sábado, 12 de março de 2022

Santa Eufrásia, Nobre, Monja – 13 de março

     
     Antígono, o pai desta santa, era um fidalgo de primeira ordem e qualidade na corte de Teodósio, o grande (*), parente de sangue desse imperador, e por ele honrado com vários grandes empregos no Estado. Casou-se com Eufrásia, senhora não menos ilustre pelo nascimento do que pela virtude, com quem teve apenas uma filha e herdeira, também chamada Eufrásia, a santa de que tratamos.
     Antígono morreu dentro de um ano e Eufrásia foi criada sob a proteção do imperador Teodósio, que se encarregou de cuidar tanto dela como de sua mãe. Ao completar 5 anos, o imperador a prometeu em casamento ao filho de um rico senador romano para quando tivesse idade suficiente.
     Aos 7 anos, Eufrásia viajou com sua mãe para o Egito, pois a piedosa viúva, para evitar importunos pretendentes para casamento, se retirou com sua filhinha naquele país onde ela possuía uma grande propriedade. No Egito conheceram eremitas e monges da Tebaida. Começaram a visitar o mosteiro de Santa Maria, fundado por São Cirilo de Alexandria e Santa Sara, e se tornaram amigas das monjas.
     As monjas nunca usavam outro alimento além de ervas e leguminosas, que só comiam depois do pôr-do-sol, e algumas apenas uma vez em dois ou três dias; elas usavam e dormiam em sacos de pano, feitos com as suas mãos, e rezavam quase sem interrupção. Quando doentes, elas suportavam suas dores com paciência, estimando-as como um efeito da misericórdia divina e agradecendo a Deus por elas; nem buscavam alívio de médicos, exceto em casos de absoluta necessidade.
     O exemplo dessas santas virgens, levou a devotada mãe a se dedicar os exercícios da religião e da caridade, aos quais se dedicou totalmente. Ela frequentemente visitava essas servas de Deus e pedia-lhes fervorosamente que aceitassem uma considerável renda anual, com a obrigação de que elas sempre rezassem pela alma de seu falecido marido. Mas a abadessa recusou, dizendo: “Renunciamos a todas as conveniências do mundo para comprar o céu. Somos pobres e assim desejamos permanecer”. Ela só pôde persuadi-la a aceitar uma pequena espórtula para abastecer a lâmpada da igreja com óleo e para queimar incenso no altar.
     Eufrásia pediu à sua mãe para servir a Deus naquele mosteiro. A piedosa mãe, ao ouvir isto apresentou-a à abadessa, que, tomando uma imagem de Cristo, a entregou em suas mãos. A terna virgem o beijou, dizendo: “Por voto me consagro a Cristo”. Então a mãe a levou diante de uma imagem de nosso Redentor e, levantando as mãos para o céu, disse: “Senhor Jesus Cristo, receba esta criança sob sua proteção especial. Só a ti ela ama e busca: a ti ela se recomenda”. (1) Então, voltando-se para sua querida filha, ela disse: “Que Deus, que lançou os alicerces dos montes, te fortaleça sempre em seu santo temor”. E deixando-a nas mãos da abadessa, saiu do mosteiro.
     Algum tempo depois, ela adoeceu e faleceu. Após a notícia de sua morte, o imperador Teodósio mandou chamar a nobre virgem à corte, uma vez que ela havia sido prometida em casamento a um senador. Mas Eufrásia, então com 12 anos, escreveu-lhe de próprio punho a seguinte resposta:
     Imperador invencível, tendo-me consagrado a Cristo em castidade perpétua, não posso ser falsa e casar-me com um homem mortal, que em breve será comida pelos vermes. Pelo bem de meus pais, tenha o prazer de distribuir suas propriedades entre os pobres, os órfãos e a igreja. Põe em liberdade todos os meus escravos e dispensa os meus vassalos e servos, dando-lhes o que lhes é devido. Ordene aos administradores de meu pai que absolvam meus fazendeiros de tudo o que devem desde sua morte, para que eu possa servir a Deus sem impedimentos, e possa estar diante dele sem a solicitude dos assuntos temporais. Ore por mim, vós e sua imperatriz, para que eu seja digna de servir a Cristo”.
     Os mensageiros voltaram com esta carta ao imperador, que derramou muitas lágrimas ao lê-la. Os senadores que a ouviram também choraram e disseram a Sua Majestade: “Ela é a filha digna de Antígono e Eufrásia, de seu sangue real, e a santa descendência de uma linhagem virtuosa”. O imperador executou pontualmente tudo o que ela desejava, pouco antes de sua morte, em 395.
     Santa Eufrásia era para suas piedosas irmãs um modelo perfeito de humildade, mansidão e caridade. Se ela se via assaltada por alguma tentação, ela logo a revelava para a abadessa, para afastar o diabo por aquela humilhação, e buscar um remédio. A discreta superiora muitas vezes lhe impunha, nessas ocasiões, algum trabalho penitencial humilhante e doloroso, como às vezes carregar grandes pedras de um lugar para outro, emprego que ela continuava por trinta dias com maravilhosa simplicidade, até que o diabo sendo vencido por sua humilde obediência e castigo de seu corpo, a deixava em paz. Sua dieta era apenas ervas ou leguminosas, que ela tomava após o pôr-do-sol, primeiro todos os dias, mas depois apenas uma vez a cada dois ou três, ou às vezes sete dias. Ela limpava os aposentos das outras freiras, levava água para a cozinha e, por obediência, dedicou-se alegremente à mais vil labuta, fazendo do trabalho doloroso uma parte de sua penitência.
     Para citar um exemplo de sua extraordinária mansidão e humildade, conta-se que um dia uma empregada na cozinha lhe perguntou por que ela jejuava semanas inteiras, o que nenhuma outra tentou fazer além da abadessa? Sua resposta foi que a abadessa lhe havia ordenado aquela penitência. A outra a chamou de hipócrita. Diante disso, Eufrásia caiu a seus pés, implorando-lhe que a perdoasse e orasse por ela. É difícil dizer se devemos admirar mais a paciência com que ela recebeu uma repreensão e calúnia tão injusta, ou a humildade com que ela se condenou sinceramente, como se por sua hipocrisia e imperfeições, ela tivesse sido um escândalo para os outros.
     Ela foi favorecida com milagres antes e depois de sua morte, que aconteceu no ano 410, e no trigésimo de sua idade. A abadessa do convento, Santa Sara, teve uma visão na qual Cristo glorioso tomava Eufrásia por esposa no Paraíso.
     Em pouco tempo, Santa Eufrásia teve febres e, em seu leito de morte, tanto sua companheira de cela, Júlia, como a abadessa imploraram à santa que lhes obtivesse a graça de estar com ela no céu. Três dias depois da morte de Eufrásia, Júlia faleceu e, pouco tempo depois, aconteceu o mesmo com a abadessa. 
     O nome de Santa Eufrásia está registrado neste dia 13 de março no Martirológio Romano.
 
(*) São Teodósio, imperador, celebrado dia 17 de janeiro
 
Nota 1. Esta passagem é citada por São João Damasceno, Or. 3. A Vida dos Santos, Vol. III: March, pelo Rev. Alban Butler (Nova York: D.&J. Sadlier Publishers, 1866), pp. 585-586.
     A notável biografia em grego, que é a fonte de todo conhecimento relativo a Santa Eufrásia, foi impressa em Acta Sanctorum março, vol. u. Há boas razões para considerar o autor mais ou menos contemporâneo e a obra é um relato fidedigno. Certamente o ascetismo que reflete é o daquela época. Poucos anos depois da data em que Eufrásia faleceu, São Simão, o Estilita, fundou o primeiro pilar. De Eufrásia, bem como de sua abadessa, é assegurado que tinham frequentes êxtases. Etheria, a peregrina ocidental que escreveu a Peregrinatio Etheriae ao relatar sua peregrinação (e. 390) nos diz muito dos jejuns que os ascetas consideravam como questão de honra e resistência, e passavam uma semana sem comer, de domingo a domingo. Além disso, o texto integral do documento nos lembra os ideais ascéticos expostos na vida de Santa Melânia, a Menor, que foi contemporânea.
Vide também Dictionary of Saintly Women, de A.B.C. Dunbar, vol. i. pp. 292-293.
fonte: “Vidas de los santos de A. Butler”, Herbert Thurston, SI
Vide antiga vida autêntica da santa em Rosweide, p. 351, D'Andilly, e mais correto no Acta Sanctorum pelos bolandistas.
 
https://nobility.org/2014/03/euphrasia-nobility/
 

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