Quando seus pais venderam a fazenda da
família, Maria foi viver com eles em Poznan, onde começou seus estudos na
escola secundária para meninas católicas. Ficou órfã de seus pais quando tinha
17 anos. Depois que seus pais morreram em 1882, prometeu viver em castidade
durante toda a vida. Ela ainda não pensava em tornar-se religiosa, pois precisava
trabalhar para ajudar seus irmãos e irmãs. Viajou pouco depois para Berlim no
intuito de ali aprender o ofício de costureira.
Frequentou a escola de costura por um ano
e fez um curso em Berlim. Após o treinamento, exerceu a sua profissão em
Poznan, auxiliando a irmã mais velha, Wanda, como instrutora na escola de
costura. Na terra natal exerceu uma ação caridosa tornando-se uma verdadeira
samaritana no meio das mulheres tocadas pela grande miséria social e moral.
Filha de pais educados, acostumados com a
vida de uma família nobre, embora então decadente, Maria não tinha ideia da
pobreza moral das mulheres que praticavam a prostituição para ganhar a vida, quando
começou a visitar os doentes e os pobres mais pobres das ruas da cidade. Um
imperativo interior a levou a esses lugares onde a pobreza material era
associada com a prostituição.
Em novembro de 1892, Maria encontrou uma
prostituta pela primeira vez. Este encontro foi decisivo para a sua vocação,
porque a partir de então toda a sua energia se concentraria nestas mulheres que
Maria queria ajudar a sair de uma situação onde voluntária ou involuntariamente
se tinham colocado, e a cortar os laços que as retinham naquela
vida. Exortava as mulheres à deixarem a vida pecaminosa e as preparava
para receberem os santos sacramentos.
Naquela época, a prostituição era tolerada
pelas autoridades estaduais. Essas pessoas eram registradas e eram obrigadas a
fazerem exames médicos regulares, para evitar a propagação de doenças venéreas.
Depois de um ano e meio deste apostolado a desaprovação geral forçou a jovem a
esconder suas atividades, rejeitada até por membros da família que consideravam
desonrosa sua preocupação com prostitutas.
O seu zelo nesta obra difícil atraiu outras
mulheres com quem fundou a Congregação das Irmãs Servas do Bom Pastor e da
Divina Providência. Para as irmãs e para ela mesma, ela já tinha estabelecido o
seguinte objetivo: “Nós devemos
anunciar o Coração de Jesus, quer dizer, viver Dele, Nele e por Ele, de maneira
a nos tornarmos como Ele, e nós devemos fazer de maneira que em nossas vidas
Ele se torne mais visível do que nós mesmas”.
Com o tempo e a perseverança de todas as Irmãs,
este apostolado começou a dar bons resultados, e muitas dessas mulheres
começaram a levantar a cabeça e a enveredar resolutamente pelo caminho certo.
Algumas até se tornaram mães exemplares e outras tantas apóstolas junto
daquelas que ainda estavam relutantes em voltar para trás.
Maria Karlowska tinha o dom de guiar as
almas. Ela sabia o que fazer para trazer as jovens ao caminho certo. Para
acalmar o comportamento das jovens, Maria usava a bondade; se fosse
imprescindível, assumia uma atitude de rigor, não hesitando em usar palavras
duras e exigentes. Ela sabia qual era a luta delas contra a sua natureza
degradada, e por isso cercava-as de afeto, suportando pacientemente as
explosões de seu temperamento, acalmando a impulsividade e a impetuosidade com
a doçura.
A catequese tinha prioridade na
reabilitação das jovens; quanto ao trabalho físico também usado na reabilitação,
era fundamental descobrir as habilidades de cada jovem, para dar-lhes um trabalho
adequado às suas predisposições naturais.
De acordo com Maria Karlowska, a “santidade consiste em fazer coisas comuns de
forma extraordinária, com carinho e dedicação… Tal santidade é oculta diante
dos olhos humanos, presentes apenas nos olhos de Deus”. Às suas irmãs, dizia
que “a santidade é uma corrente
cujos anéis são chamados de virtudes, e da ruptura de um, corre-se o risco de
perder toda a corrente”.
Maria Karlowska era muito inteligente,
virtuosa, tinha o dom da iniciativa e uma extraordinária concentração e habilidade,
mas ao mesmo tempo era muito moderada e simples. Surpreendia a todos com sua
vontade de ferro e sua grande diligência.
A essência espiritual da Congregação
fundada por Maria Karlowska está em trabalhar com todas as forças pela salvação
das almas, e, assim, constantemente lutar para se identificar com o Bom Pastor.
Por esta razão os Pastorelle (como são chamados os que fazem parte da
Congregação), emitem um quarto voto, isto é, a conversão de almas.
Para atingir este objetivo, Maria Karlowska
com as palavras, escritos, e especialmente por seu exemplo de vida, declarou a
importância e a necessidade de todos viverem a virtude da castidade. Para
ela, “temos de brilhar pela castidade imaculada, devemos expressá-la com o bom caráter… em toda a sua perfeição… Essa
virtude deve ser a base do nosso ministério… O Bom Pastor deve despertar neles
o amor para com a virtude da castidade”.
Ela agradecia a Deus pelas graças e
favores resultantes da obediência total à Igreja Católica: “A união com Deus e a Igreja é a minha força,
segurança, esperança e toda a minha glória”, escreveu, exortando as Irmãs a
viverem sempre fieis à Santa Igreja, porque a união com a Igreja encoraja a
santidade pessoal.
De sua vida e dos seus escritos podemos
perceber que ela foi uma alma contemplativa, de silêncio e oração. Rezava
muito, passava as noites sem dormir, rezando incessantemente. Toda a sua
confiança era depositada no Bom Pastor, confiando totalmente a Ele e somente a
Ele as almas dedicadas. Ela amava a serenidade e o silêncio que a mantinham
unida a Deus, porque “Deus fala à uma
alma em silêncio”. A oração, para Maria Karlowska, devia ser sempre
sincera, ardente, incessante, insistente, e devia ter como objetivo principal a
salvação das almas.
A luta contra o pecado era uma expressão
de seu compromisso com a santidade. Na sua opinião, não há verdadeira vida apostólica sem a constante luta com o mal. Mesmo
um pecado venial é um grande mal. Um sinal dessa luta é o sentimento de
pesar que um deve ter diante dos pecados.
De sua vida interior vinha uma força e um
extraordinário dom de saber como esconder seus sofrimentos físicos e morais com
um sorriso e com o pleno autocontrole. Era cheia de amor e misericórdia
para com toda a miséria espiritual e material, era verdadeira mestre de vida
espiritual e exigia de si e dos outros uma autêntica santidade, cuja essência
reside na junção perfeita da vontade humana com a vontade e lei divinas. Especialmente
seus escritos oferecem um manual para o ensino sobre a conversão e progresso na
vida espiritual.
Na atividade social com a qual tentou
diminuir o mal e multiplicar o bem, ela descobriu o valor do trabalho na
reabilitação, com uma rica pedagogia e, desta forma, contribuiu para a moral de
reeducação de mais de cinco mil jovens e mulheres.
O sistema educacional criado pela Madre
Karlowska foi excepcional e baseado principalmente no exemplo que nos é
oferecido por Jesus, e enfatiza a liberdade e a boa vontade. “Toda prática religiosa é um ato livre”.
Tanto as autoridades eclesiásticas, como
as governamentais, manifestaram a sua admiração pelo sucesso e bons resultados
do instituto educacional na reabilitação das jovens que eram consideradas um
flagelo e uma vergonha para a sociedade polonesa. Maria Karlowska foi
capaz de dar dignidade a estas criaturas caídas e humilhadas, porque em cada
uma delas via a imagem de Deus, uma filha amada de Deus, que ainda poderiam se
redimir.
A Providência Divina era o fundamento da
sua esperança, e uma característica predominante em sua Congregação. O Amor de
Deus foi o motivo pelo qual ela ainda muito jovem emitiu o voto de castidade e
pela mesma razão fundou a Congregação. Este Amor encontra a sua plena
expressão em fazer a Vontade de Deus em tudo e sempre, e em se submeter a
qualquer momento. Ela aceitava as cruzes da vida e agradecia a Deus pelo
sofrimento. Para ela só o pecado é o
maior mal, e assim ela odiava todo pecado porque ele ofende o amor de Deus.
O Amor
de Deus é inseparável do amor ao próximo. Testemunhas enfatizaram o fato de que
a Beata tinha um amor sobrenatural para com todos, e o exercia em um grau mais
eminente. O amor ao próximo foi o principal motivo para todas as suas
atividades de apostolado. A Beata sempre manifestou um grande amor à Congregação
e também à Polônia.
A sua devoção ao Sagrado Coração despertou
nela uma dedicação ao próximo e um amor que nunca diz “chega”. Foi tudo para
todos, e por meio do amor e da ação do Espírito Santo ela restaurou a luz de
Cristo em muitos corações e os ajudou a recuperar a sua dignidade perdida.
Com cerca de setenta anos, Madre Maria
Karlowska entregou a sua alma a Deus em 24 de março de 1935, deixando para a
posteridade uma obra reconhecida, de uma grande ajuda para a Igreja na Polônia
e nos países vizinhos.
Ela foi beatificada a 6 de junho de 1997
em Zakopane (Polônia) por João Paulo II.
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