terça-feira, 30 de abril de 2019

30 de abril - Instituição da Festa da Divina Misericórdia e canonização de Santa Faustina

    


     Em 30 de abril do ano 2000, há 19 anos, João Paulo II celebrava a canonização da Beata Maria Faustina Kowalska. Durante a celebração, olhando para o futuro da Igreja e da humanidade, o Papa João Paulo II afirmou: “a luz da misericórdia divina, que o Senhor quis como que entregar de novo ao mundo através da Irmã Faustina, iluminará o caminho dos homens do terceiro milênio”.
     Naquela mesma data ele instituiu a Festa da Divina Misericórdia, um momento muito aguardado por toda a Igreja e pelos devotos da Divina Misericórdia. A expectativa crescia na medida em que os fiéis em todo o mundo tomavam consciência do quanto o mundo tem necessidade da Misericórdia Divina.
     Em 1980 o Papa João Paulo II publicou a encíclica Dives in Misericordia (Deus, Rico em Misericórdia) dedicada exclusivamente à Divina Misericórdia. Nela, ele incentiva: “Em nenhum momento e em nenhum período da história – especialmente numa época tão crítica como a nossa – a Igreja pode esquecer a oração, que é o grito de apelo à Misericórdia de Deus perante as múltiplas formas de mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam…Quanto mais a consciência humana, sucumbindo à secularização, perder o sentido do significado próprio da palavra ‘misericórdia’ e quanto mais, afastando-se de Deus, se afastar do mistério da misericórdia, tanto mais a Igreja terá o direito e o dever de fazer apelo ao Deus da Misericórdia com grande clamor“ (DM 15).



Diário de Santa Faustina – 205

     Ressurreição. Hoje, durante a Missa da Ressurreição, vi a Nosso Senhor numa grande claridade; Ele se aproximou de mim e disse: “A paz esteja convosco, Minhas filhas”, e ergueu a mão num gesto de bênção. As Chagas das mãos e dos pés e do lado eram visíveis e brilhavam. Então olhou para mim com tanta clemência e amor que a minha alma mergulhou toda Nele - e disse-me: “Participastes muito da Minha Paixão, por isso faço com que tenhas também uma grande participação na Minha glória e alegria”. Toda a Missa da Ressurreição não me pareceu mais que um só minuto. Um extraordinário recolhimento me envolveu e durou a Páscoa toda. A bondade de Jesus é tão grande, que não é possível expressá-la em palavras.

Mártires do século XXI



     Sudesh Kolonne estava estacionando o carro perto da igreja de Negombo, no Sri Lanka, na manhã deste Domingo de Páscoa, quando ouviu o estrondo de uma das covardes explosões terroristas que ceifaram centenas de vidas inocentes em plena solenidade da Ressurreição de Cristo.
     Sua esposa, Manik Suriyaaratchi, e a filha de 10 anos do casal, Alexendria, estavam lá dentro.
     “Ouvi um barulho enorme e entrei na igreja e vi que a minha esposa e a minha filha estavam no chão. Na hora em que vi a minha filha no chão eu tentei levantá-la, mas ela já estava morta. E aí, exatamente a mesma coisa… A minha esposa também. Esse é o fim da história; o fim da história da minha filha e da minha esposa”.
     Amigo da família, Fahim Mawjood foi entrevistado pela rede SBS News durante uma vigília de oração em Melbourne, na Austrália, em intenção das vítimas do atentado terrorista. Ele relatou que a família vitimada tinha cidadania australiana e retornara ao país natal cerca de quatro anos antes para cuidar da mãe de Sudesh.

Com informações do blog Ancoradouro


Outras pequenas vítimas do monstruoso atentado. Fariam sua 1a Comunhão naquele dia. Receberam Jesus no Céu.

     Que o sangue e as lágrimas de nossos irmãos católicos que vivem em países de tão alto índice de cristianofobia sirvam para converter os católicos apáticos e pusilânimes do Ocidente!
     As orações e as homenagens deste blog às vítimas deste atentado.





Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado – 28 de abril

     
     Da educação salesiana ao compromisso na Ação Católica e depois na clausura entre as Filhas de Santa Teresa d’Avila. Foi o caminho de Maria Felícia de Jesus Sacramentado, Maria Felícia Guggiari Echeverria, chamada afetuosamente pelo pai “Chiquitunga”, em razão de seu físico diminuto. Foi beatificada pelo Cardial Angelo Amato, representando o Papa Francisco, no dia 23 de junho de 2018, no estádio Nueva Olla de Assunção, no Paraguai.

     Maria Felícia nasceu no Paraguai, no dia 12 de janeiro de 1925, em Villarica do Espírito Santo, antes de sete filhos, de Ramón Guggiari e Arminda Maria Echeverria. Foi batizada no dia 8 de fevereiro de 1928, em sua cidade natal. Desde a infância mostrou qualidades humanas e espirituais esplêndidas, como a alegria, a sociabilidade, o ser serviçal, a simplicidade, a modéstia, que se manifestavam em ações simples, mas eloquentes.
     Com cinco anos entrou para o Colégio Maria Auxiliadora de Villarica, onde aprendeu a amar a Mãe de Jesus e entregar-se a ela cada dia. A Virgem ocupou um lugar importante em sua vida; ela a chamava «minha mãezinha, a cheia de graça» e dizia: «Quero somente pertencer-te, mãezinha, para que me tomes pela mão como uma garotinha, me leve a Ele, o único, o amor exclusivo do meu coração».
     Teve uma amizade especial com Ángel Sauá Llanes, laureando em Medicina e pertencente à Ação Católica como ela, que lhe confiou seu desejo de se tornar sacerdote. Depois do encontro com Madre Teresa Margarida do Sagrado Coração, priora do primeiro Carmelo paraguaio, começou a entender qual seria a sua vocação: com trinta anos entrou no convento carmelitano de Assunção e assumiu o nome de Ir. Maria Felícia de Jesus Sacramentado.

     Em janeiro de 1959 descobriu que sofria de hepatite infecciosa: ofereceu então sua condição com a mesma generosidade com que se tinha empenhado no apostolado e com a qual renunciou ao sentimento por seu amigo. Morreu no dia 28 de abril de 1959, com 34 anos. Seus restos mortais repousam na capela do Carmelo de Assunção desde o dia 28 de abril de 1993.
     Foi declarada Venerável em 27 de março de 2010. No dia 6 de março de 2018 o Para Francisco autorizou a promulgação do decreto relativo a um milagre obtido por sua intercessão. A beatificação de Chiquitunga foi no dia 23 de junho de 2018, em Assunção.

Versos de autoria da Beata:

La Hostia elevada, con nívea transparencia,
con resplandor divino irradia en el altar;
yo quiero que mi vida, trocadas las substancias,
cual Hostia consagrada, tras sí deje un camino
de intensa claridad.
Yo quiero en sacrificio, cual víctima inmolada,
mi vida se consuma en santa Caridad.
¡Señor!, por la Hostia pura, el Pan de Vida Eterna
y el Cáliz de la Sangre de nuestra Redención,
concede a los que unidos así te suplicamos.
Perdón de nuestras culpas y Eterna Salvación.
¡Señor mío y Dios mío!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Princesa Adele Amalie Gallitzin – 17 de abril


     A Princesa Adele Amalie Gallitzin nasceu em Berlim, em 28 de agosto de 1748; faleceu em Angelmodde, perto de Münster, Westphalia, a 17 de abril de 1806. Ela era filha do general prussiano Conde von Schmettau e foi educada na fé católica, embora logo se tenha afastado de sua religião. Em 1768, ela se casou com o príncipe russo Dimitry Alexejewitsch Gallitzin, que estava sob as ordens do embaixador de Catarina II em Paris, Turim e Haia. Em cada uma dessas capitais, a princesa, graças à sua beleza e suas qualidades eminentes de mente e coração, desempenhou um papel brilhante.
      Com a idade de vinte e quatro anos, ela abandonou a sociedade de repente e se dedicou à educação de seus filhos. Ela aplicou-se assiduamente ao estudo da matemática, da filologia clássica e da filosofia sob o notável filósofo Franz Hemsterhuis, que acendeu seu entusiasmo pelo idealismo socrático-platônico, e mais tarde sob o nome de “Diokles” dedicou-lhe o “Diotima”, famoso “Lettres sur l'atheisme”.
     A reforma educacional introduzida por Franz v. Furstenberg, Vigário Geral de Münster, induziu-a a morar na capital da Vestefália. Ali ela logo se tornou o centro de um grupo de intelectuais liderados por Furstenberg. Este círculo também incluía os professores de ginásio (que ela incitou ao estudo mais profundo de Platão), Overberg, o reformador da educação escolar popular, Clemens Augustus von Droste-Vischering, o Conde Leopold von Stolberg, o profundo filósofo Hamann, que foi enterrado em seu jardim. O poeta Cláudio do "Bote das Varinhas" também era um visitante familiar, e Goethe mencionava que eram as horas que ele passava nesse círculo as suas mais agradáveis ​​recordações. A leitura da Sagrada Escritura, necessária para a educação religiosa de seus filhos, e seu constante intercâmbio com nobres almas católicas, levou-a a retornar às convicções religiosas.
A Princesa em 1800 recebendo um casal recém convertido
      Em 28 de agosto de 1786, por insistência de Overberg, ela se aproximou do tribunal de penitência pela primeira vez em muitos anos. Logo depois ela fez deste padre zeloso seu capelão. Sob sua influência, ela sofreu uma mudança completa que afetou todo o seu relacionamento. Sua vida religiosa adquiriu um crescimento maior e produziu o fruto mais admirável. Ela se tornou o centro da atividade católica em Münster. Naqueles tempos revolucionários e sem Deus, ela previa a disseminação de escritos religiosos, dava apoio à fé religiosa de muitos de seus amigos e induzia outros, entre eles o Conde Stolberg, a fazer as pazes com a Igreja.
     Sua gentil caridade amenizou a angústia de muitos, e pronta e generosamente auxiliou padres pobres e destituídos. Para círculos extensos, ela era um modelo de vida religiosa, e sua atividade social era, para muitos, uma bênção providencial. Partes de sua correspondência e diário foram publicadas por Scheuter (Münster, 1874-76) em três partes. Esta senhora admirável foi a mãe do conhecido missionário americano Príncipe Demetrius Gallitzin (*).
 
Túmulo da Princesa
PATRICIUS SCHLAGER (Catholic Encyclopedia)

(*)     O príncipe Demetrius Augustine Gallitzin era um emigrado aristocrata russo e sacerdote católico conhecido como O Apóstolo dos Alleghenies. Desde 2005, existe a possibilidade de sua canonização pela Igreja Católica. 

    Tendo crescido como um ateu, após a conversão de sua mãe, o Príncipe Demetrius estudou sistemas religiosos para ver se algum lhe convinha. Como resultado, ele concluiu que o Catolicismo Romano era o único caminho para a salvação e se tornou católico.
     Ele viajou então para o recém-formado EUA para estudar engenharia, e para sua alegria encontrou vários católicos. Determinado a construir a Igreja, ainda que contra os desejos de seus parentes ortodoxos, ele ingressou no seminário e foi ordenado em 1795.
     Em 1799 ele se tornou pároco de uma freguesia de uma dezena de membros em Pennsylvania. Ele trabalhou incansavelmente para trazer o Catolicismo para os pioneiros do Centro Sul da Pennsylvania. Herdeiro de uma das maiores fortunas da Europa, ele comprou terras para católicos e financiou muitas novas e crescentes paróquias.
     Conhecido como “O Apóstolo dos Alleghenies”, sua responsabilidade cresceu para 10 mil membros numa área que incluía as dioceses de Altoona/Johnstown.
     Quarenta e um anos após iniciar seu trabalho na América, ele faleceu num Domingo de Páscoa, dia 6 de maio de 1840. Em todos esses anos ele jamais tomou um centavo de seu salário, embora a Rússia tenha confiscado muito da sua fortuna porque ele se converteu ao Catolicismo.
     As dioceses de Altoona/Johnstown esperam e rezam para que um dia seu Príncipe Demetrius seja canonizado.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

NOSSO CORAÇÃO DE CATÓLICOS ESTÁ DE LUTO!


ELA ERA A IGREJA PERFEITA, ALEGRIA DO MUNDO INTEIRO!











quarta-feira, 10 de abril de 2019

Santa Madalena de Canossa, Fundadora – 10 de abril

Virgem, Fundadora da Família Canossiana Filhos e Filhas da Caridade 
    
    
Madalena adolescente
Madalena Gabriela de Canossa nasceu no dia 1º de março de 1774 na cidade italiana de Verona, que pertencia à sua nobre e influente família, terceira de seis irmãos. Ela descendia da famosa Matilde da Toscana, Senhora de Canossa. Seu pai faleceu quando tinha cinco anos. Sua mãe abandonou os filhos para se casar novamente. As crianças foram entregues aos cuidados de uma péssima educadora, que ela detesta, e em consequência Madalena adoeceu várias vezes. Deus a guiou por essas etapas dolorosas para ligá-la mais a Ele.
     Com 17 anos desejou consagrar sua vida a Deus e por duas vezes fez experiência no Carmelo de Trento e no de Conegliano (Treviso), mas intuiu que não era aquela a sua via. Voltou para a família, guardando secretamente no coração a sua vocação. No Palácio de Canossa aceitou a administração do vasto patrimônio familiar, surpreendendo a todos com seu talento para os negócios. Entretanto, nunca se interessou pelo matrimônio.
     Os tristes acontecimentos do final do século XVIII - políticos, sociais e eclesiais - marcados pelas repercussões da nefanda Revolução Francesa, bem como as alternâncias dos vários imperadores estrangeiros na região italiana, deixavam os rastros na devastação e no sofrimento humano, enchendo a sua cidade de pobres e menores abandonados.
     Em 1801, duas adolescentes pobres e abandonadas pediram abrigo em seu palácio. Então ela compreendeu qual era a sua vocação: não “reinaria” no palácio da família, que havia hospedado Napoleão e Alexandre I da Rússia. Ela não só as abrigou como recolheu muitas outras. Pressentiu que este era o caminho que Deus desejava que ela seguisse e descobriu em Cristo Crucificado o ponto central de sua espiritualidade e de sua missão. Abriu o Palácio dos Canossa e fez dele não uma hospedaria, mas uma comunidade de religiosas, mesmo contrariando seus familiares.
     Sete anos depois, superou as últimas resistências de sua família, deixando definitivamente o palácio. Madalena foi para o bairro mais pobre de Verona para concretizar aquela que interiormente reconheceu ser a vontade do Senhor: servir aos mais necessitados fundando a Congregação das Filhas da Caridade, para a formação de religiosas educadoras.
     O amor à Cristo Crucificado ardia no coração de Madalena; suas companheiras se tornaram testemunhas do mesmo amor em cinco âmbitos específicos: a escola; a catequese a todas as categorias, privilegiando os distantes; a assistência voltada principalmente aos enfermos dos hospitais; os seminários residenciais para formar jovens professoras de áreas rurais; cursos de exercícios espirituais anuais para as damas da alta nobreza, com o objetivo de incentivá-las espiritualmente e envolvê-las nas várias áreas caritativas.
     Em torno à figura e à obra de Madalena gravitava uma constelação de outras testemunhas da caridade, todos fundadores de outras famílias religiosas.
     Madalena escreveu as Regras da Congregação das Filhas da Caridade em 1812, obteve de Pio VII a aprovação inicial pontifícia para sua obra, após a queda de Napoleão, e entre 1819 e 1820 obteve a aprovação eclesiástica nas várias Dioceses onde as Comunidades existiam. Leão XII aprovou a Regra do Instituto com o Breve Si Nobis em 23 de dezembro de 1828.
     Em 1816, o Imperador Habsburgo Francisco I, que reinava sobre o sul Lombardo-Vêneto, visitou Verona com sua terceira filha, Maria Luiza d’Este, que adoeceu e faleceu naquela cidade; seu velório foi feito em uma das salas do Palácio de Canossa. Mas Madalena não aparecia mais com frequência no palácio: ia de Veneza a Milão, e depois a Roma e a Trento, para fundar novas sedes e escolas.
     Depois de várias tentativas malsucedidas, perto do fim de sua vida Madalena conseguiu dar andamento à Congregação masculina, como havia projetado inicialmente, com o auxílio dos sacerdotes Antônio Rosmini e Antônio Provolo No dia 23 de maio de 1831 abriu em Veneza o primeiro oratório dos Filhos da Caridade para a formação cristã dos jovens e adultos, confiando-o ao sacerdote veneziano Pe. Francisco Luzzo, auxiliado por dois leigos de Bergamo: José Carsana e Benedito Belloni.
     Madalena encerrou sua intensa e fecunda existência terrena numa Sexta-feira da Paixão, dia 10 de abril de 1835, com apenas 61 anos, em Verona, assistida pelas suas Filhas.
     Em 2 de outubro de 1988, João Paulo II proclamou-a Santa, determinando o dia de sua morte para seu culto litúrgico.
     Santa Madalena legou aos seus Filhos da Caridade a grande herança de viver "dispostos pelo divino serviço a ir a qualquer país, até mesmo o mais remoto" (Madalena, Ep. II / I, p. 266). As Filhas da Caridade atravessaram o oceano para o Oriente em 1860, atualmente são cerca de 4.000, presentes nos cinco continentes; os Filhos da Caridade são cerca de 200 e atuam em diversas cidades da Itália e além-mar. Os filhos de Madalena são chamados de Irmãs e Irmãos Canossianos.

Fontes: 
http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_19881002_maddalena_di_canossa_po.html
https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-santa-madalena-de-canossa/218/102/

Publicado pela 1ª vez neste blog em 10 de abril de 2014.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Venerável Maria Teresa Gonzales Quevedo, Virgem do Instituto das Carmelitas da Caridade de Santa Joaquina de Vedruna – 8 de abril

     
     No dia 9 de junho de 1983 o papa João Paulo II proclamou Venerável uma jovem espanhola de Madri: Maria Teresa González-Quevedo, que viveu só 20 anos, de 12 de abril 1930 até 8 de abril 1950. A Igreja coroara assim, oficialmente, esta breve existência, mas vivida intensamente, concluída no noviciado das Carmelitas da Caridade, a congregação onde ela queria viver toda sua vida na oração e no apostolado ativo, com o desejo claro de trabalhar em terra de missão.
     A vida desta jovem madrilena está ligada de vários modos à Companhia de Jesus. De fato, Teresita (como comumente era apelidada) formou sua vida espiritual na participação ativa à Congregação Mariana, por ela frequentada no Instituto das Carmelitas da Caridade, onde fez seus estudos.
     É conhecido que as Congregações Marianas têm sua origem na Companhia de Jesus. Os Jesuítas as difundiram em boa parte do mundo católico, como uma "via" do compromisso cristão, aberta especialmente aos jovens, que levam ao seu ambiente, família, lugar de trabalho e atividades apostólicas, os valores de uma espiritualidade amadurecida graças aos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas.
     Outro laço com a Companhia de Jesus é o fato de que a família da Ven. Maria Teresa conta entre seus parentes dois jesuítas, irmãos do pai de Teresita, um deles é o Pe. Antônio González-Quevedo. Deste, Teresita recebeu a Primeira Eucaristia.
     O período em que viveu não foi nada tranquilo, aliás foi o tempo da violenta guerra civil espanhola, durante a qual se desencadeou uma verdadeira perseguição religiosa, que causou a morte de 7.000 padres e 13 bispos. Entre esses mártires há também três irmãos do pai de Teresita.
Os primeiros anos
     Maria Teresa González Quevedo nasceu em Madri o dia 12 de abril de 1930, após o irmão Luiz e a irmã Carmem. O pai, Calisto González, era um conhecido médico da capital. A mãe era Maria do Carmo Cadarso, sobrinha do almirante Luís Cadarso y Rei, tombado na batalha de 1898, a bordo do cruzeiro “Regina Cristina”.
     A Venerável cresceu numa grande casa no centro de Madri, no coração da elegante capital, a praça do Oriente, na frente do Palácio Real. A primeira infância foi serena, e sua escola foi a do Instituto das Carmelitas da Caridade. Uma escolha favorecida pelo fato que uma tia de Teresita, Ir. Carmem, lecionava no Instituto. A mesma que anos depois a teria acolhido como Madre Mestra no noviciado.
     Maria Teresa amava o ambiente da escola, menos o estudo... e se entusiasmava pelos jogos e por isso sabia escolher com cuidado as companheiras de time. Era muito procurada pela sua habilidade, era generosa em tantas pequenas coisas da vida quotidiana, e por causa disso as pessoas não hesitavam em recorrer a ela.
     Uma madrilena autêntica, com um extraordinário humorismo, uma menina como todas as outras, mas com uma inquietação na alma que pouco a pouco a teria levado muito longe, além do quanto ela podia prever, até a doação total ao Senhor. Desta “inquietação” encontramos o primeiro traço numa anotação quando ela tinha dez anos, mesmo com falhas gramaticais: “Decidi me tornar santa”.
     Aos treze anos Maria Teresa já tinha uma fisionomia interior e um caráter bem delineados. Não é alta, mas bem proporcionada e muito ágil. Loira, com olhos azuis um pouco amendoados e uma atitude que convida ao sorriso. Quem a conheceu a lembra como muito elegante e com uma postura distinta inconfundível. Neste período desenvolveu os fundamentos da vida espiritual, graças aos Exercícios Espirituais ocorridos em seu Instituto.
     Seu caráter ia se manifestando decidido e corajoso. Aprendeu a dirigir o carro e o pai nos conta como devia ter cuidado com ela, já que Teresita se lançava na estrada sem hesitação ou medo. Uma vez se encarregou de furar as orelhas de uma amiga para lhe colocar os brincos. Logo no começo a “vítima” sentiu-se mal e desmaiou. Mas Teresita, filha de médico, em lugar de se apavorar, achou que era o momento próprio para continuar seu trabalho e, aproveitando da inconsciência de sua amiga, colocou imediatamente os brincos. Uma firmeza assim unida a um fino equilíbrio, uma calma que lhe conferia um característico domínio nas mais variadas situações.
     No tempo em que Maria Teresa frequentava o Instituto, foi instituída a Congregação Mariana, que foi logo apresentada com suas exigências de compromisso. Teresita foi logo conquistada por este ideal, no qual confluía sua particular devoção à Virgem Maria.
     Os companheiros de Teresita testemunharam que com sua participação à Congregação Mariana, começou nela uma verdadeira evolução interior, surpreendente e definitiva.
     A cada congregada era entregue uma medalha. Segundo o costume. Maria Teresa devia fazer gravar uma frase e ela escolheu uma que expressasse seu programa de vida: “Minha mãe, que quem me olhe Vos veja”.
     Durante a celebração Mariana do mês de maio, eis que Teresita formula uma oração especial, expressando algo que sente muito profundamente, mesmo se ainda não totalmente claro: “Minha Mãe, dá-me a vocação religiosa”!
     Este desejo de doação total ao Senhor apareceu espontâneo num episódio na tarde de um domingo, quando Teresita conversava com uma amiga que lhe confia: “Eu viajarei, vou me divertir durante a juventude, e quando serei mais velha entrarei no convento para me garantir o Céu”.
     A resposta de Teresita foi imediata e reveladora: “Como você é mesquinha e egoísta!... E você acha que Jesus vai te aceitar cheia de achaques, depois que deu sua parte melhor ao mundo? Jesus tem gostos melhores, e Ele quer de presente a juventude, com suas alegrias e seus sonhos!”
     É o ano de 1947. Teresita tem 17 anos. No verão a família vai para Fuenterrabía, ao norte da Espanha, para tirar férias na praia, não muito longe da divisa francesa. Ali Teresita está magnificamente: pescava, jogava tênis e participava das típicas danças bascas na praça da aldeia. Mas não esquecia o compromisso em prol dos outros. Participava ativamente nas vendas de beneficência em favor das missões.
     Sabemos de um rapaz que se enamorou dela, Luís José González-Gillén, hoje engenheiro da aeronáutica; no dia de vestir o hábito religioso, lhe enviou um lindo buquê de flores brancas.
     Maria Teresa, entretanto, tinha clara a decisão de dar o "grande passo", pedir para ingressar no Noviciado das Carmelitas da Caridade. Mas era uma decisão que ninguém ainda conhecia e, que, aliás, teria surpreendido muitas pessoas.
     Acabado o verão, recomeçou o ano escolar. No fim de outubro, algo de extraordinário: a participação a um encontro da Juventude Missionária que as Carmelitas organizaram em Tarragona. Cerca de 400 jovens de toda a Espanha vieram para esta cidade e o grupo de Madri era guiado pela própria Maria Teresa. Uma participação, como sempre, ativa e entusiasta.
     O tema do encontro em Tarragona era sobre as missões na China. Teresita – já sensível a estes assuntos – é mais uma vez conquistada pelo ideal missionário, inclusive já tinha uma "adoção à distância" de um menino das missões, enviando ofertas para sua formação.
Durante o Noviciado manifestou explicitamente este desejo: “Tenho uma evidente vocação missionária: minha vocação é claríssima”. Mas, como aconteceu com santa Teresa de Lisieux – que desejava deixar a França para viver no Carmelo do Vietnã – a doença lhe proibiu de realizar este sonho, ao menos nesta terra...
     Aos 21 de novembro de 1947 decidiu comunicar sua opção para a tia, Irmã Carmem, que mora em Carabanchel, onde está o noviciado. A tia compreendeu a seriedade da decisão da sobrinha, mas procurou faze-la refletir.
     Como Teresita era muito devota à Virgem Maria, o Pe. Músquiz lhe sugere comunicar sua decisão à família na festa da Imaculada, 8 de dezembro. Mas Teresita quer comunicar a notícia só após a festa da Epifania, de modo que o período natalino passe serenamente.
     Acabado o tempo de Natal, aos 7 de janeiro de 1948, Teresita comunica ao pai a "grande notícia". O pai compreende, conhece a filha, sabe que se ela decidiu é porque ela está ciente daquilo que faz; mesmo assim procura fazê-la refletir, mas ela comunica ao pai a data de entrado no Noviciado: 23 de fevereiro.
     Outra paixão de Teresita era a neve, que nunca falta em Madri durante o inverno. E para "batalhar com bolas de neve" a grande Praça d’Oriente era o ideal! Na véspera da partida, aos 22, veio saudá-la a amiga Amparo. Esta admira o elegantíssimo vestido de Teresita, parece surpreendida por tanta elegância. Teresita entende e sorri: "Você sabe, Amparìn, eu gosto de me vestir bem e todas estas coisas me dão prazer, mas quando entrar no Noviciado tudo isso acabará. Quero ser santa, não quero mediocridade".
     Durante a noite uma nevada cobre de branco a grande cidade de Madri e na manhã do dia 23 de fevereiro de 1948, Teresita, feliz, agradece ao Senhor por esta sua "delicadeza" a seu respeito.
     No noviciado de Carabanchel Teresita encontrou o que mais profundamente desejava: o que mais apreciava era o estilo de vida pobre das carmelitas, em contraposição aos luxos e à riqueza que sempre tivera em família. Aqui aprofundou seu amor à Virgem Maria, e o resultado foi uma grande confiança: “Dela consigo tudo, sinto-a ao alcance da mão. Se nossas mães nos amam tanto, quanto nos amará a Santa Virgem? O que Ela nos recusará? Estou certa que serei santa, porque o peço à Virgem e Ela pode tudo”. E continuava: “Tenho muita devoção para com São José. O que diriam Jesus e Maria, se não amasse este grande Santo?”
     Na hora de receber a veste de postulante, Ir. Carmem não pode deixar de contemplar a beleza de seus cabelos que serão escondidos pelo véu. Admira os cachos dobrados com cuidado e comenta: “Oh! quanta vaidade, quanta vaidade!” Teresita retruca: “Sim, madre, muita, mas agora acabou tudo!”
     Maio de 1949 o último na vida de Teresita. No começo do mês Teresita diz: “Outras vezes vi claramente o que a Virgem pede de mim, mas agora não vejo nada...” No entardecer, alguém nota que Ir. Maria Teresa está com febre: “Não está bem?” – lhe pergunta a tia, que é também Mestra. “Que nada! Sinto-me sim, preguiçosa”. Mas o termômetro explicou o motivo daquela preguiça.
     Durante o noviciado Teresita lera a História de uma alma de Santa Teresa de Lisieux e escreveu no seu diário: “Da pequena via de Santa Teresa gostei muito, mas, para mim, acho que esta via deve passar pela Santa Virgem”.
     Santa Teresa de Lisieux prometeu de “passar seu Céu fazendo o bem na terra”: Maria Teresa dizia para a Madre Provincial: “Madre, aqui não lhe seria muito útil, mas do Céu verá quanto trabalharei!” A às colegas noviças: “No Céu estarei muito ocupada, apresentando [à Virgem Maria] todas as homenagens que lhe são oferecidas!”
     Teresita sofria uma pleurite aguda, que a manteve de cama todo o mês de maio, mesmo assim não parava de difundir otimismo, amabilidade e alegria. Uma melhora – mais ilusória do que real - permitiu-lhe voltar logo à vida normal, mas a doença continuava seu curso.
     Lemos em seu diário, “Durante a Comunhão desejava ardentemente me doar toda a Jesus para lhe demonstrar quanto queria amá-lo, que me oferecia como vítima para que fizesse de mim o que ele queria”.
     Na festa de Santo Estanislau Kostka, jesuíta, um grupinho de noviças estava comentando a figura do santo. “Que alma privilegiada aquela de Santo Estanislau! – diz Teresita – morrer no noviciado, amando tanto a Virgem Maria, em seus braços, mas a coisa melhor é fazer a vontade de Deus, em tudo aquilo que Ele pede”.
     Falava com uma noviça durante as férias de Natal, e sem sombra de dúvida lhe disse: “Certamente neste Ano Santo [1950] irei pro Céu, porque a Virgem me tomará no seu dia, terá tanta festa no Céu pelo dogma da Assunção! Estou certa que estarei lá”.
     18 de janeiro, Teresita adverte uma forte dor de cabeça. A Madre Mestra, inicialmente otimista, achou bom chamar logo o pai, que era médico, mas sem temer nada de grave. O Dr. Quevedo, ao contrário, logo percebeu da gravidade do caso. A diagnose não deixava esperança: meningite tubercular. O pai mesmo foi avisar a filha sobre seu estado terminal.
     Para espanto de quantos a assistiam e visitavam, a notícia de sua próxima morte fez explodir em Teresita uma alegria enorme: “Venha, Ir. Jacinta, que já estou mais contente, mas como estou contente!” “Mas não tens medo de morrer?” “Como posso ter medo se tenho uma Mãe no Céu que virá ao meu encontro?” “Mas se você ainda não ganhou o Céu – insinuava a Madre Mestra – como poderás possui-lo tão cedo?” “Claro que não o ganhei! Mas vão mo dar de presente. Tu sabes o fato do bom ladrão. Se Jesus e Maria, que nunca separo, quiserem mo dar, são muito livres de fazê-lo”.
     Era impressionante o espírito sobrenatural e a alegria de Teresita diante da morte quando recebeu a Unção dos Enfermos. “Ganhei o primeiro prêmio!” – dizia alegre Teresita a suas coirmãs. E àquelas que aprendiam os cantos litúrgicos: “Como vai a Missa de Réquiem? Acho que serei a primeira a inaugurá-la”.
     Mas a doença continuava e as dores eram lancinantes. Na alvorada da Quinta-Feira Santa, no ano 1950, o Ano Santo proclamado por Pio XII, quando todos se alegravam por uma relativa melhora, após dois longos meses de intenso sofrimento, de repente Teresita lança um grito agudíssimo, lhe vem um tremor generalizado, uma total perda de sentidos. Mesmo neste estado as suas costumeiras orações marianas lhe vinham espontâneas nos lábios. Participou com fervor e perfeito entendimento nas orações feitas ao seu redor pela salvação de sua alma, e se apagando, continuava repetindo: “Jesus te amo por aqueles que não te amam! Minha Mãe! mil vezes morrer do que te ofender!”
     A noite da Quinta-Feira Santa foi cruel para ela: depois de um ataque da doença, seu pescoço ficou rígido e não podia se mexer, a não ser com dores terríveis. E quando todos pensavam não ouvir mais sua voz, exclamou com força, tanto que a escutaram no quarto do lado, com os braços levantados para o alto: “Minha Mãe, vem me receber e leva-me contigo no Céu!” Depois, mais calma: “Por aqueles que não te amam...”.
     Finalmente levantou pela última vez as mãos e sorrindo disse: “Como é bonito!” A que se referia? Suas mãos se baixaram, e repetia silenciosamente as jaculatórias que lhe sugeriam. Espirou após alguns minutos.
     Era o dia 8 de abril de 1950. Faltavam poucos dias para completar seus vinte anos de idade.

Fontes:

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Santa Juliana de Mont-Cornillón ou Liège - 5 de abril

     
     No fim do século XIII surgiu em Liège, Bélgica, um movimento eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillón, fundada em 1124 pelo Bispo Alberto de Liège. Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como, por exemplo, a Exposição e a Bênção com o Santíssimo Sacramento, o uso das campainhas durante a elevação na Missa e a festa de Corpus Christi. A diocese de Liège era, por assim dizer, um verdadeiro "cenáculo eucarístico". Antes de Juliana, insignes teólogos haviam ilustrado ali o valor supremo do Sacramento da Eucaristia e, sempre em Liège, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa. Guiadas por sacerdotes exemplares, tais mulheres moravam juntas, dedicando-se à oração e às obras de caridade.
     Juliana nasceu entre 1191 e 1192 em Rettine, nas proximidades de Liège, na Bélgica. Órfã aos 5 anos de idade, junto com sua irmã Inês, foi confiada aos cuidados das religiosas agostinianas do convento-leprosário de Mont-Cornillón. Foi educada sobretudo por uma freira cujo nome era Sabedoria e que acompanhou seu amadurecimento espiritual, até que a própria Juliana recebeu o hábito religioso e se converteu, também ela, em cônega regular agostiniana.
     Aos 16 anos, Juliana teve uma primeira visão, que depois se repetiu muitas vezes em suas adorações eucarísticas. A visão apresentava a lua em seu pleno esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. Nosso Senhor a fez compreender o significado do que lhe aparecera: a lua simbolizava a vida da Igreja na terra; a linha opaca representava, no entanto, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz, isto é, uma festa na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar sua fé, crescer na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
     Juliana adquiriu uma notável cultura, chegando até a ler as obras dos Padres da Igreja em latim, particularmente Santo Agostinho e São Bernardo. Além de uma inteligência vivaz, Juliana mostrava, desde o começo, uma propensão particular à contemplação; tinha um sentido profundo da presença de Cristo, que experimentava vivendo de maneira particularmente intensa o Sacramento da Eucaristia e meditando com frequência sobre as palavras de Jesus: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).
     Entretanto, durante cerca de 20 anos Juliana conservou em segredo a revelação que havia enchido seu coração de alegria. Finalmente contou a duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: a Beata Eva, que levava uma vida eremítica, e Isabel, que a havia seguido ao mosteiro de Mont-Cornillón. As três mulheres estabeleceram uma espécie de "aliança espiritual", com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento. Também quiseram envolver um sacerdote muito estimado, João de Lausana, cônego da igreja de São Martinho de Liège, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre o que elas carregavam no coração. As respostas foram positivas e motivadoras.
     O que aconteceu com Juliana de Cornillón se repete frequentemente na vida dos santos: para ter a confirmação de que uma inspiração vem de Deus, é necessário sempre submergir-se na oração, saber esperar com paciência, buscar a amizade, aproximar-se de outras almas boas e submeter tudo ao juízo dos pastores da Igreja. Foi precisamente o bispo de Liège, Roberto de Thourotte, quem, depois das dúvidas iniciais, acolheu a proposta de Juliana e das suas companheiras.  Convocou um sínodo em 1246 e ordenou a celebração da festa de Corpus Domini em sua diocese.
     Juliana já fizera preparar um Ofício em latim para a nova celebração. São Tomás de Aquino, então jovem clérigo, foi encarregado de compor o Ofício litúrgico da nova festividade, o que se realizou em 1232.
     A iniciativa era apoiada pelo douto dominicano Hugh, mais tarde cardeal legado dos Países Baixos, e por Joaquim Pantaléon, arcediago de Liège, de Troyes (França), eleito papa em 1261 com o nome de Urbano IV. Mais tarde, outros bispos estabeleceram a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais.
     Juliana não veria a instituição da Festa de Corpus Christi pelo Papa Urbano IV para a Igreja toda em 1264. Priora do Mosteiro de Mont-Cornillón desde 1230, instaurara uma disciplina rigorosa que não agradava a todas. Juliana sofreu a dura oposição de alguns membros do clero e da própria superiora do seu mosteiro. Então, por vontade própria, ela deixou o convento de Mont-Cornillón com algumas companheiras, e durante 10 anos, entre 1248 e 1258, foi hóspede de vários mosteiros de religiosas cistercienses.
     Ela edificava todos com sua humildade, nunca tinha palavras de crítica ou de reprovação para seus adversários, senão que continuava difundindo com zelo o culto eucarístico. Faleceu em 5 de abril de 1258, em Fosses-La-Ville, na Bélgica. Na cela em que jazia, expuseram o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana morreu contemplando, com um último transporte de amor, Jesus Eucaristia, a quem sempre havia amado, honrado e adorado. Ela soube antes de falecer que, além de Liège, também a Alemanha ocidental já festejara a festa de Corpus Domini em 1252.
     Seu corpo foi sepultado na Abadia Cisterciense de Villiers. É festejada pela Santa Igreja no dia 5 de abril.           

A Bula Transiturus
     Na bula intitulada Transiturus de hoc mundo (11 de agosto de 1264), o Papa Urbano também evoca com discrição as experiências místicas de Juliana, respaldando sua autenticidade, e escreve: "Ainda que a Eucaristia seja solenemente celebrada todos os dias, consideramos justo que, ao menos uma vez por ano, faça-se dela mais honrada e solene memória. As demais coisas, de fato, das quais fazemos memória, nós as apreendemos com o espírito e com a mente, mas não obtemos por isso sua presença real. No entanto, nesta comemoração sacramental de Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está presente conosco em sua própria substância. De fato, enquanto estava a ponto de ascender ao céu, disse: 'Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos' (Mt 28, 20)".
     O próprio Pontífice quis dar exemplo, celebrando a solenidade do Corpus Domini em Orvieto, cidade em que então residia. Precisamente por ordem sua, na catedral da cidade se conservava - e se conserva ainda hoje - o célebre corporal com as marcas do milagre eucarístico ocorrido no ano anterior, em 1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o pão e o vinho, teve fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a escorrer da Hóstia consagrada, confirmando, dessa forma, o que a nossa fé professa.
     Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, São Tomás de Aquino - que naquela época acompanhava o Papa e se encontrava em Orvieto - que compusesse os textos do ofício litúrgico desta grande festa. Tais textos, em uso ainda hoje na Igreja, são obras-primas nas quais se fundem teologia e poesia. São textos que fazem as cordas do coração vibrar, para expressar louvor e gratidão ao Santíssimo Sacramento, enquanto a inteligência, adentrando-se com estupor no mistério, reconhece na Eucaristia a presença viva e verdadeira de Jesus, do seu sacrifício de amor que nos reconcilia com o Pai e nos dá a salvação.
     Ainda que, após a morte de Urbano IV, a celebração da festa do Corpus Domini tenha se limitado a algumas regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália Setentrional, o Papa João XXII, em 1317, restaurou-a para toda a Igreja. Desde então, a festa teve um desenvolvimento maravilhoso e ainda é muito especial para o povo cristão.
     Recordando Santa Juliana de Cornillón, renovemos, também nós, a fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Como nos ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, "Jesus Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável. De fato, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade. Nela está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, Cristo completo: Deus e homem" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 282).
     Com as palavras do hino eucarístico Adoro te devote, repitamos diante do Senhor, presente no Santíssimo Sacramento: "Fazei-me crer cada vez mais em vós, que em Vós eu tenha esperança, que eu vos ame!".

Fonte:

Publicado pela 1ª vez em 2 de abril de 2011.