Chamou-nos
a atenção, enquanto fazíamos uma busca em textos antigos, o conteúdo do artigo
que damos a seguir. Há tanta conexão com o Centenário de Fátima, que nos
pareceu interessante trazê-lo ao conhecimento dos leitores deste blog. Que a
Virgem Ibérica volte a reinar na nação que a profanou!
Virgem Iverskaia,
esperança de conversão da Rússia
Uma
das mais importantes coleções de ícones – pinturas religiosas típicas do
Oriente – existentes na Europa, e talvez no mundo, encontra-se na pequena
cidade de Torrejón de Ardoz, não longe de Madri. Ali, na antiga granja do
Colégio Jesuíta de Santo Isidro, é que o nobre Sérgio Otzoup instalou seu Museu
de Ícones.
Não se sabe ao certo a data da construção
do conjunto de edifícios da granja, mas tudo leva a crer que tenha sido nos primeiros
anos do século XVII, quando a Companhia de Jesus adquiriu um pedaço de terra em
Torrejón, para usá-lo no abastecimento do Colégio Imperial, fundado pela Imperatriz
Maria, filha de Carlos V e viúva de Maximiliano I.
Com a expulsão dos jesuítas da Espanha em
1767, a granja foi adquirida por D. Juan de Aguirre. Em 1805, o extenso imóvel
estava em poder da casa dos Pignatelli de Aragão, Condes de Fuentes, muito
chegados aos filhos espirituais de Santo Inácio, aos quais devolveram o direito
sobre o solar, durante a restauração da Companhia de Jesus no reinado de
Fernando VII.
Expulsos novamente os jesuítas da Espanha
no século XIX, volta a granja às mãos dos Condes de Fuentes, permanecendo com
eles até 1902. Por fim, restaurada por D. Rafael Onieva Ariza, com toda a
magnificência atual, foi ela destinada para fins culturais, recebendo o nome de
La Casa Grande.
* * *
Se percorrermos as dependências de La Casa
Grande, e penetrarmos no Museu de Ícones, uma pintura da Mãe de Deus chama
especialmente a atenção: a Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica.
Nela, a Mãe de Deus é representada tendo
em seu braço esquerdo o Menino Jesus, com a majestade de quem se assenta em seu
trono natural. É em Maria que encontra Jesus suas complacências. A Virgem, ao
mesmo tempo que sustém com todo cuidado e proteção o Menino Deus, com o braço direito
indica ao fiel ser Ele o modelo de todas as perfeições e o Juiz supremo de
todas as causas. Como Medianeira Universal de todas as graças que é, seu terno
olhar volta-se para cada devoto que se apresenta a seus pés invocando sua
intercessão e confiando em seu amparo.
A harmonia, a doçura que se desprendem da
pintura – toda feita de cores em que predominam o vermelho e o dourado, mas
suaves e matizadas – são contrariadas violentamente ao observarmos nela alguns
furos ocasionados por balas de fuzil. Percebem-se marcas claríssimas de
fuzilamento, tanto no rosto da Mãe quanto no do Filho!
Esse fato tão insólito encontra sua
explicação em passado ainda recente. Sua data? 13 de maio de 1917!
Sim. Enquanto em Fátima Nossa Senhora
aparecia pela primeira vez, dando início a uma série de manifestações em que
profetizava a expansão dos erros da Rússia pelo mundo inteiro, como açoite
pelos pecados do gênero humano, e prometia o triunfo final de Seu Coração
Imaculado, em Moscou, essa profanação era cometida durante os distúrbios que
precederam à revolução bolchevista.
* * *
Infelizmente, como se sabe, com o cisma do
Oriente, pequeno foi o número dos fiéis que, no Império dos Czares, continuaram
a manter sua fidelidade ao trono de São Pedro. Um belo exemplo do que restou
dessa união com a Cátedra da Verdade deu-se no jubileu de São Pio X, quando uma
delegação de católicos russos presenteou o Santo Pontífice com um ícone da Mãe
de Deus, justamente sob a invocação de Virgem Iverskaia. De onde, tudo leva a
crer que esse culto a Nossa Senhora é anterior à ruptura daquela nação com
Roma. Tendo até, quem sabe, um significado auspicioso para a conversão da Rússia,
anunciada na Mensagem de Fatima.
Dentro do cisma, a Virgem Santíssima
continuou ainda a ser cultuada – se bem que fora da verdadeira Igreja de Cristo
– em muitíssimos santuários, e por meio de vários ícones espalhados por todo
aquele vasto território. Entre estes,
destacava-se o da Virgem Ibérica, que é padroeira de Moscou, e cujo nome tinha
sua origem na Ibéria, região do sul da Rússia, na zona do Cáucaso. Esta pintura
de Maria ficava exposta numa pequena capela na entrada do Kremlin. Segundo
prospectos e cartões do museu de Torrejón de Ardoz, esse ícone teria sido
pintado no século XVI.
Deposto o Czar, durante a efêmera regência
do Príncipe Lvov, sob o governo de Kerensky, a capela de tal forma foi destruída
naquele dia 13 de maio do ano da Revolução comunista, que dela não restou pedra
sobre pedra. O ícone da Virgem Iverskaia foi fuzilado e consta que chorou ao
ser profanado! Considerada perdida durante esses meses que antecederam a
revolução bolchevista, a pintura da Mãe de Deus pode ser conservada juntamente
com outros tantos ícones, graças a Sérgio Otzoup, que em dezembro de 1918
conseguiu retirá-los da Rússia.
Hoje, exposta no Museu de Ícones de La
Casa Grande, a Virgem Iverskaia – profanada por ódio à Religião – permanece como
sinal de esperança, sobretudo para a Rússia e também para o mundo, da nova era
prometida por Nossa Senhora em Fátima, e profetizada por São Luís Maria Grignion
de Montfort – o extraordinário missionário francês do século XVII – como sendo
o Reino de Maria!
Fonte:
Revista Catolicismo, maio de 1986
Auxilium Christianorum, ora pro nobis!
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