segunda-feira, 29 de junho de 2020

Beatas Salomé e Judite de Niederaltaich, Reclusas - 29 de junho

        Beata Judite



     Em Niederaltaich, a festividade de São Gotardo (Godehard) permitiu que a vida monástica florescesse de uma forma excelente por um longo tempo. Os monges não só levavam uma vida estrita e sagrada para si mesmos, mas eles levaram no caminho da santificação todos os que se voltavam para eles com confiança. Da Abadia de Waltgerus, uma virgem chamada Salomé veio aos monges deste mosteiro para ser guiada por eles no caminho da perfeição cristã.
     Salomé, parenta próxima do rei, decidiu oferecer a Deus o seu amor abandonando a corte real. A sua formosura era o reflexo das belas virtudes que lhe adornavam a alma.
     Duas empregadas dedicadas e fiéis notando na senhora mudança muito grande e querendo saber os motivos de seu recolhimento, interpelaram-na. Salomé, com suas santas argumentações, acabou despertando nelas igual desejo de pertencer só a Deus e de se afastarem do mundo. De comum acordo, e sem se despedirem de pessoa alguma, empreenderam uma viagem à Terra Santa, onde, com muita devoção, visitaram os Santos Lugares.
     Salomé, que acompanhava o Divino Esposo no caminho de dor até o Monte Calvário, teve de percorrer ainda outro caminho, ainda mais doloroso para ela. Na viagem de regresso perdeu, pela morte, as fiéis companheiras. Firme, porém, era seu propósito de não voltar mais à corte real da Inglaterra e levar uma vida pobre e desconhecida no estrangeiro.
     Com muitas dificuldades chegou a Regensburg, na Baviera (Alemanha), onde se aborreceu profundamente por causa de alguns galanteios à sua formosura. Humilhando-se diante de Deus, em fervorosas preces pediu que lhe tirasse os atrativos tentadores. Esta oração foi ouvida: acometida de uma enfermidade, em poucos dias perdeu a visão. Além da cegueira, Deus mandou-lhe uma doença que se parecia com a lepra e que a atormentou por algum tempo.
     Hospedada em casa de uma piedosa senhora, lá poderia ter ficado se o desejo insaciável de penitência não lhe tivesse reclamado constantemente uma vida mais retirada.
     O abade de Niederaltaich, tendo notícia da vida santa de Salomé, convidou-a a mudar de residência para perto do convento. Salomé foi ocupar a cela que o abade mandara construir para seu uso no coro da igreja conventual.
     O rei da Inglaterra, alarmado com a excessiva demora da parente, fez repetidas buscas para descobrir seu paradeiro. Judite, sua filha, que tinha enviuvado, foi ao local onde descobriram que Salomé vivia. Grande foi o contentamento de ambas. No mesmo mosteiro a prima também se fez murar no átrio da mesma igreja.
     Salomé faleceu antes de Judite, após ter suportado tremendos sofrimentos físicos. A existência das duas primas é colocada no fim do século XI.
     A Ordem Beneditina festeja as Beatas Salomé e Judite de Niederaltaich no dia 29 de junho.

Fontes: www.santiebeati.it; 

Postado neste blog em 28 de junho de 2013
 
Mosteiro de Niederaltaich (gavura antiga)
     Há um debate considerável sobre a identidade das Beatas Salomé e Judite. Elas podem ter sido primas (ou Judite, tia de Salomé) da linhagem real anglo-saxã, que viveram por um período considerável como reclusas sob o Abade Walther (ou Walker) em Oberaltaich-am-Donau. Acredita-se que seus corpos chegaram a Niederaltaich por ocasião da destruição de Oberaltaich pelos húngaros.
     Outro relatório afirma que as duas reclusas viviam em Niederaltaich por volta do século XI. O altar de São Giles fica em Niederaltaich e não em Oberaltaich, e Walker foi abade aqui de 1069 a 1098. De acordo com esta versão, estando em Regensburg após uma peregrinação à Terra Santa, Salomé ficou cega, supostamente em resposta à oração pedindo que esta aflição a livrasse dos galanteios que sua formosura atraia.
     Vivendo numa cela junto à capela da Abadia de Niederaltaich, depois de algum tempo veio visitá-la sua parente, Judite. Com permissão do abade e do capítulo, a Judite também foi dada uma cela perto da igreja de Niederaltaich. As mulheres trabalhavam como servas no mosteiro. Ambas morreram antes do final do século XI, Salomé primeiro. A biografia com data do século XIII ou XIV alega que ambos os corpos foram enterrados em um túmulo diante do altar de São Giles.
     Ambas foram enterradas em um caixão de pedra, e acima de seu túmulo a inscrição era: "Judith e Salomé, peça a Deus por mim"! Elas eram veneradas como servos fiéis de Deus, e sua memória é celebrada todos os anos em 29 de junho. Judith e Salomé eram veneradas em martirológios monásticos e na arte, mas não tinham culto litúrgico.

Bibliografia: Bibliotheca hagiographica latina antiquae et mediae aetatis, 2 v. (Bruxelas 1898–1901) 2:1081, 7465. Acta Sanctorum (Paris 1863—5:492-498. a. m.
zimmerman, Kalendarium Benedictinum: Die Heiligen und Seligen des Benediktinerorderns und seiner Zweige (Metten 1933–38) 2:374, 376. r.
Fonte:
BAVARIA SANCTA
Vida dos Santos e Beatos do País bávaro para o ensino e edificação para o povo cristão - Editado pelo Dr. Modestus Jocham, Professor de Teologia e Conselheiro Espiritual do Arcebispo - Com a aprovação do arcebispo mais venerável de Munique - Freising, (1861)

sábado, 27 de junho de 2020

Santa Gudena, mártir de Cartago – 27 de junho

   
       A forma como se escreve o nome de Gudena varia muito segundo a fonte aonde é citada. É possível encontrar as grafias Giddina, Guddenas, Guddentes, Guddina e até na forma masculina: Giddinus, Gaudentes.
     Não existe muita informação sobre a vida de Santa Gudena. O martirológico Lionês resume seus dados, registrando que seu martírio ocorreu em Cartago, na atual Tunísia, norte da África, em 27 de junho de 203. Especifica ainda que foi morta na perseguição aos cristãos decretada Lúcio Septímio Severo, imperador romano de 193 a 211, e Rufino era o nome do procônsul que a condenou à morte. Descreve os tormentos que sofreu: torção dos membros, lacerações do corpo com pregos de ferro, abusos na prisão e finalmente a decapitação.
     No cabeçalho do Sermão 294 de Santo Agostinho consta que aquele discurso contra os pelagianos fora proferido pelo santo no dia 27 de junho, por ocasião do nascimento para o céu de Santa Gudena.
     A memória de Santa Gudena também é encontrada nesta mesma data no Martirológio Jerônimiano (em latim: Martyrologium Hieronymianum) que é o mais antigo catálogo de mártires cristãos da Igreja Católica. Deve o seu nome ao fato de ter sido atribuído a São Jerônimo.
     A partir desses testemunhos conclui-se que Santa Gudena foi, portanto, uma mártir da perseguição do Imperador Septímio Severo, que alguns meses antes, na própria Cartago, também martirizou as Santas Perpetua e Felicidade (7 de março de 203). É interessante notar que há registros de que em março o posto de procônsul da África estava vago e o procurador Ilariano exercia suas funções, enquanto em junho já havia o novo procônsul, Rufino.

Fontes:

terça-feira, 23 de junho de 2020

Santa Maria Guadalupe Zavala, Fundadora -24 de junho

     
     No Evangelho lemos a tríplice pergunta que Jesus fizera a Pedro:  "Tu amas-Me?". Cristo faz esta mesma pergunta aos homens e mulheres de todas as épocas. Aconteceu assim na vida de Santa Maria Guadalupe Garcia Zavala, mexicana, que ao renunciar ao matrimônio, se dedicou ao serviço dos mais pobres, dos necessitados e dos enfermos, e por isso fundou a Congregação das Servas de Santa Margarida Maria e dos Pobres.
     Com fé profunda, uma esperança sem limites e um grande amor a Cristo, a Madre Lupita procurou a própria santificação partindo do amor ao Coração de Jesus e da fidelidade da Igreja. Desta forma viveu o lema que deixou às suas filhas:  "Caridade até ao sacrifício e constância até à morte".
      Maria Guadalupe Garcia Zavala nasceu em 27 de abril de 1878 em Zapopan, Jalisco, México. Foram seus pais Fortino Garcia Zavala e Refugio de Garcia.
     Quando criança, ela era conhecida pela sua piedade e fazia visitas frequentes à Basílica de Nossa Senhora de Zapopan, que se encontrava ao lado da loja de artigos religiosos dirigida por seu pai. Com transparência e simplicidade fora do comum, Maria tratava a todos com igual amor e respeito.
     Ainda jovem planejou casar-se com Gustavo Arreola, mas de repente, aos 23 anos, rompeu seu noivado. O motivo: Maria sentiu-se chamada a amar Nosso Senhor de maneira exclusiva na vida religiosa, e entregar-se plenamente à assistência aos pobres e doentes.
Fundadora das “Servas”
     Quando Maria confidenciou a seu diretor espiritual, Pe. Cipriano Iñiguez, sua “súbita mudança de coração”, ele revelou que durante algum tempo tivera a intenção de fundar uma congregação religiosa que prestasse assistência aos hospitalizados, e convidou Maria para o acompanhar nessa fundação.
     A nova Congregação, que começou oficialmente em 13 de outubro de 1901, era conhecida como “Servas de Santa Margarida Maria (Alacoque) para os Pobres”.
“Pobre com os pobres”
     Maria trabalhava como enfermeira, dando assistência aos primeiros pacientes que foram recebidos no seu hospital. Independentemente da pobreza e da falta de bens materiais dos pacientes, a compaixão e o cuidado com o bem-estar físico e espiritual dos doentes foram suas principais preocupações. Maria entregou-se plenamente nesta tarefa de amor.
     Irmã Maria foi nomeada Superiora Geral da Congregação que crescia rapidamente. Ensinou às Irmãs que lhe foram confiadas, principalmente por meio de seu exemplo, a importância de viver uma verdadeira pobreza interior a exterior com alegria. Ela estava convencida que era apenas amando e vivendo a pobreza que se pode ser verdadeiramente “pobres com os pobres”. As Irmãs trabalhavam igualmente nas paróquias, onde elas ajudavam os sacerdotes ensinando o Catecismo.
      Madre Lupita era conhecida pela sua humildade, simplicidade e vontade de aceitar tudo o que vem das mãos de Deus. Embora fosse de família relativamente rica, como Superiora-Geral da nascente Congregação (cargo que desempenharia até o termo da sua vida) adaptou-se com alegria a uma vida extremamente sóbria e, nos momentos de grande dificuldade financeira para a Congregação, acompanhada das suas Irmãs, chegou a sair pelas ruas para pedir esmolas com a finalidade de ajudar os doentes confiados aos seus cuidados.
Arriscando a vida
     De 1911 até 1936, a situação político-religiosa no México tornou-se inquietante e a Igreja Católica sofreu perseguição. Madre Maria colocou a sua própria vida em risco, e a das Irmãs, para ajudar os sacerdotes e o Arcebispo de Guadalajara, D. Francisco Orozco y Jiménez, escondendo-os no hospital.
     Ela não se limitou simplesmente à sua caridade para ajudar os justos, mas também deu alimento e cuidados aos enfermos entre os perseguidores que viviam perto do hospital, e não demorou muito para que estes também começassem a defender as Irmãs e os doentes do hospital dirigido por elas.
     Em 1960, a Congregação comemorou as bodas de diamante da Fundadora, que aos 83 anos ainda vivia, mas com os sinais da doença que a levaria a morte dois anos depois.
     Os dois últimos anos de vida da Madre Lupita foram vividos em extremo sofrimento por causa de doença grave e, em 24 de junho de 1963, em Guadalajara, Jalisco, México, ela faleceu aos 85 anos de idade. Quando faleceu já gozava de uma sólida fama de santidade.
     Durante a vida da Fundadora 11 fundações foram criadas no México. Hoje a Congregação conta com 22 casas e está presente em cinco países: México, Peru, Islândia, Grécia e Itália. Madre Lupita foi amada por ricos e pobres e durante a sua vida inteira deu um exemplo de fidelidade à Igreja.
     Beatificada no dia 25 de abril de 2003, com aprovação da Congregação para as Causas dos Santos, a qual reconheceu no final de dezembro de 2003 um milagre atribuído a Madre Lupita. Foi canonizada no dia 12 de maio de 2013 em Roma pelo Papa Francisco.


Fontes:

domingo, 21 de junho de 2020

São José de Anchieta e o Sagrado Coração de Jesus



Anchieta: um dos precursores da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Em meados de 1563, na praia de Iperoig (Ubatuba/SP), com apenas 29 anos de idade e refém dos índios Tamoios, o jovem Anchieta compôs o maior poema dedicado a Virgem Maria, com quase 6 mil versos.

          A devoção ao Sagrado Coração de Jesus difundiu-se por toda a Igreja, de modo especial, a partir das experiências místicas da grande apóstola do Coração de Jesus, Santa Margarida Maria Alacoque, reveladas ao seu diretor espiritual, o padre jesuíta São Claudio de la Colombière, em Paray-le-Monial, França. Com a fundação do Apostolado da Oração, em 1844, no seminário da Companhia de Jesus de Vals, a devoção se propagou por todo o mundo e o Apostolado tornou-se um dos mais numerosos e significativos movimentos da Igreja. Mas, talvez, o que poucos sabem, é que esta devoção já era presente e propagada através dos grandes místicos da Igreja, desde a Idade Média.
         Um dos precursores da devoção ao Sagrado Coração de Jesus é São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil. Em meados de 1563, na praia de Iperoig (Ubatuba/SP), com apenas 29 anos de idade e refém dos índios Tamoios, o jovem Anchieta compôs o maior poema dedicado à Virgem Maria, com quase 6 mil versos. Além de possuir relevância histórica e literária, o poema é um verdadeiro tesouro místico que revela a profunda e vigorosa vida espiritual de Anchieta. É exatamente dentro deste magnífico poema que encontramos um dos mais antigos hinos ao Sagrado Coração de Jesus. 

HINO DE AMOR AO CORAÇÃO DE JESUS

Ó Coração Sagrado,
não foi o ferro de uma lança que te abriu,
mas sim o teu apaixonado amor por nós!
Ó caudal que borbulhou no seio do Paraíso
de tuas águas se embebe e fertiliza a terra!
Ó estrada real, porta cravejada do Céu,
torre de refúgio, abrigo de esperança!
Ó rosa a trescalar
o perfume divino da virtude!
Pedra preciosa com que o pobre compra
um trono no Céu!
Ninho em que as cândidas pombinhas
depositam seus ovinhos,
em que a pomba casta alimenta seus filhotes.
Ó rubra chaga,
que reverberas de imensa formosura
e feres de amor os corações amigos!
Ó ferida que abriste
com a lança do amor, através do peito divinal,
estrada larga para o Coração de Cristo!
Prova de inaudito amor
com que ele a si nos estreitou:
porto a que se acolhe a barca na procela!
A ti recorrem do inimigo fero,
medicina pronta a toda a enfermidade!
Em ti vai sorver consolação o triste
e arrancar do peito opresso a carga da tristeza.
Não será frustrada a esperança do pobre réu
que, depondo o temor,
entra nos palácios do paraíso,
por tua via.
Ó morada da paz!
Ó veio perene da água viva
que jorra para a vida eterna!
Só́ em ti, ó Mãe, foi rasgada esta ferida,
só́ tu a sofres,
somente tu a podes franquear.
Deixa-me entrar no peito aberto pelo ferro
e ir morar no Coração de meu Senhor;
por esta estrada chegarei
até às entranhas deste amor piedoso;
aí farei o meu descanso, minha eterna morada.
Aí afundarei os meus delitos
no rio de seu sangue,
e lavarei as torpezas de minha alma,
nesta água cristalina.
Nesta morada, neste remanso,
o resto de meus dias, quão suave será viver,
aí, por fim, morrer!



“Às estrelas por caminhos difíceis” A frase em latim no quadro de Anchieta, de autoria do pintor Oscar Pereira da Silva (1865-1939), é um dos lemas fundamentais na Companhia de Jesus.


Fonte: Bruno Franguelli, sj

sábado, 20 de junho de 2020

Beata Benigna de Breslávia ou Wroclaw, Monja – 20 de junho


     
Breslávia, centro histórico
 A beata Benigna da Breslávia foi uma freira cisterciense que acreditamos ter vivido entre os séculos XII e XIII.
    Os eventos relacionados à Beata Benigna são conhecidos apenas através de algumas fontes tardias.
     De acordo com um menólogo cisterciense do século XVII, a beata Benigna vivia em um convento na Breslávia e teria sido martirizada pelos invasores tártaros em 1241, por defender sua fé e virgindade.
     Alguns estudiosos acreditam que sua morte ocorreu naquele ano de 1241, no Mosteiro de Trebnitz, durante uma invasão dos mongóis que destruiu o mosteiro.
     Embora não haja vestígios de sua veneração na Polônia, a Beata Benigna da Breslávia era lembrada e venerada em 20 de junho.
     Na arte, ela é retratada como uma freira cisterciense, muitas vezes com a palma da mão. O nome Benigna ainda é usado na Baviera, no sul da Alemanha.
     Por outro lado, temos a biografia de Santo Benigno de Breslau (Breslau é o antigo nome alemão de Wroclaw) com a informação: monge na Ordem Cistercie]nse de Breslau na Silésia (agora Wroclaw na Polônia) no século XIII, morto pelos tártaros, lembrado no dia 20 de junho. Fontes: Beneditinos, Bunson, KIR, CSO. Haveria todas as razões para acreditar que é a mesma pessoa.
     Entretanto, até onde foi possível descobrir, Svatá Dobrotivá (Santo Benigno) está na República Tcheca (não da Eslováquia) em um mosteiro agostiniano, onde a vila e o mosteiro foram nomeados após as relíquias do santo mártir Benigno (d. 449) serem solenemente transferidos de Praga para a igreja da abadia em 1322. (*)
* * *
 
Breslávia no sec. XVII
   
Breslávia (em polonês Wroclaw, em alemão Breslau) é uma cidade da Baixa Silésia, na Polônia. Tem cerca de 640 000 habitantes, o que a torna a quarta mais populosa cidade da Polônia. Localiza–se nas margens do Rio Oder (em polonês: Odra), a cerca de 350 km ao sudoeste de Varsóvia.
     A cidade foi fundada no século X e, no ano 1000 , foi fundado também o episcopado de Breslávia. Na crônica do século XII de Galo Anônimo, a cidade foi nomeada uma das três principais cidades do Reino da Polônia, ao lado de Cracóvia e Sandomierz.

Igreja e Mosteiro de Svatá Dobrotivá 
    Fundado em 1262 pelo Lorde Oldřich Zajíc de Valdek, o Mosteiro da Anunciação da Virgem Maria com sua igreja dedicada a São Benigno, chamada Svatá Dobrotivá em tcheco, foi o primeiro mosteiro agostiniano na Boêmia, e marcou a chegada dos agostinianos no que hoje é a República Tcheca. A igreja é dedicada, e leva o nome de Svatá Dobrotivá devido ao fato de suas relíquias repousarem na igreja, proporcionando ainda mais incentivo para os peregrinos que viajam para o mosteiro.
     Conta-se que Oldřich Zajíc de Valdek teria tido uma visão em que a Virgem Maria apareceu para ele e pediu que ele construísse uma igreja e um mosteiro "para seus servos" (ou seja, os monges agostinianos que eram novos na área), explicando assim o nome do mosteiro. 750 anos depois, a Igreja de São Tomás, na esplêndida Mala Strana de Praga, ou Cidade Menor, está liderando o mais recente projeto de restauração do Mosteiro, devolvendo-o à sua antiga condição intocada com o objetivo de criar um centro de retiro familiar.
     Anualmente no mês de maio a Paróquia de São Tomás organiza uma Peregrinação Mariana ao Santuário da Graciosa Nossa Senhora na Igreja Svatá Dobrotivá para celebrar e homenagear Santa Maria e lembrar a legenda que afirma que todos que vêm ao santuário deste mosteiro e colocam seus problemas aos pés de Maria serão ouvidos, com Maria tomando seus problemas sobre si mesma.
     Para aqueles dedicados a Virgem Maria, este é um local de peregrinação comparável à Lourdes ou Guadalupe, embora menos conhecido. Localizado na cidade de Zaječov, perto da cidade peregrina de Příbram, que possui Svatá Hora e sua renomada coleção de conjuntos de Natividade, o projeto de restauração em andamento na Igreja de Svatátivá é de extrema importância para os agostinianos na República Tcheca, pois marca não apenas um importante local de peregrinação, mas também a preservação do que foi devolvido a eles após a queda do comunismo em 1989.

(*) Fontes: Schauber/Schindler, Bautz, Heiligenlexikon - Compilação e tradução: p. Per Einar Odden - Última atualização: 2006-12-18 11:12

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Santa Isabel de Schönau, Religiosa e mística - 18 de junho

   
       Isabel nasceu, com grande probabilidade, em Bonn, na Renânia, em 1129. Tinha apenas 12 anos quando os pais (dos quais se conhece apenas o nome do pai, Hartwig), a entregaram às monjas da abadia beneditina de Schönau, no Reno, próximo de Sankt Goarshausen, onde ela fez a profissão religiosa em 1147.
     Dez anos mais tarde foi eleita Superiora das monjas, que não tinham abadessa, pois dependiam do abade, que era então Egberto (+ 1184), irmão de Isabel. Este sempre exerceu grande influência sobre Isabel e foi seu conselheiro espiritual e seu primeiro biógrafo. Isabel tinha ainda outro irmão, Rogério, premostratense, que foi preboste em Pòhlde (Saxônia), e um sobrinho, Simão, que também se tornou abade de Schönau.
     Recuperada de uma grave doença em 1152, Isabel começou a ter visões e êxtases, durante os quais falava com Nosso Senhor, Nossa Senhora e com os santos do dia. Às vezes seus êxtases duravam semanas, e aos poucos debilitaram de tal forma o seu físico, que ela faleceu com apenas 35 anos em Schönau no dia 18 de junho de 1164 ou 1165.
     Em 1155, seu irmão Egberto, conhecido pelo seu engajamento contra os cátaros, transcreveu as suas visões em latim. Egberto incitou Isabel a pedir ao Anjo que lhe aparecia algumas explicações sobre certas questões litigiosas. Eis a razão de Isabel ter várias visões que atestam a realidade da transubstanciação, ponto sensível na luta contra os cátaros.
     Entre os livros que escreveu estão Visões (três volumes), Liber viarum Dei e Revelações do martírio de Santa Úrsula e suas companheiras.
     Os três livros das visões tiveram larga difusão durante a Idade Média. O Liber viarum Dei compilado à imitação de Scivias de Santa Hildegarda, se concentra quase inteiramente na necessidade da penitência e de uma reforma moral da Igreja. As visões De resurrectione beatae Mariae Virginis tratam da Assunção de Maria Santíssima, ou seja, a gloriosa trasladação da Mãe de Deus em corpo e alma da terra ao céu. O Liber revelationum de sacro exercitu virginum Coloniensium, escrito entre outubro de 1156 e outubro de 1157, trata em termos legendários de Santa Úrsula e suas companheiras. O primeiro livro é de uma linguagem simples que Isabel pode ter usado, mas os outros empregam uma linguagem mais sofisticada que provavelmente é de Egberto.
     As opiniões divergem quanto às visões e revelações de Isabel. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito e nunca mesmo as examinou. A própria Isabel estava convencida do carácter sobrenatural destas, como ela o diz numa carta endereçada a Santa Hildegarda, da qual era muito amiga e que a vinha visitar. Quinze cartas suas autênticas, das quais uma a Santa Hildegarda, chegou até aos nossos dias. Ela aí fala dos êxtases com que Deus a agracia.
     As suas obras eram, no seu tempo, mais conhecidas do que as de Santa Hildegarda de Bingen, da qual apenas alguns manuscritos chegaram até nós. Entretanto, numa leitura atenta das obras é possível distinguir nelas a influência do irmão, Egberto.
     As cartas de Isabel de Schönau, de conteúdos variados, são dirigidas a bispos, abades, monjas, escritas de 1154 até o ano de sua morte, nas quais ela usa uma linguagem dura para estigmatizar os vícios da época, linguagem que contrasta com a simplicidade de seu caráter infantil, mostrando-se menos original que sua grande amiga Santa Hildegarda de Bingen, a "profetisa da Alemanha".
     Objeto de veneração particular já em vida e mais ainda depois da morte, em 1584, no tempo de Gregório XIII, o nome de Isabel de Schönau foi inscrito no Martirológio Romano sob a data de 18 de junho “Schonaugiae, in Germania, sanctae Elisabeth virginis, ob monasticae vitae observantiam Celebris” (Comm. Martyr. Rom., p. 244, n. 8). Depois o seu ofício litúrgico foi inscrito na Diocese de Limburgo, que celebra a festa da santa no dia indicado. 
     Como a população logo venerou Isabel como santa, seus ossos foram enterrados novamente entre 1420 e 1430 em uma capela especial. Esta capela foi destruída no grande incêndio da Abadia de Schönau em 1723 e não reconstruída.
     Durante os trinta anos de guerra, soldados suecos atacaram o Mosteiro de Schönau. Os suecos expulsaram os monges, saquearam o mosteiro, invadiram o túmulo de Isabel e espalharam seus ossos. Só o crânio foi salvo. Agora está preservado em um relicário do lado direito do altar da igreja.
     A paróquia do Mosteiro de São Floriano Schönau celebra anualmente o tradicional Elisabethen-Fest no domingo após 18 de junho.
Reputação
    A popularidade de Isabel é evidente considerando aqueles que pediram por seus conselhos. O número de homens muito cultos e religiosos que pediram cartas à Isabel é surpreendente. Para um homem religioso pedir a uma mulher para escrever-lhe uma carta que inclui conselhos sobre como se deve viver, durante uma época em que os homens eram vistos como o sexo superior, mostra a autoridade que Isabel adquiriu devido a suas visões extraordinárias.
     Um monge, de uma abadia em Busendorf, veio se encontrar com Isabel para ter uma compreensão mais profunda das suas visões e em um esforço para compreender o que Deus estava fazendo com esta mulher. Ao sair, ele perguntou a Isabel se ele seria digno o suficiente para receber uma carta dela. Isabel atendeu seu pedido e escreveu ao abade de Busendorf uma carta que forneceu a ele e a seus monges conselhos espirituais através da graça de Deus. A carta enfatizava a importância da responsabilidade do abade sobre seus monges e a orientação que o abade deve estender aos seus monges. Isabel afirma a importância de viver em Deus e de não ser desviado por assuntos mundanos.

Altar de Santa Isabel na igreja do Mosteiro de Schönau

Postado neste blog em 18 de junho de 2013

Fontes:
es.catholic.net/op/articulos/36138/isabel-de-schnau-santa.html

Beata Teresa de Portugal, Rainha e Cisterciense - Festa 17 de junho

     

     Não só nos mosteiros e conventos se refugiava e florescia a santidade na Idade Média. Nos palácios, as famílias reais deram muitos santos a Igreja. Em Portugal, três filhas de D. Sancho I (1154-1211), bem fidalgamente souberam se enfeitar com a riqueza e a beleza das virtudes cristãs, para se tornarem exemplos aos reis e aos povos. Nascidas e educadas na corte, duas delas chegaram mesmo a contrair matrimônio. Mas todas três renunciaram depois ao mundo, suas comodidades e enredos, para se consagrarem à perfeição religiosa. Foram elas Beata Sancha (1180-1229 festejada 11 de abril), Beata Teresa (1177-1250) e Beata Mafalda (1195-1256 festejada 2 de maio). Uma outra irmã, Branca de Portugal, também tornou-se religiosa.
     Hoje a Igreja comemora a Beata Teresa de Portugal, no século Teresa Sanches de Portugal. Ela é a menos conhecida das Santas que levam o seu nome, e às vezes é citada com a forma antiga do seu nome: Tarasia ou Tareja. Ela também ficou conhecida mais tarde como Infanta-Rainha ou Rainha Santa Teresa. Era a filha mais velha de Sancho I, segundo rei português; seus avós paternos foram Mafalda de Saboia, filha do Conde Amadeu III, e Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.
     Da. Teresa nasceu em Coimbra no ano 1177. Prometida em casamento a seu primo Afonso IX, Rei de Castela e Leão, as núpcias foram celebradas em Guimarães no dia 15 de fevereiro de 1191; do casamento nasceram três filhos: Sancha, Dulce e Fernando. Em 1196 o matrimônio foi declarado nulo por “impedimentum affinitatis” e quatro anos depois Da. Teresa se retirou no convento beneditino de Lorvão, que ela mesma haveria depois de transformar em abadia cisterciense, e nela tomar o véu religioso. Este mosteiro foi um dos principais centros de produção de manuscritos e iluminuras na Idade Média no país, destacando-se o “Apocalipse do Lorvão” e o “Livro das Aves”. Na mesma altura, a sua irmã Da. Sancha fundava em Coimbra o mosteiro feminino de Celas.
     Por ocasião da morte do pai Sancho I, em 1211, a infanta Teresa deveria ter herdado, segundo disposição testamentária deste último, o Castelo de Montemor-o-Velho, e tudo o que compreendia tal posse, inclusive o direito ao título de ‘rainha’, enquanto senhora de tal castelo. Afonso II, seu irmão, desejando concentrar em suas mãos todo o poder, não aceitou tal testamento e impediu Teresa de tomar posse do seu título e dos direitos respectivos, como também o de suas irmãs Mafalda e Sancha.
     Em 1230, seu ex-esposo Afonso morreu depois de ter tido cinco filhos da sua segunda esposa, Berengária de Castela. Este segundo casamento foi também anulado devido à consanguinidade. Assim, os filhos de ambos os casamentos viriam a disputar a coroa (até porque Afonso deserdara o primogênito do seu segundo casamento, e legara o reino às duas filhas que tivera de Da. Teresa). Da. Teresa interveio e permitiu que São Fernando III assumisse o trono, incentivando assim a paz no reino de Castela e Leão.
     Resolvida esta querela dinástica, Da. Teresa retornou ao Mosteiro de Lorvão e finalmente tomou os votos conventuais após ter vivido anos como monja. Ali morreu em 18 de junho de 1250 de causas naturais. Os seus restos mortais foram colocados junto aos de sua irmã Da. Sancha. Ambas encontram-se sepultadas na capela-mor de Lorvão, guardando-se os restos mortais das Santas Rainhas em túmulos de prata, obra realizada em 1715 pelo ourives portuense Manuel Carneiro da Silva.
     A 13 de dezembro de 1705, Da. Teresa foi beatificada pelo Papa Clemente XI, através da bula Sollicitudo Pastoralis Offici, juntamente com a sua irmã Da. Sancha. O Martirológio Romano comemora a Beata Teresa no dia 17 de junho.

Túmulo da Beata na capela do Mosteiro de Lorvão
Mosteiro de Lorvão
Postado neste blog em 16 de junho de 2012


domingo, 14 de junho de 2020

Santa Germana de Pibrac, Padroeira das crianças vítimas de maus tratos - 15 de junho


A descoberta
     Numa fria manhã de dezembro de 1644, Guilherme Cassé, coveiro e sineiro da igreja de Pibrac, pequena cidade francesa, e seu ajudante, Gaillard Baron, iniciaram os trabalhos de escavação de um túmulo para enterrar uma defunta. 
     Eles golpeavam o solo diante do altar, quando estarrecidos descobrem o corpo de uma jovem de uns vinte anos, conservado em sua mortalha um tanto escurecida. O corpo parecia ter sido colocado no túmulo há poucos dias. A jovem apresentava cicatrizes no pescoço e sua mão direita era deformada. Quem seria aquela jovem? Após se acalmarem, levaram o caso ao conhecimento do Pároco e de seu assistente, que não souberam identificar o cadáver.
     A notícia rapidamente se espalhou pela pequena Pibrac. Dois anciãos, Pedro Pailhès e Joana Salères, reconheceram-na como sendo Germana Cousin, falecida em 1601.
     O corpo foi instalado num caixão perto do púlpito da igreja paroquial, e o povo, que a tinha em conta de santa, logo afluiu para contemplá-la. Outros ridicularizam os ingênuos que ali vão e exigem que o caixão seja transferido para outro lugar. Entre estes estava Maria de Clément Gras, esposa do nobre Francisco de Beauregard.
     Pouco tempo depois, esta senhora foi surpreendida por um câncer no seio, e a criança que ela amamentava ficou doente e esteve às portas da morte. O esposo então se lembrou do desprezo que ela demonstrara pela pobre Germana, e comentou com ela se Deus não ficara ofendido e quisera puni-la. Maria de Clément Gras foi então para junto do corpo de Germana e pediu perdão por sua atitude, suplicando também a sua cura e a de seu filho, prometendo oferecer à igreja um caixão de chumbo para colocar seu corpo.
     Na noite seguinte, ela foi despertada por uma grande claridade em seu quarto: Germana lhe aparece e prediz a cura de seu filho! Após a visão, a chaga do seu seio estava quase fechada. Ela fez vir seu filhinho: ele estava são e sugou longamente o leite que ele recusava há tempos.
     A cura da Sra. Beauregard e de seu filho foram atribuídas à intercessão de Germana. O fato é reconhecido como o primeiro milagre realizado pela intercessão da jovem após a descoberta de seus despojos.
Feia, escrofulosa e aleijada
     Germana Cousin foi a última filha de Lourenço Cousin, pequeno e honrado proprietário agrícola de Pibrac, e de sua terceira esposa, Maria Laroche, mulher piedosa e de saúde frágil. Mestre Lourenço chegou a ser alcaide de Pibrac em 1573 e em 1574.
     A data de nascimento de Germana não é precisa, mas ela provavelmente veio ao mundo no ano de 1579. Talvez devido a avançada idade dos pais, ela nasceu com um corpo débil e repleto de escrófulas, além de uma deformação na mão direita. Não chegou a conhecer a mãe, que faleceu pouco tempo depois de seu nascimento. Mais ou menos dois anos após seu nascimento, perdeu também o pai.
     Hugo, seu irmão mais velho, filho do primeiro casamento paterno, tornou-se o herdeiro dos bens de Mestre Lourenço e acolheu a pequena órfã. Esse irmão era casado com Armanda Rajols, uma mulher de péssimo caráter, que não poupava maus tratos à pequena. Dava-lhe pouco alimento e pouco zelava por sua saúde, deixando-a aos cuidados de uma criada, Joana Aubian. Essa boa mulher tratava das feridas da criança, dividia com ela a comida e a cama.
     Mais tarde, Germana foi obrigada a dormir no paiol. Seu leito era de palhas e de ramagem de vinhedo; o único aquecimento nas noites frias de inverno eram as ovelhas que ali dormiam também. No verão ela ficava alojada num pequeno compartimento sob a escada da casa. Ninguém na família parecia notar sua inteligência. Não lhe ensinaram a ler e a escrever, nem mesmo a fazer os trabalhos domésticos.
     Quando Germana completou nove anos, Armanda achou que ela já estava na idade de poder prestar algum serviço: encarregou-a do pastoreio do rebanho da família. Era também uma forma de mantê-la longe da vista, pois ela passaria o dia todo com o rebanho nas pastagens à margem do rio Courbet.
Uma alma admirável num corpo disforme
     A França enfrentava então uma guerra de religião entre católicos e huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses. Era uma trágica crise em que se via a aristocracia dividida em dois partidos: a Casa de Valois e a Casa de Guise. O conflito se estendeu pelos séculos XVI e XVII. Havia saques e conflitos por toda parte.
     Germana enfrentava uma situação difícil dentro e fora de casa, pois horríveis sacrilégios eram cometidos pelos hereges nas igrejas da vizinhança. Ela rezava, fazia sacrifícios em reparação, confiava em Deus e em Nossa Senhora.
     Felizmente Joana Aubian, que velara pelos primeiros anos de Germana, era uma excelente e piedosa mulher que lhe incutiu os fundamentos da religião e, em alto grau, a virtude da caridade.
    Frequentando a igreja paroquial de Pibrac, o zeloso Pároco viu naquela criança inocente uma alma escolhida por Deus. Graças àquele virtuoso sacerdote, Germana conseguiu ter uma boa instrução religiosa que aprimorou os primeiros ensinamentos dados por sua boa ama.
     Correspondendo às graças que recebia, Germana cumpria à risca os deveres de estado. Mostrava-se em tudo um modelo de simplicidade, modéstia, doçura e paciência. Revelou-se uma ótima catequista. Ensinava doutrina às crianças pobres, que ouviam atentas suas histórias.
     Vivendo ela mesma apenas de pão e água, com frequência levava pão para as crianças e os pobres, pois era grande a miséria causada pela guerra civil.
     Santa Germana tinha um amor ardente pela Sagrada Eucaristia, que recebia com frequência, e uma devoção especial pela Santa Missa, que assistia diariamente.
O Bom Pastor
     Germana logo se adaptou ao seu ofício de pastora. Ela aproveitava o tempo do pastoreio de suas ovelhas para pensar e rezar. Ao invés de se sentir só, ela encontrou um amigo em Deus Nosso Senhor. Nessa escola de pobreza, sofrimento do corpo e da alma, Germana aprendeu bem cedo a prática da paciência e da humildade. A vida solitária tornou-se para ela uma fonte de luz e de bênçãos. Ela foi agraciada por um maravilhoso senso da presença de Deus.
     Ela não tinha conhecimentos de teologia - ela havia adquirido apenas os conhecimentos básicos do Catecismo - mas possuía um Rosário feito de nós numa corda... Na meditação dos mistérios do Rosário ela se unia a Mãe de Deus e ao Divino Redentor, e desta contemplação advinha a sua sabedoria.
     As pessoas notavam que ao se aproximar uma festa de Nossa Senhora a piedade de Germana aumentava. Sua devoção pelo Ângelus era tão grande, que ao primeiro toque dos sinos ela costumava cair de joelhos aonde quer que se encontrasse, mesmo atravessando algum córrego.
     Os seus únicos bens materiais eram o cajado de pastora e a roca com a qual fiava lã.
     A fim de atender ao apelo do Rei dos reis, que a atraía para a Santa Missa, sem se descuidar de seu dever de cuidar das ovelhas, Germana usava um método singular: apenas ouvia o sino soar chamando para a Missa, ela cravava o seu cajado de pastora no solo e ordenava às ovelhas que dele não se afastassem.
     Seu rebanho era o mais bem tratado da região e embora as pastagens ficassem próximas da floresta de Bouconne, onde havia muitos lobos, nunca um só dos seus animais foi atacado por eles. O rebanho era cuidado pelo Bom Pastor, enquanto a sua humilde pastora rendia-Lhe suas homenagens na igreja paroquial.
Glorificação da rejeitada
     Numa noite de junho de 1601, um sacerdote da diocese de Auch, que seguia de viagem para Toulose, e dois religiosos que tinham encontrado asilo nas ruínas de um antigo castelo próximo de Pibrac, afirmaram que em meio à noite foram despertados pelo som de uma música maravilhosa. Eles olharam ao redor, e viram o céu iluminar-se e um cortejo celeste de virgens descer sobre uma casa rural das redondezas de Pibrac. Em seguida, o mesmo cortejo subiu para o céu acompanhado de uma jovem vestida de luz e coroada de flores silvestres.
     Ao amanhecer, entrando no povoado, eles relataram o maravilhoso fato aos habitantes de Pibrac, e estes constataram que se tratava da casa onde pouco antes fora encontrada morta uma pobre pastora chamada Germana Cousin.
     Naquela manhã de verão, percebendo que ela não se levantara no horário costumeiro, seu irmão foi chamá-la. Ele encontrou-a morta no seu humilde refúgio sob a escada. Ela morrera sem ruído, sozinha, tal como havia vivido.
     Seu corpo foi sepultado na Igreja de Santa Madalena e tudo parecia esquecido... Na memória do povo ela ficou esquecida, mas não nos planos de Deus!
Fatos posteriores a descoberta de seu corpo
     Em 22 de setembro de 1661, o Vigário Geral da Arquidiocese de Toulouse, Jean Dufour, foi a Pibrac. Ele ficou admirado ao ver uma urna funerária na sacristia e mandou que a abrissem. O corpo de Germana permanecia intacto! Ele fez uma declaração oficial do fato.
     Depoimentos de médicos especialistas evidenciaram que o corpo não havia sido embalsamado, e testes mostraram que a preservação não se devia a qualquer propriedade do solo. O vigário mostrou-lhe um relatório de inúmeras curas milagrosas atribuídas a Germana.
     Em 1739, um conjunto de documentos foi confiado a um missionário apostólico, para que ele o entregasse à Sagrada Congregação de Ritos na sua passagem por Roma. Tal documentação deve ter-se extraviado, pois nunca chegou ao seu destino.
     Em 1793, durante a sangrenta Revolução Francesa, os membros do "comitê de salvação pública" levaram a cabo um desígnio sacrílego de subtrair o precioso cadáver à devoção das multidões: o caixão foi profanado por um revolucionário de nome Toulza, fabricante de estanho.
     Acompanhado de três cúmplices, Toulza retirou o corpo do caixão e nem à vista do milagre de um corpo incorrupto aqueles corações endurecidos se comoveram: enterraram-no na sacristia, jogando cal e água sobre ele. O caixão de chumbo foi enviado para Toulouse para ser usado na fabricação de balas. Os revolucionários foram atacados por dolorosas deformações: dois arrependeram-se e invocaram o auxílio da Santa e foram ouvidos.
     Depois da Revolução Francesa, a pedido da população o prefeito de Pibrac, Jean Cabriforce, mandou procurar o local onde os revolucionários haviam enterrado o corpo de Germana. Uma vez mais Germana foi descoberta: seu corpo estava quase intacto, apesar de ter permanecido durante anos sob a ação da cal viva.
Relicário de Santa Germana
     Em janeiro de 1845, os documentos que compunham o processo de beatificação foram entregues. Eles atestavam mais de 400 milagres ou graças extraordinárias, além de 30 cartas de Bispos e Arcebispos da França, dirigidas a Santa Sé, pedindo a beatificação de Germana.
     Gregório XVI assinou a aprovação dos trabalhos da Comissão apostólica. Mas, foi o Beato Pio IX quem proclamou, no dia 7 de maio de 1854, a beatificação de Germana. E em 29 de junho de 1867, foi ele quem a colocou entre as virgens santas.


Basílica Santa Germana em Pibrac, França
Fontes:
1) Les Petits Boullandistes, Vie des Saints, d'aprés de Père Giry, Bloud et Barral, Paris, 1882, t. VII;
2) José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Edit. A. O. - Braga

Postado neste blog em 14 de junho de 2011