Irmã Ana Madalena Rémuzat nasceu em
Marselha a 29 de novembro de 1696, no seio de uma família profundamente cristã
e piedosa; foi batizada no mesmo dia na igreja de Accoules. Muito pequena
expressou seu desejo de ser religiosa. Depois de uma oposição inicial e diante
de sua insistência, em 1705, os pais concordaram em deixá-la entrar por algum tempo
no segundo mosteiro da Visitação de Marselha, fundado em 1652, onde já se
encontrava uma parenta.
No ano seguinte, Madalena recebeu a Primeira Comunhão e foi cumulada de
favores espirituais. Em 1708, Nosso Senhor Jesus Cristo a chamou a uma maior
fidelidade e pediu, na linguagem da época, que fosse a sua "vítima",
ou seja, sua mensageira, sua enviada. Assim começou um período de renúncia e
mortificação. Jesus lhe aparecia frequentemente, conversava com ela; apesar
disso, ela sofria provações e a noite do espírito.
Em 1709, por ocasião de uma visita ao mosteiro, a menina pediu a seu pai
para voltar para casa. Na família, a amável menina
dedicava-se com cuidados especiais a seus numerosos irmãos e irmãs.
Toda a família passava o verão no castelo
da Glacière, situado perto de Auriol. Lá, como em Marselha, a oração, o
trabalho e as obras de caridade ocupavam uma larga parte dos dias de Madalena.
Enfeitar os altares, ensinar às crianças da aldeia, visitar os pobres doentes,
eram suas práticas diárias.
Madalena passou assim dois anos no mundo,
exercendo um verdadeiro apostolado sobre todos os que se aproximavam dela. A
beleza de sua alma se refletia em seu rosto marcado por uma virginal modéstia.
Suas maneiras afáveis e dignas, sua conversa edificante impunham respeito e
faziam sentir a presença de Deus. Uma irradiação toda divina parecia fazer-se
em torno da piedosa jovem e ela tornou-se, sem saber, objeto de uma espécie de
veneração; ela adquirira uma verdadeira influência em sua cidade natal que, no
momento apropriado, iria lhe facilitar a realização da ordem celeste.
Nesses dois anos conhecera e passou a ser dirigida espiritualmente pelo
Pe. Claude Francis Milley, SJ.
No dia 2 de outubro de 1711, Madalena ingressou como postulante no
primeiro mosteiro da Visitação de Marselha. Neste mosteiro, fundado em 1623 e
chamado das Grandes Marias, desde 1691 havia um oratório dedicado ao Sagrado
Coração de Jesus, substituído em 1696 por uma capela.
Em 14 de janeiro de 1712, recebeu o hábito das noviças durante uma
cerimônia presidida por Mons. de Belsunce, o qual a chama pela primeira vez de
Ana Madalena. Em 14 de agosto de 1712, sua irmã Ana ingressou no mosteiro, e
três meses depois vestiu o hábito com o nome de Ana Vitória († 1760). Ana
Madalena pronunciou os votos perpétuos em 23 de janeiro de 1713.
No dia 17 de outubro de 1713, Nosso Senhor
confiou a Irmã Ana Madalena uma missão, conforme
ela contou em carta dirigida a seu diretor, em 14 de outubro de 1721: “Sexta-feira
próxima, dia da morte de nossa Venerável Irmã Alacoque, fará oito anos que
Jesus Cristo me fez conhecer, de maneira especial e extraordinária, seus
desígnios sobre mim, com respeito à glória de seu Coração adorável. Se esta
carta vos for entregue antes da sexta-feira, vós me fareis o favor de não
esquecer, no altar, de dar graças a Deus”.
Ao confiar a Irmã Ana Madalena sua missão
no dia do aniversário da morte de Santa Margarida Maria, Nosso Senhor dava a
entender que aquela devia, ao realizar sua missão particular, continuar e
completar a missão desta.
Assim começou para ela um tempo de provação e sofrimento, mas também de
consolo na oração. Apóstola e vítima, ela era assim mediadora que intercedia
pela salvação dos pecadores. Muitos vêm consultá-la no parlatório do mosteiro. Deus queria que ela exercesse junto às
almas uma espécie de ministério excepcional, único mesmo na história da
Visitação. Para isso, Ele tinha dotado sua serva com os dons da profecia, de
uma visão sobrenatural das consciências e do conhecimento dos acontecimentos
que se passavam ao longe. Inumeráveis fatos o provaram e viu-se, então, em
Marselha, um espetáculo inaudito: uma jovem religiosa, de dezenove a vinte anos
servir de árbitro nas questões mais obscuras e decidir com tal autoridade que
toda objeção desaparecia diante de sua palavra: “A Irmã Rémuzat disse”.
Em 1716, durante um êxtase, ela obteve permissão para ver a Santíssima
Trindade. Seguem numerosas visões e colóquios com Jesus. Um ano depois, com a
aprovação e o apoio de Mons. Belsunce, ela redigiu os estatutos da Associação
da Adoração Perpétua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em 30 de março de 1718, com a aprovação do Bispo de Marselha, são
impressos os regulamentos e os exercícios piedosos, e a Associação vem à luz no
mês de abril. As inscrições logo chegaram aos milhares e vários mosteiros da
Visitação criaram a Associação em suas igrejas. Foi neste mesmo ano em que as
doutrinas jansenistas se espalhavam em Marselha com virulência, que durante as Quarenta
Horas Nosso Senhor Jesus Cristo milagrosamente apareceu no Santíssimo
Sacramento exposto na igreja dos Frades Observantes Franciscanos em frente à
multidão reunida para a oração.
Ana Madalena Rémuzat foi advertida
deste evento por via sobrenatural, bem como de um castigo que viria se a cidade
não prestasse atenção à misericórdia do Senhor. Ela mencionou esta mensagem ao
seu diretor espiritual, Pe. Milley, que a transmitiu ao Mons. Belsunce.
Em maio 1719 a nova superiora do mosteiro, Madre Francisca-Benigna de
Orlyé dos Santos Inocentes († 1738) nomeou Irmã Ana Madalena superintendente da
comunidade. Seus sofrimentos aumentaram e não vão deixá-la mais até sua morte.
Passava noites inteiras em oração diante do Tabernáculo.
Em julho 1720 a peste atingiu Marselha. Em outubro, enquanto ela estava
em adoração, Jesus mostrou-lhe que graças a este flagelo seria estabelecida uma
festa em honra do Sagrado Coração, e, alguns dias depois, Ele indicou as
condições necessárias. A mensagem foi enviada imediatamente ao Mons. Belsunce,
que no dia 22 do mesmo mês publicou a ordem em que formalmente se instituía, na
diocese de Marselha, a festa do Sagrado Coração, e em 1º de novembro seguinte -
é a primeira no mundo – consagrou solenemente a cidade e a diocese ao Sagrado
Coração Jesus.
A peste, que parecia enfim superada, reapareceu em 1722 e foi somente
após os vereadores terem feito voto de participar desta festa a cada ano que o
flagelo desapareceu. Não tendo se poupado nos cuidado aos doentes da epidemia,
Pe. Milley morreu da mesma doença. Seguindo o conselho de Mons. Belsunce, Ir.
Ana Madalena foi colocada em contato epistolar com o Pe. Girard, que mais tarde
se tornou seu diretor espiritual.
Em 1723, durante os retiros anuais, ela tem uma nova visão da Santíssima
Trindade. Em 1724 ela recebeu os estigmas da Paixão, mas pediu a Jesus que
estes sinais permanecessem invisíveis.
Em maio de 1725, a Madre Nogaret († 1731), uma antiga superiora do
mosteiro, assumiu o comando e substituiu a Madre dos Santos Inocentes. Em maio
1728, Madre Nogaret nomeou-a tesoureira do mosteiro, cargo no qual seria
incansável.
Em janeiro 1730, Irmã Ana Madalena caiu gravemente doente e morreu no
dia 15 de fevereiro seguinte – pedira que lhe recitassem a Ladainha do Sagrado
Coração que ela mesma tinha composto. Mons. Belsunce presidiu o funeral e o
sepultamento, enquanto a multidão, chorando, repetia incessantemente:
"Morreu a santa!". Desde então, muitos milagres lhe foram atribuídos.
Ela é considerada a herdeira de Santa Margarida Maria Alacoque e por isso é
chamada de apóstola, a propagandista do Sagrado Coração.
A Igreja a declarou Venerável e a causa de sua beatificação, introduzida
em 24 de dezembro de 1891 e, em seguida retomada em 1921, ainda está sem
resultado. Então, na Quinta-feira Santa, 9 de abril de 2009, Mons. Georges
Pontier, Arcebispo de Marselha, nomeou postulador da causa o Mons. Jean-Pierre
Ellul, reitor da Basílica do Sagrado Coração, onde está o coração de Irmã Ana
Madalena desde que as Visitandinas de São Jerônimo deixaram Marselha para se
juntar ao mosteiro de Voiron.
No dia 15 de fevereiro de 2014, o processo de beatificação e canonização
foi apresentado na Basílica do Sagrado Coração.