Não era só nos
mosteiros e conventos que se refugiava e florescia a santidade da nossa Idade
Média. Também, no palácio real, três filhas de D. Sancho I (1154-1211) surgiram como três plantas eleitas
de Deus que, bem fidalgamente, souberam ataviar-se com a riqueza e beleza das
virtudes cristãs, para ficarem de exemplo aos reis e aos povos. Nascidas e
educadas na corte chegaram mesmo, duas delas, a contrair matrimônio, com algum
príncipe. Mas ainda assim, tais voltas deu a fortuna que vieram todas três a
renunciar depois ao mundo, seus cômodos e enredos, para se consagrarem à
perfeição religiosa. Foram elas:
Beata Sancha (1180-1229)
Nascida em Coimbra, foi educada, como suas
irmãs, na piedade e austeridade dos bons tempos. Animada pelo mais alto
espírito de fé e zelo do serviço de Deus, logo que assegurou a posse da vila de
Alenquer, que seu pai lhe legara, o seu primeiro cuidado foi fundar nas
proximidades, na serra de Montejunto, um convento de Dominicanos; e outro de Franciscanos, na mesma vila, tudo
pela sua devoção e especial proteção que dispensava às ordens mendicantes.
Com igual zelo e devoção edificou também a
Igreja de Redondo. Para si levanta o convento de Celas, em Coimbra, onde toma o
hábito de Cister, para levar, sob aquela regra, uma vida de oração e
austeridade até à morte, a 13 de Março de 1229.
Beata Teresa (1177-1250)
Casou com Afonso
IX de Leão e teve três filhos (Sancha, Dulce e Fernando), mas o casamento foi
considerado nulo por consanguinidade por
Celestino III, (1181-1198). D. Afonso casa de novo com Berengária de Castela e tem cinco filhos, mas
este casamento é considerado nulo pelo mesmo motivo que o anterior.
D. Afonso acaba
por declarar guerra ao Rei de Portugal sustentado em supostos direitos
decorrentes do casamento desfeito e Da. Teresa regressa então a Portugal e
recolhe-se no Mosteiro de Lorvão onde existia já um convento beneditino que, no
ano de 1200, ela restaura e agregar a si
outras companheiras e onde toma o hábito.
Esta comunidade chegará a ter mais de trezentas freiras.
À morte de D.
Afonso, em 1230, abre-se a disputa entre os filhos dos seus dois casamentos,
até porque D. Afonso havia deserdado o filho primogênito do segundo casamento e
legado o Reino às duas filhas de Teresa.
Da. Teresa
intervém nesta disputa e permite que Fernando III de Castela assuma o trono de
Leão. Esta não é, aliás, a única querela dinástica em que Teresa tem um papel
relevante; vêm afligir-lhe ainda os últimos anos as contendas de
seus sobrinhos, D. Sancho II e D. Afonso III. Foi a sua intervenção que
pôs um fim nas contendas entre eles. Nada, porém,
diminuiu, antes tornou mais meritória a sua piedade com Deus, e contínua caridade
com os humildes e desprotegidos.
Beata Mafalda (1195-1256)
Foi também casada neste caso com Henrique
I de Castela. Na menoridade dele, cuja morte deixou livre Da. Mafalda, esta,
preferindo também a tudo o recolhimento e vida do claustro, adaptou, para a
ordem de Cister, o convento beneditino de Arouca, onde se consagrou ao serviço
de Deus para todo o resto da sua vida.
O culto de Deus e da virtude, e a contínua
solicitude de bem-fazer são todo o seu empenho e serão o destino de todos os
seus bens, cuja distribuição testamentária atinge os mosteiros de Arouca,
Tuias, S. Tirso, Paço de Sousa, Vila Boa do Bispo e Alcobaça, mais as ordens do
Templo, Hospital e Avis, Dominicanos do Porto e as Sés do Porto e Lamego.
Com tantas obras de piedade e
misericórdia, a sua memória, como a de suas santas irmãs, ficou abençoada pela
devoção dos fiéis, com culto desde tempos imemoriais que veio a ser reconhecido
por Pio VI (1775-1799) em março de 1792.
Teresa e Sancha foram Beatificadas pelo Papa Clemente
XI (1700-1721), a 13 de dezembro de 1705, pela Bula Sollicitudo
Pastoralis Offici, celebrando-as a
Igreja nos dias 17 de junho e 11 de abril, respectivamente.
Mafalda foi Beatificada pelo Papa Pio VI
em março de 1792 e a sua festa é no dia 2 de maio.
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