As informações sobre Santa Huna constam da “Vita Deodati”, escrita
entretanto três séculos e meio depois de sua existência; esta “Vita” narra as obras
de São Deodato (St. Dié), bispo escocês peregrino e de certa forma também legendária.
De acordo com Ruyr e Riguet, Huna
pertencia à família real da Borgonha. Um manuscrito preservado na freguesia de
Hunawihr sublinha que ela nasceu em torno de 620, e descendia de São
Sigismundo, rei da Borgonha. O sangue de Santa Odila corria nas veias desta
nobre dama.
Ela viveu no século VII, aos pés do
Vosges, na aldeia da Alsácia que deve a ela o seu nome, Hunawihr. Ela se casou
com um piedoso senhor alsaciano chamado Hunon. As ruínas do seu castelo ainda
são visíveis a três léguas de Colmar, numa encantadora região entre Zellenberg
e a 1 km ao sul de Ribeauvillé.
Eles construíram uma igreja em honra de São
Tiago Maior, que mais tarde legaram para a Abadia de St-Dié. O nascimento de um
filho iria colocar a castelã em relacionamento com São Deodato.
É muito provável que os senhores de Hunawihr
estivessem estáveis em terras que haviam pertencido a uma colônia romana, e nas
quais havia um pequeno estabelecimento termal. Isto permitiu-lhes cuidar dos
doentes e dos pobres que tinham se refugiado nas ruínas dos antigos banhos.
Os seus parentes, os Duques da Alsácia,
protegiam os monges escoceses de São Columbano, itinerantes naquela região (o
território ao longo dos séculos pertenceu, de acordo com os acontecimentos
políticos, de vez em quando à França ou à Alemanha, hoje é francês). Entre eles
havia o já mencionado São Deodato, Bispo de Nevers, que morava então na
Alsácia.
Como uma outra Santa Ana, Huna
pediu a Deus uma posteridade. O Senhor atendeu seus pedidos e ela deu à luz um
filho. Huna o ofereceu ao Eterno e o consagrou ao serviço do altar. Este jovem
rebento de uma ilustre família foi batizado por São Deodato. O santo prelado
lhe deu seu nome e o recebeu mais tarde no número de seus religiosos em
Ebersmunster, onde ele morreu em odor de santidade. A história quase não fala
dele.
São Deodato, que governava então as abadias
de Ebersmunster e de Jointure, na Lorena, visitava com frequência o castelo de
Huna e contribuía, pelo seu exemplo e suas exortações, para o progresso desta
humilde serva de Deus.
Como seu único filho ingressara
no convento de Ebersheimmünster, ela transferiu toda sua ternura para os pobres
e infelizes, dedicando-se a provê-los de alimento e vestimenta, tratando dos
doentes, inclusive lavando suas roupas de cama, muitas vezes purulentas, na
fonte próxima ao castelo.
Seu castelo era asilo onde se
refugiavam os necessitados, porque ela não só lhes dispensava dinheiro, mas cuidava
de seus enfermos fazendo os serviços mais humildes; muito tempo após sua morte
as pessoas mostravam a fonte onde ela não se envergonhava de ir lavar as roupas
dos pobres, o que lhe valeu o sobrenome de Santa Lavadeira.
Diz-se que seu castelo frequentemente
estava repleto de uma multidão de pobres que vinham lhe expor suas penas. Huna
os recebia sempre com uma extrema boa vontade que a todos tocava, procurando
consolá-los, melhorar sua situação e contribuindo para isto de todas as
maneiras. A confiança que o povo punha nela ia a tal ponto, que muitas vezes a
colocavam como árbitro de contendas, e que se submetiam às suas decisões sem
murmurar.
A “Vita Deodati” considera Hunon
como o principal benfeitor da Abadia de St-Dié; Huna é nomeada apenas como sua
esposa. Mais tarde, na tradição popular, Huna assumiria o papel mais importante
dentre os piedosos cônjuges por sua intensa vida de caridade, continuada ao
longo dos anos de sua viuvez até sua morte em 679.
Huna mereceu o nome de princesa santa
durante sua vida e sua morte colocou de luto e de aflição todos que a haviam
conhecido.
Em 1520, a pedido de Ulrich, Duque de
Württemberg, senhor do lugar, do bispo de Basileia e dos cônegos de St-Dié, o
Papa Leão X autorizou a ‘elevação’ dos restos mortais de Huna conservados em Hunawihr
(no primeiro milênio a cerimônia era considerada a canonização do personagem
reverenciado, sendo proclamado santo no âmbito da diocese requerente).
Mas pouco
tempo depois o Duque Ulrich (1487-1550), aderiu à Pseudo-Reforma Protestante, e
já em 1540 as relíquias de Santa Huna foram profanadas e espalhadas pelos
moradores que se tornaram seguidores do pseudo-reformador protestante Zwinglio
(1484-1531).
Em 1865, a diocese de Estrasburgo, a atual capital
do departamento francês do Baixo Reno, que inclui a Alsácia, pode inscrever no
Livro Litúrgico a festa da santa viúva no dia 25 de abril, o dia da comemoração
da ‘elevação’ de 1520. Outras regiões da Alsácia a recordam em dias diferentes,
como o dia 15 de abril.
Pelo milagre operado por São Deodato, que fez
jorrar água de uma fonte para ajudar Huna, que lavava pessoalmente as roupas
dos pobres, ela é considerada a padroeira das lavadeiras na Alsácia.
A representação mais venerável
de Santa Huna é a dos vitrais da Catedral de Saint-Dié, único precioso vestígio
do final do século XIII. Santa Huna aí é representada com seu marido, ao lado
de São Deodato com a cruz e a mitra.
Fontes: (Segundo a história dos
santos de Vosges, obra do Cônego Laurent "Eles são nossos
antepassados" - Diocese de Saint-Die); www.santiebeati.it/
Les Petites Bollandistes: Vies des saints, tome 6.
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