A oração que segue foi composta há 42
anos, por ocasião do 150º aniversário da independência do Brasil, mas é tão bela
que vale a pena lê-la e refletir sobre o que nossa Nação foi, é e há de ser
sempre: Terra de Santa Cruz.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do
Brasil, rogai por nós!
Prece
no sesquicentenário
Ó
Senhora Aparecida.
Ao aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência
independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil.
Cento e cinquenta anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze
para uma pessoa: isto é, a transição da adolescência, com sua vitalidade, suas
incertezas e suas esperanças, para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e
sua capacidade de realizar.
Neste limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro
marco. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância,
determinam o rumo dos acontecimentos presentes, e têm em suas mãos os fios com
que se tece o futuro dos povos.
Agradecimento
Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos
agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de
Deus onipotente.
Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que
nele pusestes.
Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão
bem se fundiu neste grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente
cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições
trazidas por habitantes de todas as latitudes.
Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o
momento bendito da Primeira Missa.
Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de
cultura, de preces e de trabalho, do que desavenças e de guerras.
Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da
vitória.
Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças
de grandeza.
Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas,
e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do
porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo
caminho de ascensão e de êxito.
Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a
compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza,
que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.
Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa
História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam
problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos.
Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã
das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do
mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.
Prece
Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e
desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.
Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País
profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como
na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar que mantêm
em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.
Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão. E, além do perdão, Vos
pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer
suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.
Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção. Quanto confiamos nela!
Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do
filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e
fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas
venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.
Quanto é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa
bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe
Virginal do Homem-Deus!
Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas,
concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso
Brasil. Amai-o mais e mais.
Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos
outorgastes. Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre
nos concedestes.
Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas,
sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.
Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo
Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.
De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis,
em nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da
bem-aventurança eterna.
*
* *
Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de
afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde
encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a
qualquer louvor humano?
De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que
amorosamente aqui repetimos: — “Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu
honorificentia populi nostro”. Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra
deste povo que Vos ama.
*
* *
A perspectiva do sesquicentenário sugeriu esta prece a meu coração de
brasileiro. Resolvi não adiar sua publicação. Espero retomar na próxima semana
o assunto que começara a desenvolver no domingo passado.
Plinio Corrêa
de Oliveira Folha de S.
Paulo, 16 de janeiro de 1972.
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