Laura Montoya
Upegui, a primeira mulher colombiana a ostentar o título de Santa, nasceu em Jericó,
Colômbia, no dia 26 de maio de 1874. Foi batizada no mesmo dia de seu nascimento
com o nome de Maria Laura de Jesus. Filha de João da Cruz Montoya e de Maria
Dolores Upegui Echavarría, teve dois irmãos: Carmelita, que era mais velha, e João da
Cruz, seu irmão mais novo.
Sua vida esteve sempre marcada pela dor,
pobreza e toda espécie de acontecimentos desafortunados, que serviriam para
temperar seu carácter e fazer dela a mulher que a história conhece: um ser que
se dedicou aos mais desvalidos e aos indígenas.
Segundo seus biógrafos, que são muitos,
entre os quais se contam religiosas da congregação por ela fundada, aos dois anos,
em plena guerra civil de 1876, perdeu seu pai, que era médico e comerciante, ao
defender este seus princípios religiosos.
Desde então, a infância e a adolescência
de Laura mudariam radicalmente, pois todos os bens de sua família, bem como a
de seus vizinhos de Jericó, foram confiscados. Sua mãe, repudiada e humilhada até
por sua própria família, passou fome e toda espécie de necessidades, até que o
avô materno chamou-a e aos filhos para que fossem viver em sua propriedade, em
Amalfi, onde as penúrias continuaram. Havia também a antipatia que a pequena
Laura despertava entre alguns de seus familiares por sua seriedade. Isto a
obrigou a passar boa parte do dia no campo, circunstância que serviu para que
ela se tornasse uma pessoa contemplativa e amante da natureza.
Aos sete anos continuava sem estudar e um
dia, vendo um formigueiro, descobriu qual seria o sentido de sua vida: “De repente fui como que ferida por um raio.
Aquele raio foi como um conhecimento de Deus que hoje, depois de tanto estudar
e aprender, não sei mais de Deus do que soube então...”, segundo ela própria
contaria mais tarde.
Laura foi depois levada para um orfanato
em Robledo (atualmente parte da cidade de Medellin) que era dirigido por sua
tia Maria de Jesus Upegui, religiosa fundadora da Comunidade das Servas do
Santíssimo e da Caridade. Como não tivera instrução oficial, aos 11 de idade
sua tia a inscreveu como externa no Colégio do Espírito Santo, uma instituição
de educação frequentada por meninas da classe alta da cidade. Devido às
adversidades que enfrentou ao morar em um orfanato, sem dinheiro para comprar
livros estudando em um colégio de classe alta, se retirou da instituição ao
findar o ano.
No ano seguinte
foi morar em San Cristóbal numa propriedade aos cuidados da tia enferma. Ali se entregou às leituras
espirituais que despertaram o desejo de fazer-se religiosa carmelita. Em 1887
voltou a Medellin para estar com sua mãe e pouco tempo depois seu avô adoeceu e
ela foi para Amalfi para cuidar dele até sua morte. A morte de seu avô piorou
ainda mais a situação financeira da família.
Aos 16 anos, demonstrando
seu carácter e sua decisão de conseguir o que se propunha, se apresentou diante
da reitora da Escola Normal de Medellín a quem expos a necessidade que tinha de
estudar. Foi-lhe conseguido a permissão para estudar, porém na biblioteca,
porque não tinha livros; ficou alojada naquela escola e obteve excelentes resultados em seus
estudos. Em 1893 se formou como professora elementar.
Aos 20 anos,
voltou a viver com a mãe e se dedicou à formação das jovens na fé católica em
diferentes escolas públicas de Antioquia. Sua primeira experiência docente foi
em Amalfi onde foi nomeada diretora da Seção Superior da escola municipal, segundo
o decreto 234 de janeiro de 1894. Nela procurou combinar seu ensino com uma
orientação religiosa que não era do agrado das autoridades do município.
Alguns opositores
da formação religiosa apresentaram uma queixa ao governo da região, que deu
resposta favorável a Laura, apoiada pelo secretário da Instrução Pública, Pedro
A. Restrepo, que a conhecia muito bem desde sua passagem pela Escola Normal de
Medellín. A guerra civil de 1895 obrigou o fechamento das escolas, o que forçou
Laura a manter somente aulas pré-escolares em sua própria.
Em agosto de 1895
foi nomeada professora na Escola Superior Feminina de Fredonia. Em 23 de fevereiro
de 1897 foi transferida para Santo Domingo. Ali decidiu dar catecismo às
crianças no campo.
Por sua experiência
docente, sua prima Leonor Echavarría convidou-a para colaborar na direção do
recém-inaugurado Colégio da Imaculada em Medellín. O colégio ganhou muito prestígio
na cidade, nele estudavam as filhas de famílias em ascensão. Quando sua prima
Leonor faleceu, em 10 de junho de 1901, o colégio ficou completamente nas mãos
de Laura. Em novembro de 1905 o escritor Alfonso Castro começou a publicar uma
novela chamada "Filha Espiritual" na revista "Leitura
Amena", cuja intriga desacreditou notavelmente o Colégio da Imaculada e sua
diretora, Laura, a tal ponto que levou ao seu fechamento definitivo.
Sua vida profissional, portanto, também foi selada pela dor, porém isto
não a fez esmorecer. Enquanto a vida ia passando, Laura continuava empenhada em
ser monja carmelita, cultivava uma mística profunda
e a oração contemplativa. Mas seu caminho estava destinado à outra
causa: ser missionária nas selvas para resgatar do esquecimento os “infiéis”,
ou as suas “chagas”, como ela chamou as pessoas que viviam sem alimento
espiritual e sem conhecer a Deus.
Após o fechamento do colégio Laura foi
nomeada professora da escola de La Ceja onde ficou por pouco tempo: em 1907 a
população lhe solicitou a fundação de um colégio em Marinilla. Soube que seria
missionária em 1908, quando, acompanhada por algumas amigas e pelo sacerdote Ezequiel
Pérez, viajou para Guapá, trilha de Chocó.
Seu trabalho missionário se sentiu mais
estimulado quando o Papa São Pio X escreveu a encíclica “Lacrimabili statu indorum”, na qual exortou a Igreja da América a
se interessar pelos índios e dar facilidades para o trabalho com eles.
Aos 39 anos,
Laura decidiu mudar-se para o povoado de Dabeiba, com a aprovação do Bispo de
Santa Fé, Mons. Maximiliano Crespo Rivera, e em companhia de seis catequistas passou
a trabalhar com os indígenas Emberá Katíos.
“Na busca dos índios era incansável.
Lembro-me que viajávamos uma vez pelos tortuosos caminhos de uma missão de
Urabá... O dia havia sido como eram então os dias de apostolado nas selvas: lombo
de mula, sol calcinante, pouca comida, muito entusiasmo e ânimo na procura dos katíos”,
relata a Irmã Maria de Betânia.
À medida que sua missão continuava nas
inóspitas selvas, Madre Laura desejava fundar centros missionários, sem
importar-se com a falta de comodidades ou com as dificuldades. Tão pouco lhe
importava sua precária saúde, nem viajar para Roma para buscar o decreto laudatório
para a congregação que queria fundar. Como sempre, conseguiu o que se propunha:
depois de sua morte, em 1968, a congregação de direito pontifício, Missionárias
de Maria Imaculada e Santa Catarina de Siena,
foi aprovada.
A Congregação de
Missionárias de Maria Imaculada e Santa Catarina de Siena foi fundada por ela em
14 de maio de 1914, com o grupo de
catequistas que a acompanhavam nas missões. A partir de então se dedicou a
estabelecer com as irmãs missionárias centros próximos das comunidades
indígenas, cuja casa principal ficava em Dabeiba. Estabeleceu as constituições
da Congregação e em 1917 as apresentou ao bispo Maximiliano Crespo Rivera. Em
1919 fundou em San José de Uré uma missão para trabalhar com os negros da região.
Em 1939 o presidente Eduardo Santos a condecorou com a Cruz de Boyacá.
Escreveu mais de
30 livros nos quais narrou suas experiências místicas com um estilo compreensível
e atraente. Redigiu para
suas religiosas as “Vozes Místicas”, inspirada na contemplação da natureza, e outros
livros, como o Diretório ou guia de perfeição, que ajudam as Irmãs a viver em harmonia
entre a vida apostólica e a contemplativa.
Sua autobiografia se titula "História da Misericórdia de Deus em uma alma", é sua obra-prima,
livro de confidências íntimas, experiência de suas angústias, desolações e ideais;
vibrações de sua alma em contato com Deus, vivências de sua luta titânica para levar
a cabo sua vocação missionária. Ali mostra sua “pedagogia do amor”, pedagogia
acomodada à mentalidade do indígena, que lhe permitiu penetrar na cultura e no
coração do índio e do negro de nosso continente.
Madre Laura viveu para a Igreja, que amava entranhadamente, e para estender
suas fronteiras no meio de dificuldades, sacrifícios, humilhações e calúnias.
Depois de
infatigáveis jornadas missionárias, Madre Laura passou seus últimos 9 anos de vida em
uma cadeira de rodas, sem deixar seu apostolado, dando o exemplo, a palavra e os
escritos. Faleceu em Medellin em 21 de outubro de 1949, após uma longa e penosa
agonia. A Congregação de missionárias contava com 93 casas no momento de sua
morte, com 467 religiosas trabalhando em três países.
A causa para a
beatificação da Madre Laura foi introduzida em 4 de julho de 1963 pela
Arquidiocese de Medellin. João Paulo II a beatificou no dia 25 de abril de 2004;
foi canonizada em 12 de maio de 2013, é a primeira santa colombiana. Sua festa
se celebra em 21 de outubro.
A tradição oral
que se conserva entre as Lauritas, como são chamadas atualmente suas
religiosas, a descreve como uma mulher sensível, com a ingenuidade de criança e
sumamente humilde. Suas filhas espirituais estão certas de que ela se oporia a
todo o barulho que se fez pela sua canonização, porque sempre quis passar despercebida.
Para ela o mais importante era o trabalho missionários junto aos índios e aos
desvalidos. Também estão convencidas de que se antes as ajudava a partir do
Céu, agora poderá com mais ênfase dizer: “Eu
tenho sede de acalmar Tua sede”.
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Santa Laura idosa |