sábado, 18 de janeiro de 2020

Venerável Emanuela Maria Magdalena Kalb, Virgem, Religiosa – 18 de janeiro

A infância, a educação e a conversão
     Irmã Emanuela Maria Magdalena (Chaje) Kalb nasceu em 26 de agosto de 1899 em Jarosław próximo a Przemyśl, na região sudeste da Polônia (Galícia Oriental), sujeita então à dominação austríaca, em uma família hebreia, de muita fé, filha de Schie (Osias) Kalb e Jütte (Ida) Friedwald. Logo após seu nascimento, a família Kalb mudou-se para Rzeszów, cerca de 60 km de Jarosław. Chaje (seu nome na versão polonesa: Helena) foi a primogênita de seis filhos.
     Seus pais eram de confissão hebraica. O pai era comerciante, a mãe era dona de casa e, naturalmente, a ela cabia em grande parte a educação dos filhos. Chaje e os seus irmãos tiveram uma atenta educação na religião de seus pais. A mãe, à noite, frequentemente lia as Sagradas Escrituras (para os judeus há somente a Torá/Lei, os Profetas, os Salmos e os Livros Sapienciais) a seus filhos e lhes contava sobre a vinda do Messias esperado.
     Desde o início, foi instilado no coração de Chaje um imenso desejo de encontrar a Verdade, de conhecê-La, de amá-La e, ao mesmo tempo, o amor do próximo, a sensibilidade às suas necessidades e a preocupação pelo bem dos outros.
     Ao longo do tempo, a família sofreu provas muito dolorosas: o pai, antes da guerra mundial de 1914, partiu para a América em busca de trabalho (Chaje não o encontrou mais) e morreu ali nos anos 20. Em 1916, sua mãe, que durante a epidemia de tifo tinha cuidado dos enfermos foi contagiada, faleceu. Esta morte feriu profundamente o coração dos filhos e influiu decisivamente sobre os acontecimentos de sua vida no futuro. Os mais velhos, desde então, tiveram que ganhar seu sustento cotidiano. O cuidado dos menores (Natan e Raquel) coube aos parentes, que depois de um breve período decidiram entregá-los a um orfanato mantido por hebreus.
     Entre os anos 1905-1915, Chaje recebeu a instrução básica nas escolas elementares públicas em Rzeszów e continuou sua educação no ginásio do local.
     Depois da morte de sua mãe, aos dezessete anos, adoeceu e em um hospital encontrou umas religiosas.  Fascinada por sua atitude de serviço desinteressado ao próximo, começou a se relacionar com elas. Durante os colóquios conheceu melhor a figura de Cristo e acreditou firmemente que Ele era o Messias prometido.
     Não se importando com as dificuldades postas da parte da família, decidiu converter-se ao Catolicismo e, de fato, em 18 de janeiro de 1919 recebeu o Santo Batismo na Basílica Catedral de Przemyśl, assumindo o nome de Maria Madalena. Esta escolha na sua vida foi acompanhada não somente pelo abandono da própria família, mas também pelo seu assíduo empenho de levar a Cristo seus irmãos menores que permaneciam no orfanato: Natan e Raquel.
     Em outubro de 1919, com eles chegou a Miejsce Piastowe. Ficou em uma comunidade nascente que trabalhava no internato do Instituto “Trabalho e Temperança” (em 1928 foi aprovado como Congregação de São Miguel Arcanjo) e permaneceu ali por alguns anos. Seguindo seu conselho, os irmãos menores também decidiram se converter ao Catolicismo e receberam, em 1921, o Batismo na Igreja Católica.
     Maria Madalena completou a sua instrução no Instituto Estatal de Magistério de Krosno, e, em 1923, passou no exame que lhe dava o direito de ensinar nas escolas públicas. Em 1925, desejando uma vida de clausura, deixou Miejsce Piastowe.
     Na memória, seja das Irmãs de São Miguel Arcanjo como também na dos cidadãos de Miejsce Piastowe, deixou um testemunho inesquecível de fidelidade nos cumprimentos dos deveres cotidianos, sejam aqueles da construção da futura casa generalícia da Congregação religiosa, sejam aqueles do ensinamento na escola, como também sua atitude de oração, de recolhimento e de bondade para com todos que lhe eram próximos.
A vida e a atividade na Congregação das Irmãs Cônegas do Espírito Santo.
     Após ter deixado Miejsce Piastowe e depois de um breve período vivido em Łomna, próximo a Turla (agora Ucrânia), onde ajudou no Instituto mantido pelas Irmãs Franciscanas da Família de Maria, seguindo um profundo desejo de dar-se ao Senhor na vida religiosa, Maria Madalena ingressou, em 1927, na Congregação das Irmãs Cônegas do Espírito Santo, em Cracóvia. Admitida ao noviciado em agosto de 1928, recebeu o nome de Irmã Emanuela. Depois do noviciado de dois anos, em 1930, fez a primeira profissão religiosa e, em seguida, em 1933, a perpétua.
     Na Congregação, trabalhou como professora nas Escolas Elementares e nos Jardins de Infância mantidos pelas irmãs. Sente-se responsável não somente por transmitir às crianças as noções fundamentais definidas no programa, mas, também, por sua educação religiosa, seu crescer no amor de Deus.
     Gozando de plena confiança dos superiores, ocupou diversos postos de responsabilidade no seio da própria congregação: foi por duas vezes mestra de noviças, algumas vezes desempenhou o encargo de superiora local, assim como de vigária em diversas casas.
     De 1957 até o fim de sua vida, viveu na comunidade de Cracóvia, edificando as irmãs com seu dar-se totalmente a Deus, com sua fidelidade nos deveres de cada dia na vida religiosa, com a sua oração, simplicidade, disponibilidade e amor ao próximo. Não deixou nunca de se dedicar àqueles que tinham necessidade dela.
     Morreu na sua cela no convento de Cracóvia, cercada pelas Irmãs em oração, em 18 de janeiro de 1986, aos 87 anos.
Notas sobre a vida espiritual da Serva de Deus
     Levava uma vida interior muito profunda. O confirmam os apontamentos escritos por ela todos os anos, desde seu ingresso na Congregação até os últimos anos de sua vida, enquanto fazia os exercícios espirituais. Além disto, por ordem do confessor e dos superiores, escreveu o Diário. Nesse apresentou o seu caminho à fé católica, anotou algumas experiências interiores, as graças da oração e a experiência da união muito íntima com Cristo.
     Sua nota distintiva é a sua solicitude pela salvação dos outros. Escreveu no Diário: “Vivo a união ao Crucificado. Gerar, no sofrimento, as almas! Sobre a terra, além disso, não desejo um amor diverso”.
     Em espírito de reparação e de sacrifício se ofereceu totalmente a Deus. Fez atos de oferta pela conversão de Israel: “para que conheça a Luz da Verdade, que é Cristo”. Durante a II Guerra mundial, preparou hebreus para o Batismo na Igreja Católica colocando em risco a própria vida.
     Sentia também um chamado particular de Cristo para rezar pelos sacerdotes, e, de modo particular, por aqueles que viviam uma crise de fidelidade, sobretudo no período depois do Concílio Vaticano II. Com essas intenções suportou as dores, as provas de fé, os sofrimentos físicos (40 anos com a perda de audição). Dedicava-se à oração, fazia penitência, aceitava penitência no lugar dos outros, para salvar aqueles que estavam em perigo de pecar.
     A sua profunda humildade, o reconhecimento da própria nulidade, a doação a Deus e a união íntima com Cristo Salvador, a introduziram em uma profunda compreensão do Mistério do Sacrifício Eucarístico, por ela revivido interiormente. Escreve no seu Diário: “Deus meu, que coisa significa as mais sublimes graças da oração, diante de uma só Comunhão Eucarística! Aqui há tal união, o nosso ser é tão absorvido por Deus, que nos tornamos um com Ele, inseparavelmente”.
     Ela assistia a Santa Missa com extraordinário recolhimento e, quando era possível, mais vezes durante um mesmo dia.  Passava horas inteiras em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Unida ao Crucificado, vive o seu amor a Ele no caminho da fidelidade, pedindo: “Jesus, escutai-me, porque desejo com toda a alma ser uma santa heroica; amar-Te com o Teu próprio amor. Dá-me a graça para fazê-lo e toma-me como oferta pela conversão das almas”.
Dos escritos da Irmã Emanuela Kalb
     A verdade fundamental de que devemos ter consciência é aquela de que somos guiados pelo amor. O amor nos acompanha e nutre propósitos cheios de bondade em relação a nós. Devemos submeter-nos com docilidade e com total confiança (Notas, 10).
     Como posso exprimir aquele esplendor que às vezes Tu me concedes experimentar. É um mistério que se pode viver, mas exprimi-lo com palavras me é impossível. Fascina-me aquilo que em Ti é indescritível; Adoro-te porque És Aquele que É. (Diário, 1933).
     Aqui, é preciso tornar-se Jesus Crucificado. O Pai Celeste nos reconhece como seus filhos, quando ele vê, reconhece em nós, Jesus Crucificado, o próprio Filho morto na Cruz, que diz: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30). (Diário 1982).
     Senhor meu, se me manténs junto a Ti, completamente em Ti, poderei pedir-Te tudo, em particular, quando Te peço constantemente, fortemente pelos sacerdotes que te abandonaram, para que retornem (Diário 1983).
     É graça maior poder sofrer com Jesus no silêncio total, do que receber os mais altos dons místicos. Eis porque nos são dadas as graças da oração: afim que sejamos capazes de sofrer junto a Ele, por Ele e pelo bem das almas. Deus realiza a Sua obra maior sobre a Cruz… (Exercícios espirituais, 1969).
     Ser santa não significa realizar milagres. Consiste somente em amar a Jesus com todo o coração. Deus quis que tudo o que acontece, todas as criaturas, tudo possa me ajudar a louvá-Lo e a sustentar-me para alcançar a santidade. – “Te amo, meu Deus. Transforma-me à Tua semelhança. Purifica-me do meu amor próprio. Toma posse da minha mente, da vontade e todas as potências. Viva em mim Tu somente”. (Exercícios Espirituais, 1932)
     A santidade consiste na fadiga de sacrificar a vida inteira. Não desanimes. Quem não desanima, mas segue o caminho com perseverança, estes realizarão grandes coisas. É preciso tender firmemente a Deus. (Exercícios Espirituais, 1938)
     Dizia ao Senhor: “Oh Senhor, me cansa tanto viver, desejo voltar já para Ti”.
     – Sabes quantas almas se podem salvar por meio da oração e dos sacrifícios? Não queres me ajudar na salvação das almas?
     Deus meu, eu quero, quero viver mesmo até o fim dos tempos, para poder conquistar-Te as almas, que Tu amas tanto assim. (Notas, 2º)
     Que coisa podemos dar ao Senhor? É Ele mesmo a nossa propriedade. Portanto, também o seu Sangue derramado pela salvação do mundo nos pertence. No amor tudo se torna comum. Portanto, à imensidade do seu Amor, uno uma migalha do meu eu. Assim, será um grande dom e se poderá obter muito. (Carta a Josefina, 1981).
     Esforçar-se para que todos compreendam que Deus é Amor e que de Seu Amor brota a Misericórdia. Podemos obter tantas graças de Deus se somente soubermos unir o nosso ’nada’ à Oferta de Jesus; em particular, se o fazemos durante a Santa Missa, em que Ele se oferece ao Pai por nossa salvação.  Está aqui a certeza, e nosso tesouro maior, de onde conseguiremos [a graça]. Certo, as nossas obras de penitência, é preciso uni-las aos sofrimentos do Salvador e assim elas alcançaram um grande valor.  É importante, e o deverias saber: as nossas obras têm valor somente enquanto unidas a Ele. (Carta a Josefina, 1981)
     De verdade vale à pena sofrer, vale à pena oferecer a própria vida por uma causa maior que a própria vida e que merece, portanto, gastar por essa todas as forças. (Diário, 1946).

Fonte: Site polonês das Cônegas do Espírito Santo: http://www.kanoniczki.pl/
 

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