Pe. David Francisquini (*)
Ao
considerar o universo em sua unidade e variedade, em sua perfeição e esplendor,
em sua hierarquia harmônica e matizada, não se pode deixar de admirar nas
criaturas a grandeza sem medida de uma ordem perfeita e equilibrada. Na sua
simplicidade e alvura, o lírio, por exemplo, foi enaltecido pelo divino
Salvador, quando disse que nem Salomão em toda a sua pompa e majestade se
vestiu como um deles.
O sol no seu esplendor faz as criaturas
ser aquilo que elas são: um encanto inigualável para o próprio Criador, para os
anjos e para os homens. A gota de orvalho, que não existiria ou não seria
vista sem a luz, constitui um pequeno mundo de maravilhas, sobretudo quando
repousam sobre graciosas e coloridas pétalas de rosa, que nenhuma troca
amistosa de cortesias emula em beleza, leveza e graça.
O cristal puro e alvo, atravessado pelos
raios do sol é capaz de transformar um ambiente num mundo de fadas. Assim Deus,
na sua infinita sabedoria, criou o mundo para cercar o homem de perfeições e de
maravilhas que fossem luzes reflexas d’Ele e assim tributar-Lhe as devidas
homenagens. Em outro patamar da hierarquia encontram-se as pedras preciosas e
semipreciosas, como o jaspe, a esmeralda, a ametista, o brilhante, entre
outras.
Entre os metais, o ouro e a prata são
símbolos que refletem realidades superiores, mais altas, mais nobres e
distintas. Em seguida, podemos contemplar as flores, as plantas, os arbustos e
as árvores. Em outro escalão as aves, os pássaros e tudo que enaltece a Deus e
proclama a Sua magnificência dentro desta ordem admirável. Há, entretanto, algo
mais além, pois tal ordem foi posta por Deus para refletir a Sua obra-prima,
Maria Santíssima.
Para utilizar linguagem figurada e
simbólica, a Mãe de Deus é um oceano de perfeições e de graças por ser Ela quem
é. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, ao
descrevê-La assim se expressou: “Deus Pai ajuntou todas as águas e
denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria. Este grande Deus
tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo,
brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é
Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens
se enriquecem”.
Convém
ressaltar que Cristo, por ser Deus, não podia ter pecado original. Maria
Santíssima foi isenta do pecado por um especial privilégio outorgado pelo
próprio Deus, por ter sido eleita para d’Ele se tornar Mãe. Ao agir assim, a
Santíssima Trindade fez o caminho inverso da primeira mulher que introduziu o
pecado no mundo por sua desobediência, dispondo que Maria fosse o contrário
dessa mulher ao inocentá-La e isentá-La da nódoa do pecado original. O que Eva
perdeu por orgulho e desobediência, Maria conquistou pela sua humildade e
obediência, merecendo que o próprio Deus operasse n’Ela maravilhas.
O Anjo
Gabriel denominou-a de “cheia de graças” e Santa Isabel, “bendita
entre todas as mulheres”. A inteligência de Maria não se ofuscou, sua
vontade não se enfraqueceu, e Ela nunca teve inclinação para o mal. Maria
conquistou todas as graças e se tornou agradável a Deus. E pelo privilégio
singular de ter sido concebida sem pecado, nasceu imaculada – portanto, com o
direito, por nascimento e por conquista, à prerrogativa perfeita de ser Mãe de
Deus, para que seu Filho redimisse o gênero humano das consequências do pecado
original.
Após
afirmar que todos pecaram em Adão, São Paulo sustenta com fundamento que, na
vontade de Adão, como chefe e cabeça do gênero humano, se congregavam todas as
vontades. Maria Santíssima, fazendo parte do gênero humano, pertenceu a uma
raça pecadora, embora sem ter jamais pecado, pois Deus, por privilégio
singular, A preservou no primeiro instante de vida de contrair a nódoa
original, já que era predestinada a ser a Mãe do Salvador da humanidade.
Repugna ao próprio Deus conviver e ser gerado por uma mãe pecadora, pois Jesus
Cristo deveria ser a coroa e a perfeição de todas as criaturas.
Por isso
a iconografia representa Maria Santíssima esmagando a cabeça da serpente
infernal e tendo os braços abertos para indicar que Ela trouxe o Autor da
graça, o Redentor divino que nos concedeu a Redenção e nos abriu as portas do
Céu. No dia 8 de dezembro, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma de sua
Imaculada Conceição. Encerro este artigo, prestando meu tributo filial à Mãe de
Deus, rogando-lhe estender Sua valiosa proteção a todos seus fiéis devotos.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de
Maria — Cardoso Moreira (RJ)
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