Rafaela Maria da Luz Estefania de Ybarra y Arámbarri nasceu em Bilbao,
em 1843, no seio de uma das famílias mais poderosas de Vizcaya. Seu pai havia
criado as primeiras empresas mineiras que logo dariam lugar aos Altos Fornos de
Vizcaya. Era a mais velha de cinco irmãos. Sua família era profundamente católica
e lhe inculcou as virtudes humanas que foram a base de uma vida excepcional.
Pertencia à alta sociedade de Bilbao.
Os sinais do amor divino nela foram precoces. Viveu a experiência de sua
Primeira Comunhão com grande alegria: “Comunguei
com grande fervor. Recordo muito bem haver experimentado grandes consolos
espirituais e haver chorado pensando na Paixão de Jesus”. Não obstante, no
meio de sua piedade, havia também espaço para certas vaidades que, em geral,
são particularmente atraentes na juventude.
Ela mesma confessou seus bons hábitos e também suas debilidades: “Agradava-me
ser vista e bem tratada. O luxo não era exagerado para minha posição social. No
entanto, gastava bastante em tudo. Agradavam-me muito as joias. Porém,
conservava um fundo de piedade natural. Rezava o Rosário todos os dias com os
empregados; lia meus livros de piedade e era compassiva com os necessitados”.
Aos 18 anos se casou com José Villalonga y Gipuló, engenheiro industrial
de procedência catalã, homem virtuoso, sem cuja generosidade e respeito não teria
podido levar a cabo a obra que empreendeu. Tiveram sete filhos, dos quais dois
morreram cedo.
Quando do falecimento de sua irmã Rosário, Rafaela tomou para si o
cuidado de seus cinco sobrinhos. Nesta família de dez crianças se desenvolveu o
trabalho familiar desta beata. Sua influência se estendeu à sua numerosa
família, e era especialmente apreciada pelo trato com os doentes, aos quais
atendia cumulando-os de paz e consolo. Tornou seu desejo em realidade: “Que eu seja a cada dia melhor esposa,
melhor mãe, melhor filha”.
Ela também teve que desprender-se
repentinamente de dois de seus filhos, além do Benjamim, que foi atingido por
uma terrível febre e dolorosa paralisia infantil. Esse fato, Dom Bosco a havia
vaticinado ao encontrá-la em Barcelona: "Senhora, este menino será sua pequena cruz"; a mãe teve que
lidar com essa dor e apreciar a grandeza do pequeno que um dia disse-lhe:
"mamãe, tu és, pelo menos, 'serva de
Deus'".
Sua união com Deus alcançou níveis próprios aos santos. Seus escritos
sobre experiências espirituais, bem como sua numerosa correspondência, refletem
uma mulher cheia de amor a Jesus Cristo e a seus semelhantes.
Rafaela tinha tal devoção ao Santíssimo Sacramento, que cada vez se
sentia mais impelida à união com Ele e a realizar o maior bem que lhe fosse
possível. Esse momento chegou quando, como resultado da ocupação de seu
marido – promotor da empresa “Altos Hornos”, que tinha um capital humano de
três mil pessoas –, tomou contato com a realidade do mundo operário.
Sentia-se
inclinada a cuidar das meninas e das jovens expostas a riscos que vêm unidos à
pobreza e à ignorância, tão frequentes em sua época. Via os males que acercavam
as jovens operárias e, para acolhê-las, criou a casa Asilo da Sagrada Família.
As recolhia pelas ruas e não titubeava em se colocar em apertos e se expor a
situações difíceis com o objetivo de resgatá-las do perigo. Queria
proporcionar-lhes tudo o que precisavam humana e espiritualmente, semeando a
esperança em suas vidas. Além disso, aos enfermos e pobres nunca lhes faltou
sua caridade. “As pessoas passam, porém,
as obras permanecem”, costumava dizer.
A Rafaela seu esposo nunca lhe pôs impedimentos para exercer um vibrante
apostolado, que frutificou generosamente, culminando com sua aprovação para que
professasse e fundasse um Instituto religioso, máxima prova de um amor humano
que se inspira no amor divino, o Instituto das Irmãs dos Anjos Custódios, em
1894.
Rafaela criou em Bilbao numerosas instituições de proteção à mulher.
Ajudaram-na neste empenho as voluntárias que trabalhavam seguindo o lema que
lhes deu: “doçura nos meios e firmeza nos fins”. Tinha claro, e assim o
transmitiu, que “o que não alcança o amor, não o conseguirá o temor”. Dizia
isto por experiência, posto que um dia que foi buscar uma reclusa, esta a
esbofeteou. E ela, respondendo com mansidão, lhe disse: “Não me fizeste
dano, minha filha! Desde agora te quero ainda mais bem”, palavras tão sentidas
e autênticas que desmoronaram a revolta e a arrogância da jovem, que se arrependeu
chorando amargamente.
O propósito de
toda a obra de Rafaela foi este: viverem “unidas a Deus pela oração e o
apostolado” para levar “o anúncio do amor de Deus ao mundo da infância e
da juventude”. Assim, surgiram apartamentos e oficinas que puderam dar
suporte e treinamento a estes grupos.
O dia 2 de
agosto de 1897, festa de Nossa Senhora dos Anjos, marca um momento especial em
sua vida e obra: foi colocada a primeira pedra do Colégio Anjos Custódios de
Zabalbide, em Bilbao, ficando definitivamente inaugurado em 24 de março de
1899. A Congregação tinha finalmente sua Casa Mãe que poderia servir de modelo
às que posteriormente viessem a existir.
Mesmo após a morte de seu esposo Rafaela jamais professou como
religiosa, porque a morte de sua nora fez com que ela se encarregasse do cuidado
de seus seis netos.
Faleceu santamente no dia 23 de fevereiro de 1900, em Bilbao, aos 57
anos, sem poder ver consolidada sua fundação. Vivera plenamente o lema que
ensinava a todos: “Não vos canseis de fazer o bem”. O Instituto das
Irmãs dos Anjos Custódios está presente hoje em mais de 35 casas dispersas pela
Espanha e América.
Foi beatificada em 30 de setembro de 1984.
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