terça-feira, 28 de março de 2017

Santa Balbina de Roma, Mártir – 31 de março

Martirológio Romano: Em Roma, comemoração de Santa Balbina, cujo título situado no Aventino mostra a veneração que se tributou a seu nome (antes de 595).     

     Apesar de poucas certezas sobre a vida de Santa Balbina, seu nome é venerado em uma antiquíssima igreja na via Ápia, nas proximidades de Roma. Também temos um cemitério que leva seu nome, supostamente o local onde Balbina foi enterrada.
     É venerada como mártir, mas destaca-se sua consagração a Deus pela virgindade e sua perseverança de servir a Cristo.
     Balbina etimologicamente significa “balbuciante”, na língua latina. Esta jovem foi incluída oficialmente no calendário dos santos a partir do século IX por causas alheias ao seu martírio. 
    Existia em Roma, entre as avenidas Ardeatina e Ápia, um cemitério "chamado Balbina", em gratidão à senhora que se doou à Igreja. O normal foi o que sucedeu: o cemitério ficou conhecido pelo seu nome. E tem sua razão de ser pois se fez em honra de uma virgem e mártir de nome Balbina que ali estava enterrada. Outra razão mais forte era o seu parentesco com Quirino, pai da jovem, que sofreu também o martírio.
     No relato legendário do martírio de Santo Alexandre (acta SS., Maii, I, 367 sqq.) o tribuno Quirino é mencionado, tendo morrido mártir e enterrado na catacumba de  Praetextatus na Via Ápia.
     Quirino foi objeto de grande veneração e estava inserido nos antigos itinerários (guias para os peregrinos) das catacumbas romanas. A tradição diz que sua filha Balbina, que havia sido batizada por Santo Alexandre e que jamais se casou, foi enterrada na mesma catacumba.
     A vida de Balbina nos chegou pelo teatro medieval. São duas obras de Alejandro, que viveu no século VI, e uma outra obra teatral de Hermetis, uma espécie de apêndice ao primeiro.
    Segundo estas duas legendas, Balbina era filha do mártir Quirino. Por se converter a fé cristã e ser batizada pelo Papa Alexandre, sofreu a pena do martírio. Estando doente com gravidade, o pai a levou ao Papa, que estava encarcerado, e ela se curou. Por sua riqueza e nobreza, muitos jovens a pediram em matrimônio, mas ela se manteve fiel ao seu voto de virgindade.
     Em 132, mais provavelmente no dia 31 de março, foi "presa com o pai por ordem do imperador Adriano II (117-135) e, com barbaridade, cortaram- lhe a cabeça. Devido a sua bravura diante da morte e por ter morrido em nome da fé, foi elevada, pelos hagiógrafos, à categoria de mártir e santa, sendo-lhe dedicada uma Basílica Menor em Roma, a Basílica de Santa Balbina".
     Está sepultada ao lado de seu pai no antigo cemitério entre as vias Ápia e Ardeatina, o qual recebe seu nome.
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     Roma, ano 595: havia uma rua com o título “B”, em clara alusão a Balbina, e um cemitério situado na Via Ápia. Provavelmente a heroína da legenda foi a fundadora da rua e do cemitério. E como era costume então, os hagiógrafos diziam que foi elevada à dignidade de mártir.
     A catacumba de Balbina se estende entre a Via Ápia e a Via Ardeatina, a pouca distância da pequena igreja chamada Domine quo vadis (Aonde vais, Senhor).
     No século IV, o Papa Marcos erigiu sobre este cemitério uma basílica. Existe, entretanto, sobre a pequena Aventina, dentro da mesma cidade, o velho título de Santa Balbina primeiro mencionado em um epitáfio do século VI e nas assinaturas do Conselho romano (595) no tempo do Papa Gregório I.
     Esta igreja foi erigida em um antigo e amplo salão. Ela é identificada com o mais antigo "Titulus Tigridae" construído na casa que o imperador Sétimo Severo (193-211) deu ao seu amigo Fabio Cilone, cônsul duas vezes e prefeito de Roma. A datação é garantida por selos nos tijolos encontrados nas escavações.
     O edifício, pela técnica de construção e arquitetura, deve ser da segunda metade do século IV. É uma abside de uma sala que não é dividida em corredores como uma basílica tradicional. Devia ser a sala de uma grande residência privada que foi então convertido em uma igreja durante o século V ou VI. A nobre matrona Balbina, filha do mártir Quirino, queria transformar sua casa no título "do Salvador".
     Em 1925 a igreja foi restaurada no seu estilo original pelo Prof. A. Munoz. Aqui começa uma das poucas "estações" onde a procissão externa é permitida. Há o mosteiro de religiosas premostratenses no topo, de onde se pode descer para a igreja estacional por uma longa pequena via, que parece uma ligação entre a vida cotidiana material e a vida do espírito.

A antiga Igreja de Santa Balbina

sábado, 25 de março de 2017

Santa Maria Alfonsina, Religiosa e fundadora - 25 de março


Martirológio Romano: Em Aïn-Karem, Palestina, Santa Maria Alfonsina Danil Ghattas, cofundadora da Congregação das Irmãs Dominicanas do Santíssimo Rosário de Jerusalém. († 1927)

     Desde pequena Maryam Soultaneh Danil Ghattas, seu nome civil, que nasceu em Jerusalém em 4 de outubro de 1843, sentia uma devoção especial pela Virgem Maria e a recitação do Rosário. “Que Mãe bela, Maria! Não a posso descrever; nenhuma imagem se assemelha sequer um pouco a sua imensa beleza. Bem-aventurado quem goza eternamente”, diz ela em um de seus escritos divulgados por sua comunidade.
     Foi batizada em 19 de novembro de 1843 e recebeu o Sacramento da Confirmação das mãos do primeiro Patriarca latino de Jerusalém, José Valerga, depois da restauração do patriarcado em 18 de julho de 1842.
     Foi graças a seu estreito relacionamento com Maria que pode ver com clareza, quando tinha apenas 14 anos, seu chamado para a vida religiosa. Seu amor à Virgem ajudou-a também a enfrentar algumas dificuldades, como a oposição de seu pai à sua vocação. Finalmente, em 1860, vestiu o hábito no instituto das Irmãs de São José da Aparição, tomando o nome de Maria Alfonsina.
     “Sobressaia-se por sua profunda piedade e firme adesão à fé católica. Fundou a associação das Filhas de Maria e também outra orientada às mães cristãs. Continuou seu trabalho apostólico em Belém”, assegura o postulador para sua causa, Pe. Vitor Tomás Gomez, OP.
     A Irmã Maria Alfonsina era favorecida com várias aparições de Nossa Senhora, que lhe revelou seu desejo de que ela fundasse a Congregação do Santo Rosário. A Virgem Maria lhe fala do Pe. José Tannus, um santo sacerdote do patriarcado latino, sugerindo que ele seja seu diretor espiritual e administrador da Congregação. Foi ele que encontrou em Jerusalém, não longe do patriarcado, a modesta casa na qual entram as cinco primeiras postulantes, entre elas Irmã Maria Alfonsina, em 24 de julho de 1880. O Patriarca Vicente Bracco impõe o hábito às postulantes em 15 de dezembro de 1881.
     A Irmã Maria Alfonsina teve que enfrentar várias dificuldades para obter de Roma a dispensa do instituto das Irmãs de São José da Aparição para se dedicar à Congregação do Santo Rosário. Esta permissão ela obteve em 1880, depois de muitas dificuldades e com a ajuda do Pe. José Tannus Yammin.
     Em 6 de outubro de 1883, a Irmã Maria Alfonsina, que quis conservar o mesmo nome na nova fundação, recebeu o hábito da Congregação do Rosário. Em 1885, foi admitida à profissão e pronunciou seus primeiros votos.
     A 25 de julho de 1885 foi viver em uma nova casa da Congregação, em Jaffa de Galileia, perto de Nazaré, com outra Irmã, para dar apoio à paróquia local.
     Foi ali que se deu um milagre: um dia, Nathira I'd, uma menina, cai em um poço profundo cheio de água. Irmã Maria Alfonsina teve então a inspiração de lançar o seu rosário no poço, e se dirigiu em seguida à igreja para invocar Nossa Senhora e rezar o Rosário com outras meninas. Passado um tempo, Nathira sai do poço são e salva, dizendo que viu uma grande luz e uma escada em forma de rosário que a ajudou a sair.
     Em 1886 fundou uma escola feminina em Beit Sahour, pequena localidade de pastores, perto de Belém, dando trabalho às jovens pobres da cidade.
     Em 1887, com três Irmãs, deixou Beit Sahour e foi para Salt, a primeira missão na Transjordânia. Dois anos mais tarde, foi enviada a Naplouse, porém voltou para a casa central de Jerusalém por razões de saúde. Uma vez restabelecida, foi enviada para Zababdeh. Em 1892, viaja a Nazaré onde cuida do Pe. Tannus até sua morte.
     Em 1893, a Irmã Maria Afonsina abriu em Belém uma oficina para dar trabalho às jovens pobres da cidade. Passou ali 15 anos de zelo e entusiasmo.
     Em 1909 foi enviada a casa central de Jerusalém, onde fundou um orfanato, permanecendo naquela cidade até 1917, ocasião em que foi enviada para fundar um orfanato em Aïn-Karem. Ali pode voltar a sua vida de oração e cumprir o desejo da Virgem Maria: que o Rosário seja rezado perpetuamente. Ali permaneceu até sua morte, em 25 de março de 1927. Madre Maria Alfonsina exala o último suspiro rezando o rosário com sua irmã, Hanneh Danil Ghattas. 
     “Ó Senhor! É assim que te mostras generoso e consolas aos pecadores que não te suplicam! Do que é feita tua caridade para com teus amigos e eleitos? Ó Maria, minha mãe! Quem te pode compreender? Que pode dar-se conta de tua compaixão para com as filhas de tua raça, especialmente aquelas que se sentem desorientadas em sua vida?”, escreveu a Santa.
     Irmã Maria Afonsina passou 42 anos à serviço de seu instituto. Em todos os lugares onde morava concentrava sua ação em ensinar a ler e a escrever, a fazer trabalhos manuais, fundava associações para as mulheres, ensinava o catecismo, e, obviamente, difundia a recitação do Rosário.
     “A mortificação de si mesmo atrai graças imensas, assim como a oração e a modéstia”, repetia constantemente.
     Atualmente há cerca de 300 Irmãs da Congregação do Santo Rosário presentes na Palestina e Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Emirados Árabes Unidos, Egito e Roma. A congregação apenas aceita moças árabes e segue o rito latino.
     “Me dei como uma oferenda total por tudo o que a Divina Providência queria de mim. Não encontro nenhum mal naquilo que sofro, porque sou uma oferenda do Rosário”, dizia Santa Maria Alfonsina.
     Foi beatificada em 22 de novembro de 2009, na Basílica da Anunciação de Nazaré; canonizada em 17 de maio de 2015 na Basílica de São Pedro.


Fontes:

quinta-feira, 23 de março de 2017

Beata Maria Karlowska, Fundadora – 24 de março

     
     Maria Karlowska nasceu em 4 de setembro de 1865 nos territórios ocupados pela Prússia, décima primeira filha do casal Mateusz Karlowska e Dembiñska Eugenia, uma família muito religiosa e numerosa, muito devota do Sagrado Coração de Jesus.
     Quando seus pais venderam a fazenda da família, Maria foi viver com eles em Poznan, onde começou seus estudos na escola secundária para meninas católicas. Ficou órfã de seus pais quando tinha 17 anos. Depois que seus pais morreram em 1882, prometeu viver em castidade durante toda a vida. Ela ainda não pensava em tornar-se religiosa, pois precisava trabalhar para ajudar seus irmãos e irmãs. Viajou pouco depois para Berlim no intuito de ali aprender o ofício de costureira.
     Frequentou a escola de costura por um ano e fez um curso em Berlim. Após o treinamento, exerceu a sua profissão em Poznan, auxiliando a irmã mais velha, Wanda, como instrutora na escola de costura. Na terra natal exerceu uma ação caridosa tornando-se uma verdadeira samaritana no meio das mulheres tocadas pela grande miséria social e moral.
     Filha de pais educados, acostumados com a vida de uma família nobre, embora então decadente, Maria não tinha ideia da pobreza moral das mulheres que praticavam a prostituição para ganhar a vida, quando começou a visitar os doentes e os pobres mais pobres das ruas da cidade. Um imperativo interior a levou a esses lugares onde a pobreza material era associada com a prostituição.
     Em novembro de 1892, Maria encontrou uma prostituta pela primeira vez. Este encontro foi decisivo para a sua vocação, porque a partir de então toda a sua energia se concentraria nestas mulheres que Maria queria ajudar a sair de uma situação onde voluntária ou involuntariamente se tinham colocado, e a cortar os laços que as retinham naquela vida. Exortava as mulheres à deixarem a vida pecaminosa e as preparava para receberem os santos sacramentos.
     Naquela época, a prostituição era tolerada pelas autoridades estaduais. Essas pessoas eram registradas e eram obrigadas a fazerem exames médicos regulares, para evitar a propagação de doenças venéreas. Depois de um ano e meio deste apostolado a desaprovação geral forçou a jovem a esconder suas atividades, rejeitada até por membros da família que consideravam desonrosa sua preocupação com prostitutas.
     O seu zelo nesta obra difícil atraiu outras mulheres com quem fundou a Congregação das Irmãs Servas do Bom Pastor e da Divina Providência. Para as irmãs e para ela mesma, ela já tinha estabelecido o seguinte objetivo: “Nós devemos anunciar o Coração de Jesus, quer dizer, viver Dele, Nele e por Ele, de maneira a nos tornarmos como Ele, e nós devemos fazer de maneira que em nossas vidas Ele se torne mais visível do que nós mesmas”. 
     Com o tempo e a perseverança de todas as Irmãs, este apostolado começou a dar bons resultados, e muitas dessas mulheres começaram a levantar a cabeça e a enveredar resolutamente pelo caminho certo. Algumas até se tornaram mães exemplares e outras tantas apóstolas junto daquelas que ainda estavam relutantes em voltar para trás.
     Maria Karlowska tinha o dom de guiar as almas. Ela sabia o que fazer para trazer as jovens ao caminho certo. Para acalmar o comportamento das jovens, Maria usava a bondade; se fosse imprescindível, assumia uma atitude de rigor, não hesitando em usar palavras duras e exigentes.  Ela sabia qual era a luta delas contra a sua natureza degradada, e por isso cercava-as de afeto, suportando pacientemente as explosões de seu temperamento, acalmando a impulsividade e a impetuosidade com a doçura.
     A catequese tinha prioridade na reabilitação das jovens; quanto ao trabalho físico também usado na reabilitação, era fundamental descobrir as habilidades de cada jovem, para dar-lhes um trabalho adequado às suas predisposições naturais.
     De acordo com Maria Karlowska, a “santidade consiste em fazer coisas comuns de forma extraordinária, com carinho e dedicação… Tal santidade é oculta diante dos olhos humanos, presentes apenas nos olhos de Deus”. Às suas irmãs, dizia que “a santidade é uma corrente cujos anéis são chamados de virtudes, e da ruptura de um, corre-se o risco de perder toda a corrente”.
     Maria Karlowska era muito inteligente, virtuosa, tinha o dom da iniciativa e uma extraordinária concentração e habilidade, mas ao mesmo tempo era muito moderada e simples. Surpreendia a todos com sua vontade de ferro e sua grande diligência.
     A essência espiritual da Congregação fundada por Maria Karlowska está em trabalhar com todas as forças pela salvação das almas, e, assim, constantemente lutar para se identificar com o Bom Pastor. Por esta razão os Pastorelle (como são chamados os que fazem parte da Congregação), emitem um quarto voto, isto é, a conversão de almas.
     Para atingir este objetivo, Maria Karlowska com as palavras, escritos, e especialmente por seu exemplo de vida, declarou a importância e a necessidade de todos viverem a virtude da castidade. Para ela, “temos de brilhar pela castidade imaculada, devemos expressá-la com o bom caráter… em toda a sua perfeição… Essa virtude deve ser a base do nosso ministério… O Bom Pastor deve despertar neles o amor para com a virtude da castidade”.
     Ela agradecia a Deus pelas graças e favores resultantes da obediência total à Igreja Católica: “A união com Deus e a Igreja é a minha força, segurança, esperança e toda a minha glória”, escreveu, exortando as Irmãs a viverem sempre fieis à Santa Igreja, porque a união com a Igreja encoraja a santidade pessoal.
     De sua vida e dos seus escritos podemos perceber que ela foi uma alma contemplativa, de silêncio e oração. Rezava muito, passava as noites sem dormir, rezando incessantemente. Toda a sua confiança era depositada no Bom Pastor, confiando totalmente a Ele e somente a Ele as almas dedicadas. Ela amava a serenidade e o silêncio que a mantinham unida a Deus, porque “Deus fala à uma alma em silêncio”. A oração, para Maria Karlowska, devia ser sempre sincera, ardente, incessante, insistente, e devia ter como objetivo principal a salvação das almas.
     A luta contra o pecado era uma expressão de seu compromisso com a santidade. Na sua opinião, não há verdadeira vida apostólica sem a constante luta com o mal. Mesmo um pecado venial é um grande mal. Um sinal dessa luta é o sentimento de pesar que um deve ter diante dos pecados.
     De sua vida interior vinha uma força e um extraordinário dom de saber como esconder seus sofrimentos físicos e morais com um sorriso e com o pleno autocontrole. Era cheia de amor e misericórdia para com toda a miséria espiritual e material, era verdadeira mestre de vida espiritual e exigia de si e dos outros uma autêntica santidade, cuja essência reside na junção perfeita da vontade humana com a vontade e lei divinas. Especialmente seus escritos oferecem um manual para o ensino sobre a conversão e progresso na vida espiritual.
     Na atividade social com a qual tentou diminuir o mal e multiplicar o bem, ela descobriu o valor do trabalho na reabilitação, com uma rica pedagogia e, desta forma, contribuiu para a moral de reeducação de mais de cinco mil jovens e mulheres.
     O sistema educacional criado pela Madre Karlowska foi excepcional e baseado principalmente no exemplo que nos é oferecido por Jesus, e enfatiza a liberdade e a boa vontade. “Toda prática religiosa é um ato livre”.
     Tanto as autoridades eclesiásticas, como as governamentais, manifestaram a sua admiração pelo sucesso e bons resultados do instituto educacional na reabilitação das jovens que eram consideradas um flagelo e uma vergonha para a sociedade polonesa. Maria Karlowska foi capaz de dar dignidade a estas criaturas caídas e humilhadas, porque em cada uma delas via a imagem de Deus, uma filha amada de Deus, que ainda poderiam se redimir.
     A Providência Divina era o fundamento da sua esperança, e uma característica predominante em sua Congregação. O Amor de Deus foi o motivo pelo qual ela ainda muito jovem emitiu o voto de castidade e pela mesma razão fundou a Congregação. Este Amor encontra a sua plena expressão em fazer a Vontade de Deus em tudo e sempre, e em se submeter a qualquer momento. Ela aceitava as cruzes da vida e agradecia a Deus pelo sofrimento. Para ela só o pecado é o maior mal, e assim ela odiava todo pecado porque ele ofende o amor de Deus.
     O Amor de Deus é inseparável do amor ao próximo. Testemunhas enfatizaram o fato de que a Beata tinha um amor sobrenatural para com todos, e o exercia em um grau mais eminente. O amor ao próximo foi o principal motivo para todas as suas atividades de apostolado. A Beata sempre manifestou um grande amor à Congregação e também à Polônia.
     A sua devoção ao Sagrado Coração despertou nela uma dedicação ao próximo e um amor que nunca diz “chega”. Foi tudo para todos, e por meio do amor e da ação do Espírito Santo ela restaurou a luz de Cristo em muitos corações e os ajudou a recuperar a sua dignidade perdida.
     Com cerca de setenta anos, Madre Maria Karlowska entregou a sua alma a Deus em 24 de março de 1935, deixando para a posteridade uma obra reconhecida, de uma grande ajuda para a Igreja na Polônia e nos países vizinhos.
     Ela foi beatificada a 6 de junho de 1997 em Zakopane (Polônia) por João Paulo II.


Fonte:

sábado, 18 de março de 2017

São José, Patrono da Santa Igreja - 19 de março

Santa Teresa e São José


Santa Teresa:
     “Quisera subir à mais alta montanha para gritar a todos: ‘Ide a São José! Jamais recorri a ele em vão’”.
     “Quem não achar mestre que lhe ensine a orar, tome São José por mestre, e não errará o caminho”.
     Quando foi da canonização de Santa Teresa de Ávila, a grande apostola da devoção a São José e que ao seu nome consagrara 11 dos 18 mosteiros que fundara em vida, algumas das suas filhas, desejosas de glorificar a sua fundadora, quiseram mudar em alguns mosteiros o nome de São José pelo de Santa Teresa. Esta, aparecendo em Ávila à Madre Isabel de S. Domingos, deu-lhe esta ordem: “Minha filha, dirá ao padre provincial que tire o nome aos conventos e lhes restitua o de São José que já tinham”.
     Nas adversidades da vida de Santa Teresa o seu auxilio era São José. Santa Teresa conta no seu livro da vida:
     “Tendo vinte e dois anos de idade e encontrando-me tão jovem ainda atacada de paralisia, vendo o meu triste estado resolvi dirigir-me ao céu. Tomei, então, por meu advogado e protetor o glorioso São José, que me concedeu o seu socorro da forma mais visível. Este bem-amado pai da minha alma apresentou-se a livrar-me das angústias e enfermidades que vitimaram o meu corpo e livrou-me mais tarde de perigos de um outro género e mais graves, pois que me ameaçaram de me perder eternamente. Não me recordo que ele jamais me tenha recusado alguma coisa e até me tem dado sempre aquilo que eu sequer sabia desejar.
     São José fez resplandecer em mim o seu poder e bondade. Graças a ele recobrei as minhas forças, levantei-me, caminhei e fiquei livre da minha paralisia. É algo maravilhoso enumerar a quantidade de graças de toda ordem, com que o Senhor me tem cumulado, e os perigos, tanto do corpo como da alma, de que me tem livrado pelos merecimentos do meu bem-amado patrono”.


São José, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo e esposo da Virgem

     São muito poucos os dados sobre as origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens, Maria.
     Sabemos apenas que era descendente da casa de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos. Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio. 
      Nas Sagradas Escrituras não há uma palavra sequer pronunciada por José. Mas, sua missão na História da Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo descendente de David, necessário para que as profecias se cumprissem. Por isso, na Igreja, José recebeu o título de "homem justo".
     A palavra "justo" recorda a sua retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si mesmo o direito de pôr em discussão o projeto de Deus. Esperou a chamada do Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo. 
     Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egito e no regresso para Israel (Mt 1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos, mas significativos traços, os evangelistas o descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu a autoridade familiar numa constante atitude de serviço.
     As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão: uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na Providência. 
     Somente uma fé profunda poderia fazer com que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou, confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da crucificação de Jesus, ou seja quanto Jesus tinha trinta anos. 
     Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O culto a São José começou no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade.
     Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado no dia 19 de março.
     Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador.
     Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.

Qual a missão especial de José com relação a Maria?
     Consistiu ela sobretudo em preservar a virgindade e a honra de Maria, contraindo com a futura Mãe de Deus um verdadeiro matrimônio, mas absolutamente santo. Conforme relata o Evangelho de São Mateus (1, 20): “O anjo do Senhor, que apareceu em sonho a José lhe diz: “José, filho de Daví, não temas receber Maria como tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo”. Maria é perfeitamente sua esposa. Trata-se de um matrimônio verdadeiro (cf. Santo Tomás, III, q. 29, a. 2), mas inteiramente celeste e que devia ter fecundidade inteiramente divina.
     A plenitude inicial de graça dada à Virgem em vista da maternidade divina fazia apelo em certo sentido ao mistério da Encarnação. Conforme diz Bossuet: “A virgindade de Maria atraiu Jesus do céu… Se sua pureza a tornou fecunda, não hesitarei, no entanto, em afirmar que José teve sua parte nesse grande milagre. Pois tal pureza angélica, apanágio da divina Maria, foi também o desvelo do justo José”.
     Era a união sem mácula e inteiramente respeitosa com a criatura mais perfeita que jamais existira, em ambiente extremamente simples, qual o de um pobre artesão de aldeia. Assim, José se aproximou mais intimamente do que qualquer outro santo daquela que é a Mãe de Deus, daquela que é também a Mãe espiritual de todos os homens e dele próprio José, daquela que é Co-Redentora, Mediadora universal, dispensadora de todas as graças. Por todos esses títulos José amou Maria com o mais puro e devotado amor; era de certo um amor teologal, porquanto ele amava a Virgem em Deus e por Deus, por toda a glória que ela dava a Deus. A beleza de todo o universo nada era em face da sublime união dessas duas almas, união criada pelo Altíssimo, que encantava os anjos e ao próprio Senhor enchia de júbilo.

Qual foi a missão excepcional de José perante o Senhor?
     Em verdade, o Verbo de Deus feito carne foi confiado a ele, José, de preferência a qualquer outro justo dentre os homens de todas as gerações. O santo velho Simeão teve o menino Jesus em seus braços por alguns instantes e viu nele a salvação dos povos ― “lumen ad revelationem gentium” ― mas José velou todas as horas, noite e dia, sobre a infância de Nosso Senhor.
     Muitas vezes teve em suas mãos aquele em quem via seu Criador e Salvador. Recebeu dele graças sobre graças durante os vários anos em que viveu com ele na maior intimidade do dia-a-dia. Viu-o crescer. Contribuiu para sua educação humana. Jesus lhe foi submisso. É comumente chamado de “pai nutrício do Salvador”; porém em certo sentido foi mais que isso, pois como nota Santo Tomás é acidentalmente que após o casamento um homem se vem a tornar “pai nutrício” ou “pai adotivo”, enquanto que não foi absolutamente de forma acidental que José ficou encarregado de zelar por Jesus.
     Ele foi criado e posto no mundo precisamente para tal fim. Esta foi a sua predestinação. Foi em vista de tal missão divina que a Providência lhe concedeu todas as graças recebidas desde a infância: graça de piedade profunda, de virgindade, de prudência, de fidelidade perfeita. Sobretudo, nos desígnios eternos de Deus, toda a razão de ser da união de José com Maria era a proteção e a educação do Salvador; Deus lhe deu um coração de pai para velar pelo menino Jesus. Esta é a missão principal de José, em vista da qual ele recebeu uma santidade proporcionada a seu papel no mistério da Encarnação, mistério que domina a ordem da graça e cujas perspectivas são infinitas.

(Padre Reginald Garrigou-Lagrange)


sexta-feira, 17 de março de 2017

Nossa Senhora da Misericórdia - 18 de março

A 1°. Aparição
     Sábado, 18 de março de 1536. Antônio Botta, um agricultor natural do vale de São Bernardo, a seis quilômetros de Savona, dirige-se bem cedo à sua pequena vinha para completar a poda. Como seu costume, caminha rezando o santo Rosário; junto ao regato que deve atravessar pensa em se refrescar naquelas águas, e naquele momento Nossa Senhora aparece. O seu depoimento oficial é conservado no Santuário desde 1596.
     Ele relata que no momento em que ia lavar as mãos vê descer do céu um grande resplendor; fica assustado, está prestes a cair nas águas, tanto que seu chapéu cai da cabeça, e ouve uma voz que vem da figura de Senhora que há no resplendor. “Levanta e não duvides que eu sou Maria Virgem. Vá até teu confessor e diga para ele anunciar na igreja que o povo deve fazer jejum por três sábados e vir em procissão em honra de Deus e de sua Mãe. Tu portanto confesses e comungues; no quarto sábado volte a este lugar”.
     Naquele instante Botta ouviu passar pela estrada algumas pessoas e de medo de ser notado, deseja se esconder, mas a Aparição lhe diz:  “Não te movas, pois eles não podem nos ver”. Então a Aparição desaparece e com ela também o resplendor.
     Tendo se recobrado do estupor, Antônio corre informar o fato ao Reitor de São Bernardo no Vale, um franciscano, que conhecendo a sinceridade e a honestidade do camponês, informa Mons. Bartolomeo Chiabrera, Vigário geral do Cardeal Agostino Spinola para a Diocese de Savona. Como era o tempo da Quaresma, os pregadores obedecem à ordem de Nossa Senhora e convidam o povo a fazer penitência.

A 2°. Aparição
     No dia 8 de abril, vigília do Domingo de Ramos, e quarto sábado depois da primeira aparição, Antônio Botta, fiel ao convite de Nossa Senhora, retorna ao local do milagre. Ajoelhando-se, junta as mãos em oração e eis que o prodígio se repete. O céu se abre e uma luz intensa, deslumbrante, pousa sobre uma pedra da torrente, e pouco a pouco toma a forma de uma Senhora toda vestida de branco, coroada de ouro refulgente, com as mãos estendidas num gesto de dulcíssima misericórdia.
     Então a Senhora diz: “Tu irás àqueles que em Savona mandaram pedir explicações sobre minha primeira mensagem e dirás que anunciei ao povo que jejue por três sábados e faça com que todos os religiosos e as casas de disciplinantes (que fazem penitência) realizem a procissão por três dias; e a estes disciplinantes se recomenda a disciplina (flagelação) sobretudo no Sábado Santo... E em geral anuncio a todo o povo para se emendar de suas iniquidades e deixar os vícios e pecados, porque o meu Filho está muito irado com o mundo por causa das grandes iniquidades que reinam nele atualmente”.
     Tendo dito isto, a Senhora levantou três vezes as mãos e os olhos ao céu e exclamou, dirigindo-se a Jesus: “Misericórdia, Filho, desejo e não justiça!” Então desapareceu e no lugar permaneceu um intenso perfume.

A 3°. Aparição
     Em 18 de março de 1580, quarenta e quatro anos depois da 1°. Aparição, Nossa Senhora aparece novamente no vale de Letimbro a um frade capuchinho, o Pe. Agostinho de Genova. A aparição aconteceu sobre uma colina que se eleva solitária a noroeste do Santuário: é quase um gesto de bênção para a procissão votiva que está se dando no Santuário, a confirmação da mensagem de Nossa Senhora e de sua proteção. No local primeiro foi colocada uma Cruz (daí o nome de Crocetta (Cruzinha) dado ao local) e em 1680 foi erigida uma Capela.
     No local das aparições foi erguida uma Igreja, que se tornou até hoje um centro de peregrinações, denominado Santuário de Nossa Senhora, Refúgio dos pecadores.
     Anualmente os devotos chegam aos milhares, em busca de sua Mãe e de seu Salvador, pois onde está a Virgem Santíssima o Seu Divino Filho também está presente, curando e santificando Seus amados filhos.
     O Papa Bento XVI honrou o Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia com a Rosa de Ouro, como sinal de especial distinção, o 2º na Itália depois do Santuário de Loreto, honrado por João Paulo II.
     Em 2015 festejou-se os 200 anos da coroação de Nossa Senhora da Misericórdia pelo Papa Pio VII, ocorrida no dia 10 de maio de 1815.


Fonte: 
www.santiebeati/it - www,donbosco-torino.it

terça-feira, 14 de março de 2017

Beata Eva, Reclusa de S. Martinho de Liège - 14 de março

Martirológio Romano: Em Liège, na Lorena, Beata Eva do Monte Cornélio, reclusa junto ao cenóbio de São Martinho, que, junto com Santa Juliana, priora do mesmo cenóbio, trabalhou muito para que o papa Urbano IV instituísse a festa de Corpo de Cristo. (1205 - c. 1265).

     O ambiente em que Eva se educou não era o mais propício para alimentar uma profunda vida cristã: era um mar de dúvidas. Pouco a pouco, entretanto, sua amiga íntima, Santa Juliana de Cornillon, foi lançando luz em todo o rico manancial, ainda inexplorado, de sua estupenda alma. A amizade sincera ajuda em momentos cruciais da existência. Assim, guiada por sua amiga, entrou no convento cisterciense de São Martinho de Liège (Bélgica).
     Eva teve a felicidade de receber com frequência a visita de sua amiga, que lhe confiava a alegria que sentia de ter fundado um instituto dedicado à glorificação do Sacramento da Eucaristia. Em diversas circunstâncias Santa Juliana teve que estar junto à sua amiga Eva no mesmo convento. Foi quando Eva constatou pessoalmente os êxtases místicos de sua amiga. Inicialmente duvidava deles, mas se convenceu mais tarde do alto grau de santidade de sua amiga e dos êxtases com que Deus a premiava.
     Graças às duas, o papa Urbano IV publicou a Bula em que anunciava a instituição da Festa do Corpo de Cristo para toda a Igreja. Esta Bula é um documento importante datado de agosto – setembro do ano 1264. Justamente no ano seguinte Eva morria em odor de santidade.
     Eva tem indistintamente o título de santa ou beata. Seus restos mortais por uma ou outra razão foram transladados para vários lugares, até que em 18 de dezembro de 1746 foram colocados no altar de São Martinho.  Sua popularidade é unida à de Santa Juliana de Cornillon.
     Seu culto foi confirmado por Leão XIII em 22 de abril de 1902.
* * *
     As informações sobre Eva (Evelina, Eva von Lüttich, Eva de Liège) aparecem na vida de Santa Juliana de Cornillon, sua amiga e confidente, a quem ajudou na instituição da festa de Corpus Christi.
     Eva nasceu entre 1205 e 1210 em um ambiente confortável e experimentou um conflito entre a vida civil e a de reclusa; sua vocação não foi clara imediatamente e Juliana influenciou muito em sua decisão.
     Entrou no Mosteiro de São Martinho em Liège, onde recebia frequentes visitas de Santa Juliana, que lhe confiava suas visões e seu grande desejo de ver instituído um culto que glorificasse o Sacramento da Eucaristia. Quando Juliana fugiu de Cornillon encontrou refúgio em São Martinho junto a Eva, que foi testemunha de seus êxtases místicos. Depois da morte de Juliana continuou sua obra, fato que fez acreditar que ela fosse a verdadeira promotora, em detrimento de Juliana que foi ignorada durante muito tempo.
Juliana, Eva e Isabel de Huy - visão do SSmo.
     Atuou junto ao Bispo de Liège, Henrique de Gueldre para obter do papa Urbano IV um decreto sobre o tema. Em 8 de setembro de 1264 o Papa enviou uma Bula, em que anunciava a criação da Festa de Corpus Christi, para a Igreja universal, pedindo que difundissem o texto. Esta Bula é a base histórica da instituição da festa em agosto/setembro de 1264, e o testemunho do fervor de Eva em trabalhar para que fosse instituída.
     A Beata morreu em São Martinho de Liège em 1265. Seu túmulo se converteu rapidamente em lugar de culto, e deram-lhe indistintamente o título de santa ou beata, embora prevalece este último.
     No século XVI os seus restos mortais foram exumados devido a trabalhos a serem realizados na igreja e foram colocados em um altar lateral; em séculos sucessivos suas relíquias foram solicitadas por rainhas e abades, até que em 18 de dezembro de 1746 foram colocados no altar de São Martinho. A popularidade de Eva chegou até nossos dias; sua memória, como a de Juliana, se perpetuou em algumas paróquias sem interrupção. O culto foi aprovado em 1902, e se celebra em Liège em 14 de março e em 25 de junho em outras regiões.
     Decreto de confirmação de culto com uma biografia latina em ASS 34 (1901-2) págs. 686-688.

Etimologia: Eva, do hebraico Hawah, forma antiga de Haih: “vivente, vida” (Gên. 3, 20)
Evelina, diminuitivo de Eva (inglês Evelyn; italiano Evelina; alemão Eveline)



segunda-feira, 13 de março de 2017

Santa Eufrásia, virgem – 13 de março

     
    Eufrásia nasceu no ano de 380, em Constantinopla, na Ásia Menor. Antígono, seu pai, era um nobre de grande dignidade e qualidade na corte de Teodósio, o jovem, quase ligado por sangue a esse imperador, e honrado por ele com vários cargos importantes no Estado. Ele era casado com Eufrásia, uma mulher não menos ilustre por seu nascimento do que pela virtude, com quem ele tinha apenas uma filha e herdeira, chamada também Eufrásia, a santa de quem tratamos.
   Depois de seu nascimento, seus piedosos pais, com mútuo consentimento, comprometeram-se com o voto de continência perpétua, para que pudessem aspirar mais perfeitamente às alegrias invisíveis da vida futura; e desde esse tempo viveram juntos como irmão e irmã, nos exercícios de devoção, esmolas e penitência.
     Antígono morreu dentro de um ano, e a santa viúva, para evitar o assédio de pretendentes a casamento e a distração de amigos, pouco tempo depois mudou-se com sua filha pequena para o Egito, onde ela possuía uma muito grande propriedade.
     Nesse país fixou sua residência perto de um mosteiro de cento e trinta monjas que nunca usavam outro alimento além de ervas, que comiam apenas depois do pôr-do-sol e algumas só uma vez em dois ou três dias; elas vestiam e dormiam em sacos, faziam trabalhos manuais e rezavam quase sem interrupção. Quando doentes, suportavam suas dores com paciência, considerando-as uma misericórdia divina e, agradecendo a Deus por isto, nem buscavam alívio de médicos, exceto em casos de necessidade absoluta, e então só eram permitidos remédios comuns, como os monges da Trapa fazem nos dias atuais. A atenção excessiva à saúde alimenta o amor-próprio e a falta de mortificação (1) e muitas vezes destrói aquela saúde que ansiosamente se tentou preservar.
     Com o exemplo dessas virgens santas, a devota mãe era afervorada nos exercícios da religião e da caridade, a que se dedicava totalmente. Frequentemente visitava estas servas de Deus, e rogava que aceitassem uma ajuda anual, com a única obrigação de sempre rezarem pela alma de seu falecido marido. Mas a abadessa recusou a oferta, dizendo: "Renunciamos a todas as conveniências do mundo para comprar o céu. Nós somos pobres e tais desejamos permanecer". Ela só aceitou um pequeno donativo para suprir o óleo da lâmpada da igreja e para o incenso a ser queimado no altar.
      Aos sete anos de idade, Eufrásia fez um pedido à sua mãe: que lhe fosse permitido servir a Deus neste mosteiro. A piedosa mãe, ao ouvir isto chorou de alegria, e não muito tempo depois apresentou-a à abadessa que, tomando uma imagem de Cristo, entregou-a em suas mãos. A tenra virgem beijou-a, dizendo: "Por voto me consagro a Cristo". Então a mãe a conduziu diante de uma imagem de nosso Redentor, e levantando as mãos ao céu, disse: "Senhor Jesus Cristo, receba esta criança sob Vossa proteção especial. Somente Vós ela ama e busca; a Vós ela se recomenda". (2) Então, voltando-se para sua querida filha, disse: "Que Deus, que lançou os alicerces dos montes, te fortaleça sempre no Seu santo temor". E deixando-a nas mãos da abadessa, saiu do mosteiro chorando.
     Algum tempo depois, ela adoeceu e, sendo avisada de sua morte, deu as últimas instruções a sua filha com estas palavras: "Temei a Deus, honrai vossas irmãs e servi-as com humildade. Nunca penses no que fostes, nem digas a ti mesmo que es de extração real. Seja humilde e pobre na terra, para que sejas rica no céu". A boa mãe logo depois dormiu em paz.
     Após a notícia de sua morte, o Imperador Teodósio (3) mandou chamar a nobre virgem para a corte, e a prometeu em casamento a um jovem senador. Mas a virgem escreveu-lhe de próprio punho a seguinte resposta:
     "Imperador invencível, tendo-me consagrado a Cristo em castidade perpétua, não posso faltar ao meu compromisso e me casar com um homem mortal, que em breve será alimento de vermes. Pelo amor aos meus pais, peço o favor de distribuir suas propriedades entre os pobres, os órfãos e a Igreja. Ponha em liberdade todos os meus escravos, e dispense os meus vassalos e servos, dando-lhes o que é devido. Ordene aos ecônomos de meu pai para perdoarem os meus agricultores de tudo o que eles devem desde a sua morte, para que eu possa servir a Deus sem impedimentos, e possa estar diante dEle sem a solicitude dos assuntos temporais. Reze por mim, vós e vossa imperatriz, para que eu possa ser digna de servir a Cristo".
     Os mensageiros retornaram ao imperador levando esta carta; este derramou muitas lágrimas ao lê-la. Os senadores que a ouviram também em lágrimas disseram à sua majestade: "Ela é a digna filha de Antígono e Eufrásia, do vosso sangue real, e a santa fonte de um acúmulo de virtudes". O imperador executou tudo, conforme desejado por ela, um pouco antes de sua morte, ocorrida em 395.
     Santa Eufrásia era para suas piedosas irmãs um modelo perfeito de humildade, mansidão e caridade. Se ela se via agredida por qualquer tentação, imediatamente a revelava à abadessa para afastar o demônio com aquela humilhação e buscar um remédio. Em tais ocasiões, a discreta superiora lhe dava um trabalho penitencial humilde e doloroso, como carregar grandes pedras de um lugar para outro. Certa vez, sob um obstinado assalto de tentação, continuou por trinta dias a fazer este trabalho com uma simplicidade maravilhosa, até que o demônio, derrotado por sua humilde obediência e castigo de seu corpo, deixou-a em paz. Sua refeição eram ervas que ela comia após o pôr-do-sol, inicialmente todos os dias, mas depois apenas uma vez em dois ou três, ou às vezes sete dias. Mas sua abstinência tinha como mérito principal sua humildade, sem a qual teria sido um jejum de demônios. Eufrásia limpava as celas das outras freiras, carregava água para a cozinha e, por obediência, empregava-se alegremente nos trabalhos mais inferiores, tornando o trabalho doloroso uma parte de sua penitência.
     Para mencionar um exemplo de sua extraordinária mansidão e humildade é relatado que um dia uma empregada na cozinha perguntou a ela por que jejuava semanas inteiras, sendo que nenhuma outra tentava fazer isto além da abadessa? Sua resposta foi que a abadessa lhe tinha ordenado essa penitência. A outra a chamou de hipócrita. Diante disto Eufrásia caiu a seus pés, implorando-lhe que a perdoasse e orasse por ela. Neste ato é difícil dizer se devemos admirar mais a paciência com que ela recebeu a injusta repreensão, ou a humildade com que ela sinceramente condenou a si mesma, como se por sua hipocrisia e imperfeições ela tivesse sido um escândalo para os outros.
     Ela foi favorecida com milagres antes e depois de sua morte.
     No dia 12 de março do ano 410 a superiora do convento teve uma visão profética na qual recebeu um aviso de que Eufrásia morreria e seria proclamada santa. Santa Eufrásia, ainda jovem, nada sentia. Porém, acreditou na mensagem e pediu para receber os Sacramentos. Então, no dia seguinte, 13 de março de 410, como tinha sido previsto, ela teve uma febre muito forte e veio a falecer. Venerada como santa pelo grande exemplo de vida, de fraternidade, de amor e caridade, Santa Eufrásia foi sepultada no mesmo convento onde passou a vida e ao qual tanto amor devotava.
     Seu nome está registrado neste dia, 13 de março, no Martirológio Romano.

Veja sua vida autêntica em Rosweide, p. 351, D'Andilly, e mais correto na Acta Sanctorum pelos Bollandistas.
Nota (1) É severamente condenado por São Bernardo, Ep. 345. ol. 321. p. 316, e Serm. 50. in Cant. St. Ambrose. Serm. 22. in Ps. 118 e pelo Abade Rance, reformador da Trapa.
Nota (2) Esta passagem é citada por São João Damasceno, Or. 3. de Imagin.
Nota (3) -  Teodósio nasceu no ano de 347, em Cauca, atual Coca (Segóvia, Espanha) com o nome de Flávio Teodósio, filho de Termância e de Flávio Honório Teodósio, o velho, lugar-tenente hispano e um dos generais mais prestigiados de Valentiniano I, dito duque eficacíssimo (dux efficacisimus - chefe, ou general, altamente eficaz) por isso.
     Em 380, Teodósio, "Augusto do Oriente", após a paz com os godos, entrou triunfante em Constantinopla, que será sua capital e lugar de residência habitual até 388, quando se dirige a Mediolano. Aparece a crônica de São Jerônimo.
     Pelo Édito de Tessalônica, de Teodósio I, se confirma o Cristianismo como religião de Estado no Império Romano. Teodósio batiza-se como cristão devido a uma grave doença, contraída em Tessalônica, escolhida por ele como capital temporária, sendo assim o primeiro imperador romano que exerceu o poder estando batizado, apesar dos seus predecessores, desde Constantino, à exceção de Juliano, se declarassem cristãos e tentassem se comportar como tais. Foi talvez por isso que foi o primeiro imperador que recusou o título de pontífice máximo (pontifex maximus), que podemos traduzir por "Supremo Guardião" dos velhos cultos romanos.
     Como reconhecesse que os bárbaros, especialmente os teutônicos e germânicos, podiam ajudar o exército, bastante minado pelas lutas internas, Teodósio os admitiu como soldados e oficiais, de modo que em suas dioceses (subdivisões civis) tanto romanos como teutônicos se encontravam entre seus generais. Com Graciano edita um decreto que manda que todos os súditos professem a fé dos bispos de Roma e Alexandria. Os templos dos arianos e heréticos não podiam ser chamados de igrejas.
     Teodósio morreu em Milão, depois de combater um edema vascular, a 17 de janeiro de 395. Suas últimas palavras foram as do salmo 116 (5): Diligo Dominum quia audivit vocem obsecrationis meae - "Amo o Senhor porque ouviu a voz de minha súplica".
     Deixou aos cuidados de Santo Ambrósio seus dois filhos, Arcádio, enfermiço de 17 anos e Honório de 10. Santo Ambrósio organizou e logrou que seu corpo repousasse numa propriedade em Milão. Ambrósio pronunciou um panegírico intitulado De Obitu Theodosii ante Estilicão e Honório, no qual detalha a supressão da heresia e do paganismo por Teodósio. Os seus restos mortais foram trasladados definitivamente para Constantinopla a 8 de novembro de 395.
     Estilicão, o general de origem vândala casado com sua sobrinha Serena, foi o encarregado de cuidar de Honório, augusto do Ocidente, enquanto Rufino cuidava de Arcádio, augusto do Oriente. Mas o império estava agonizando e praticamente morria com seu último grande imperador.

The Lives of the Saints, Vol. III: March, by Rev. Alban Butler (New York: D.&J. Sadlier Publishers, 1866), pp. 585-586.

Etimologia: Eufrásia deriva do grego Eyphrasia e significa “Alegria”.