Esposa,
mãe, viúva, religiosa, fundadora, 1ª. Santa dos EUA
O seu pai, Richard Bayley, era um cirurgião anglicano de grande reputação educado na Inglaterra; foi o primeiro professor de anatomia do Columbia College. A mãe de Elizabeth, Catarina Charlton, era filha de um ministro episcopaliano (*) da Igreja de Santo André, em Staten Island. Tiveram três filhos: Maria Madalena, Elizabeth Ana e Catarina Josefina, segundo a ordem de nascimento.
Quando Elizabeth tinha dois anos de idade a declaração da independência dos EUA foi assinada e durante sua infância a Revolução Americana estourou. Quando a nova nação foi estabelecida, seu pai foi ardorosamente recebido com altos postos na comunidade nova-iorquina, a ponto de ter um de seus projetos, um Lazareto, aprovado pela política local. Dr. Bayley ficava mais no Lazareto do que com sua própria família. A guerra não lhe tinha custado grande perda financeira e nos dias de juventude, Elizabeth vivia num grande conforto.
Os sofrimentos de Elizabeth começaram quando ela perdeu a sua mãe, cuja morte, em 8 de maio de 1777, ocorreu quando ela não tinha ainda três anos de idade. Com as filhas para cuidar e fazendo o papel de pai e de mãe por um ano, Dr. Bayley casou-se com Carlota Amélia Barclay, filha de André Barclay e Helena Roosevelt, cujo pai fora o fundador da dinastia Roosevelt nos EUA.
Bela, vivaz, fluente em francês, uma excelente música e uma talentosa dama, Elizabeth cresceu e tornou-se uma presença popular em festas e bailes.
A sua educação foi conduzida por seu pai, um homem brilhante, de grande virtude natural, que a treinou nas boas maneiras e na intelectualidade. Elizabeth era muito religiosa e usava um pequeno crucifixo em seu pescoço e se deliciava com a leitura das Escrituras, especialmente os Salmos, o que ela fez até a sua morte. Ela também admirava o grande trabalho de Thomas a Kempis, A Imitação de Cristo.
Problemas de negócios culminaram com a morte de seu sogro em 1798. Deste momento em diante Elizabeth e seu esposo tornam-se o sustentáculo da órfã família Seton. Dr. Bayley falece em 1801, devido à febre amarela.
Em 1803, William Seton foi acometido de uma tuberculose e o casal tentou fazer um tratamento com uma viagem à Itália. Por causa desta viagem, ele vendeu todos os pertences de luxo de sua casa, como vasos, quadros e objeto de prata, provavelmente herdados de seu pai. Somente sua filha primogênita, Ana Maria, os acompanhou nesta viagem à Livorno, onde os irmãos Filicci, amigos de negócios de William, residiam. As outras crianças do casal, William, Ricardo, Rebeca e Catarina, foram deixados aos cuidados de Rebeca Seton.
O esforço de Elizabeth para obter a saúde de seu amado esposo foi descrito em seu diário de viagem. Entretanto, uma quarentena, seguida pela deterioração completa da saúde de William Seton, levou-o à morte em 27 de dezembro de 1803, na cidade de Pisa, aos 37 anos de idade.
Aceitando um convite da família Filicci, decidiu passar um tempo na Itália. No convívio com esta família, e visitando as igrejas italianas, Elizabeth começou a ver a beleza da Fé Católica. Após a doença de sua filha e dela própria, Elizabeth embarcou para casa acompanhada do Sr. Antonio Filicci, aportando em Nova York no dia 3 de junho de 1804. A ‘amiga de sua alma’, Rebeca Seton, faleceu no mês de julho, logo após a sua chegada.
Um tempo de grande perplexidade espiritual começou para Elizabeth. O Sr. Filicci lhe apresentava os esplendores da verdadeira religião. Logo ele conseguiu um encontro entre Elizabeth e o Bispo católico de Nova York, D. Cheverus. O Sr. Filicci escreve também para o Bispo Carroll. Elizabeth por seu lado rezava para conseguir alguma luz.
Numa quarta-feira, 14 de março de 1805, ela foi recebida na Igreja Católica pelo Padre Matthew O’Brien, na Igreja de São Pedro, em Nova York. No dia 25 de março seguinte, ela recebeu a sua Primeira Comunhão com extraordinário fervor. Tinha agora um grande interesse por este Sacramento, que em seus tempos de anglicana lhe faltava.
Ela bem compreendia a tempestade que sua conversão levantaria entre seus parentes e amigos protestantes, no momento em que ela mais precisava de seu socorro e apoio. Ela perdera o pouco da fortuna de seu esposo, e muitos de seus numerosos parentes poderiam ter proporcionado um sustento para seus filhos, se não tivesse surgido a barreira da sua conversão. Mesmo assim ela ficou firme em sua fé.
Em janeiro de 1806, Cecília Seton, a mais jovem cunhada de Elizabeth, ficou gravemente enferma e pediu para ver a ‘condenada convertida’. Então Elizabeth foi vê-la e tornou-se uma visita constante. Cecília Seton revelou desejar tornar-se católica. Quando a decisão de Cecília foi conhecida, Elizabeth foi ameaçada de expulsão do Estado de Nova York. Após sua recuperação, Cecília fugiu para junto de Elizabeth, a fim de ser recebida na religião católica.
Seus dois filhos foram enviados pelos Filicci ao Georgetown College. Elizabeth esperava encontrar algum refúgio em algum convento no Canadá, onde ela poderia lecionar para sustentar suas três filhas. O Bispo Carroll não aprova e ela tem que abandonar esse plano. O Padre Dubourg, do Seminário de Santa Maria, de Baltimore, Maryland, encontrou-a em Nova York e sugeriu abrir uma escola para moças naquela cidade.
Depois de grande demora e privações, ela e suas filhas chegam à Baltimore na Festa de Corpus Christi de 1808. Seus filhos foram trazidos para Baltimore para estudar no St. Mary’s College; ela abre uma escola próxima à capela do Seminário de Santa Maria.
Numa Quarta-feira de Cinzas, quando entrava na modesta igreja católica de São Pedro, de Baltimore, exclamou: “Ó meu Deus, deixa-me descansar aqui!” Ela podia então assistir às Missas e comungar diariamente.
A sua vida de ascese, vivida desde sua estadia na Itália, era pelo menos praticável agora: era praticamente a de uma religiosa e sua veste fora inspirada nas roupas utilizadas por certas freiras italianas.
Cecília Conway, da Filadélfia, que tinha programado ir à Europa para satisfazer sua vocação religiosa, se junta a ela. Mais tarde outras postulantes chegariam. Entrementes, a pequena escola tem todos os alunos que pode acomodar.
O Sr. Cooper, um convertido e seminarista do Estado da Virgínia, ofereceu US$ 10.000 para Elizabeth fundar uma instituição para ensinar crianças pobres.
Como uma primeira medida para a formação da futura comunidade religiosa, Elizabeth fez voto de pobreza, de castidade e de obediência privadamente, com o Arcebispo Carroll.
Uma fazenda foi comprada em Emmitsburg, a duas milhas de distância do Sr. Mary’s College. Enquanto isto, Cecília Seton e sua irmã Harriet juntam-se a Elizabeth, em Baltimore. Em junho de 1808 a comunidade religiosa se transferiu para Emmitsburg para dar início a uma nova instituição.
O grande fervor e a mortificação de Madre Seton, imitado por suas irmãs, fez com que os inúmeros sofrimentos da nova comunidade se tornassem luminosos.
Em dezembro de 1809, Harriet Seton, que fora recebida na Igreja, falece em Emmitsburg; e Cecília Seton morre no ano seguinte, no mês de abril.
Em 1810 a comunidade solicita ao Bispo Flaget que obtenha a Regra das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Três destas irmãs francesas foram indicadas para ensinar a jovem comunidade a trilhar nas vias e no espírito de São Vicente de Paulo, mas Napoleão proibiu-as de deixar a França.
Com algumas modificações a Regra foi aprovada pelo Arcebispo Carroll em janeiro de 1812 e finalmente adotada. Contra sua vontade e tendo que cuidar de seus filhos, Elizabeth foi eleita superiora.
Muitas se juntaram à comunidade. A filha de Madre Seton, Ana Maria, morre durante o noviciado (12 de março de 1812), mas foi-lhe permitido fazer os votos em seu leito de morte.
Madre Seton e dezoito irmãs fazem os votos em 19 de julho de 1813. Os padres confessores da comunidade, padres Dubourg, David e Dubois, pertenciam à Congregação Francesa de São Sulpício. O Padre Dubois esteve no posto por quinze anos e trabalhou no setor de imprensa da comunidade, no espírito das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, cujas 40 comunidades estavam sob seus cuidados na França.
O fervor da comunidade ganhou a admiração de todos. A escola para jovens prosperou e dava sustento para as irmãs se dedicarem aos pobres.
Em 1814 foram convidadas para cuidar de um asilo-orfanato na Filadélfia; em 1817 foram enviadas para Nova York.
Elizabeth Seton tinha grande facilidade para escrever. Por outro lado, fez a tradução de muitos trabalhos ascéticos franceses para a sua comunidade, incluindo a vida de São Vicente de Paulo e de Mlle. Le Gras. Ela deixou um diário e correspondência que mostravam uma alma toda em chamas pelo amor de Deus e zelo pelas almas. Grandes sofrimentos purificaram sua alma durante grande parte de sua vida religiosa, mas ela trilhava alegremente a estrada real da Cruz. Por muitos anos foi seu diretor espiritual o Padre Bruti.
Na terceira eleição para superiora (1819), ela protestou dizendo que fora eleita perto de sua morte, mas ela viveu por mais dois anos sofrendo de tuberculose, doença que tinha infectado a maioria dos membros de sua família. Sua perfeita sinceridade e grande encanto ajudaram maravilhosamente no trabalho de santificação das almas.
Na noite de sua morte, Elizabeth, ela mesma, começou as orações para a sua morte e uma das irmãs, sabendo que ela amava a língua francesa, rezou o Glória e o Magnificat em francês com ela. Elizabeth entregou sua preciosa alma a Deus aos 46 anos de idade, nas primeiras horas do dia 4 de janeiro de 1821. Suas últimas palavras foram “sejam filhas da Igreja” último conselho dado às suas seguidoras.
Em 1880 o Cardeal Gibbons deu início ao processo de sua canonização. Elizabeth Ana Seton foi beatificada em 1963 e elevada aos altares na Basílica de São Pedro em 14 de setembro de 1975.
Treze volumes de suas cartas podem ser lidos na sede da Congregação em Emmitsburg, Estado de Maryland, onde o túmulo de Madre Seton, anexo à Basílica, pode ser visitado.
Em 1850 a comunidade de Emmitsburg foi incorporada à Congregação francesa e observa a Regra dada por São Vicente de Paulo. Elas se encontram em 30 dioceses dos EUA.
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(*) Episcopal = ramo dos anglicanos, sobretudo nos Estados Unidos da América; Episcopaliano = membro da religião episcopal.
Fonte: B. Randolph (1913 Catholic Encyclopedia)
Postado neste blog em 3 de janeiro de 2012
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