segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Santa Melânia, a jovem – 31 de dezembro

     

     M
elânia Valéria nasceu em 383, filha de nobilíssima família senatorial romana. Desejava se consagrar a Deus, mas, aos 14 anos seus pais casaram-na com Valério Piniano. Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famílias do Império Romano (ela, filha de Valério Publicola, da família Valéria, e de Ceionia Albina, da família Ceionia; ele, seu primo, também da família Valéria), conservando-se também o patrimônio mais rico existente na aristocracia romana.
     Depois de terem filhos que morreram em tenra idade, os dois esposos decidiram viver em castidade. Melânia resolveu desfazer-se de seus bens para se dedicar inteiramente à oração e ao estudo dos Livros Sagrados. Mas, foram precisos anos para que ela conseguisse doar sua fortuna, definida por um autor como mundial.
     De fato, além de joias, prataria e preciosidades artísticas, Melânia possuía bens na Itália, Sicília, Gália, Espanha, África Proconsular, Numídia, Mauritânia, Mesopotâmia, Síria, Palestina e Egito. Sua fortuna era tão grande, que um palácio em Roma ficou sem comprador por não se achar quem tivesse dinheiro para o adquirir. Ela deu liberdade a oito mil escravos que tinha herdado.
     O próprio Senado romano levantou objeções ao que ele considerava esbanjamento, mas a Santa persistiu em seu intento, tendo-o levado a cabo após anos e anos de luta.
     À medida que ia vendendo seus bens, Melânia erguia mosteiros, protegia os pobres, fazia doações às igrejas e resgatava prisioneiros. Isto obrigava a Santa a viajar muito, e ela procurava fixar residência em lugares onde o Bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras, tendo assim mantido contato com grandes santos de sua época.
     Em 406, ela se transferiu para Nola a fim estar em contato com São Paulino, seu parente distante; dois anos depois, devido à invasão dos bárbaros, mudou-se para sua propriedade da Sicília. Em 410, emigrou para a África, onde conheceu Santo Agostinho.
     Cercada de uma centena de servos, e na companhia do esposo e da mãe, Albina, que a seguiam em suas peregrinações, formando uma espécie de comunidade monástica, decidiu-se fixar em Jerusalém, passando antes pelo Egito para prestar homenagem aos monges de quem era grande admiradora.
Ermida da Santa
em Jerusalém
     
Em Jerusalém, desejou ter uma vida eremítica mais rígida (a avó, Santa Melânia, a Anciã, havia fundado um mosteiro na cidade), fazendo construir para si uma pequena cela no Monte das Oliveiras, sede de outros ascetas, aonde levou uma vida de austeras penitências, entregando-se à oração, ao jejum e ao estudo das Escrituras.

     Depois de um certo tempo, fundou, numa região isolada, um mosteiro feminino. Alguns anos depois, um masculino. O regulamento da comunidade, disposto pela própria Santa, tomava como modelo o monasticismo egípcio e notava-se uma influência Ocidental na liturgia.
     Ela escreveu muito, e realizou também notável trabalho de copista devido ao seu grande conhecimento de latim e grego. Incentivou a reza do Ofício Divino durante a noite e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos. Seu mosteiro resistiu até o ano 614, quando foi destruído pelos persas.
     Santa Melânia, morreu em 31 de dezembro de 439, em Jerusalém, e teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adotivo e discípulo espiritual, o monge Geroncio. Considerada uma das grandes figuras de sua época, mereceu grande elogio de São Jerônimo, que a citava como exemplo para suas dirigidas. Santo Agostinho dedicou-lhe seu livro Sobre a Graça e Pecado (De Gratia et Peccato).
     Ela distribuiu bens que todos procuram, isto é, as riquezas, e procurou bens que muitos menosprezam, como a pobreza e o convívio com os Santos. Ela poderia ter se santificado no estado de grande dama romana, já que grandes damas - rainhas e imperatrizes - se santificaram nesse estado, mas Santa Melânia tinha uma vocação especial: atrair outras damas de seu tempo para uma perfeição maior.
     O culto de Santa Melânia, a Jovem, foi muito difundido no Oriente. Ela foi quase desconhecida na Igreja Católica por muitos anos. Ela recebeu maior atenção desde a publicação de sua vida pelo Cardeal Mariano Rampollo em Roma em 1905. Em 1908, o papa São Pio X (r. 1903–1914) conferiu-lhe ofício na congregação do clero em Somarcha. Isso pode ser considerado como o começo de um zeloso culto eclesiástico. A vida de Melânia foi envolta em obscuridade até quase os dias atuais; muitas pessoas confundiram-na inteiramente ou parcialmente com sua avó homônima. O conhecimento preciso de sua vida provém da descoberta de dois manuscritos: o primeiro, em latim, foi encontrado por Rampollo no Escorial em 1884; o segundo, uma biografia em grego, está na Biblioteca Barberini. Rampollo publicou ambas as descobertas no Vaticano.
 
Túmulo de Santa Melânia em Jerusalém

“As medidas tomadas por Melânia e seu esposo Piniano liquidaram uma das maiores fortunas de seu tempo, e com o produto das vendas socorreram os pobres e a Igreja”. 1
“O caso de Melânia e Piniano serve para ilustrar o quanto o Cristianismo havia conquistado a alta sociedade do Baixo Império, revelando ‘o desprendimento que muitas famílias aristocráticas fazem de suas riquezas em razão de um valor cristão em ascensão: a prática da caridade através da esmola”. 2
 
1. Blázquez Martinez, Aspectos del ascetismo de Melânia a Jovem, Disponível em http://descargas.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/09259517522450484410046/028099.pdf?incr=1 – pg. 14
2. Id. Ib., p. 15, in Gustavo Antônio Solimeo – Plinio Maria Solimeo, Santo Agostinho – Sua época, sua vida, sua obra, Petrus, São Paulo, 2009, p. 154.
 
 
Etimologia: Melânia = Nome de origem grega "Melanios", de "Melas", que significa negro, escuro, de tez escura, moreno, preto".  Espécie de tecido ondeado, de lã ou seda. Nome comum a um grupo de moluscos gastrópodes, da família dos Melaniídeos, cuja concha tem coloração escura.
 
Fontes:
https://ec.aciprensa.com/wiki/Santa_Melania_la_Joven
http://www.preguntasantoral.es/2012/12/santa-melania-la-joven/
https://www.abim.inf.br/duas-concepcoes-de-riqueza/

domingo, 27 de dezembro de 2020

Beata Cecília Butsi e companheiros mártires da Tailândia - 26 de dezembro

     
     Cecília Butsi, filha de Amado Sinuen e Ágata Thep, nasceu em Song-Khon em 16 de dezembro de 1924. Foi batizada dois dias após seu nascimento. Ela trabalhava na cozinha da missão do convento das freiras da Congregação das Amantes da Cruz e tinha um caráter alegre e corajoso.
     Quando tinha quinze anos, em agosto de 1940, um grupo de gendarmes chegou a Song Khon de barco através do Mekong. Depois de perceber que os habitantes professavam uma religião estrangeira, eles pressionaram para que eles abjurassem.
     Em 29 de novembro, o padre francês encarregado da missão foi expulso, mas graças ao incentivo do catequista Filipe Siphong Onphitak e de duas freiras da Congregação das Amantes da Cruz, as Irmãs Agnes Phila e Lúcia Khambang, todos os membros da comunidade permaneceram firmes na fé.
     Na noite de 16 de dezembro, Filipe foi traiçoeiramente morto por Lu, um dos gendarmes que o escoltava até Mukdahan, de acordo com ordens recebidas em uma carta. Na verdade, era parte de um plano para eliminá-lo.
     Na noite seguinte, a notícia se espalhou em Song Khon, causando grande tristeza. Os soldados, esperando a conversão imediata dos fiéis, não tinham calculado a presença das Irmãs Lúcia e Inês, que entenderam que logo sua hora também chegaria para dar o testemunho extremo.
     Lu tentou por todos os meios convencer as freiras a abandonar sua religião, mas falhou. Na véspera de Natal, ele convocou toda a aldeia em frente à igreja, para comunicar a ordem recebida: destruir a religião cristã ao custo de matar seus fiéis.
     Cecília avançou declarando-se cristã e pronta para morrer. Ela foi repreendida por sua mãe por essa audácia, mas pouco depois, junto com outras meninas, ela foi ao convento das freiras, onde havia outros fiéis preparando-se com eles para morrer, rezando e cantando. Irmã Inês, por outro lado, escreveu uma carta a Lu, dizendo que estavam prontos para morrer para não negar sua fé.
     Lu então voltou ao convento no início da tarde de 26 de dezembro, perguntando: "Então, seu Deus, vocês o abandonam, sim ou não?" Todas responderam: "Não, nunca vamos abandoná-lo". Lu ordenou que o seguissem até o rio Mekong, mas a Irmã Inês pediu para morrer em um lugar mais adequado, ou seja, no cemitério.
     Com ela ficou Irmã Lúcia, a cozinheira do convento, Ágata Phutta, e as meninas que não tinham fugido nesse meio tempo. Elas se alinharam, cantando músicas e mostrando alegria. Os aldeões as seguiram, mas os soldados enviaram de volta aquelas que queriam estar perto deles.
     O pai de uma das meninas, Suwan, fez com que a levassem de volta, mas ela se agarrou à Irmã Inês, pedindo-lhe ajuda. O homem conseguiu arrancá-la dela e trancou-a em um quarto.
     Chegando ao cemitério, as mulheres condenadas ajoelharam-se junto a um tronco de árvore caído e continuaram a rezar e a cantar. Irmã Inês, de frente para os membros do pelotão de fuzilamento, agradeceu-lhes por enviá-la e às outras para o Céu, de onde elas rezariam por eles.
     Os policiais abriram fogo, ordenando que os aldeões enterrassem os corpos como se fossem cães. Maria Phon, uma das meninas que voluntariamente tinha ido ao convento, ficou gravemente ferida e foi resgatada; a Irmã Inês enviou mensagem à polícia dizendo que elas ainda não tinham morrido. Então eles voltaram e deram o golpe de misericórdia.
     Irmã Lúcia, Ágata, Cecília e Viviana Hampai morreram no local. Havia uma sobrevivente, a muito jovem Sorn: ela foi a última na fila e as balas não a tocaram. Ela voltou para a aldeia, onde se tornou catequista.
     Os corpos das outras seis foram enterrados no mesmo cemitério que foi o local de seu martírio, onde os restos mortais do catequista Filipe também foram recuperados, encontrados apenas em 1959.
     O inquérito diocesano para a causa da beatificação e canonização da Irmã Inês e de seus companheiros ocorreu em 23 de novembro de 1983. A partir de 27 de setembro de 1985, sua causa foi acompanhada por Philip Siphong Onphitak.
     Em 27 de fevereiro de 1986, foi emitido o decreto que valida o processo de informação e o inquérito diocesano. O "Positio super mártir", entregue em 1988, foi examinado pelos consultores teológicos da Congregação para as Causas dos Santos, que em 11 de março de 1988 deu sua opinião positiva, confirmada, em 21 de junho, por cardeais e bispos membros da mesma Congregação.
     Em 1º de setembro de 1988, o Papa João Paulo II autorizou a promulgação do decreto pelo qual Filipe, Irmã Inês e companheiras foram oficialmente reconhecidos como mártires. O mesmo Pontífice os beatificou na Basílica de São Pedro, em Roma, em 22 de outubro de 1989.
     O memorial litúrgico de todos os sete estava marcado para 16 de dezembro, o dia do nascimento de Filipe no Céu, mas o Martirológio Romano lembra Cecília e companheiras no dia 26 do mesmo mês, dia de seu martírio.
     Os restos mortais dos sete mártires são venerados no Santuário de Nossa Senhora dos Mártires da Tailândia em Song Khon.

Inês Phila, religiosa
Ban Nahi (Tailândia), 1909 – Song-khon (Tailândia) 26 de dezembro de 1940
     Inês Phila (no século Margarida) nasceu em 1909 na aldeia pagã de Ban Nahi, filha de Joaquim Thit Son e Ana Chum. A família emigrou para a vila cristã de Viengkhuk, onde a beata recebeu o batismo em 1924. Sua madrinha foi a tia da famosa Irmã Lúcia de Fatima. Em 7 de dezembro de 1924 entrou na Congregação das Irmãs Amantes da Cruz, em Siengvang (Laos). Dois anos depois, em 26 de novembro de 1926 postulou, e em 10 de novembro de 1927, com o nome de Irmã Inês, entrou no noviciado, tendo professado em 16 de novembro de 1928. Em 1932 foi enviada como professora à escola de Song-khon, onde foi assassinada em 26 de dezembro de 1940.
 
Lúcia Khambank, religiosa
Viengkhuk (Tailândia) 22 de janeiro de 1917 – Song-khon (Tailândia) 26 de dezembro de 1940
     Lúcia Khambang nasceu na aldeia cristã de Viengkhuk em 22 de janeiro de 1917, filha de Santiago Da e Maria Mag Li. Foi batizada no dia 10 de março seguinte e em 4 de junho de 1925, com a idade de oito anos, recebeu o sacramento da Confirmação e fez sua 1ª. Comunhão. Em 3 de setembro de 1931 entrou na Congregação das Irmãs Amantes da Cruz. Postulante durante três anos, começou seu noviciado em 18 de outubro de 1935, etapa que durou dois anos. Realizou sua profissão em Siengvang (Laos) no dia 15 de outubro de 1937. Em princípios de 1940 foi enviada como professora para Song-khon, onde foi assassinada em 26 de dezembro. Tinha somente 23 anos de idade.
 
Ágata Phutta, leiga
Bi Ban Keng Pho (Tailândia), 1881 - Song-khon (Tailândia) 26 de dezembro de 1940
     Ágata Phutta nasceu na vila de Bi Ban Keng Pho em 1881; sua família era pagã. Filha única, se converteu ao cristianismo quando tinha 30 anos de idade e foi batizada e confirmada em 3 de março de 1918 em Siengvang. Solteira, decidiu ajudar as obras missionárias colaborando nas cozinhas das missões de Song-khon, Mong Seng, Pkasè, e finalmente voltou para Song-khon, onde vivia quando foi assassinada em 26 de dezembro de 1940. Tinha 59 anos de idade.
 
Bibiana Khampay, jovem leiga
Song-khon (Tailândia) 4 de novembro de 1925 - Song-khon (Tailândia) 26 de dezembro de 1940
     Bibiana Khamphay nasceu no dia 4 de novembro de 1925 em Song-khon, filha de Benito Lon e Mônica Di. Foi batizada e confirmada menos de dois meses depois, em 28 de dezembro. Adolescente de conduta intocável, boa cristã, assídua nos sacramentos, frequentava a missão de Song-khon, também foi assassinada no dia 26 de dezembro de 1940, menos de dois meses após ter completado 15 anos de idade
 
Maria Phon, jovem leiga
Song-khon (Tailândia) em 6 de janeiro de 1925 - Song-khon (Tailândia) 26 de dezembro de 1940
     Maria Phon nasceu em Son-khon no dia 6 de janeiro de 1926; seus pais eram João Batista Tàn e Catarina Pha. Foi batizada e confirmada seis dias apenas após seu nascimento. Vivia com uma tia chamada Maria, frequentava a missão local. Particularmente assídua à Eucaristia e aos demais sacramento, também foi assassinada no dia 26 de dezembro, quando não havia completado ainda 15 anos.
 
Fontes:
www.santiebeati/it  Autor: Don Fabio Arduino e Emilia Flocchini
Referência: PrelaturaAyaviri.org. http://es.catholic.net/  

Postado neste blog em 26 de dezembro de 2016

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Beata Cherilde, Reclusa de S. Jorge – 23 de dezembro

           A Beata Cherilde se retirou como solitária em uma cela da Igreja de São Jorge próxima de St. Gallen (São Galo), na Suíça. Esta cela fora habitada anteriormente por Santa Viborada (*), a primeira mulher oficialmente proclamada santa pela Igreja. A Beata Cherilde viveu nesta condição por muitos anos, dedicada à oração e ao ascetismo.
     Temos poucas informações sobre a vida desta beata, mas conhecendo a vida de Santa Viborada, podemos ter uma ideia do que estas mulheres reclusas significaram a certa altura da vida da Santa Igreja.
     Ela morreu em 23 de dezembro de 952. Seu nome aparece no Obituário dos Santos e dos Bem-aventurados enterrados em St. Gallen.
     A festa da Beata Cherilde ocorre no aniversário de sua morte, no dia 23 de dezembro.
 
 
     (*) Esta santa beneditina e mártir foi a primeira mulher formalmente canonizada pelo Vaticano. Seu
vita foi escrita em 1075 por Erimano, um monge de St. Gallen.
     Sankt Gallen, Saint-Gall ou São Galo é a capital do cantão Sankt Gallen, na Suíça. A cidade tem aproximadamente 75 mil habitantes, conta com fácil comunicação com o resto do país e com os países vizinhos, Alemanha e Áustria, e serve de ligação com a área das montanhas Appenzell.
     A sua principal atração turística é a Abadia de Sankt Gallen, fundada no século VII, cuja biblioteca contém livros que datam do século IX. Foi graças a ela que a cidade de Sankt Gallen surgiu.
     Sua história remonta à ermida de São Galo, monge irlandês discípulo de São Columbano, que viveu de 550 a 630. Em 612, São Galo (Gallech em irlandês) transferiu-se com São Columbano para o continente, onde viveram próximo a Luxueil e a Bregenz. Ali São Galo dedicou-se a vida eremítica, enquanto São Columbano foi para a Itália, onde fundou a Abadia de Bobbio. Mais tarde São Galo transferiu-se com alguns companheiros para oeste de Bregenz, fixando-se próximo à nascente do rio Steinach, onde morreu entre os anos 630 e 645.
     Sobre o túmulo de São Galo foi edificada uma igreja, e por volta do ano 720 o padre alemão Othmar (Osmano ou Osmar) construiu uma abadia no local, dando a ela o nome do Santo. A abadia tornou-se custódia dos restos mortais daquele Santo e de seu culto.
     No século XVI as relíquias de São Galo foram queimadas quase por inteiro pelos hereges que conquistaram a cidade que se desenvolvera em torno da abadia. Mas, o culto de São Galo continua vivo no leste da Suíça, no sudoeste da Alemanha e na Alsácia.
     É importante conhecermos a história da Abadia de São Galo, para entendermos a história de Santa Viborada (Weibrath).
     A vida desta reclusa é narrada em duas biografias: uma escrita entre 993 e 1047 pelo monge de São Galo, Hartman, e outra escrita entre 1072 e 1076 pelo monge Erimano. Além disso, Viborada é recordada em documentos da célebre Abadia.
     Viborada nasceu em data incerta, no fim do século IX, em uma nobre família alemã da região de Turgovia, atual cantão da Suíça.
     Graças a seus conselhos, seu irmão Ito tornou-se sacerdote da Igreja de São Magno, e mais tarde monge em São Galo. Viborada transformou sua casa em um hospital para os doentes pobres que seu irmão lhe trazia.
     Tendo ficado órfã, retirou-se como solitária em uma cela próxima da Igreja de São Jorge, onde permaneceu de 912 a 916, dedicando-se à oração e aos exercícios ascéticos, preparando-se para a vida de reclusa. No ambiente ocidental, esta prática de ascetismo feminino continuava a vida eremítica dos primeiros séculos. A reclusa vivia geralmente próxima de uma comunidade monástica, da qual recebia um pouco de alimento e assistência espiritual.
     Em 916, Viborada foi enclausurada numa cela junto da Igreja de São Magno, sob a orientação do Bispo-abade de São Galo, Salomão III (890-920). Ela foi certamente uma das primeiras eremitas cuja existência é comprovada historicamente. Viveu nestas condições por 10 anos, dedicada à oração e ao ascetismo, ocupando-se também de trabalhos de encadernação para a biblioteca da abadia.
     Muitos visitantes vinham vê-la, atraídos pela fama de seus milagres e profecias. Outras reclusas desejavam se estabelecer perto dela, mas apenas uma delas foi admitida. Esta era uma mulher chamada Rachildes, uma sobrinha do Beato Notker (**). Ela foi trazida para Santa Viborada sofrendo de uma doença que os médicos tinham declarado incurável. Tendo sido curada pelos ministérios da reclusa, ela nunca pode deixar sua benfeitora.
     Sendo Viborada dotada do dom da profecia, muitos eram atraídos por sua austeridade e bons conselhos. O Bispo Ulrico de Augusta (923-973) buscou seu conselho numa situação controvertida com a comunidade de São Galo. Em outra ocasião, aconselhou o Abade Engilberto (925-933) a pôr a salvo os monges e os tesouros da Abadia de São Galo, pois profetizava a invasão dos húngaros.
     No início de 926, devido às suas contínuas admoestações, os manuscritos mais preciosos foram transferidos para o mosteiro de Reichenau, no Lago de Constança.
     Os magiares, população pagã conhecida também como ‘húngaros’, fizeram incursões devastadoras nos países ocidentais, especialmente na Alemanha, até a metade do século X. Foram vencidos por Otão I, Imperador da Alemanha, em 955. A conversão destes pagãos ao cristianismo se iniciou em 973, sendo totalmente convertidos pelo Rei Santo Estevão I (997-1038).
     A 1º de maio de 926, os húngaros invadiram a região da Abadia de São Galo. Viborada recusara-se a deixar sua ermida e foi morta pelos invasores. Foi solenemente sepultada a 8 de maio, no local em que vivera reclusa. Vinte anos depois, em 946, os seus restos mortais foram transferidos para a Igreja de São Magno.
     Rachildes não foi morta e viveu mais 21 anos, durante os quais sua doença retornou. Ela passou o resto da vida aprendendo a ter paciência através do sofrimento.
     Santa Viborada foi canonizada nos primeiros dias de janeiro de 1047 pelo Papa Clemente II, na presença do Imperador da Alemanha Henrique III. Com São Galo e Santo Osmar, fundador da Abadia de São Galo, Santa Viborada é uma das três estrelas dos santos sangalenses.
     Na iconografia, a Santa é representada com o hábito de monja beneditina, cuja regra era seguida pelos monges da Abadia de São Galo, com um livro que simboliza o dom da profecia, e uma alabarda, instrumento com que foi torturada e morta pelos invasores pagãos.
     Sua festa litúrgica é 2 de maio.
 

Abadia de São Galo, Suíça 

Postado neste blog em 1 de maio de 2013
 
(**) Beato Notker, o Gago, O.S.B. (em latim, Notker Balbulus), conhecido ainda como Notker I, Notker, o Poeta e Notker de São Galo, foi um músico, poeta e monge beneditino na Abadia de São Galo, no território da moderna Suiça. É geralmente creditado como sendo o "monge de São Galo" ("Monachus Sangallensis") que assinou a obra "De Carolo Magno", um livro o imperador Carlos Magno. Notker completou a "Crônica" de Ercanberto, organizou um Martirológio, compôs uma biografia em verso de São Galo e foi autor de inúmeras obras
     O Beato Notker atuava principalmente como professor e demonstrou um gosto refinado como poeta e escritor. Eceardo IV (Ekkehard IV), o biógrafo dos monges de São Galo, elogia Notker descrevendo-o como "de corpo delicado, mas não a mente, gago da língua, mas não do intelecto, avançando corajosamente nas coisas divinas, um veículo do Espírito Santo sem igual em seu tempo". Notker morreu em 912 e foi beatificado em 1512.
 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Santa Olímpia, Viúva – 17 de dezembro

 
 
   Vários documentos históricos importantes e contemporâneos citam ou descrevem esta santa da hagiografia grega. Além disso, existem 17 cartas que São João Crisóstomo enviou a ela do exilio.
     Olímpia nasceu por volta de 361 em uma família abastada de Constantinopla, era filha de Seleuco e Alexandra, neta de Ablávio. Seu avô gozava da estima do imperador Constantino e fora prefeito do Oriente por quatro vezes; seu pai era nobre do palácio.
     Ficando órfã bem jovem, foi confiada a Teodósia, mulher de grande cultura e sentimentos cristãos, irmã do Bispo de Icônio, Santo Anfiloco, muito estimada por São Basílio e São Gregório Nazianzeno, Doutores da Igreja. São Gregório de Nissa lhe dedicou um comentário do “Cântico dos Cânticos”. Assim, desde muito cedo Olímpia foi instruída sobre as Sagradas Escrituras. Imitando Santa Melânia, se dedicou à mortificação; e embora sendo rica, instruída e nobre pudesse aspirar a uma brilhante posição na corte, dela se afastou.
     No ano de 384-85, casou-se com Nebridio, que foi prefeito de Constantinopla em 386, mas vinte meses depois seu esposo morreu. O imperador Teodósio o Grande desejava que ela se casasse novamente e tinha um pretendente: seu primo Helpídio. Olímpia recusou-se a contrair novo matrimônio e Teodósio, para vencer sua resistência, sequestrou todos os seus bens. Sua fortuna incluía propriedades na Trácia, Galácia, Capadócia e Bitínia, bem como casas e vilas em e no entorno de Constantinopla.
     O imperador fez uma longa viagem e ao voltar, três anos depois, ficou tão impressionado com as informações sobre sua vida santa e repleta de humildade e caridade, que restituiu os bens a ela.
     Foi então que Olímpia pode fundar algumas obras de caridade, entre elas um grande recolhimento para acolher eclesiásticos de passagem e viajantes pobres. O Bispo Netário (381-397), contrariando o costume da época, nomeou-a diaconisa aos 30 anos, dignidade que então se dava somente às viúvas de 60 anos, e recorria aos seus conselhos cheios de sabedoria e ciência.
     Olímpia fundou, sob o pórtico sul de Santa Sofia, um mosteiro cujas religiosas pertenciam às melhores famílias de Constantinopla, entre elas suas três irmãs: Elisância, Martiria e Paládia, e uma sobrinha também de nome Olímpia. No início eram cerca de 50 religiosas, que logo se tornaram 250.
     Quando no início do ano 398 São João Crisóstomo chegou à cidade como Patriarca de Constantinopla, encontrou o fervor enfraquecido tanto nos fiéis como nos religiosos, inclusive a corte se tornara mundana com a presença de Eudóxia, mulher do imperador do Oriente. Mas se consolou vendo o mosteiro de Olímpia, formado de almas bem dispostas e que serviam de modelo.
     Entre o arcebispo e Olímpia se estabeleceu uma profunda amizade; ela tornou-se uma colaboradora valiosa na renovação espiritual por ele iniciada. Possuidora de grandes riquezas e propriedades, grande foi sua generosidade doando a São João Crisóstomo ouro e prata para a sua igreja de Santa Sofia. Ela se esforçava para ajudá-lo em tudo, desde o alimento até o vestuário.
     Mas tudo isto atraiu também sobre ela o rancor daqueles que pretendia atrapalhar a obra reformadora do arcebispo.
     A imperatriz Eudóxia, esposa de Valentiniano III, apoiadora dos arianos, destituiu o Santo do patriarcado, colocando em seu lugar um intruso. Dois bispos dissidentes haviam obtido um decreto de exílio contra São João Crisóstomo, que em meio ao tumulto dos fiéis e das religiosas, teve que deixar Santa Sofia, e foi conduzido por soldados a Cucusa, entre os montes da Armênia.
     Como Olímpia saíra em defesa do patriarca, negando-se a reconhecer o novo arcebispo, se tornou também alvo da perseguição.
     No mesmo dia da partida do Santo, 30 de junho de 404, um incêndio destruiu o episcopado e grande parte da igreja e do senado. Os fiéis do arcebispo foram acusados e inclusive Olímpia foi levada diante do prefeito da cidade, Optato. Acusada do incêndio, ela se defendeu dizendo que havia doado valores consideráveis para a construção da igreja e não tinha nenhuma razão para queimá-la.
     Optato ofereceu deixá-la, bem como as suas religiosas, em paz, se reconhecesse o novo bispo Arsácio, o que Olímpia recusou. Foi condenada a pagar uma grande quantia como multa e depois, no ano de 405, se retirou voluntariamente em Cizico.
     A perseguição contra os seguidores de São João Crisóstomo continuou e Olímpia foi novamente processada pelo prefeito e exilada na Nicomédia.
     Naqueles anos manteve uma correspondência com o bispo exilado na Armênia, interessando-se por sua saúde, enviando-lhe dinheiro para os pobres da região e para o resgate de pessoas cativas. Por sua vez, São João Crisóstomo a exortava a banir a tristeza e a fazer nascer a alegria espiritual que despreza as coisas do mundo e eleva a alma, recomendando-lhe sustentar os seus amigos, que sofriam a perseguição por causa dele.
     Olímpia faleceu por volta de 408, em uma data não documentada. Segundo o escritor Paládio, “os habitantes de Constantinopla a colocam entre os confessores da fé, porque ela morreu e retornou ao Senhor entre as batalhas suportadas por Deus”; antigamente os confessores eram os mártires.
     As religiosas de seu mosteiro foram dispersas em 404, quando foram mandadas para o exílio; se reuniram somente em 416, sob a direção de Honorina, parente de Olímpia, quando os seguidores de São João Crisóstomo se reconciliaram com os seus sucessores; o mosteiro foi destruído no incêndio de Santa Sofia, em 532, retornaram depois, quando Justiniano o reconstruiu.
     As relíquias de Santa Olímpia, que tinham sido levadas da Nicomédia para a igreja de São Tomás, no Bósforo, se perderam durante o incêndio da igreja quando das incursões dos persas (616-626). A superiora Sérgia teve a graça de reencontrá-las entre os escombros e transportou-as para o interior do mosteiro. Depois disto, não se teve mais notícias delas.
     No Oriente Santa Olímpia é celebrada nos dias 24, 25 e 29 de julho; no Martirológio Romano ela é celebrada no dia 17 de dezembro. E está entre os 140 santos nas colunas que adornam a Praça de São Pedro, no Vaticano.
 
Etimologia: Olímpia = que habita no Olimpo, sede dos deuses
 
Postado neste blog em 16 de dezembro de 2012

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Beatas Maria Jula Ivanišević e 4 companheiras, mártires – 15 de dezembro



Martirológio Romano: Em Gorazde, no cantão bósnio, hoje Bósnia e Herzegovina, Beatas Maria Jula (no século Kata Ivanisevic) e quatro companheiras, virgens da Congregação das Filhas do Amor Divino e mártires, mortas pela fé, em fidelidade aos seus votos religiosos. (1941)

     Num mundo em que a honra e a dignidade feminina são substituídas por uma liberdade que descamba para a libertinagem, estas cinco mártires da castidade, em pleno século XX, nos dão exemplo de qual é a verdadeira face da mulher católica.
     As “mártires do Drina” faziam parte da Congregação das Filhas do Amor Divino.
*
    A Serva de Deus Madre Francisca Lechner, Fundadora da Congregação das Filhas do Amor Divino (fundada em Viena em 1868), recebeu do Arcebispo Josef Stadler o convite para a abertura de uma comunidade de religiosas em Sarajevo, Bósnia. Após os trâmites legais, a própria Madre Francisca e duas Irmãs partiram de Viena, Áustria, no dia 24 de abril de 1882, e chegaram a Sarajevo no dia 28 do mesmo mês.
     Em Sarajevo as Irmãs trabalhavam em escolas e acolhiam alunas internas e crianças órfãs. Rapidamente seu trabalho foi reconhecido e ganhou o prestígio da população. A missão das Filhas do Amor Divino foi se expandindo em Sarajevo e arredores, com o trabalho abnegado e generoso das Irmãs. Para atender a demanda da missão, foi necessário realizar novas fundações.
     Assim, em 1911, em Pale, localidade distante cerca de 20 k de Sarajevo, abriram um convento, “Casa de Maria”. Inicialmente esta casa era destinada para o repouso das religiosas que trabalhavam no Instituto São José, em Sarajevo, e para a recuperação de doentes. Entretanto, a “Casa de Maria” foi recebendo credibilidade e se tornou famosa pelas obras de caridade exercidas em favor de todos os necessitados que batiam às suas portas. Pale era um corredor de muitos transeuntes, pessoas que iam e retornavam de Sarajevo. Nesta casa também eram acolhidas pessoas, sem fazer distinção de etnia, cultura, cor, religião, que vinham de diferentes lugares. Ali recebiam alimentação e, não raras vezes, lugar para um repouso restaurador de energias para então seguir a viagem.
     As culturas ocidental e oriental - e seus respectivos interesses políticos e econômicos - chocavam-se seguidas vezes. A 2ª Guerra Mundial foi particularmente trágica na Bósnia oriental. O Rio Drina estabelece o limite entre as duas partes que hoje divide a Bósnia da Sérvia. Houve um conflito acirrado entre os sérvios e a população muçulmana e católica da Bósnia oriental. Estes povos foram duplamente provados pelas tragédias: em primeiro lugar, porque um grande número de civis inocentes perdeu a vida; em segundo, porque os que sobreviveram ao massacre tiveram de abandonar o seu ambiente e foram forçados a fugir.
     Havia duas facções que entravam em atrito: os “četnik”, membros voluntários da tropa armada do Estado da Sérvia. É um grupo irregular com conotação terrorista contra os povos não sérvios; os “uštasa”, croatas revolucionários da direita. Aqueles multiplicavam os ataques às populações civis católicas e muçulmanas. Os incêndios às vilas indefesas, as torturas mais desumanas e os assassinatos em massa, o corte das linhas de comunicação fazia parte da ordem do dia. Estes, apoiados pelas forças armadas de ocupação ítalo-germânica, instituíam, a exemplo deles, os campos de concentração onde perderam a vida dezenas de milhares de opositores ao regime, mas também civis inocentes.
     Neste ambiente conflituoso, as Irmãs viviam e doavam a sua vida em favor do próximo e experimentavam a dor do povo indefeso e inocente.
     As cinco Irmãs Filhas do Amor Divino que formavam a comunidade “Casa de Maria”, em Pale, eram:
     - Maria Jula Ivanišević, nasceu em Godinjak, Croácia, em 1893. Desde sua juventude manifestou a vontade de entrar no convento, se bem que teve que esperar por causa da enfermidade de sua mãe.  Ingressou no Instituto dedicado a responder às necessidades sociais da juventude feminina de seu tempo. Exemplar na obediência, realizou diversos serviços. Em 1883 foi enviada à Bósnia, onde permaneceu o resto de sua vida. Foi uma religiosa “segundo o Coração de Jesus”, modelo na oração e no sacrifício, modesta e humilde, com um amor ilimitado ao Senhor, à Congregação e ao próximo. Fundamentalmente se sentia grata à Providência por haver sido educada na fé católica e pelo dom da vocação religiosa.
     Foi enviada a Pale como superiora da comunidade, onde exercia seu apostolado empenhando-se no âmbito pastoral e caritativo. Com efeito, em seu convento, chamado o “hospital dos pobres”, acolhia os doentes, os convalescentes, pobres e fugitivos. Sua atividade generosa e gratuita era de domínio público entre os habitantes daquela região, composta especialmente por ortodoxos.
     - Berchmana Leidenix - seu nome de batismo era Karoline Anna Leidenix; nasceu em 28 de novembro de 1865 em Enzersdorf, vizinho de Viena, Áustria, sendo seus pais Michael e Josefa. Foi batizada dois dias depois na igreja paroquial de São Tomé, Apóstolo. Nasceu em seguida uma outra filha, Matilde (mais tarde religiosa, Irmã Bernarda, FDC), e uma terceira nasce morta. A família logo ficou sem o pai, o que deixou Josefa, a mãe, em uma difícil situação social. A Madre Francisca Lechner, acolheu as duas meninas no convento em 1878. Karoline tinha então 12 anos.
     Durante os estudos sentiu-se chamada e decidiu se tornar membro daquela Congregação. Ingressou no noviciado em 1882 e recebeu o nome de Irmã Maria Berchmana Johanna. Emitiu os primeiros votos em 20 de agosto de 1883 e os perpétuos em 17 de agosto de 1892. Foi enviada à Bósnia, então país de missão, onde permaneceu a vida toda.
     Professora muito hábil e empenhada, trabalhou nas escolas da Congregação. Além de outras atividades, dava aulas de catecismo. Durante a 1°. Guerra Mundial, prestou serviço no hospital militar alemão de Višegrad, cuidando dos doentes e dos feridos. A administração do hospital expressou sua gratidão em carta de 1915.
     Em 1931, quando tinha mais de 60 anos, foi nomeada mestra de noviças em Sarajevo. Na sua atividade educativa procurava infundir o amor por Deus, pela Igreja e pelo próximo nos corações das noviças, conforme afirmam aquelas que educou.
     Irmã Berchmana era uma mulher de fé profunda. Continuamente se dirigia à capela, toda imersa na oração. Ela sofria de asma, mas suportava tudo com paciência, abandonada à vontade de Deus. Se distinguia particularmente pelo equilíbrio, pontualidade e disciplina, exigindo o mesmo das noviças. Dois meses antes da sua morte, falando com o Pe. Ksaver Meško, Irmã Berchmana assim sintetizou a sua vida: “Por duas coisas sou infinitamente grata a Deus: porque nasci e fui educada na fé católica e porque me tornei religiosa”.
     Foi assassinada no dia 23 de dezembro de 1941 em um bosque de Sjetlina na idade de 76 anos. 
     - Krizina Bojanc, eslovena, nascida em 1885, "silenciosa e diligente como uma abelha", entrou no convento com 36 anos, quando as condições da família o permitiram. Aos 56 anos de idade, ela tinha um olhar atento para ajudar e confortar suas coirmãs, porque ela era simples, mas "cheia de Deus, era como se estivesse sempre pensando em Deus".
     - Antonija Fabjan, nome de batismo Josefa, nasceu em 23 de janeiro de 1907 no vilarejo de Malo Lipje (vizinho a Žužemberk, na Eslovênia) terceira de cinco filhos da mãe Josefa e do pai Janez (que tinha outros 3 filhos da primeira esposa que morrera). Perdeu o pai quando tinha 4 anos, e a mãe faleceu quando ela tinha 11 anos. Josefa foi confiada aos cuidados de uma das tias.
     Ingressou no convento em 9 de abril de 1929 e se consagrou a Deus em 19 de março de 1932. Esteve primeiramente no convento de Betânia próximo de Sarajevo, depois foi para Antunovac na Ilidža, e de novo no convento Betânia. Fazia trabalhos agrícolas e cuidava dos animais. Tinha uma saúde muito frágil e por isso passou um tempo em Pale se convalescendo, para onde foi transferida em 16 de setembro de 1936 e onde permaneceu até sua morte.
     Na Casa de Maria atendia os doentes e recebia pobres e crianças com boa vontade. Fazia todo necessário: cozinha, lavanderia, jardim e capela. O servir era o seu grande dom e simplesmente reconhecia as necessidades dos outros. Tinha uma palavra boa para todos.
     Era notada pela obediência e pelo espírito juvenil. Irmã M. Wilibalda Markensteiner disse dela: “Esta era a nossa grande menina! De boa vontade rezava em silêncio na capela do convento. Depois da oração sabia dizer: ‘Rezei, mas não recebi’”. Irmã M. Ligorija Murn deu este testemunho: “Quando Irmã Antonija estava comigo em Betânia, me contou que sua tia dizia sempre: ‘A quem te faz mal, tu faças o bem!’, como fala a passagem do Evangelho. Fui sempre fiel a estas palavras”.
     Na manhã do dia 11 de dezembro de 1941, o dia em que seria presa com suas coirmãs, um cetnico disparou e quase a matou enquanto ela fugia para a Casa de Maria.
     - Bernadeta Banja de origem húngara, nascida na Croácia em 1912, de 29 anos, a mais jovem das cinco mártires; era a cozinheira da comunidade, mas tão pequena de estatura que tinha que subir em um banquinho para desempenhar sua função. Era de uma família devota e numerosa, que considerou sua vocação como uma bênção de Deus; alegre, ela escolheu ser "fiel no pouco", e fazia um grande trabalho sobre si mesma para melhorar seu caráter e ser mais prestativa e humilde.   
   Era perigoso viver em Pale. Diante das sugestões de abandonar o povo, as Irmãs que ali viviam decidiram permanecer no meio dele, para compartilhar sua sorte e continuar a testemunhar-lhes o Amor Divino. Como era de se esperar, em 11 de dezembro de 1941, os soldados da milícia “četnik” aprisionaram as Irmãs, saquearam e incendiaram o convento.
     Assim iniciou a via-sacra dessas cinco Irmãs. Elas foram obrigadas a marchar, durante 4 dias e 4 noites, pelos caminhos da montanha Romanija, na neve, sem veste adequada, com interrogatórios, ameaças e ofensas. Irmã Berchmana não podendo prosseguir a caminhada, foi levada a Sjetlina onde se recuperaria do cansaço. Conforme o combinado, ela deveria ser levada também para Goražde, a fim de se juntar ao grupo de suas coirmãs, o que não aconteceu. Ela foi morta no dia 23 de dezembro, no bosque de Sjetlina.
     As Irmãs tiveram de continuar a sua caminhada até Goražde, percorrendo cerca de 70 km. Ali chegaram na tarde de 15 de dezembro e foram levadas à caserna (2° andar do quartel), próxima ao Rio Drina. À noite, os “četnik”, completamente embriagados, invadiram o seu quarto com intenção de violentá-las, pediram que renunciassem à vida religiosa, em troca suas vidas seriam garantidas, teriam trabalho e graduação militar. Elas, porém, resistiram fortemente e declararam que estavam prontas a morrer antes de trair Deus e a própria consagração.
     Em defesa da dignidade e honrando o voto de castidade, Irmã Jula, Superiora da Comunidade, para evitar o estupro, abriu a janela e convidou as demais Irmãs a segui-la. Com a invocação “Jesus, salva-nos!”, lançou-se no vazio e as outras três fizeram o mesmo. Os soldados furiosos, sentindo-se derrotados, às pressas desceram as escadas até o local onde as Irmãs haviam caído e com muitíssimos golpes de faca mataram-nas. Depois, chutaram seus corpos até as margens do Rio Drina. Um soldado, também ferido por este grupo, viu como cada uma delas, antes de morrer, fez o sinal da cruz.
     Durante o processo canônico, fica evidente que as Irmãs foram mortas pelo fato de serem freiras católicas e por ter rejeitado o assédio dos soldados; foram consideradas mártires pelo ódio à fé e pela pureza.
     As Irmãs Jula, Berchmana, Krizina, Antonija e Bernadeta, conhecidas como as Mártires do Drina, verdadeiras missionárias na Bósnia sofrida, serviram a Deus e aos pobres com generosidade e amor desinteressado. Ao derramarem seu sangue, confirmaram a fidelidade a Deus. Estas zelosas religiosas foram elevadas à glória dos altares em 24 de setembro de 2011 como "mártires do Drina".
 
Fontes: Congregação das Filhas do Amor Divino; santiebeati/it
 
Postado neste blog em 22 de dezembro de 2017

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Beata Maria Francisca Schervier, religiosa e fundadora - 14 de dezembro

Fundadora das Irmãs dos Pobres de São Francisco

      Maria Francisca Schervier nasceu em Aachen, Alemanha, no dia 3 de janeiro de 1819, filha de João Henrique e Luísa Migeon. Era afilhada do Imperador Francisco II. Seu pai era um grande proprietário e ela herdeira de uma fábrica de agulhas em Aachen. Ela, porém, percebeu rapidamente os problemas dos grupos vulneráveis na sociedade industrial emergente de sua cidade. Observando os moradores de seu bairro, ela percebeu que muitas pessoas, inclusive crianças, trabalhavam em condições precárias nas fábricas e que eram muitas as que viviam na pobreza.  O status social de sua família não a impediu de cuidar da habitação das famílias que trabalhavam na fábrica de seu pai, preocupou-se com o ensino regular dos filhos dos operários, inclusive ensinando-lhes o catecismo, providenciou uma cozinha para fazer sopa para os doentes com cólera e varíola.
     Essa experiência na adolescência modelou a sua vida. Como era uma jovem devotada à oração, ela ousou sonhar em se dedicar a ajudar os pobres e os doentes da sua cidade. E escreveu: “Senti arder em mim a chama de um grande amor ao próximo”. Ela não se deixava desanimar por nenhum cansaço nem pelo temor diante das dificuldades, e encontrou ajuda para sua obra em um sacerdote de sua paróquia.
     Em 1844, Maria Francisca, abastada e culta, decidiu entrar em um grupo de pessoas que viviam sob a inspiração dos ideais de São Francisco de Assis, a Ordem Terceira Secular de São Francisco (OFS). Esta Ordem havia sido fundada pelo próprio São Francisco para leigos que desejavam viver com simplicidade e servir os pobres.  Maria Francisca e algumas amigas serviam à mesa dos pobres da paróquia da Igreja de São Paulo, em Aachen.
    No dia 11 de maio de 1845, Francisca e suas amigas fundaram uma congregação religiosa feminina dedicada a levar cuidados, esperança e compaixão aos pobres e aos sofredores.  A data da fundação tem um significado espiritual porque era a Festa de Pentecostes, em que a Santa Igreja comemora a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos no Cenáculo, e por extensão, ao mundo.
     Mais tarde ajudou o professor João Felipe Hoever a fundar a Congregação dos Irmãos dos Pobres de São Francisco. Ela escreveu: “Nos pobres e nos sofredores reconheci meu Divino Salvador como se O houvesse visto com meus próprios olhos”.
   Para dar uma forma canônica à nascente instituição, escreveu uma Regra em que punha seu pequeno grupo sob a proteção de São Francisco de Assis, acentuando a caridade, a pobreza e as obras de misericórdia para com os pobres. Daí vem o nome do instituto: Irmãs dos Pobres de São Francisco de Assis.
    Sua Regra, entretanto, somente foi aprovada por São Pio X em 1908. A nova congregação se difundiu rapidamente: já em 1858 havia sido fundada uma casa provincial em Hartwel, Estados Unidos.
     Às vésperas da aprovação pontifícia o Instituto contava já com 61 casas, das quais 16 na América, e 1500 religiosas. Atualmente há 12 casas na Alemanha e nos Estados Unidos, algumas religiosas se têm dedicado à obra de recuperação da juventude e outras se dedicaram, durante as guerras de 1864, 1866 e 1870, à assistência sanitária dos militares nos hospitais.
   Em sua Autobiografia a Beata Francisca escreveu: “Da cruz me pareceu receber a profunda compreensão que deveria dedicar-me inteiramente ao Senhor com a prática concreta da caridade ao próximo. O fogo do amor ao próximo já ardia em meu coração e daquele momento em diante senti um grande desejo de procurar e de amar o Senhor nos pobres, nos doentes, dos infelizes. Nos pobres e nos sofredores reconheci o Senhor tão claramente como se O houvesse visto com os olhos do corpo; por isso, todos os meus pensamentos e desejos eram focados no ver como fazer para amá-los e confortá-los como se fora Ele mesmo”.
     Apesar desta atividade dinâmica, Maria Francisca sabia encontrar tempo para se dedicar à oração, a meditação, a visita diária ao Santíssimo Sacramento, o cultivo de uma terna e filial devoção a Mãe de Deus.
    Era suave para com todos e severa consigo mesma; praticava mortificações e penitências, tinha grande respeito pelos sacerdotes. Suportou com resignação cristã a última enfermidade que aprimorou sua alma e a fez digna da glória.
    Maria Francisca faleceu no dia 14 de dezembro de 1876 em Aachen. Tinha quase 58 anos de idade. A cidade participou de seu funeral e a chorou porque perdeu a mãe amadíssima de todos, especialmente dos pobres, dos infelizes e dos pequenos.
     Foi beatificada no dia 28 de abril de 1974.  
    Atualmente, as Irmãs Franciscanas dos Pobres estão presentes nos Estados Unidos, na Itália, no Brasil, no Senegal e nas Filipinas.

Fontes: www.santiebeati.it/ Guillermo Ferrini | Fuente: FrateFrancesco.org 
 
Postado neste blog em 13 de dezembro de 2016

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Santa Maravilhas de Jesus, Tenaz defensora da Ordem Carmelitana – 11 de dezembro

Fiel filha espiritual de Santa Teresa de Ávila no seu amor à Religião e à Ordem carmelitana, Madre Maravilhas de Jesus, carmelita descalça, lutou tenazmente no século XX para que permanecessem intactas as regras, os usos e costumes legados pela grande Santa de Ávila, Reformadora do Carmelo.
 
     Maria de las Maravilhas Pidaly Chico de Guzmán nasceu em Madri no dia 4 de novembro de 1891, filha de Luís Pidal e Cristina Chico de Guzmán y Muñoz, Marqueses de Pidal. Seu pai exerceu os cargos de ministro de Fomento, embaixador da Espanha junto à Santa Sé e presidente do Conselho de Estado.
     Os Marqueses de Pidal eram muito religiosos e esmoleres, rezavam o terço diariamente em família e cumpriam com a maior exatidão seus deveres de estado. Num ambiente familiar assim, Maravilhas sentiu-se desde cedo predisposta à virtude. Além disso, beneficiava-se da boa influência de sua avó materna, Da. Patricia Muñoz Dominguez, piedosa e austera, com quem compartilhava a habitação.
     Madre Maravilhas de Jesus afirmará que sentiu o apelo divino para a vida religiosa com o despertar da razão. Aos cinco anos de idade, fez voto de castidade. Diariamente ia com sua avó à santa Missa e, apesar de seu desejo, não pôde fazer a primeira comunhão senão depois dos 10 anos de idade, como era costume na época. Dirá ela a seu diretor espiritual: “O dia de minha primeira comunhão foi felicíssimo. Só falei com o Senhor de meus anelos de que chegasse o dia de poder ser toda sua na vida religiosa”.1
Ardente desejo de consagração a Jesus
     Nesse tempo, foi recebida como filha de Maria. A adolescente escreveu na primeira página de seu manual francês, também nesse idioma: “Maravilhas, filha de Maria! Ó Santa Mãe de Deus, obtende-me um coração ardente para desejar a Jesus; um coração puro para recebê-Lo; um coração constante para não O perder jamais”.
     Em 1913 morre seu pai, e no mês seguinte sua avó materna. Como seus irmãos já se haviam casado, tocava a Maravilhas ficar com a mãe, o que tornava mais difícil para ela a entrada no convento.
     Anos depois, indo passar uma temporada com seu irmão e cunhada em Torrelavega, foram até Covadonga, onde Maravilhas suplicou muito à Virgem ali venerada que lhe concedesse a graça de entrar o quanto antes num carmelo. Nossa Senhora a ouviu. Pouco depois, tanto seu diretor espiritual quanto sua mãe concederam-lhe a esperada permissão. Entrou no carmelo de El Escorial no dia 12 de outubro de 1919. A obediência a fizera esperar até os 27 anos para consagrar-se toda a Jesus!
O Cerro de los Angeles e o novo carmelo
     Em junho de 1911 realizou-se em Madri o Congresso Eucarístico Internacional. Como conclusão do mesmo, foi organizado um ato de consagração da Espanha ao Coração de Jesus Sacramentado. Alguns fervorosos católicos tiveram a idéia de erigir um monumento a esse Divino Coração no Cerro de los Angeles, a 14 quilômetros da capital, solenemente inaugurado no dia 30 de maio de 1919, com a presença de toda a família real e ministros, tendo então o jovem rei Alfonso XIII lido o ato de consagração.
     No entanto, não havendo boas estradas, o monumento do Cerro foi caindo no esquecimento. Certo dia Nosso Senhor, por meio de inspirações interiores, comunicou à então Irmã Maravilhas seu desejo de que fosse edificado um carmelo naquele local, para velar pelo monumento e se imolar pela Espanha. Também inspirou outra freira do mesmo convento a secundar a Irmã Maravilhas nessa empresa.
     Depois de mil e uma dificuldades, as duas religiosas com sua antiga Mestra de Noviças e uma noviça fundaram o carmelo no Cerro de los Angeles. Este depressa prosperou, tendo recebido muitas vocações. A Irmã Maravilhas, apesar de ter feito os votos solenes pouco tempo antes, foi designada Mestra de Noviças, e logo depois priora do novo carmelo.
Enfrentando a revolução comunista de 1936
     Era necessário um pulso forte para enfrentar a tormenta que se avizinhava, e que resultou numa das mais cruentas perseguições à Religião de que se tem notícia — a revolução comuno-anarquista de 1936 a 1938, que produziu um número imenso de mártires.
     Não coube a Madre Maravilhas e às suas filhas espirituais, embora o desejassem ardentemente, darem a vida pela Fé. Foram expulsas do convento e passaram um ano em Madri, mantendo a vida de comunidade num apartamento, sob constante risco. Até que ela e suas 20 freiras, com alguns leigos que a ela tinham se confiado, conseguiram sair da Espanha para nela reentrar na região não dominada pelos comunistas. Assim surgiu o convento de Batuelas, onde se estabeleceu a comunidade até a liberação do país do jugo vermelho. Então, como havia muitas pretendentes para o carmelo, foi possível voltar ao Cerro de los Angeles deixando uma comunidade em Batuelas.
     Madre Maravilhas, que em 1933 já havia enviado religiosas para a ereção de um convento carmelita em Kottayan, na Índia, fundaria ainda mais 10 na Espanha. Enviou também freiras suas para reforçar o carmelo de Ávila, onde tinha vivido Santa Teresa, bem como outro no Equador.
Fidelidade heróica ao espírito de Santa Teresa
     Pela Constituição Sponsa Christi, Pio XII propunha aos religiosos a formação de federações de mosteiros com noviciados comuns, madres federais e religiosos para as assessorar. Isso trazia como conseqüência reuniões, visitas dos dirigentes da federação etc., o que alterava muito a vida de um convento de contemplativas como são as carmelitas. E não se coadunava com o que Santa Teresa estipulara para seus carmelos, que deveriam ser comunidades autônomas e estáveis, com número limitado de monjas, clausura estrita etc.
     Madre Maravilhas, que não desejava nenhuma alteração naquilo que Santa Teresa legara, fez o possível para evitar modificações que alterassem a vontade da grande reformadora do Carmelo. Consultou o Geral da Ordem do Carmo, o Pe. Silvério de Santa Teresa, a quem já conhecia e com quem tratara por ocasião da fundação do carmelo de Cerro de los Angeles. Dirigiu-se mesmo ao Secretário da Congregação dos Religiosos, o espanhol Pe. Arcádio Larraona. Os dois concordaram com o ponto de vista da Madre. Mobilizou ela todos os contatos que mantivera, tanto no campo civil quanto no eclesiástico, em favor de sua aspiração.
     Para ela, tratava-se de uma verdadeira batalha, para a qual tinha que usar todos os recursos da piedade, mas também da argúcia, da tenacidade e da sua extraordinária vitalidade.
Tenaz defensora da Ordem carmelitana
     A todo momento lemos em sua correspondência da época as palavras milagre, salvar a Ordem, e outras que externam suas profundas preocupações, bem como sua sensação de que se entrava em difíceis tempos.
     Assim, quando o embaixador da Espanha junto à Santa Sé, Fernando Castiella, comunicou-lhe boas notícias a respeito do andamento de suas gestões no Vaticano, escreveu à priora do Cerro em 5 de junho de 1954: “Isto foi um milagre verdadeiro. A Santíssima Virgem quis salvar sua Ordem”.2Em outra carta à mesma, três meses mais tarde, afirmava: “A Santíssima Virgem, em seu Ano Mariano [1954], vai nos salvar”. A essa Madre, ela já afirmara pouco antes: “Minha Madre! Quanto temos que pedir à Santa Madre Teresa que livre sua Ordem! A Santíssima Virgem no-lo concederá”.3
     A Frei Victor de Jesus Maria, O.C.D., canonista e Definidor Geral da Ordem, escreveu ela em 4 de julho de 1956: “Já sei que V. Revma. não nos esquecerá e pedirá muitíssimo para que não permita o Senhor que a Ordem de sua Mãe seja tocada em nada. Já não nos resta mais que a oração, mas realmente é a arma mais poderosa”.4
Resistindo aos ventos dos novos tempos
     A questão arrasta-se, sobretudo com o início do Concílio Vaticano II. Em carta escrita em abril de 1967 ao Preposto Geral da Ordem, Frei Miguel Ângelo de São José, diz ela: “A eleição de V. Revma. nos encheu de alegria, e vimos como Nossa Mãe Santíssima vela por sua Ordem, pondo-a em suas mãos nestes tão difíceis e delicados momentos”.5
     No dia de São Miguel, 29 de setembro de 1967, volta a escrever ao mesmo: “Faça tudo quanto seja necessário para salvar a ‘Ordem da Virgem’ nestes tão difíceis tempos. Com a ajuda de Cristo, nosso Bem, e de sua Mãe Santíssima, não podemos duvidar de que assim será”.
     O tempo foi passando, e um dos decretos do Vaticano II, o Perfectae Caritatis, voltou com a proposta de Pio XII, recomendando às religiosas contemplativas a formação de federações, uniões ou associações, como um meio de ajuda mútua entre os mosteiros. Madre Maravilhas vê no número 22 do decreto a saída que buscava. Recomenda esse item que “os Institutos e Mosteiros autônomos promovam entre si [...] uniões, se têm iguais constituições e costumes e estão animados do mesmo espírito, principalmente se são demasiado pequenos”.6Discernia ela aí uma saída: fundar uma união de carmelos (dos por ela fundados e mais alguns que pediram sua admissão) sem ter que alterar em nada a vida desses mosteiros. A finalidade de tal associação era a de que esses carmelos pudessem ajudar-se com facilidade, espiritual e economicamente, e até com o pessoal necessário, sem saídas nem entradas, sem visitas nem visitadoras etc.7
Realização do desejo de “não mudar nada
     Depois de muitas dificuldades, tensões e argúcias da Madre, finalmente Roma aprovou essa união em 14 de dezembro de 1972, com o nome de Associação de Santa Teresa, sendo Madre Maravilhas eleita sua presidente por unanimidade, em 12 de março de 1973.
     Numa carta enviada a Madre Luísa do Espírito Santo, priora de Arenas, em 22 de março desse mesmo ano, mostra Madre Maravilhas seu contentamento ao mesmo tempo em que indiretamente aponta as principais conquistas: “Como vêem, já nos concedeu o Senhor esta graça que lhe vínhamos pedindo, se essa fosse sua vontade, e já temos aprovada a nossa Associação de Santa Teresa na Espanha. Foi como um milagre que o Senhor tenha feito que a aprovassem tal como a havíamos pedido. Para nossos conventinhos tudo isso não supõe nenhuma novidade, pois o vínhamos vivendo, com a ajuda do Senhor, desde há tantos anos; mas é muito que o Senhor, pondo em nossa maneira de viver o selo e a aprovação da Igreja, parece dizer-nos, pelo caminho mais seguro, que está contente com isso e que aprova nossos desejos de não mudar nada, e que sigamos adiante pelos mesmos caminhos que nossa Santa Madre nos traçou. [...] De vários conventos nos pedem para entrar em nossa união, mas por agora nos parece que não convém aumentar o número”.8
     Madre Maravilhas de Jesus morreu em 11 de dezembro de 1974, sendo beatificada por João Paulo II em 1998, e por ele canonizada em 3 de maio de 2003.
 
Notas:
1.Pe. Rafael Maria López Melús, O.Carm., Nuestra Dulcíssima Madre — La Virgen Maria en la vida y escritos de la Beata Madre Maravilhas, Edibesa, Madri, 2001, p. 50.
2.Id., p. 104.
3.Id., ib.
4.Id., p. 105.
5.Id., ib.
6.Paulo VI, Decreto Perfectae Caritatis — Sobre a adequada renovação da vida religiosa, 28 de outubro de 1965, n. 22.
7.Pe. Rafael M. López Melús, op. cit., p. 106.
8.Id., p. 107.
 
Fonte: 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Santa Maria Josefa Rossello, Fundadora das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia

Em Savona, no litoral da Itália, Santa Maria Josefa Rossello (Benedita Rossello), virgem, que fundou o Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia e se consagrou totalmente à salvação das almas, confiando só em Deus.
 
     Benedita Rossello era natural da belíssima cidade de Albissola Marina, em Savona, na Itália. Nasceu no dia 27 de maio de 1811, em uma humilde família de fabricantes de vasilhas; desde cedo teve literalmente que "colocar a mão na massa" para ajudar o pai com a modelação da argila.
     Mas, trabalhar para a família não era o suficiente para Benedita. O que ela mais queria era trabalhar para o próximo. Desde cedo compreendeu que era preciso haver, ao lado de um apostolado religioso, uma assistência material para aqueles que se encontravam na ignorância e na pobreza.
     Estudiosa, cheia de caridade para com os necessitados, devota do Crucificado e da Santíssima Virgem, inscreveu-se muito jovem na Ordem Terceira de São Francisco (provavelmente antes de 1830). E com ardor ela procurou cuidar e instruir os jovens dos bairros populares.
     Tentou inscrever-se numa instituição de caridade, mas a falta do dote financeiro suficiente a impediu de concretizar o sonho. Nesse tempo, perdeu o pai e uma irmã, tendo de prover a família durante um período.
     Aos dezenove anos, empregou-se por sete anos (1830-1837) na residência da família Monteone, casal sem filhos, para dar assistência ao chefe da família imobilizado na cama. Fez um trabalho tão dedicado e confortador, que ao morrer o doente a viúva quis adotar Benedita como filha, com a perspectiva de esta herdar todo o patrimônio da família.
     A oferta foi recusada, porque a condição para adoção era ela não se tornar religiosa. Sua recusa foi criticada por alguns, mas, como ela escreveria mais tarde: "Se não somos generosos com Deus, Ele não será conosco. Não se responde ao amor senão com o amor".
     Ela recebeu de fato o prêmio da sua generosidade e do seu amor quando, em 1837, o Bispo de Savona, Mons. Agostino De Mari (1835-1840), aceitou que a ex-doméstica se ocupasse da juventude feminina negligenciada materialmente e moralmente em perigo.
     Uma casa modesta e alugada serviu de semente para o que seria uma grande obra, desde logo dirigida por Benedita, com apenas três companheiras, Ângela e Domingas Pescio e Paulina Barla.
     No dia 22 de outubro de 1837, aconteceu a primeira vestição e o Bispo impôs-lhe o nome de Maria Josefa. Animadas por Maria Josefa, formou-se assim uma pequena Congregação colocada sob a proteção de Nossa Senhora da Misericórdia, de quem se disseram filhas e, como Ela, deveriam ser instrumentos de salvação.
     A missão da nova instituição: a instrução e educação das jovens pobres e a assistência aos doentes. Além disso, deveriam prestar serviço nas escolas e nas paróquias, nos hospitais e onde quer que fossem necessárias.
     Ângela Pescio, a mais velha, foi eleita superiora, Benedita era a mestra de noviças e ecônoma. A Congregação das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia começou "com quatro irmãs, um saco de batatas e quatro moedas de prata".
     Dois anos depois, em 2 de agosto de 1839, as Irmãs pronunciaram os votos perpétuos. Em 1840 eram já sete Irmãs professas e quatro noviças; durante o capítulo do mesmo ano, Irmã Maria Josefa foi eleita superiora por unanimidade, cargo que ocupou por cerca de quarenta anos.
     À Madre Maria Josefa era confiada grande parte dos trabalhos materiais. “A mão no trabalho, o coração em Deus”, ela recomendava às outras Irmãs. E quando a tarefa parecia muito espinhosa: “Faça o que puderes; Deus fará o resto”.
     A redação do regulamento definitivo foi confiada ao Padre Inocêncio Rosciano, carmelita, e solenemente entregue às Irmãs em 14 de fevereiro de 1846 pelo novo Bispo de Savona, Mons. Alessandro Ottaviano Riccardi (1841-1866).
     Sob a direção de Madre Maria Josefa o Instituto iniciou sua expansão na Ligúria, no período 1842-1855. Em 1856, começa a contribuir com a obra de resgate dos escravos africanos, a qual se dedicavam dois beneméritos sacerdotes, Nicolau Olivieri e Biagio Verri. O Instituto hospedava crianças negras libertadas de uma aviltante escravidão.
     O espírito missionário da Fundadora se manifestou ainda mais em 1876: conseguiu enviar o primeiro grupo de 15 Irmãs para Buenos Aires, Argentina. Em 1859, uma nova fundação, a “Casa da Providência” foi iniciada por Madre Maria Josefa, para a re-educação e inserção na vida de jovens das classes pobres.  Outros centros análogos foram abertos em Voltri, Sant’ Ilario, Porto Mauricio (1860) e em Albissola, onde surge a “Segunda Providência” (1866-1867).
     Dez anos depois, em 1869, Madre Maria Josefa empreendeu uma outra obra corajosa: o “Pequeno Seminário para os rapazes da classe operária”, permitindo-lhes a carreira eclesiástica gratuitamente. Esta obra lhe custou não poucas amarguras pelos obstáculos colocados contra esta instituição.
     A última iniciativa, sonhada e realizada postumamente, foi a constituição em Savona da “Casa das Arrependidas” (1880), um refúgio para as jovens arrependidas, e em vias de conversão, afastadas da prostituição.
     
“Se a obra que empreendemos é de Deus, chegaremos a cumpri-la”, dizia Madre Rossello, sem jamais esmorecer.
     A fundadora morreu em 7 de dezembro de 1880, e foi sepultada no cemitério local. Em 1887, seu corpo foi transladado para a casa mãe em Savona.
     Quando Madre Maria Josefa faleceu, o Instituto possuía já 68 casas (escolas, orfanatos, hospitais e refúgios para jovens arrependidas); e em 1949, quando foi canonizada, as Irmãs de Na. Sra. da Misericórdia eram mais de três mil, servindo em 260 casas de caridade na Itália e na América Latina.
     No dia 23 de janeiro de 1892, com um decreto episcopal, São José foi oficialmente reconhecido co-patrono do Instituto. Com o Decreto de 14 de setembro de 1900, Leão XIII reconheceu a missão que o Instituto desenvolvia na Igreja. Em 12 de janeiro de 1904, São Pio X aprovou definitivamente o Instituto e as Constituições. Em 12 de junho de 1949, Pio XII declarou-a Santa.
     José Mazzotti, conhecido como Bepi, foi o promotor do pedido de que Santa Maria Josefa Rossello se tornasse patrona dos ceramistas. O pedido foi aceito pela Congregação Pró Culto Divino com a bula de 27 de fevereiro de 1989.
     Ela, que dedicou toda sua vida aos doentes e às crianças, mesmo quando ainda não era religiosa, nasceu Benedita e bendita foi sua dedicação à caridade. É venerada com festa litúrgica no dia de sua morte. As suas relíquias são veneradas na capela da casa mãe das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia em Savona.
 
http://www.santosebeatoscatolicos.com/2014/01/santa-maria-josefa-rossello-fundadora.html
 
Postado neste blog em 6 de dezembro de 2011