No
fim do século XIII surgiu em Liège, Bélgica, um movimento eucarístico cujo
centro foi a Abadia de Cornillón, fundada em 1124 pelo Bispo Alberto de Liège.
Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como, por exemplo, a
Exposição e a Bênção com o Santíssimo Sacramento, o uso das campainhas durante
a elevação na Missa e a festa de Corpus Christi. A diocese de Liège era, por
assim dizer, um verdadeiro "cenáculo eucarístico". Antes de Juliana,
insignes teólogos haviam ilustrado ali o valor supremo do Sacramento da
Eucaristia e, sempre em Liège, havia grupos femininos generosamente dedicados
ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa. Guiadas por sacerdotes exemplares,
tais mulheres moravam juntas, dedicando-se à oração e às obras de caridade.
Juliana nasceu entre 1191 e 1192 em
Rettine, nas proximidades de Liège, na Bélgica. Órfã aos 5 anos de idade, junto
com sua irmã Inês, foi confiada aos cuidados das religiosas agostinianas do
convento-leprosário de Mont-Cornillón. Foi educada sobretudo por uma freira
cujo nome era Sabedoria e que acompanhou seu amadurecimento espiritual, até que
a própria Juliana recebeu o hábito religioso e se converteu, também ela, em
cônega regular agostiniana.
Aos 16 anos, Juliana teve uma primeira
visão, que depois se repetiu muitas vezes em suas adorações eucarísticas. A
visão apresentava a lua em seu pleno esplendor, com uma faixa escura que a
atravessava diametralmente. Nosso Senhor a fez compreender o significado do que
lhe aparecera: a lua simbolizava a vida da Igreja na terra; a linha opaca
representava, no entanto, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja
instituição pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz, isto é, uma
festa na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar sua fé,
crescer na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
Juliana adquiriu uma notável cultura,
chegando até a ler as obras dos Padres da Igreja em latim, particularmente
Santo Agostinho e São Bernardo. Além de uma inteligência vivaz, Juliana
mostrava, desde o começo, uma propensão particular à contemplação; tinha um
sentido profundo da presença de Cristo, que experimentava vivendo de maneira
particularmente intensa o Sacramento da Eucaristia e meditando com frequência
sobre as palavras de Jesus: "Eis que
estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).
Entretanto, durante cerca de 20 anos Juliana
conservou em segredo a revelação que havia enchido seu coração de alegria. Finalmente
contou a duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: a Beata Eva, que levava uma
vida eremítica, e Isabel, que a havia seguido ao mosteiro de Mont-Cornillón. As
três mulheres estabeleceram uma espécie de "aliança espiritual", com
o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento. Também quiseram envolver um
sacerdote muito estimado, João de Lausana, cônego da igreja de São Martinho de Liège,
pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre o que elas
carregavam no coração. As respostas foram positivas e motivadoras.
O que aconteceu com Juliana de Cornillón
se repete frequentemente na vida dos santos: para ter a confirmação de que uma
inspiração vem de Deus, é necessário sempre submergir-se na oração, saber
esperar com paciência, buscar a amizade, aproximar-se de outras almas boas e
submeter tudo ao juízo dos pastores da Igreja. Foi precisamente o bispo de Liège,
Roberto de Thourotte, quem, depois das dúvidas iniciais, acolheu a proposta de
Juliana e das suas companheiras. Convocou
um sínodo em 1246 e ordenou a celebração da festa de Corpus Domini em sua
diocese.
Juliana já fizera preparar um Ofício em
latim para a nova celebração. São Tomás de Aquino, então jovem clérigo, foi encarregado
de compor o Ofício litúrgico da nova festividade, o que se realizou em 1232.
A iniciativa era apoiada pelo douto
dominicano Hugh, mais tarde cardeal legado dos Países Baixos, e por Joaquim
Pantaléon, arcediago de Liège, de Troyes (França), eleito papa em 1261 com o
nome de Urbano IV. Mais tarde, outros bispos estabeleceram a mesma festa nos
territórios confiados aos seus cuidados pastorais.
Juliana não veria a instituição da Festa de Corpus Christi pelo Papa Urbano IV
para a Igreja toda em 1264. Priora do Mosteiro de Mont-Cornillón desde 1230,
instaurara uma disciplina rigorosa que não agradava a todas. Juliana sofreu a
dura oposição de alguns membros do clero e da própria superiora do seu mosteiro.
Então, por vontade própria, ela deixou o convento de Mont-Cornillón com algumas
companheiras, e durante 10 anos, entre 1248 e 1258, foi hóspede de vários
mosteiros de religiosas cistercienses.
Ela edificava todos com sua humildade,
nunca tinha palavras de crítica ou de reprovação para seus adversários, senão
que continuava difundindo com zelo o culto eucarístico. Faleceu em 5 de abril de
1258, em Fosses-La-Ville, na Bélgica. Na cela em que jazia, expuseram o
Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana morreu
contemplando, com um último transporte de amor, Jesus Eucaristia, a quem sempre
havia amado, honrado e adorado. Ela soube antes de falecer que, além de Liège,
também a Alemanha ocidental já festejara a festa de Corpus Domini em 1252.
Seu corpo foi sepultado na Abadia Cisterciense de Villiers. É festejada pela
Santa Igreja no dia 5 de abril.
A Bula Transiturus
Na bula intitulada Transiturus de hoc mundo (11 de
agosto de 1264), o Papa Urbano também evoca com discrição as experiências
místicas de Juliana, respaldando sua autenticidade, e escreve: "Ainda que
a Eucaristia seja solenemente celebrada todos os dias, consideramos justo que,
ao menos uma vez por ano, faça-se dela mais honrada e solene memória. As demais
coisas, de fato, das quais fazemos memória, nós as apreendemos com o espírito e
com a mente, mas não obtemos por isso sua presença real. No entanto, nesta
comemoração sacramental de Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está
presente conosco em sua própria substância. De fato, enquanto estava a ponto de
ascender ao céu, disse: 'Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos' (Mt 28, 20)".
O próprio Pontífice quis dar exemplo,
celebrando a solenidade do Corpus Domini em Orvieto, cidade em que
então residia. Precisamente por ordem sua, na catedral da cidade se conservava
- e se conserva ainda hoje - o célebre corporal com as marcas do milagre
eucarístico ocorrido no ano anterior, em 1263, em Bolsena. Um sacerdote,
enquanto consagrava o pão e o vinho, teve fortes dúvidas sobre a presença real
do Corpo e do Sangue de Cristo no sacramento da Eucaristia. Milagrosamente,
algumas gotas de sangue começaram a escorrer da Hóstia consagrada, confirmando,
dessa forma, o que a nossa fé professa.
Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos
da história, São Tomás de Aquino - que naquela época acompanhava o Papa e se
encontrava em Orvieto - que compusesse os textos do ofício litúrgico desta
grande festa. Tais textos, em uso ainda hoje na Igreja, são obras-primas nas quais
se fundem teologia e poesia. São textos que fazem as cordas do coração vibrar,
para expressar louvor e gratidão ao Santíssimo Sacramento, enquanto a
inteligência, adentrando-se com estupor no mistério, reconhece na Eucaristia a
presença viva e verdadeira de Jesus, do seu sacrifício de amor que nos
reconcilia com o Pai e nos dá a salvação.
Ainda que, após a morte de Urbano IV, a
celebração da festa do Corpus Domini tenha se limitado a algumas
regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália Setentrional, o Papa
João XXII, em 1317, restaurou-a para toda a Igreja. Desde então, a festa teve
um desenvolvimento maravilhoso e ainda é muito especial para o povo cristão.
Recordando Santa Juliana de Cornillón,
renovemos, também nós, a fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Como nos
ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, "Jesus Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável.
De fato, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e
o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade. Nela está presente em modo
sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, Cristo
completo: Deus e homem" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica,
282).
Com as palavras do hino eucarístico Adoro te devote, repitamos diante do
Senhor, presente no Santíssimo Sacramento: "Fazei-me crer cada vez mais em vós, que em Vós eu tenha esperança, que
eu vos ame!".
Fonte:
Publicado
pela 1ª vez em 2 de abril de 2011.
Amo lê sobre ávida de Jesus e dos santos.adoro amo obrigada por escrever.avida dessas pessoas maravilhosas. Que Deus colocou no mundo.para muda a minha vida. E de muitos leigos.que Deus a abençoe
ResponderExcluirMuito obrigado pelo seu trabalho.
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