Martirológio
Romano: Na margem do Rio Uruaçu perto de Natal, no Brasil, Beato Ambrósio
Francisco Ferro, sacerdote e companheiros mártires, vítimas da repressão
perpetrada contra a fé católica.
O contexto histórico
A evangelização no Rio Grande do Norte foi
iniciada em 1597 por missionários jesuítas e sacerdotes diocesanos vindos do
católico Portugal, começando com a catequese dos índios e pela formação das
primeiras comunidades cristãs.
Nos anos seguintes houve desembarques de
franceses e holandeses, com a intenção de expulsar dos locais colonizados os
portugueses: os holandeses conseguiram em 1630. De confissão calvinista,
acompanhados por seus pastores, eles determinaram na área, até então pacífica,
uma restrição da liberdade de culto. Na prática, os católicos foram
perseguidos.
Na época, havia apenas duas
paróquias no Rio Grande do Norte: em Cunhaú, a paróquia de Nossa Senhora da
Purificação ou das Candeias, liderada pelo pároco Pe. André de Soveral, membro
da Companhia de Jesus; em Natal, a paróquia de Nossa Senhora da Apresentação,
cujo pároco era o Pe. Ambrósio Francisco Ferro.
O martírio de Manuel Rodrigues de Moura e sua esposa
Ambas as paróquias foram vítimas de graves
perseguições religiosas calvinistas: os fiéis de Cunhaú foram massacrados em 16
de julho de 1645, juntamente com seu pároco.
Pressionados pelo acontecido em Cunhaú, os
católicos de Natal tentaram se salvar. Um grupo de 80 pessoas improvisou uma paliçada
no território de Potengi (hoje São Gonçalo do Amarante), a 25 quilômetros de
Fortaleza. Foi inútil: homens, mulheres e crianças foram enviados pelas
autoridades holandesas para um local estabelecido em Uruaçu, próximo ao rio
homônimo
No dia 3 de outubro de 1645 foram mortos
por soldados e cerca de 200 índios comandados pelo líder indígena Antonio
Paraopaba, que tendo se convertido ao protestantismo calvinista, nutria uma
verdadeira aversão dos católicos.
Entre as vítimas do massacre também se
encontrava um casal. Dos dois temos apenas o nome dele, Manuel Rodrigues de
Moura. Após a morte do marido, a mulher, que o acompanhava, teve mãos e pés amputados.
Ela morreu ao lado do esposo, após três dias de agonia.
O caminho para os altares
A autorização para o início de sua causa,
incluindo as vítimas de Cunhaú e de Natal, tem data de 6 de junho de 1989. A
fase diocesana foi então aberta na diocese de Natal no mesmo ano e terminou em
1994. Em 25 de novembro de 1994 chegou o decreto de validação do inquérito
diocesano.
Em 28 de outubro de 1997 ocorreu o
encontro dos Consultores históricos da Congregação para as Causas dos Santos,
seguido em 1998 pela entrega da "Positio super martyrio". Em 23 de
junho do mesmo ano, os consultores teológicos deram uma opinião favorável sobre
o martírio dos 30 brasileiros; seu julgamento positivo foi confirmado em 10 de
novembro pelos cardeais e bispos membros da Congregação.
Em 21 de dezembro de 1998, o Papa autorizou
a promulgação do decreto pelo qual o Pe. André de Soveral e seus companheiros
foram declarados mártires; eles foram beatificados em 5 de março de 2000.
A 23 de março de 2017 o Papa Francisco
aprovou os votos da Sessão Ordinária dos Cardeais e Bispos membros da
Congregação para as Causas dos Santos sobre a sua canonização, sem mais um
milagre; a canonização foi celebrada em 15 de outubro de 2017.
Como resultado, Manuel Rodrigues de Moura
e sua esposa é o segundo casal canonizado juntos, bem como o primeiro em que
ambos são mártires e santos.
Os mártires
A história do grupo é contada no livro
"Beato Mateus Moreira e seus Companheiros Mártires", do Mons.
Francisco de Assis Pereira.
Nele o autor relata que no dia 16 de julho
de 1645, na então cidade de Cunhaú (em Canguaretama), 69 pessoas foram
assassinadas durante uma missa celebrada pelo Pe. André de Soveral. Já no dia 3
de outubro daquele mesmo ano, outro grupo de católicos foi assassinado durante
uma Missa em Natal, na capital do Estado. De lá, o sacerdote Ambrósio Francisco
Ferro foi levado para a cidade de Uruaçu (em São Gonçalo do Amarante) e assassinado
junto a outros 80 fiéis.
De acordo com Mons. Pereira, todos foram
mortos porque os holandeses não aceitavam a prática do Catolicismo nas áreas
por eles dominadas. Ainda segundo o relato do autor da obra, um dos camponeses
mortos, chamado de Mateus Moreira, repetia a frase "Louvado seja o Santíssimo Sacramento" antes de ter seu coração
arrancado.
Além de Moreira, os 27 leigos que foram
canonizados são Antônio Vilela Cid, Antônio Vilela e sua filha (identificada
apenas como uma criança do sexo feminino), Estêvão Machado de Miranda e duas
filhas (também não identificadas por nome, mas uma delas tinha apenas alguns
meses), Manoel Rodrigues de Moura e sua esposa (também não identificada por
nome), João Lostau Navarro, José do Porto, Francisco de Bastos, Diogo Pereira,
Vicente de Souza Pereira, Francisco Mendes Pereira, João da Silveira, Simão
Correia, João Martins e seus sete companheiros (identificados apenas como um
grupo de jovens que se recusaram a lutar pela Holanda contra Portugal), a filha
de Francisco Dias - apesar do nome de Francisco não estar entre as vítimas, é
provável que ele tenha morrido junto à filha identificada apenas como uma
criança -, Antônio Baracho e Domingos de Carvalho. As causas das mortes dos
mártires foram diversas, sendo alguns assassinados por espadas, outros por
espancamento e mutilações e alguns tendo sido queimados vivos.
Fontes:
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