autoridades muçulmanas, que não ajudou a
estancar as conversões. Para espanto de Eulógio, cujos textos são a única fonte
para os martírios e que passou a ser venerado como santo ainda no século IX, o
bispo ficou do lado das autoridades muçulmanas contra os martírios, que ele
entendia serem obra de fanáticos. O fechamento dos mosteiros começou a aparecer
nos registros a partir da metade deste mesmo século.
Santo Eulógio encorajava os mártires como forma de reforçar a fé da
comunidade cristã, como nos tempos das perseguições aos cristãos sob o Império
Romano. Ele compôs tratados e um martirológio para justificar a autoimolação
dos mártires, dos quais um único manuscrito contendo sua Documentum
martyriale, os três livros de sua Memoriale sanctorum e sua Liber
apologeticus martyrum, foi preservado em Oviedo, no reino cristão das
Astúrias, no extremo noroeste da Ibéria.
Santo Eulógio foi enterrado na Catedral de San Salvador, em Oviedo, para
onde as suas relíquias foram transladadas em 884 d.C.
As execuções
Os quarenta e oito cristãos (a maioria monges) foram martirizados em
Córdoba na década de 860 por decapitação por ofensas religiosas contra o Islã.
A Acta detalhada destes martírios foi atribuída ao habilmente chamado
"Eulogius" ("benção"), que foi um dos últimos a morrer.
Embora a maior parte dos mártires de Córdoba terem sido hispânicos,
beto-romanos ou visigodos, houve um árabe, um sírio, um monge grego e dois outros
cujos nomes eram gregos.
Santa
Natália e seus companheiros
Santa Natália de Córdoba nasceu nesta cidade
por volta do ano 825 d.C., em plena dominação muçulmana. Reinava então o emir
Abderramán II, que acreditando que com isto amansaria o caráter indomável dos cristãos,
desencadeou contra eles uma perseguição que enfrentou ainda maiores problemas.
Natália nascera de pais maometanos. Mas após a norte do pai, sendo ainda
bem pequenina, sua mãe se casou em segundas núpcias com um cristão, que a
converteu. Natália, portanto, foi educada nos preceitos cristãos e casou-se com
Aurélio, também cristão, mas na clandestinidade, para evitar as perseguições.
Certo dia, Aurélio presenciou um espetáculo humilhante em que João, um
cristão, amarrado a um jumento com o rosto voltado para a cauda do animal, era
conduzido ao lugar da execução sob a gritaria dos infiéis. A partir daquele
momento, os esposos resolveram ser mais corajosos e praticar sua religião em
público para animar aos demais cristãos, evitando que eles aderissem à religião
oficial naquele momento e lugar.
Juntaram-se a eles o casal Felix e Liliana. Pressentindo que chegava a
sua hora, o casal distribuiu os seus bens aos pobres e necessitados. Félix e
Liliana fizeram o mesmo.
Natalia, Aurélio, Felix e Liliana eram ibéricos cuja ascendência, ainda
que religiosamente mesclada, legalmente requeria que eles professassem o
islamismo. Após terem recebido quatro dias de prazo para se retratarem, eles
foram condenados como apóstatas por revelarem que eram cristãos em segredo.
O diácono Jorge era um monge da Palestina que foi preso juntamente com
os dois casais. Mesmo tendo recebido o perdão por ser estrangeiro, ele escolheu
denunciar o Islã para poder morrer com eles.
Após juiz e verdugo tentarem de todos os meios que eles renegassem sua Fé,
nem as promessas nem as torturas os demoveram; finalmente foram degolados em 27
de julho de 852.
Seus corpos foram sepultados e venerados pelos cristãos; mas, por
estarem pouco seguros em Córdoba, Carlos o Calvo seis anos mais tarde
providenciou o traslado do corpo de Santo Aurélio e a cabeça de Santa Natália
para Saint-Germain (Paris).
Etimologia: Natália, do latim Natalis,
derivado de
nascor, nascere, natus, que significa “nascer”. Derivado de Natal:
“nascida do Natal de Jesus”.