No dia 12 de outubro de 2008, as Clarissas de
Kochi, no Kerala (Índia), esqueceram os sofrimentos que envolveram a sua
congregação, sobretudo, em Orissa, onde mais dramáticas foram as consequências
da violência dos fundamentalistas hindus.
Ao redor do altar
comemoraram a canonização da irmã de hábito, Afonsa da Imaculada Conceição, no
século Ana Muttathupadathu. Tratou-se de um evento que envolveu toda a Igreja católica
da Índia, num momento particularmente difícil, marcado pelo ódio em relação aos
cristãos.
Numa época em que os
cristãos sofrem uma dura perseguição na Índia, e em tantos outros países ao
redor do mundo, Ana Muttathupadathu, religiosa da Congregação das Clarissas da
Terceira Ordem de São Francisco tornava-se naquele dia a primeira Santa indiana
canonizada pela Santa Igreja.
Ana nasceu em Kudamaloor,
arquidiocese de Changanacherry (Estado de Kerala), Índia, em 19 de agosto de
1910. Seu batismo foi feito no rito católico sirio-malabar.
Annakutty (diminutivo de
Ana) era a última de cinco filhos de Ouseph e Mariam Muttathupadathu, em
uma família católica de origem nobre. Tendo ficado órfã de mãe aos três meses
de idade, foi criada por uma tia materna. Foi a avó materna, entretanto, que a
fez descobrir a fé e o amor pela oração já em tenra idade: aos 5 anos guiava a
oração noturna, costume do rito oriental ao qual a família pertencia.
Aos sete anos Annakutty
recebeu a Primeira Comunhão e comentava com as amigas: "Sabem por
que estou tão feliz hoje? É porque tenho Jesus no coração".
Sua adolescência foi
marcada por graves e difíceis doenças, e pela insistência da tia à qual tinha
sido confiada. Mulher muito autoritária, a tia queria que ela se casasse aos 13
anos com um tabelião. Na Índia é muito comum casamentos programados por
familiares sem que os noivos participem da decisão.
Porém seu coração já
estava entregue a Deus, queria tornar-se religiosa. Após ter lido a “História
de uma Alma”, Ana se orientava com firmeza a dedicar sua vida por inteiro a
Jesus Cristo, a exemplo de Santa Teresinha de Lisieux.
Ao concluir que se
tornando parcialmente desfigurada nenhum homem se interessaria por ela, Ana
chegou a colocar o pé sobre brasas incandescentes queimando-se gravemente.
Resultado, sua tia desistiu de casá-la.
O
encontro com o Pe. James Muricken mudou a sua vida. Ele introduziu-a na
espiritualidade franciscana e ajudou-a a ingressar no noviciado das Clarissas
Franciscanas de Bharananganam, em maio de 1927.
De saúde delicada,
perseverou em sua vocação e após muitas dificuldades pode emitir sua profissão
perpétua em 2 de agosto de 1936, tomando por nome religioso Afonsa da Imaculada
Conceição, uma homenagem a Santo Afonso de Ligório, cuja festa era comemorada
naquele dia.
Um dos maiores sofrimentos
enfrentados por Irmã Afonsa foi o desejo de suas superioras de que ela voltasse
para casa, pois sua delicada saúde era considerada um obstáculo para a vida
religiosa, mas esse problema foi superado pela intercessão divina.
A despeito de suas
limitações físicas, Irmã Afonsa deixou escrito: "Para cada pequena
falta pedirei perdão ao Senhor e a expiarei com uma penitência; sejam quais
forem os meus sofrimentos, não me lamentarei jamais, e quando tiver de
enfrentar qualquer humilhação procurarei refúgio no Sagrado Coração de
Jesus".
Durante um ano ensinou em
Vakakkadu, porém a tuberculose que padecia há anos a impediu continuar
ensinando. Consciente da situação, manteve-se muito reservada e caridosa com
todos, procurando não pesar à comunidade; sofria em silêncio tanto as
hostilidades que não faltaram, como as doenças, que os exames feitos não
especificavam quais eram.
Irmã
Afonsa havia escolhido como caminho para sua santificação a pequena via de
Santa Teresinha do Menino Jesus.
Em 1945
a doença se agravou violenta e incontrolável: um tumor estendido por todo
o organismo transformou seu último ano de vida em uma contínua agonia. Em
meio aos seus sofrimentos, ela dizia: "Eu sinto que o Senhor me
destinou para ser uma vítima, um holocausto de sofrimento... O dia em que não
tenho sofrimento é um dia perdido para mim". Santa Afonsa
considerava toda sua vida como um holocausto a Deus; oferecia cada sofrimento
ao Sagrado Coração de Jesus.
Concluiu sua vida entre
grandes dores, vividas com grande resignação, e, encomendando serenamente sua
alma a Deus, pronunciou os nomes de Jesus, Maria e José. Era o dia 28 de julho
de 1946, Irmã Afonsa tinha apenas 35 anos.
Um médico pagão, depois de
haver visitado Irmã Afonsa, manifestou a um amigo sua grande admiração e
assombro pela serenidade e alegria com que a religiosa suportava os grandes
sofrimentos causados pelo tumor espalhado por todo seu corpo.
A explicação desta atitude
alegre diante da dor no-la dá uma companheira sua: “Sacrifício, amor de
Deus e do próximo, são estes os elementos que devem santificar a vida; e esta é
a mensagem que Irmã Afonsa lança ao mundo moderno, à Igreja e à pátria”.
Sua curta vida de
religiosa Clarissa deixou a lembrança de uma existência santa; a fama de sua
santidade se espalhou de um modo impressionante após sua morte. Todos os anos
numerosas peregrinações, não só de católicos, dirigem-se à sua sepultura em
Bharananganam, perto de Kottayam, para rezar e pedir graças, atraídos pela
pureza de sua jovem vida de tanto sofrimento e seu poder de cura.
Mons. Sebastião
Valloppilly, Bispo de Tellicherry (Índia), que conheceu muito bem a Santa,
percebeu o valor incalculável e atual da mensagem da Irmã Afonsa para o mundo
de hoje: a dor não é um mal, as provações e dificuldades da vida, aceitas e
sofridas com alegria por amor de Deus, obtêm méritos, e, para adquiri-los, não
é necessário realizar ações extraordinárias que chamem a atenção: as cruzes
diárias, abraçadas com alegria por amor de Deus, exaltam a vida cristã e nos
permitem adquirir grandes méritos.
Irmã Afonsa, durante sua
breve vida, não fez grandes e extraordinárias ações do ponto de vista humano,
porém sua mensagem é facilmente perceptível na Índia: ela imprimiu a este
ensinamento a luz sobrenatural do Evangelho.
Em 1955
o Bispo de Palai iniciou o processo diocesano para sua beatificação.
Beatificada em 8 de fevereiro de 1986 na Índia, em Kottayam, foi canonizada por
Bento XVI em 12 de outubro de 2008. No momento da canonização, ocorrida no
Vaticano, numerosos católicos reuniram-se junto a seu túmulo em Bharananganam.
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