“Santa
Odília, nas nossas trevas, ajudai-me e rezai por mim. Fazei despertar em mim a
luz dos olhos e do coração”.
Na época de Childerico II, havia na
Alsácia, quando esta região era um ducado da Alemanha, um duque franco chamado
Adalrico, primeiro Duque da Alsácia, casado com Beresinda, sobrinha de São
Leodegário, Bispo de Autun.
Adalrico, também conhecido como Eticho, foi
o fundador da família dos Etichonids e dos Habsburgo, e era uma importante e
influente figura na política da Austrásia (região no Nordeste da França atual,
compreendendo também parte da Alemanha, Bélgica e Países Baixos) do final do
século VII.
O casal ducal vivia em Obernheim, nas
montanhas do Vosges, cerca de 40 km ao sul de Strasbourg, no sopé do Monte
Hohenburg.
O duque havia sido batizado a pouco e não
era um cristão muito fervoroso, mas aprovava as obras de caridade feitas por sua
esposa, uma cristã piedosa. Eles esperavam um filho que assegurasse a sua
descendência e sucessão, mas, por volta do ano 660 nasceu-lhes uma filha... e
cega! O pai encolerizado considerou tal nascimento uma desgraça e desonra para
a família. A mãe tentou apaziguá-lo dizendo que era a vontade de Deus, que Ele
devia ter seus desígnios... Tudo em vão, o pai chegou a desejar que matassem a
menina.
Beresinda conseguiu finalmente dissuadi-lo desse crime, mas ele a fez prometer
que levaria a criança para longe sem dizer a que família pertencia. Beresinda
cumpriu a primeira parte da promessa, mas não a segunda, pois confiou a menina
aos cuidados de uma ama que estivera a seu serviço e lhe disse que era sua
filha. Beresinda providenciou a ida de toda a família da ama para o local que
hoje é conhecido como Baume-le-Dames, próximo de Besançon, onde havia um
convento em que a menina poderia educar-se mais tarde.
Ali viveu ela até os doze anos sem ter sido batizada. Foi então que um anjo
revelou a Santo Heraldo, Bispo de Regensburg, abade do mosteiro recém-fundado
de Eberheim-Münster, que ele devia ir ao convento de Baume, aonde encontraria
uma jovem cega de nascença que devia batizar e dar-lhe o nome de Odília, “luz
de Deus”.
Santo Heraldo foi consultar São Hidulfo em Moyenmoutier e, juntos, se dirigiram
a Baume, onde fizeram o que tinha sido indicado na revelação. Depois de ungir a
cabeça de Odília, Santo Eraldo passou o óleo do Crisma em seus olhos e ela
recobrou a visão.
Odília permaneceu no convento servindo a Deus. Porém, o milagre que recebera e
os progressos que fazia em seus estudos provocaram a inveja de algumas das
religiosas, que tornaram sua vida difícil.
Santo Heraldo procurou Adalrico e relatou
o milagre ocorrido com sua filha e pediu que ele a recebesse no castelo. Nessa
época já havia nascido um herdeiro, irmão de Odila, chamado Hugo. O pai não se
abrandou diante do milagre e proibiu o filho de ajudar a irmã. Hugo desobedeceu
ao pai e mandou vir a irmã.
Um dia em que Hugo e Adalrico estavam em uma colina dos arredores, Odília chegou
em uma charrete, seguida por uma multidão. Ao vê-la, Adalrico, em um acesso de
fúria, golpeou com seu cetro a cabeça do filho, matando-o acidentalmente.
Desonrado, ele relutantemente acolheu Odília no castelo. Os remorsos finalmente
mudaram seu coração e ele começou a amar sua filha tanto quanto a havia odiado
antes.
Odília se fixou em Obernheim com algumas companheiras que se dedicavam como ela
aos atos de piedade e às obras de caridade entre os pobres.
Adalrico, convertido graças às orações da filha, deu a ela o castelo que
possuía no Monte Hohenburg. Odília transformou-o em mosteiro e foi sua primeira
abadessa. Este foi o primeiro mosteiro feminino da Alsácia.
O Monte Hohenburg tem mais de 2.000 m de altura e fica próximo do vale do Reno.
Como a montanha era muito escarpada e dificultava o acesso dos peregrinos,
Santa Odília fundou outro convento, Niedermünster, um pouco mais abaixo, a 703
m, e edificou um hospital junto a ele para acolher pobres e leprosos. São João
Batista lhe apareceu e indicou o local e as dimensões da capela que devia
construir ali em sua honra.
Odília
adotou a regra beneditina, o que sugere a influência de seu tio-avô, São
Leodegário, grande apóstolo do monasticismo beneditino na região. Em apenas dez
anos o mosteiro já abrigava 130 religiosas, entre as quais três filhas de
Adelardo, outro irmão de Santa Odília. Estas sobrinhas foram: Santa Eugênia,
sucessora de Santa Odília, Santa Atala, abadessa do mosteiro de Santo Estevão
de Strasbourg, e Santa Gundelinda.
Odília governou os dois conventos e tornou-se popularíssima na Alsácia, na
Lorena e na região de Baden. Conta-se que após a morte do pai Santa Odília
soube, durante uma visão, que ele fora livre do Purgatório graças às suas orações
e penitências.
Uma Fonte de Santa Odília existe ainda hoje. Ela fica fora do mosteiro, e,
segundo a tradição, Santa Odília a fez surgir tocando a rocha com o cordão de
seu hábito. Conta-se que ela voltava da costumeira visita aos doentes, quando
encontrou um homem cego que lhe pediu água. Como ela não tivesse água à mão,
fez o milagre. E o homem ficou curado da cegueira. Muitas outras visões da
Santa são narradas e numerosos milagres lhe são atribuídos. Há também profecias
suas que sugerem a eclosão das guerras do século XX.
Depois de governar o mosteiro durante
muitos anos, Santa Odília morreu no dia 13 de dezembro de 720, deitada sobre
uma pele de urso. Como Santa Odília não pudera receber o Santo Viático, as
prementes orações de suas irmãs de hábito alcançaram a graça dela recobrar a
vida. Após descrever as belezas do Céu para elas e receber o Viático, a Santa
morreu novamente e foi sepultada na Igreja do mosteiro.
As suas fundações são mencionadas pela primeira vez em 783, numa doação feita
para a abadessa da época. Carlos Magno garantiu imunidade às fundações de Santa
Odília, o que foi confirmado em 9 de março de 837 por Luís, o Pio
(Böhmer-Mühlbacher, "Regesta Imperii", I, 866, 933).
A Igreja de São João Batista e o túmulo da Santa foram mencionados pela
primeira vez pelo Papa Leão IX em 17 de dezembro de 1050. O Imperador Frederico
I mandou restaurar a igreja e o mosteiro. A Abadessa Relinde estabeleceu ali
uma escola para as filhas da nobreza. Uma outra abadessa, Herrade de Landsberg
(1167-1195) tornou-se a famosa autora de um importante trabalho teológico
chamado Hortus Deliciarum (Paradiesgarten). Em 1546, Niedermünster foi
destruído num incêndio e as religiosas não mais retornaram.
Todos os imperadores alemães, desde Carlos
Magno, a homenagearam. Até o Papa Leão IX e o Rei Ricardo I da Inglaterra foram
visitar seu túmulo.
Algumas relíquias da Santa foram transferidas para outros locais. O Imperador
Carlos IV, por exemplo, recebeu o braço direito em 4 de maio de 1353, relíquia
que hoje se encontra em Praga. Outras relíquias, que ficaram no mosteiro
primitivo, foram salvas da Revolução Francesa - inclusive o sarcófago, que
recebeu posteriormente um revestimento de mármore - e foram colocadas sob o
altar em 1842. As relíquias que foram levadas para Einsiedeln no século XVII
foram destruídas pela Revolução.
Seu túmulo é venerado e ainda hoje milhares de peregrinos a procuram e lhe
prestam culto. O Monte Santa Odília é o local da Alsácia mais frequentado pelos
católicos. Santa Odília foi designada patrona da Alsácia em 1807 pelo Papa Pio
VII. Ela é também patrona de Strasbourg e é invocada nas doenças dos olhos e
dos ouvidos. É venerada também na diocese de Mônaco, Meissen e nas abadias
beneditinas femininas da Áustria.
Santa Odília é festejada no dia de sua morte, 13 de dezembro. No Monte Santa
Odília ela é celebrada no dia do aniversário da transladação de suas relíquias
ocorrida em 7 de julho de 1842.
Desde o século XV, a Baviera e a Alsácia adotaram a versão Otília de seu nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário