Irmã
Irene Stefani, no século Maria Mercedes Stefani, nasceu no dia 22 de agosto de
1891 em Anfo, no Val Sabbia (Brescia, Itália).
Em 19 de junho de 1911, aos 19 anos de idade, deixou sua terra natal,
Anfo, onde já era conhecida como “o anjo dos pobres”, e se dirigiu a Turim onde
o Beato José Allamano, o fundador do Instituto dos Missionários da Consolata,
acabava de dar inicio também às Missionárias da Consolata. Ele a recebeu no
pequeno grupo das primeiras jovens desejosas de entregar a vida a Deus por meio
da obra missionária.
Terminada sua preparação, até fins de 1914, com confiança e humilde
valentia, aceitou com entusiasmo o mandato para as missões do Quênia, consciente
das dificuldades que a esperavam. Seu coração não treme, porque está confiante
em Deus. Em 29 de janeiro de 1914, dia de sua consagração a Deus, Irmã Irene condensou
em poucas linhas seu programa de vida: “Só
Jesus! Tudo com Jesus... Toda de Jesus... Tudo para Jesus... Nada para mim”.
Chegou ao Quênia em janeiro de 1915, experimentou a pobreza extrema, o
cansaço, a solidão. Teve que se esforçar para aprender um idioma novo e
penetrar em uma cultura muito diferente. Irmã Irene encontrou espaço em seu
coração para aquele mundo ao qual se entregava com todo seu ser: é mulher
humilde, cheia de fé ardente, de caridade intrépida e esperança inquebrantável
para anunciar que Jesus é o Filho de Deus e o Salvador da humanidade.
Em 1915, poucos meses após sua chegada ao Quênia, os efeitos da 1ª
guerra mundial são sentidos nas colônias inglesas e alemãs, e envolvem
diretamente numerosos missionários presentes na África Oriental.
A partir de agosto de 1916, Irmã Irene exerce a tarefa de enfermeira da
Cruz Vermelha no Quênia e na Tanzânia nos hospitais de campo erguidos pelos “carriers”,
os trezentos mil e mais indígenas mobilizados pelos ingleses para defender e
alargar suas fronteiras. Com piedade e abnegação ela passa dias e noites nas
grandes tendas onde se amontoam até dois mil enfermos e feridos. Naquelas condições
miseráveis falta tudo, porém Irmã Irene supre a falta de remédios e de assistência
médica multiplicando os gestos de caridade e de afeto maternal a cada um desses
pobres jovens. “Essa irmã é um anjo”, eram os comentários.
No fim da guerra Irmã Irene voltou para o Quênia, entre seus Agikuyus, e
se entregou totalmente à obra de evangelização com inesgotável espírito
apostólico. Ela era mestra, enfermeira, parteira, visitadora familiar e a todos
levava amor e gestos concretos de solidariedade. Tanto que as pessoas começaram
a chamá-la com carinho “Nyaatha”, que significa “a mãe toda misericórdia”.
Ao completar 39 anos de idade, diante das necessidades incalculáveis da
obra missionária e sempre mais consciente de sua pequenez, Irmã Irene sentiu um
chamado interior para oferecer a Deus o supremo sacrifício de sua vida para o
advento do seu reino. Duas semanas apenas depois do seu oferecimento,
assistindo um doente de peste que morreu em seus braços, contraiu a mesma
doença que em poucos dias a levou a morte, vítima de sua caridade heroica.
Era o dia 31 de outubro de 1930. Enquanto a dolorosa notícia de sua morte
se difundia, as pessoas aturdidas e consternadas acorriam em massa à missão
para ver seu rosto pela última vez, superando o temor supersticioso dos mortos,
ainda muito arraigado naquele tempo.
Meio século depois, a Igreja de Nyeri (Quênia) e a de Turim pediram à Congregação
dos Santos em Roma que sejam reconhecidas as virtudes heroicas de Irmã Irene Stefani,
para a glória de Deus e exemplo aos fieis.
Seus restos, exumados em 1995, repousam na igreja da Consolata em Nyeri Mathari
(Quênia). Ela foi proclamada Venerável em 2 de abril de 2011. Após o
reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão, Irmã Irene Stefani
foi beatificada em 23 de maio de 2015.
A água que se multiplicou
O milagre aprovado pela Igreja é atípico e
raro: uma pia batismal utilizada em batismos, com restos de água,
misteriosamente não se esgotou nos três dias em que foi consumida por cerca de
250 pessoas escondidas numa igreja de Nipepe (Moçambique), que haviam fugido
dos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
Irmã Anair Voltolini, catarinense de
Blumenau, que foi missionária por oito anos em Moçambique e hoje é a Provincial
da Congregação da Consolata em São Paulo, conhece bem o milagre, pois sua
missão estava distante apenas 130 km de Nipepe e ainda hoje há inúmeras
testemunhas do fato. Ela conta “que apenas havia algumas bolachas para todas as
pessoas. Não havia banheiros. Duas salas da igreja foram reservadas para as
necessidades fisiológicas dos homens e mulheres. A única água existente eram
seis litros que ficaram armazenados num tronco da pia batismal. No domingo
anterior tinha havido batizados na paróquia. Durante estes três dias, todas as
250 pessoas tomaram dessa água que nunca secava, inclusive durante o evento
nasceu uma criança que foi lavada com a mesma água”.
“Um verdadeiro milagre científico. Depois
de três dias, um homem saiu da igreja e foi obrigado a denunciar os demais. Os
guerrilheiros entraram no recinto e obrigaram a homens e mulheres a viajar com
eles até a base da Renamo, 200 km distante da vila”.
O padre Frizzi estava celebrando a missa
quando se deu o ataque. Os guerrilheiros, depois de pilharem a Missão e as
casas dos catequistas, obrigaram o missionário a escolher um grupo de homens
para carregarem os bens roubados e acompanhá-los até à sua base. O padre se
negou proceder a tal escolha e evitou a todo o custo que alguém fosse levado
com eles. Segundo a tradição maúa, sentou-se no chão, como sinal de recusa.
Seguiu-se um longo impasse. O missionário
negava-se a deixar partir a sua gente e os guerrilheiros não queriam voltar
sozinhos. Ao final, alguns ficaram com o padre e as demais famílias com
mulheres e crianças foram forçadas a ir para a base. Passados dois meses, todos
fugiram e voltaram para Nipepe são e salvos. Um grande milagre da Irmã Irene.
Publicado
no Jornal digital Parceiros das Missões, n.35, maio de 2015
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