quinta-feira, 23 de março de 2017

Beata Maria Karlowska, Fundadora – 24 de março

     
     Maria Karlowska nasceu em 4 de setembro de 1865 nos territórios ocupados pela Prússia, décima primeira filha do casal Mateusz Karlowska e Dembiñska Eugenia, uma família muito religiosa e numerosa, muito devota do Sagrado Coração de Jesus.
     Quando seus pais venderam a fazenda da família, Maria foi viver com eles em Poznan, onde começou seus estudos na escola secundária para meninas católicas. Ficou órfã de seus pais quando tinha 17 anos. Depois que seus pais morreram em 1882, prometeu viver em castidade durante toda a vida. Ela ainda não pensava em tornar-se religiosa, pois precisava trabalhar para ajudar seus irmãos e irmãs. Viajou pouco depois para Berlim no intuito de ali aprender o ofício de costureira.
     Frequentou a escola de costura por um ano e fez um curso em Berlim. Após o treinamento, exerceu a sua profissão em Poznan, auxiliando a irmã mais velha, Wanda, como instrutora na escola de costura. Na terra natal exerceu uma ação caridosa tornando-se uma verdadeira samaritana no meio das mulheres tocadas pela grande miséria social e moral.
     Filha de pais educados, acostumados com a vida de uma família nobre, embora então decadente, Maria não tinha ideia da pobreza moral das mulheres que praticavam a prostituição para ganhar a vida, quando começou a visitar os doentes e os pobres mais pobres das ruas da cidade. Um imperativo interior a levou a esses lugares onde a pobreza material era associada com a prostituição.
     Em novembro de 1892, Maria encontrou uma prostituta pela primeira vez. Este encontro foi decisivo para a sua vocação, porque a partir de então toda a sua energia se concentraria nestas mulheres que Maria queria ajudar a sair de uma situação onde voluntária ou involuntariamente se tinham colocado, e a cortar os laços que as retinham naquela vida. Exortava as mulheres à deixarem a vida pecaminosa e as preparava para receberem os santos sacramentos.
     Naquela época, a prostituição era tolerada pelas autoridades estaduais. Essas pessoas eram registradas e eram obrigadas a fazerem exames médicos regulares, para evitar a propagação de doenças venéreas. Depois de um ano e meio deste apostolado a desaprovação geral forçou a jovem a esconder suas atividades, rejeitada até por membros da família que consideravam desonrosa sua preocupação com prostitutas.
     O seu zelo nesta obra difícil atraiu outras mulheres com quem fundou a Congregação das Irmãs Servas do Bom Pastor e da Divina Providência. Para as irmãs e para ela mesma, ela já tinha estabelecido o seguinte objetivo: “Nós devemos anunciar o Coração de Jesus, quer dizer, viver Dele, Nele e por Ele, de maneira a nos tornarmos como Ele, e nós devemos fazer de maneira que em nossas vidas Ele se torne mais visível do que nós mesmas”. 
     Com o tempo e a perseverança de todas as Irmãs, este apostolado começou a dar bons resultados, e muitas dessas mulheres começaram a levantar a cabeça e a enveredar resolutamente pelo caminho certo. Algumas até se tornaram mães exemplares e outras tantas apóstolas junto daquelas que ainda estavam relutantes em voltar para trás.
     Maria Karlowska tinha o dom de guiar as almas. Ela sabia o que fazer para trazer as jovens ao caminho certo. Para acalmar o comportamento das jovens, Maria usava a bondade; se fosse imprescindível, assumia uma atitude de rigor, não hesitando em usar palavras duras e exigentes.  Ela sabia qual era a luta delas contra a sua natureza degradada, e por isso cercava-as de afeto, suportando pacientemente as explosões de seu temperamento, acalmando a impulsividade e a impetuosidade com a doçura.
     A catequese tinha prioridade na reabilitação das jovens; quanto ao trabalho físico também usado na reabilitação, era fundamental descobrir as habilidades de cada jovem, para dar-lhes um trabalho adequado às suas predisposições naturais.
     De acordo com Maria Karlowska, a “santidade consiste em fazer coisas comuns de forma extraordinária, com carinho e dedicação… Tal santidade é oculta diante dos olhos humanos, presentes apenas nos olhos de Deus”. Às suas irmãs, dizia que “a santidade é uma corrente cujos anéis são chamados de virtudes, e da ruptura de um, corre-se o risco de perder toda a corrente”.
     Maria Karlowska era muito inteligente, virtuosa, tinha o dom da iniciativa e uma extraordinária concentração e habilidade, mas ao mesmo tempo era muito moderada e simples. Surpreendia a todos com sua vontade de ferro e sua grande diligência.
     A essência espiritual da Congregação fundada por Maria Karlowska está em trabalhar com todas as forças pela salvação das almas, e, assim, constantemente lutar para se identificar com o Bom Pastor. Por esta razão os Pastorelle (como são chamados os que fazem parte da Congregação), emitem um quarto voto, isto é, a conversão de almas.
     Para atingir este objetivo, Maria Karlowska com as palavras, escritos, e especialmente por seu exemplo de vida, declarou a importância e a necessidade de todos viverem a virtude da castidade. Para ela, “temos de brilhar pela castidade imaculada, devemos expressá-la com o bom caráter… em toda a sua perfeição… Essa virtude deve ser a base do nosso ministério… O Bom Pastor deve despertar neles o amor para com a virtude da castidade”.
     Ela agradecia a Deus pelas graças e favores resultantes da obediência total à Igreja Católica: “A união com Deus e a Igreja é a minha força, segurança, esperança e toda a minha glória”, escreveu, exortando as Irmãs a viverem sempre fieis à Santa Igreja, porque a união com a Igreja encoraja a santidade pessoal.
     De sua vida e dos seus escritos podemos perceber que ela foi uma alma contemplativa, de silêncio e oração. Rezava muito, passava as noites sem dormir, rezando incessantemente. Toda a sua confiança era depositada no Bom Pastor, confiando totalmente a Ele e somente a Ele as almas dedicadas. Ela amava a serenidade e o silêncio que a mantinham unida a Deus, porque “Deus fala à uma alma em silêncio”. A oração, para Maria Karlowska, devia ser sempre sincera, ardente, incessante, insistente, e devia ter como objetivo principal a salvação das almas.
     A luta contra o pecado era uma expressão de seu compromisso com a santidade. Na sua opinião, não há verdadeira vida apostólica sem a constante luta com o mal. Mesmo um pecado venial é um grande mal. Um sinal dessa luta é o sentimento de pesar que um deve ter diante dos pecados.
     De sua vida interior vinha uma força e um extraordinário dom de saber como esconder seus sofrimentos físicos e morais com um sorriso e com o pleno autocontrole. Era cheia de amor e misericórdia para com toda a miséria espiritual e material, era verdadeira mestre de vida espiritual e exigia de si e dos outros uma autêntica santidade, cuja essência reside na junção perfeita da vontade humana com a vontade e lei divinas. Especialmente seus escritos oferecem um manual para o ensino sobre a conversão e progresso na vida espiritual.
     Na atividade social com a qual tentou diminuir o mal e multiplicar o bem, ela descobriu o valor do trabalho na reabilitação, com uma rica pedagogia e, desta forma, contribuiu para a moral de reeducação de mais de cinco mil jovens e mulheres.
     O sistema educacional criado pela Madre Karlowska foi excepcional e baseado principalmente no exemplo que nos é oferecido por Jesus, e enfatiza a liberdade e a boa vontade. “Toda prática religiosa é um ato livre”.
     Tanto as autoridades eclesiásticas, como as governamentais, manifestaram a sua admiração pelo sucesso e bons resultados do instituto educacional na reabilitação das jovens que eram consideradas um flagelo e uma vergonha para a sociedade polonesa. Maria Karlowska foi capaz de dar dignidade a estas criaturas caídas e humilhadas, porque em cada uma delas via a imagem de Deus, uma filha amada de Deus, que ainda poderiam se redimir.
     A Providência Divina era o fundamento da sua esperança, e uma característica predominante em sua Congregação. O Amor de Deus foi o motivo pelo qual ela ainda muito jovem emitiu o voto de castidade e pela mesma razão fundou a Congregação. Este Amor encontra a sua plena expressão em fazer a Vontade de Deus em tudo e sempre, e em se submeter a qualquer momento. Ela aceitava as cruzes da vida e agradecia a Deus pelo sofrimento. Para ela só o pecado é o maior mal, e assim ela odiava todo pecado porque ele ofende o amor de Deus.
     O Amor de Deus é inseparável do amor ao próximo. Testemunhas enfatizaram o fato de que a Beata tinha um amor sobrenatural para com todos, e o exercia em um grau mais eminente. O amor ao próximo foi o principal motivo para todas as suas atividades de apostolado. A Beata sempre manifestou um grande amor à Congregação e também à Polônia.
     A sua devoção ao Sagrado Coração despertou nela uma dedicação ao próximo e um amor que nunca diz “chega”. Foi tudo para todos, e por meio do amor e da ação do Espírito Santo ela restaurou a luz de Cristo em muitos corações e os ajudou a recuperar a sua dignidade perdida.
     Com cerca de setenta anos, Madre Maria Karlowska entregou a sua alma a Deus em 24 de março de 1935, deixando para a posteridade uma obra reconhecida, de uma grande ajuda para a Igreja na Polônia e nos países vizinhos.
     Ela foi beatificada a 6 de junho de 1997 em Zakopane (Polônia) por João Paulo II.


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