“Muito tarde chegou este ano a primavera a
nossa Religião, que se usou das demais, pois por junho deu ao céu uma
fragrantíssima flor, digna de ser colocada em seus maiores altares, fazendo os
abris e maios da eternidade (quando em si não o são) muito floridos. Esta foi a
graciosa e bem-aventurada Santa Joana de Reggio, fundadora naquela cidade das
monjas carmelitas, cuja heroica santidade foi uma olorosa flor para o olfato de
Deus, como suas fragrâncias a são em toda a Igreja, e em especial na nossa
Religião”.
Com estas palavras barrocas começa “Flores
del Carmelo” a resenha sobre a santa ou beata de hoje. A melhor referência
sobre Joana é a biografia escrita pelo Pe. Bento Mutti, que nos chegou na
íntegra.
Segundo esta, Joana nasceu em 1428 em Reggio,
na modesta família de Simão e Catarina Scopelli, sendo a menor de três filhas.
Desde menina mostrou piedade, caridade e ânsias de entrega a Deus. Era modesta,
obediente, amante da religião e do culto. Chegou à adolescência e quis ser
carmelita, por seu amor a Virgem Maria - a quem tanto ama a Ordem do Carmelo.
Mas seus pais se opuseram, pois eram pobres, não podiam lhe dar o dote, além de
ser a terceira e estarem sem se casar suas irmãs. Dar-lhe o dote para ir ao
mosteiro implicaria que as outras ficariam sem dote por mais tempo para enfim
se casarem.
Mas ocorreu um milagre: apareceram dois
nobres cavaleiros que, sem conhecer as irmãs, as pediram em matrimônio. Os pais
se opuseram a princípio, pela estranheza do fato e pela evidente desigualdade
social, mas finalmente, vendo que era providência de Deus, aceitaram os
matrimônios. Vencido este entrave, se encontrou Joana com o impedimento da
saúde e senilidade de seus pais, e lhe pareceu injusto se dar ao gosto de
entrar na religião e os deixar sozinhos. Por isso, determinou que sacrificaria
seu desejo de ser esposa de Cristo para ser uma boa filha de seus pais. Mas nem
chegou a se decidir: seus pais adoeceram e morreram com pouca diferença de
tempo.
Livre das ataduras, deixou todos os seus
bens, e retirando-se somente com um crucifixo, foi em companhia de uma amiga a
uma humilde casinha, onde levavam vida de beatas. Perguntando sua companheira
se teria com que iniciar um mosteiro, Joana lhe apontou o crucifixo, seu único
bem e propriedade. Em pouco tempo, uma devota senhora quis doar uma casa, que
tinha junto à igreja de São Pedro, para uma obra piedosa, e não havendo melhor
obra, decidiu, junto com suas filhas, tomar o hábito do Carmo e fundar um
mosteiro. Puseram-se sob a direção de Joana, junto com outras que já tinham
vindo para junto dela, atraídas por sua piedade. Em 1452, todas tomaram o
hábito carmelita, e se fundou um mosteiro do qual Joana se tornou priora.
Joana era dada à oração, ao jejum e às
penitências. Tinha êxito para o governo, sendo inflexível com as faltas, mas
amorosa com quem as cometia. Manteve a pobreza própria do Carmelo. Não faltaram
milagres e conversões, como a do jovem Agostinho, herege albigense. Joana lhe
falou tão profundamente, e orou tão intensamente por ele, que alcançou de Deus
a graça de transformar o coração do jovem. Com sua oração curou a várias
pessoas e multiplicou os alimentos do mosteiro.
Sofreu grandes tentações de desespero por
parte do demônio, que aumentava seus pecados e lhe mostrava o inferno,
dizendo-lhe que estava certamente condenada. Redobrava suas orações e Deus a
iluminava uma vez ou outra, até que finalmente um dia Cristo lhe apareceu
triunfante e lhe confirmou que se salvaria, que não devia temer mais o demônio,
enquanto lhe punha uma coroa de flores formosíssima. Em forma de carneiro
selvagem se mostrou o demônio no meio ao claustro, mas Joana, sabendo quem era
na realidade, passou por outro lado, desprezando-o, com que desapareceu o
demônio.
Uma de suas devoções preferidas e eficazes
se chamava “a Túnica da Virgem”, que consistia em rezar 15 mil
Ave-Marias, intercalando com uma Salve a cada cento. Dizia que tudo
alcançava de Deus com esta devoção, que terminava cantando sete vezes a “Ave
Maris Stella”.
Em 1456 transladou o mosteiro, que havia
se tornado pequeno, à igreja de São Bernardo, que pertencia aos Humiliatti (que
seriam suprimidos em 1571, por sua corrupção) e a tinham quase abandonada.
Em 1457 finalmente pôde fundar
oficialmente o mosteiro, dependente da Congregação Mantuana, ao que pôs o nome
de Nossa Senhora del Populo. Foi devotíssima da Virgem Maria, e nas vésperas
das festas marianas tinha êxtases nos quais contemplava os mistérios a
celebrar.
A Virgem premiou com um milagre sua
dedicação a Ela: estando as religiosas no coro, entrou uma pomba com uma faixa
dourada com o texto do Salve, oração que a Ordem Carmelita venera com
especial cuidado, fazendo-a, junto com o “Flos Carmeli”, sua oração
mariana predileta. Num dia de Natal, a Virgem Maria deixou o Menino Jesus em
seus braços, para que lhe manifestasse todo o seu amor. Em um Domingo de Páscoa
lhe apareceu o Redentor triunfante, em meio de anjos que cantavam Aleluia, e
tomando Cristo flores celestiais que lhe ofereciam os anjos, a coroava como
esposa predileta. Tinha os dons de profecias e de ler consciências. Foi devota
de socorrer as almas do Purgatório, das quais teve várias revelações.
Em 1491, o Senhor a avisou de que logo a
levaria para gozar a vida eterna, revelando-lhe data e hora precisas, e assim o
comunicou a suas irmãs religiosas. Joana se preparou para a morte redobrando a
oração, as penitências, a observância religiosa e a caridade. No dia
assinalado, caiu enferma, reuniu as religiosas e as exortou a serem fiéis à
Regra. Chegada a hora, expirou docemente em 9 de junho de 1491, aos 63 anos.
Ainda depois de morta, continuou seu ofício de priora, pois apareceu a algumas
religiosas para aconselhá-las e guiá-las.
Em 1493, as religiosas, vendo a devoção
crescente do povo a Joana, quiseram recuperar suas relíquias, e ao abrir o
ataúde, a encontraram incorrupta, flexível e emanando um suave odor que inundou
o convento e mais além, alguns pontos da cidade. A priora, Jerônima Lanci,
cortou o braço direito para sua devoção privada, mas Joana lhe apareceu pedindo
que o restituísse a seu lugar. Estando o corpo exposto, começaram a fluir as
pessoas e os prodígios, pelo que os superiores carmelitas e o bispo consideraram
deixá-la à vista, permitindo o culto. Decidiu-se colocá-lo numa urna visível
junto ao altar maior, para o qual se organizou uma procissão com o corpo por
toda a cidade.
Dão-lhe o título de santa ou beata, ainda
que não tenha sido proclamada oficialmente nem uma coisa nem outra pela Igreja.
Seu culto se considera imemorial e está permitido desde sua confirmação em
1771, ano em que se apresentou a positio de Roma.
Atualmente o corpo incorrupto se encontra
na catedral de Reggio, desde que os conventos da Congregação Mantuana foram
suprimidos. Em 2009 se fez um reconhecimento dos restos, que se achavam em bom
estado de conservação. Sua festa originalmente era em 9 de junho, logo
trasladada, como memória livre, para 9 de julho.
Fonte: http://irmascarmelitas.com.br/index.php?pag=detalhe&codconteudo=981&codmenu=285
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