terça-feira, 2 de outubro de 2018

São Manuel Rodrigues de Moura e esposa, mártires de Cunhaú, RN - 3 de outubro


Martirológio Romano: Na margem do Rio Uruaçu perto de Natal, no Brasil, Beato Ambrósio Francisco Ferro, sacerdote e companheiros mártires, vítimas da repressão perpetrada contra a fé católica.

O contexto histórico
     A evangelização no Rio Grande do Norte foi iniciada em 1597 por missionários jesuítas e sacerdotes diocesanos vindos do católico Portugal, começando com a catequese dos índios e pela formação das primeiras comunidades cristãs.
     Nos anos seguintes houve desembarques de franceses e holandeses, com a intenção de expulsar dos locais colonizados os portugueses: os holandeses conseguiram em 1630. De confissão calvinista, acompanhados por seus pastores, eles determinaram na área, até então pacífica, uma restrição da liberdade de culto. Na prática, os católicos foram perseguidos.
     Na época, havia apenas duas paróquias no Rio Grande do Norte: em Cunhaú, a paróquia de Nossa Senhora da Purificação ou das Candeias, liderada pelo pároco Pe. André de Soveral, membro da Companhia de Jesus; em Natal, a paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, cujo pároco era o Pe. Ambrósio Francisco Ferro.

O martírio de Manuel Rodrigues de Moura e sua esposa
     Ambas as paróquias foram vítimas de graves perseguições religiosas calvinistas: os fiéis de Cunhaú foram massacrados em 16 de julho de 1645, juntamente com seu pároco.
     Pressionados pelo acontecido em Cunhaú, os católicos de Natal tentaram se salvar. Um grupo de 80 pessoas improvisou uma paliçada no território de Potengi (hoje São Gonçalo do Amarante), a 25 quilômetros de Fortaleza. Foi inútil: homens, mulheres e crianças foram enviados pelas autoridades holandesas para um local estabelecido em Uruaçu, próximo ao rio homônimo
    No dia 3 de outubro de 1645 foram mortos por soldados e cerca de 200 índios comandados pelo líder indígena Antonio Paraopaba, que tendo se convertido ao protestantismo calvinista, nutria uma verdadeira aversão dos católicos.
     Entre as vítimas do massacre também se encontrava um casal. Dos dois temos apenas o nome dele, Manuel Rodrigues de Moura. Após a morte do marido, a mulher, que o acompanhava, teve mãos e pés amputados. Ela morreu ao lado do esposo, após três dias de agonia.

O caminho para os altares
     A autorização para o início de sua causa, incluindo as vítimas de Cunhaú e de Natal, tem data de 6 de junho de 1989. A fase diocesana foi então aberta na diocese de Natal no mesmo ano e terminou em 1994. Em 25 de novembro de 1994 chegou o decreto de validação do inquérito diocesano.
     Em 28 de outubro de 1997 ocorreu o encontro dos Consultores históricos da Congregação para as Causas dos Santos, seguido em 1998 pela entrega da "Positio super martyrio". Em 23 de junho do mesmo ano, os consultores teológicos deram uma opinião favorável sobre o martírio dos 30 brasileiros; seu julgamento positivo foi confirmado em 10 de novembro pelos cardeais e bispos membros da Congregação.
     Em 21 de dezembro de 1998, o Papa autorizou a promulgação do decreto pelo qual o Pe. André de Soveral e seus companheiros foram declarados mártires; eles foram beatificados em 5 de março de 2000.
     A 23 de março de 2017 o Papa Francisco aprovou os votos da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos membros da Congregação para as Causas dos Santos sobre a sua canonização, sem mais um milagre; a canonização foi celebrada em 15 de outubro de 2017.
     Como resultado, Manuel Rodrigues de Moura e sua esposa é o segundo casal canonizado juntos, bem como o primeiro em que ambos são mártires e santos.

Os mártires
     A história do grupo é contada no livro "Beato Mateus Moreira e seus Companheiros Mártires", do Mons. Francisco de Assis Pereira.
    Nele o autor relata que no dia 16 de julho de 1645, na então cidade de Cunhaú (em Canguaretama), 69 pessoas foram assassinadas durante uma missa celebrada pelo Pe. André de Soveral. Já no dia 3 de outubro daquele mesmo ano, outro grupo de católicos foi assassinado durante uma Missa em Natal, na capital do Estado. De lá, o sacerdote Ambrósio Francisco Ferro foi levado para a cidade de Uruaçu (em São Gonçalo do Amarante) e assassinado junto a outros 80 fiéis.
     De acordo com Mons. Pereira, todos foram mortos porque os holandeses não aceitavam a prática do Catolicismo nas áreas por eles dominadas. Ainda segundo o relato do autor da obra, um dos camponeses mortos, chamado de Mateus Moreira, repetia a frase "Louvado seja o Santíssimo Sacramento" antes de ter seu coração arrancado.
     Além de Moreira, os 27 leigos que foram canonizados são Antônio Vilela Cid, Antônio Vilela e sua filha (identificada apenas como uma criança do sexo feminino), Estêvão Machado de Miranda e duas filhas (também não identificadas por nome, mas uma delas tinha apenas alguns meses), Manoel Rodrigues de Moura e sua esposa (também não identificada por nome), João Lostau Navarro, José do Porto, Francisco de Bastos, Diogo Pereira, Vicente de Souza Pereira, Francisco Mendes Pereira, João da Silveira, Simão Correia, João Martins e seus sete companheiros (identificados apenas como um grupo de jovens que se recusaram a lutar pela Holanda contra Portugal), a filha de Francisco Dias - apesar do nome de Francisco não estar entre as vítimas, é provável que ele tenha morrido junto à filha identificada apenas como uma criança -, Antônio Baracho e Domingos de Carvalho. As causas das mortes dos mártires foram diversas, sendo alguns assassinados por espadas, outros por espancamento e mutilações e alguns tendo sido queimados vivos.

Fontes:

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