terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Beata Ilduara, Condessa, mãe de São Rosendo de Celanova – 20 de dezembro

     
Filha de Ero e Adosinda, gozou de uma ampla projeção social na Galiza no século X. Seu pai era conde no território de Lugo no final do século IX. Seu casamento com Gutierre Menéndez no início do século 10 a ligou a um dos grupos aristocráticos mais importantes do reino de Leão. O casal viveu durante algum tempo em Salas, perto do Porto.
     O primeiro de seus filhos, Rosendo, nasceu lá; seguir-se-ão mais quatro: Munio, Froila, Adosinda e Ermesinda. Há uma legenda que relata como Ilduara rezou para conceber seu primeiro filho, e como um anjo lhe apareceu dizendo que ela teria um filho que seria a glória de sua família.
     Quando a família se mudou para o território da atual Galiza, as paisagens que lhes eram mais familiares situavam-se em torno de Porto Marín, onde o casal tinha uma residência, e, sobretudo, em Vilanova, hoje Vilanova dos Infantes, perto de Celanova, onde era a sua residência principal.
     Foi lá que aconteceu a parte principal da vida de Ilduara. Foi nas imediações da sua casa em Vilanova, onde, já viúva e juntamente com o filho Rosendo, fundou e construiu, entre os anos de 936 e 942, o Mosteiro de Celanova, que cedo se tornou um centro monástico de primeira importância na Galiza, na segunda metade do século X. E ali, também, junto à sua casa, no Mosteiro de Santa Maria, cuja fundação ela própria tinha promovido, passou os últimos anos da sua vida.
     Ilduara desenvolveu uma atividade significativa em diferentes áreas sociais.
     Entre as circunstâncias específicas que explicam por que Ilduara teve um papel de destaque na sociedade de seu tempo, é necessário levar em conta, em primeiro lugar, o uso das possibilidades oferecidas a ela para adquirir uma formação intelectual.
     Com base no aprendizado da leitura e da escrita e no consequente acesso ao conteúdo dos livros que ela ou seu filho Rosendo são conhecidos por possuírem, os encontros com a corte real, as frequentes entrevistas com clérigos e nobres, os relatos de viajantes e comerciantes, permitiram-lhe desenvolver uma concepção de mundo que estava acima da média de seus contemporâneos e que também pode ser vista na sensibilidade refinada e gosto pela qualidade de vida que demonstram a riqueza e beleza dos objetos cotidianos com os quais estava cercada. A capela dedicada a São Miguel, que fez parte do conjunto arquitetônico inicial do Mosteiro de Celanova, é, nos nossos dias, um testemunho expressivo da beleza das construções do século X, do cuidado que foi colocado na aparência exterior e interior dos edifícios.
Capela de São Miguel 
Mosteiro de Celanova
     
     Condições gerais e circunstâncias específicas facilitaram o acesso de Ilduara a um nível de preparação e treinamento que possibilitou a estreita colaboração com seu marido Gutierre e, sobretudo, com seus filhos Rosendo e Froila, em múltiplos aspectos de projeção extra doméstica, que vão desde a organização do espaço até a atividade religiosa, passando pelas esferas econômica e política. A participação de Ilduara estava longe de ser meramente passiva na constituição dos dois suportes essenciais – patrimônio e poder – nos quais se baseava a posição social de sua família. Ela desempenha um papel muito significativo na criação e evolução do patrimônio sobre o qual se sustentava o grupo de filiação formado por ela, seu marido e seus filhos.
     Em 942, Ramiro II concedeu a Froila, sob a tutela de sua mãe Ilduara, uma série de condados e decanos. A função tutorial é um reconhecimento do prestígio e confiança despertados por Ilduara, já viúva do Conde Gutierre.
     É na esfera religiosa que Ilduara tem uma atividade mais significativa; sua formação cultural e sua alta renda possibilitaram ações importantes em relação à vida monástica de seu tempo.
     Do ponto de vista da história das mulheres, de particular interesse são as comunidades duplas presididas ou copresididas por uma abadessa, são um sintoma significativo do papel que as mulheres desempenharam nos séculos IX e X.
     A relação de São Rosendo com o monaquismo carolíngio após a reforma de Bento Aniano e os passos dados na beneditização estão bem comprovados. No mesmo contexto, compreendem-se as críticas específicas aos mosteiros duplicados feitas pelo grupo familiar de Ilduara; na documentação de Celanova, há dados que indicam que nesse ambiente a imagem da mulher instável e fraca progride. As atuações nos mosteiros de Santa Maria de Loio e Santa Comba de Bande são apresentadas como expressão do fato de a relação entre mulheres e homens estar na raiz de todo o mal. A reforma deve, portanto, basear-se na sua separação estrita.
     Um novo testemunho muito significativo: Ilduara participou direta e ativamente da fundação do Mosteiro de Celanova; mas ele não conseguiu se integrar a ela durante sua vida. No final dos seus dias, já viúva, para ter acesso à vida monástica, recorreu ao modelo testado em Loio e Porto Marín. E, além do mosteiro masculino de Celanova, muito próximo dele, mas diferente e totalmente separado, fundou o mosteiro feminino de Santa Maria de Vilanova, que abraçou. Em Celanova, ela só entrará depois que morrer.
     Ilduara, entendida como expressão da mulher aristocrática do século X, reflete uma imagem social de notável riqueza. É o que corresponde a uma sociedade cuja organização vem de séculos anteriores e ainda não é a dos séculos medievais. Entre as duas situações, as mudanças em curso são a manifestação de um longo estágio social, que se desenvolve entre o impacto de Roma nas sociedades indígenas e a plena articulação do feudalismo.
     De acordo com a inscrição em seu túmulo, ela morreu em 20 de dezembro de 941 e foi enterrada no mosteiro em um túmulo construído por seu filho.
     Quando seu corpo foi exumado em 1717, apenas dois ossos foram encontrados e seus restos mortais foram reduzidos a cinzas.
     Nos martirológios beneditinos, a Beata Ilduara é celebrada e lembrada no dia 20 de dezembro.

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São Rosendo de Celanova
 
     
Lembremos que foi ele o fundador da grande Abadia de Celanova e que terminou a sua vida como bispo na então já muito famosa Catedral de Santiago de Compostela (968-977). Bom é saber igualmente que a sua prestigiosa família galega pertenceram nada mais do que 10 reis e 7 bispos, assim como uma boa parte das mais importantes figuras do reino ― entre os anos 850 e 1000.
     Este grande santo ibérico, é considerado português, pelos portugueses, por causa do seu nascimento ― mesmo se nesse tempo nem o Condado de Portugal existia ― e por ter sido um dos bispos de Dume, na região de Braga, a mais antiga diocese de Portugal.
     Os espanhóis e, particularmente os galegos, consideram-no espanhol por ter sido o fundador da Abadia de Celanova na Galiza e por fim, bispo da grande diocese de Santiago de Compostela, cuja catedral era já muito visitada, como o provam antigos documentos.
     Segundo nos diz um autor espanhol, S. Rosendo é o único bispo da época alto medieval do qual se possuí uma verdadeira biografia, obra de um monge do mosteiro de Celanova que viveu na segunda metade do século XII, chamado Ordoño, o qual utilizou na sua obra documentos e dados recolhidos durante décadas pelo famoso claustro celanovense.
 
 
Fontes: www.santiebeati.it
María del Carmen Pallarés Méndez
Ilduara Eriz abençoada - España | Academia Real de História (rah.es)

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Santa Lúcia ou Luzia de Siracusa, virgem e mártir - 13 de dezembro

  
   Luzia nasceu na cidade italiana de Siracusa e era de uma família rica e cristã. Era considerada como uma das jovens mais belas de sua cidade. Seu pai morrera quando ela tinha 5 anos e sua mãe, Eutíquia, sofria de graves hemorragias internas.
     Luzia tinha uma grande convicção cristã, que a fez consagrar-se secretamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, e oferecer sua virgindade perpetuamente.
     Ela e a mãe decidiram fazer uma peregrinação à cidade de Catânia onde se encontrava o corpo da grande virgem Santa Águeda, que morrera por recusar adorar os ídolos. O Evangelho pregado na Santa Missa daquele dia foi o da mulher que sofria com hemorragias internas, iguais às da mãe de Luzia. Ela então pensou: "Se aquela mulher ao tocar nas vestes do Senhor ficou curada, será que Santa Águeda não pedirá ao Senhor que cure minha mãe da mesma forma como Ele curou aquela mulher?" Ela então disse à mãe que esperassem todos saírem da igreja para irem rezar junto ao corpo da Santa.
     Nesse interim, Luzia em êxtase sonhou que anjos rodeavam Santa Águeda e que a mesma lhe dizia: "Luzia, minha irmã, por que pedes a mim uma coisa que tu mesma podes conceder?" Luzia saiu do êxtase e foi procurar sua mãe, que lhe disse ter sido curada. Luzia aproveitou esse momento para revelar à mãe que havia feito voto de virgindade a Jesus e que distribuiria seus bens aos pobres. Sua mãe disse: "Luzia minha filha, tudo o que é meu e de seu falecido pai é teu, por isso faça o que queres".
     Elas então começaram a distribuir seus bens aos pobres. Um jovem muito rico e pagão, que se enamorara de Luzia, perguntou à mãe dela o motivo de tanto esbanjamento de dinheiro, e em resposta Eutíquia disse: "Luzia achou bens muito mais valiosos do que esses". O jovem não entendeu que ela falava dos bens celestes.
     Luzia e sua mãe davam mais e mais dinheiro aos necessitados dilapidando a grande fortuna da família, o que fez com que o jovem tivesse certeza que Luzia era cristã. Ele denunciou-a ao prefeito de Siracusa, Pascasio que furioso com a grande fé de Luzia, mandou-a ao Imperador Diocleciano que tentou persuadi-la a se converter aos ídolos. Luzia se mostrou cheia do Espírito Santo diante de Diocleciano.
     Vendo que nada a convertia, Diocleciano mandou enviá-la a uma casa de prostituição, mas foi em vão: ninguém conseguia tirar Luzia dali, nem mesmo uma junta de bois. Os soldados saíram envergonhados por não conseguir tirá-la dali. Era como se seus pés estivessem fincados no chão como raízes de plantas.
     Depois tentaram colocar fogo em seu corpo, mas Luzia fez uma oração e as chamas nada fizeram contra ela e por isso retiraram-na de dentro do fogo. Como nada havia dado certo, foi-lhe aplicado o castigo mais cruel depois da degolação: um soldado, a mando do imperador, arrancou-lhe os olhos e entregou-os em um prato a Luzia. No mesmo instante nasceram-lhe olhos sãos, perfeitos e mais belos do que os outros.
     Vendo que nada a convencia a voltar para o paganismo, deceparam sua cabeça no momento em que Luzia dizia: "Adoro a um só Deus verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade". No mesmo instante sua cabeça rolou pelo o chão. Era 13 de dezembro do ano de 304 D.C. Os cristãos recolheram seu corpo virginal e a sepultaram nas catacumbas de Roma. Sua fama de santidade se espalhou por toda a Itália e Europa e depois para todo mundo, onde hoje é venerada e honrada como a "Santa da Visão".
 
Fonte: Referências: Santa Luzia, virgem, mártir, +303, Evangelizo.org 2001-2010, 13 de Dezembro de 2011


Santa Eulália, Virgem e mártir na Espanha - 10 de dezembro

     
Santa Eulália de Mérida (finais do século III - inícios do século IV), festejada a 10 de dezembro, é com frequência confundida com Santa Eulália de Barcelona, cuja hagiografia é semelhante.
     Santa Eulália é uma das mais famosas santas da Espanha. Os dados sobre sua vida e sua morte são encontrados em um hino escrito em sua honra pelo poeta Prudêncio no século IV. Ela também é cantada na célebre Sequência de Santa Eulália (ou Cantilena de Santa Eulália), o primeiro texto poético em língua francesa de fins do século IX.
     Eulália nasceu em Emerita Augusta no ano 292. Quando completou 12 anos, o imperador Maximiliano decretou a proibição do culto a Jesus Cristo pelos cristãos e ordenou que eles adorassem os ídolos pagãos. A menina sentiu um grande desgosto por leis tão injustas e se propôs protestar junto aos delegados do governo. Sua mãe a levou para viver no campo, pois temia que a jovem pudesse correr algum perigo de morte afrontando a perseguição dos governantes, mas ela deixou seu lar e se dirigiu à cidade de Mérida, indo enfrentar Daciano, o governador.
     Assim narra o martírio de Eulália de Mérida o poeta Prudêncio:
     ''De madrugada, antes da saída do sol, chegou à cidade, e, corajosa, se apresentou diante do tribunal, em meio de cujos leitores bradou aos magistrados: "Dizei-me, que fúria é essa que os move a fazer perder as almas, a adorar aos ídolos e a negar o Deus criador de todas as coisas? Se buscais cristãos, aqui me tendes a mim: sou inimiga de vossos deuses e estou disposta a pisoteá-los; com a boca e o coração confesso o Deus verdadeiro. Isis, Apolo, Vênus e até mesmo Maximiliano são nada: aqueles porque são obra da mão dos homens, este porque adora coisas feitas com as mãos. Não vos detenhais, pois: queimem, cortem, dividam estes meus membros; é coisa fácil quebrar um vaso frágil, porém minha alma não morrerá, por maior que seja a dor".
     Daciano tentou a princípio oferecer presentes e prometeu ajudar a menina se mudasse de opinião, porém ela continuou profundamente convencida de suas convicções cristãs. Enfurecido mandou torturá-la e a submeteu a sofrimentos atrozes. Mas nada fez com que ela deixasse de louvar ao Senhor.
     O poeta Prudêncio narra que ao morrer a santa, as pessoas viram uma pomba mais branca do que a neve que subindo tomou o caminho das estrelas: era a alma de Eulália, branca e doce como o leite, ágil e incontaminada.
     O culto de Santa Eulália se tornou tão popular, que Santo Agostinho fez sermões em honra desta jovem santa. Já em uma antiquíssima lista de mártires da Igreja Católica, o Martirológio Romano, constava a seguinte frase: “em 10 de dezembro se comemora Santa Eulália, mártir da Espanha, morta por proclamar sua Fé em Jesus Cristo”.
     Sepultada em Mérida, capital da Lusitânia, cidade da qual é patrona, parece que algumas das suas relíquias terão ido para Barcelona, donde a confusão com a santa homônima, Santa Eulália de Barcelona. Ela é também patrona da Arquidiocese de Oviedo, em cuja catedral repousam os seus restos.
 
Etimologia: Eulália, do grego Eulálios: “que fala bem”, “eloquente” - Eu = “bem”, Lálios = “falar”.

Santa Narcisa de Jesus Martillo Morán – 8 de dezembro

      Na primeira metade do século XIX as guerras e as convulsões sociais eclodiam em quantidade na América do Sul. Quando Narcisa nasceu, em 29 de outubro de 1832, havia pouco tempo que o Equador tinha-se transformado em república.
     Seus pais Pedro Martillo Mosquera e Josefa Morán eram profundamente católicos, abastados e de ilustre ascendência espanhola, e viviam numa fazenda no povoado de Nobol, província de Guaias. Ela foi a sexta de nove filhos. Faltam dados sobre o início de sua vida, tendo-se apenas a data de sua Crisma, recebida aos sete anos, no dia 16 de setembro de 1839, quando passou a aplicar-se em alcançar a santidade, acostumando-se a dedicar longas horas à oração.
     Uma testemunha da época nos relata: “Narcisa tinha uma irmã, porém, que tremenda irmã! Filhas dos mesmos pais, mas tão diferentes! No meio dos santos surgem também pecadores. Assim saiu a irmã de Narcisa, que foi terrível: gostava dos bailes e tinha muitos namorados. Convidava sua irmã a dançar nas festas que organizava na fazenda, mas ela nunca aceitava. […] Narcisa brilhava por sua ausência, encontrando habilmente o modo de não participar dos bailes nem dos banquetes que sua irmã organizava”.
     As fugas das ocasiões de pecado e das más companhias, bem como as graças místicas que já marcavam a fundo sua alma, tornaram essa santa jovem alvo de um sem-número de incompreensões, zombarias e falatório de seus próprios familiares.
     Narcisa costumava transformar um frondoso araçazeiro existente perto da fazenda em seu oratório para “elevar a alma a Deus”. Certo dia, absorta em seu convívio com Jesus, não se deu conta de que uma chuva torrencial caia sobre a floresta. Seu pai saiu à sua procura, mas regressou para casa com as roupas molhadas, sem encontrá-la. Pouco tempo depois a menina chegou debaixo da chuva, mas, surpreendentemente, suas roupas estavam totalmente secas!
     Num dos aposentos da casa de seus pais, ela instalou sua “capela”, onde passava longas horas rezando diante de uma pequena imagem do Menino Jesus. Muitos anos depois, seu diretor espiritual, Mons. Manuel Medina, revelaria que Nosso Senhor “a consolava quase diariamente com Sua presença”.
     Na adolescência dedicava-se aos trabalhos domésticos, e aos 15 anos aprendeu o ofício de costureira, que exercia em sua casa e nas casas das famílias vizinhas.
     Em 1851, aos 18 anos, seu pai faleceu e ela transferiu-se para Guayaquil, onde moravam seus parentes. Em Guayaquil, viveu em vários lugares. As famílias que a acolhiam ofereciam-lhe confortáveis aposentos, porém, ela sempre os recusava. Em seu ardente desejo de passar despercebida, preferia transformar o sótão dos anfitriões em seu local de oração, de trabalho, de árduas e dolorosas penitências.
     As pessoas que a rodeavam começavam a ter-lhe muito respeito e até veneração.
     Apesar de ter anteriormente usufruído de uma cômoda fortuna, Narcisa dedicou- se ao humilde ofício de costureira em Guayaquil. Passava até altas horas da noite, à luz de um candeeiro, trabalhando para as damas da sociedade.
     Além de uma humildade profunda e sincera, a alma de Narcisa estava adornada com outras virtudes características dos bem-aventurados. Segundo os que a conheceram, ela era “muito amável e alegre”, “de caráter doce e aprazível”, “sumamente boa e obediente”, “muito caritativa”, “bondosa e compassiva”, mas sobretudo “extremamente piedosa”.
     A espiritualidade da humilde costureira se fundamentava em três firmes alicerces: uma arraigada devoção ao Santíssimo Sacramento, ao Coração de Jesus e à Santíssima Virgem, Mãe de Misericórdia. Trazia sempre consigo um terço que desfiou incessantemente ao longo da vida.
     Embora sendo simples leiga, desde muito jovem seguiu os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, somando-se a eles outros propósitos que praticou com todo rigor: “de clausura, até mesmo para não sair de seu quarto, de isolamento, de jejum a pão e água, de comunhão diária, de confissão, de mortificação e de oração”.
     Quando, em 1853, Pio IX beatificou Mariana de Jesus Paredes y Flores, a “Açucena de Quito“,  uma onda de devoção e entusiasmo por  sua vida de intensa penitência e oração cativou muitas almas, entre elas a de Narcisa de Jesus, que se propôs imitá-la. “E o Senhor a favoreceu tanto para cumprir esse propósito, que basta ler a vida de Mariana para conhecer as virtudes de Narcisa”, comenta seu biógrafo.
     Tal como aquela Santa, Narcisa oferecia sacrifícios pela expiação de sua cidade. Chegou a mandar fazer uma cruz salpicada de pregos, sobre a qual deitava todas as noites por quatro horas, antes de se acomodar sobre o chão para um breve repouso. Foi muitas vezes surpreendida por seus familiares e conhecidos na prática de atos como esse. Ao presenciar seus sacrifícios, perguntavam-lhe por que fazia isso. “Vim ao mundo para sofrer”, respondia a Santa com simplicidade, sempre com o rosto sereno e aprazível.
     Deus lhe concedia graças muito peculiares: êxtases após receber Nosso Senhor Jesus Cristo, na Eucaristia, ou simplesmente ao pôr-se em oração. Mas Narcisa foi também muito perseguida pelo espírito infernal. O demônio lhe armava ciladas para afastá-la do caminho de santidade, espancava-a cruelmente, sujava seu quarto, mas ela saía sempre vitoriosa de todas essas vexações.
     Em Guayaquil, Narcisa encontrou uma amiga, Mercedes Molina, venerada como beata, empenhada na direção de um orfanato. Não hesitou em ajudá-la na formação das crianças e na confecção de indumentárias. As duas amigas assistiam à Missa cotidiana e moravam no orfanato.
     Segundo testemunhas da época, "Narcisa era muito bela, alta e bem proporcionada; sua cabeleira loura, abundante e anelada, chamava a atenção das pessoas; era muito estimada na cidade. Como caráter, era muito amável e em certos momentos dava demonstração de sua alegria cantando, enquanto sua amiga tocava a viola. Era muito caridosa".
     Em 1868, o frade franciscano Pedro Gual, nessa época, comissário e visitador geral dos franciscanos na América do Sul, que se tornara seu diretor espiritual, convidou Narcisa a transferir-se para Lima, onde ela ficaria hospedada no convento dominicano de Patrocínio. O capelão daquele mosteiro tornou-se seu confessor até a sua morte.
     Naquele convento ela intensificou suas orações e penitência. Certo dia, quando fazia a ação de graças depois de ter comungado, apresentou-Se diante dela o Rei dos reis, envolto numa inefável e deslumbrante claridade. Com muita doçura e um suave sorriso, Nosso Senhor Jesus Cristo “tirou da cavidade do peito o Seu Coração”, aproximou-o dos lábios da Santa e o deu a beijar, dizendo-lhe: “Jamais concedi igual graça a uma alma”.
     Em 24 de setembro de 1869, apareceram-lhe o Salvador e Nossa Senhora. Pediram-lhe que manifestasse um desejo, alguma graça especial que quisesse obter. Santa Narcisa, movida pela caridade, pediu por seus próximos, mas rogou também a graça de ir logo para o Céu. Seus pedidos foram atendidos: após essa revelação sobrenatural, ela caiu enferma, com agudas febres que aumentavam a cada dia.
     Poucas horas antes de seu falecimento, na noite do dia 8 de dezembro de 1869, ao despedir-se das Irmãs, como que zombando, disse que partiria para uma longa viagem. Um pouco antes da meia-noite, a Madre que devia fazer o turno de vigília percebeu que a cela de Narcisa estava misteriosamente iluminada, e dela provinha um perfume fortíssimo. A religiosa foi verificar o que ocorria e "ao abrir a porta do quarto de Narcisa, viu a mesma claridade que se notava do lado de fora e sentiu que ali a fragrância era maior; ela tinha falecido, abrasada pela febre de seu corpo e, sobretudo, pelo ardor do amor divino". Tinha apenas 37 anos.
Exumação do seu corpo
incorrupto
     Seus restos mortais irradiavam uma intensa luz e exalavam um discreto perfume. Ao ser exumado anos depois seu corpo apareceu incorrupto com um sorriso esboçado nos lábios.
     Foi beatificada por João Paulo II em 25 de outubro de 1992. A sua canonização ocorreu em 12 de outubro de 2008, sendo a quarta pessoa oriunda da América Latina a ser canonizada por Bento XVI e a terceira santa equatoriana.
     Seus santos despojos se encontram no Santuário que ostenta seu nome, na sua cidade natal, Nobol, no Equador. Por ter-se santificado tanto no campo como na cidade, em sua pátria como fora dela, muitos migrantes têm especial devoção por ela.
 


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Walsingham, a Loreto Inglesa

 
Na. Sra. de Walsingham

     Walsingham é o principal título com que Nossa Senhora há cerca de mil anos vem aspergindo suas graças no Reino Unido, a partir do priorado agostiniano situado na região de mesmo nome, fundado em 1016. 
     Localiza-se ele a poucos quilômetros do Mar do Norte, numa das renomadas campinas verdejantes e ajardinadas da Inglaterra, no território de Norfolk, cujos Duques constituíram uma grande estirpe que manteve a fidelidade a Roma, em meio à generalizada apostasia anglicana. Em 1016 já vivia Santo Eduardo o Confessor, e poucos anos antes havia reinado seu tio, Santo Eduardo o Mártir.
     Desde o início, os insignes favores concedidos por Nossa Senhora naquele santuário tornaram-no objeto de frequentes peregrinações, que partiam de toda a Inglaterra e até do Continente europeu. Ainda no século atual é conhecido como Palmers’Way (Via dos Peregrinos) o principal caminho que conduz a Walsingham, através de Newmarket, Brandon e Fakenham.
     Muitas foram as dádivas de terras, prebendas e igrejas obsequiadas aos cônegos agostinianos de Walsingham em virtude da grande devoção mariana arraigada na população britânica, e dos muitos milagres alcançados através das súplicas dirijas a Nossa Senhora de Walsingham. O Rei Henrique III para lá peregrinou em 1241; Eduardo I, em 1280 e 1296; Eduardo II, em 1315; e Henrique VI, em 1455.
     Eduardo I nutria grande devoção a Nossa Senhora de Walsingham. Atribuiu a Ela o fato de se ter salvado de um desastre. Certo dia, num intervalo entre suas ocupações, jogava xadrez quando subitamente lhe veio a ideia de se levantar do assento, sem explicar por que lhe ocorria tal impulso. Um instante depois grande pedra desprendeu-se da abóbada da sala onde estava o rei e caiu sobre o lugar que acabava de deixar. Tal fato fez com que redobrasse o amor que votava à Virgem.
     Henrique VIII, em 1513, muito antes de sua apostasia, chegou a peregrinar descalço a Walsingham. Em 1511, por exemplo, tal era o prestígio do santuário mariano que o ímpio humanista Erasmo de Rotterdam foi visitá-lo, partindo de Cambridge, em cumprimento de um voto. Terá sido um resíduo de fé nele existente ou uma jogada para prestigiar-se junto aos católicos ingleses? Qualquer que tenha sido a causa da peregrinação, não impediu que o humanista deixasse como oferenda a Nossa Senhora louvores escritos em versos gregos. Anos depois, num opúsculo, Erasmo comentou a riqueza e a magnificência de Walsingham.
     De modo trágico (embora coerente com seus pérfidos princípios) a Revolução protestante não poupou o santuário: seus tesouros foram espoliados, destruiu-se o priorado, foi desmantelada a igreja. Hoje, felizmente, está ela restaurada atraindo um fluxo considerável de fiéis.
Igreja católica de Na Sra de Walsingham
     Qual a origem dessa admirável devoção? Nossa Senhora apareceu à nobre Lady Richeldis de Faverches, mostrando-lhe misticamente a Santa Casa de Nazaré, para que, tomando-lhe as medidas exatas, edificasse uma igual em Walsingham. Como tem ocorrido em outros países e épocas, a vidente ofereceu certa resistência para acreditar em algo tão extraordinário, como seja uma inesperada incumbência vinda diretamente do Céu. Assim, Nossa Senhora teve que repetir o pedido em três ocasiões diferentes, a fim de que Richeldis pusesse mãos à obra. Seu filho, Geoffrey, e o sucessor deste, Richard, Duque de Gloucester, solicitaram e obtiveram que a Ordem de Santo Agostinho definitivamente cuidasse do culto da Santíssima Virgem no lugar por Ela escolhido.
     Quando Lady Richeldis começou a construção da capela, observou certa manhã, com espanto, olhando para o prado, dois trechos planos do terreno misteriosamente não atingidos pelo orvalho. Aquelas duas partes correspondiam exatamente às dimensões da planta da Santa Casa de Nazaré que Lady Richeldis havia medido durante sua visão.
     É digna de nota a semelhança do fato prodigioso presenciado por Lady Richeldis com a demarcação do terreno da Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e mais ainda com o milagre do véu de Gedeão, relatado no Antigo Testamento.
     Em 2011 o Santuário comemorou 950 anos e recebeu peregrinos do mundo inteiro. Embora a festa de Nossa Senhora de Walsingham seja comemorada no dia 24 de setembro, queremos prestar esta homenagem a Ela antes do término deste ano, rogando a Ela que obtenha a conversão daquele povo que ela favoreceu com graças insignes.
Interior da igreja católica em honra de
Nossa Senhora de Walsingham

 
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Fontes:
1. The Catholic Encyclopaedia, Londres, 1912, t. XV, p. 543.
2. Calendrier Marial, Constantinopla, 1935, p. 362.
3. Edésia Aducci, Maria e seus gloriosos títulos, Florianópolis, 1958, 1ª ed., Editora “Lar católico”, pp. 97-99.
4. Chamber’s Encyclopaedia, William & Robert Chambers, Limited, Londres e Edimburgo, 1895, p. 540.
5. Wilhelmine Harrod, Norfolk A. Shell Guide Londres, 1982,4ed., p. 168.
6. Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Senor Jesucristo según los Evangelios. Editorial Difusión, S. A., Tucumán, 1859, pp. 145-147.
Revista Catolicismo http://www.catolicismo.com.br/

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Serva de Deus Henriqueta Aymer de la Chevalerie, Cofundadora – 23 de novembro

     
Henriqueta Aymer de la Chevalerie nasceu no dia 8 de novembro de 1767, numa família aristocrática, no pequeno Castelo de Aymer, em St. Georges-de-Noisne, perto de Poitiers, França. Tinha dois irmãos, um mais velho e outro mais novo. Quando criança, ela passou um tempo na Abadia da Santa Cruz de São Bento, em Poitiers, para melhor se preparar para sua primeira comunhão. Seu pai morreu quando ela tinha onze anos.
     Vivendo na sociedade francesa nos últimos anos do "Antigo Regime", Henriqueta recebeu uma educação nos valores religiosos da tradição francesa e na formação um tanto superficial considerada apropriada para uma mulher. Em sua juventude, sua vida centrou-se em eventos glamourosos da aristocracia.
     Após a morte do Rei Luiz XVI, na guilhotina, o terror se impõe em toda a França. Por ter escondido em sua casa sacerdotes perseguidos pela Revolução Francesa, ela foi presa em outubro de 1793 junto com sua mãe.
     Na prisão, iniciou uma vida religiosa. Foi libertada da prisão em setembro de 1794, aos vinte e oito anos de idade. Após sua libertação, ela se juntou à Associação do Sagrado Coração de Jesus, que foi fundada em 1792 por Susana Geoffroy e algumas companheiras. A Associação era composta por um grupo de mulheres que se reuniam secretamente para rezar e ajudar os sacerdotes que viviam escondidos.
     Henriqueta pertencia a um pequeno grupo chamado "Os Solitários" dentro da Associação do Sagrado Coração. Esse grupo tornou-se mais atraído a viver uma vida religiosa. Lá, conheceu o Padre Pierre Coudrin e acabou atraída pelos mesmos ideais do seu confessor. Mantiveram longas conversações e chegaram à conclusão de que era hora de construir uma nova congregação religiosa. Eram ambos muito jovens (ela com 30 anos e ele com 29), mas sabiam o que queriam e o que Deus esperava deles.
     No dia 23 de junho de 1797, Festa do Sagrado Coração de Jesus, Henriqueta vendeu toda a herança de seu pai e comprou, em segredo, uma grande propriedade na Rua Hautes-Treilles, em Poitiers, que seria a primeira casa da Congregação dos Sagrados Corações.
     No dia de Natal de 1800, ela e o Pe. Coudrin fizeram votos solenes e esse dia pode ser considerado a data de fundação da Congregação. Madre Aymer de la Chevalerie liderou o ramo feminino da Congregação.
     Em 1805, a Congregação mudou-se de Poitiers para Paris, na Rue de Picpus, daí o nome pelo qual a Congregação é conhecida. Esta tornou-se a Casa Mãe. A imagem de Nossa Senhora da Paz, venerada na Congregação, foi ali acolhida em 6 de maio de 1806.
     Henriqueta Aymer mostrou gentileza e bondade para com as irmãs e passou a ser chamada de "La bonne mère", ou seja, a boa mãe. Ela fez mais de vinte fundações em diferentes partes da França, participou da formação das irmãs e apoiou as superioras que nomeou para as comunidades locais.
     Sua liderança inata lhe permitiu crescer como um Fundadora, mas ainda mais como Mãe. Sua bondade aliada a um caráter forte e sensível ao outro, levou-a a ser a Mãe e Fundadora naquele rápido crescimento do ramo das Irmãs.
     Um dos dilemas que nos apresenta a vida da "Boa Mãe" é a conjunção nela de aspectos aparentemente contraditórios. Uma profunda vida mística à conduz a horas de adoração, uma união contínua e fenômenos místicos que ela é incapaz de explicar, mas que o Pe.  Coudrin aproveitou para descobrir os planos de Deus para a jovem Congregação. Por outro lado, uma atividade incansável, mais de 20 fundações em toda a França, formação de Irmãs, apoio aos chefes das comunidades; preocupação prática e de todos os aspectos materiais dos dois ramos. Uma maternidade transbordando de carinho e cuidado. Se acrescentarmos a isso sua necessidade incompreensível de penitência por meios agora considerados excessivos, suas viagens e suas longas horas de adoração à noite, a vida da Boa Mãe é "um constante milagre", segundo uma afirmação do Pe. Coudrin.
     Sua correspondência com Irmãos e Irmãs, suas breves "mensagens" ao Bom Pai, Pe. Coudrin, e os testemunhos nos falam sobre uma personalidade forte e sensível, uma mulher de ação, prática e contemplativa, como os grandes místicos. Era uma pessoa de personalidade rica, mulher de Deus e mãe de muitos.
     Em 4 de outubro de 1829, ela sofreu um acidente vascular cerebral e ficou paralisada do lado direito, e faleceu em 23 de novembro de 1834.
     O processo de beatificação foi iniciado em 11 de junho de 1927, concedendo-lhe o título de Serva da Deus.
     As Irmãs de Picpus compartilham o mesmo carisma dos Padres da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria e os ajudam em seu apostolado missionário, seu objetivo é a propagação da devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, são dedicadas ao ensino e à catequese para jovens e adultos, e praticam adoração eucarística com espírito reparador.
     Elas estão presentes na Bélgica, França, Irlanda, Itália, Holanda, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Equador, México, Paraguai, Peru, RD do Congo, Moçambique, Índia, Indonésia, Filipinas.
     O Generalato está em Roma. Em 2017, a congregação tinha 531 irmãs em 83 casas.
 
Fontes:
«Los Misioneros del Sagrado Corazón presentes en muchos países del mundo entero». www.mscperu.org. Consultado em 15 de outubro de 2020
Henriette Aymer de La Chevalerie – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
 
Nota:
30 de agosto de 2023
     Dia de fé, homenagens e muitas orações para reverenciar a memória do Beato Padre Eustáquio, dono de uma legião de devotos na capital e no interior de Minas Gerais. Desde cedo, no Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, mais conhecido por Igreja Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, os fiéis participam das missas, que, dessa vez, têm um motivo especial de reverência à memória do beato. Nesta quarta-feira (30/8), são lembrados os 80 anos da morte do religioso holandês, que viveu em BH e na Região do Alto Paranaíba (MG), e muitos fazem preces para o término do processo de canonização, em curso no Vaticano, que tornará o beato um santo da Igreja Católica.
     O Venerável Servo de Deus Padre Eustáquio van Lieshout, presbítero da Congregação dos Sagrados Corações foi inscrito na lista dos Beatos ou Bem-Aventurados pelo Papa Bento XVI, que concedeu também que a cerimônia litúrgica fosse celebrada no Brasil e presidida pelo Cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação das Causas dos Santos à época, que leu o decreto, assinado pelo Pontífice.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Santa Hilda de Whitby, Abadessa, Padroeira da Cultura e da Poesia - 17 de novembro

 
   
Não se sabe o local de nascimento de Hilda, mas, de acordo com São Beda o Venerável, foi no ano de 614. Era a segunda filha de Hereric, sobrinho de Eduino, primeiro rei cristão da Nortúmbria (atual Inglaterra), e de sua esposa Bregusvita. Sua irmã mais velha, Heresvita, se casou com Etelrico, irmão do rei Anna da Anglia Oriental. Quando era apenas um bebê, seu pai foi envenenado no exílio, na corte do rei de Elmet (hoje em dia West Yorkshire). Presume-se que ela cresceu na corte de Eduino, na Nortúmbria.
O batismo de Hilda
     Em 12 de abril de 627, Festa da Páscoa, o rei Eduino foi batizado junto com sua corte, que incluía Hilda, na pequena capela de madeira construída, especialmente para a ocasião, próximo do local em que está hoje a Catedral de York. A cerimônia foi oficializada pelo monge bispo Paulino, que viera de Roma com Agostinho (Santo Agostinho de Canterbury). Ele acompanhava Etelburga, uma princesa cristã que voltava para Kent para casar-se com Eduino.
     Desconhecem-se os detalhes da vida de Hilda de 627 a 647. Parece que depois da morte de Eduino em uma batalha, em 633, ela foi viver com sua irmã. São Beda resume sua história num ponto chave de sua vida quando, na idade de 33 anos, ela decidiu ir viver em um convento de Chelles, na França, acompanhando sua irmã que enviuvara. Santo Adriano, bispo de Lindisfarne, dissuadiu-a de tal propósito e aconselhou-a a voltar para a Nortúmbria e viver como monja beneditina.
Os mosteiros de Santa Hilda
     Não se sabe exatamente onde Hilda iniciou sua vida de monja, apenas que ela se fixou com algumas companheiras junto ao Rio Wear. Elas aprenderam as tradições do monaquismo celta trazidas pelo Bispo de Iona, Santo Adriano. Depois de um ano, Santo Adriano nomeou Hilda a segunda Abadessa de Hartepool. Não restam vestígios desta abadia, porém o cemitério monástico foi encontrado próximo da atual Igreja de Santa Hilda.
     Em 657, Hilda fundou com suas rendas um novo mosteiro duplo em Whitby (então conhecido como Straneshalch), onde permaneceu o resto de sua vida até sua morte em 680. (Whit = Pentecostes; by = mantido por). Whitby era então a capital da Nortúmbria. Hilda governou os dois mosteiros com grande prudência durante 30 anos.
Vida monástica em Whitby
     Em Whitby erguem-se impressionantes ruínas de uma abadia beneditina do século XII. Entretanto, não foi este o edifício que Hilda conheceu. Evidências arqueológicas mostram que o seu mosteiro tinha estilo celta, com seus monges vivendo em pequenas casas para duas ou três pessoas. Na tradição dos mosteiros duplos, como os de Hartepool e Whitby, os monges e as monjas viviam separados, porém podiam rezar juntos na Missa.
     São Beda nos conta que as ideias originais do monaquismo eram seguidas com rigor na abadia de Hilda. Todas as propriedades e bens eram comuns, praticavam-se os conselhos evangélicos, especialmente a paz e a caridade, todos tinham que estudar as Sagradas Escrituras e praticar obras de caridade. Entretanto, o número de monges e monjas que viviam em Whitby não é conhecido.
     Cinco monges de Whitby se tornaram bispos e um foi venerado como santo, São João de Beverly. A rainha Eanfreda de Deira e sua filha Alfreda se tornaram monjas, e juntas foram abadessas de Whitby depois da morte de Hilda.
     São Beda descreve Santa Hilda como uma mulher de grande energia, uma audaz e eficaz administradora e mestra. Gozava da reputação de grande sabedoria por toda a Inglaterra, e todas as grandes personalidades a consultavam: reis, príncipes e bispos. Entretanto, ela também se preocupava com as pessoas comuns, como Caedmon, um pastor e bardo religioso. Santa Hilda teve o dom da profecia e foi celebrada por todos os escritores e historiadores ingleses tanto pela sabedoria divina que possuía como pela santidade altíssima. Mesmo tendo um temperamento forte, ela inspirava afeto. São Beda disse: "Todos os que a conheciam a chamavam de 'mãe' por causa de sua grande devoção e graça".
O Sínodo de Whitby
     Na segunda metade do século VI, os monges irlandeses, discípulos de São Patrício e São Columbano, chegaram à Inglaterra e fundaram uma série de mosteiros, entre eles o de Iona. Paralelamente, Roma havia enviado para lá vários monges, entre eles Santo Agostinho de Canterbury, com idêntica missão de evangelização. Esses empreendimentos missionários acabaram se chocando devido a diferenças que existiam entre eles de ritual, de estilo e de organização.
     A Nortúmbria ficou durante alguns anos sem saber a quem dar razão, se aos monges irlandeses ou aos romanos. Então, o rei Oswin da Nortúmbria decidiu resolver a questão convocando o Sínodo de Whitby, o que aconteceu no ano de 664. São Beda o Venerável se refere a esta reunião em sua História eclesiástica do povo inglês.
     O rei Oswin escolheu o mosteiro de Santa Hilda como sede para o Sínodo de Whitby, o primeiro sínodo da Igreja em seu reino. A maioria dos presentes, incluindo Santa Hilda, seguiam as tradições do Cristianismo celta, porém, vários no reino, incluindo a rainha Eanfreda e sua filha, a monja Alfreda, que vivia com Hilda no mosteiro, seguiam as tradições da Igreja Romana. Convencidos por São Vilfrido, um mensageiro de Roma, decidiu-se optar pelas tradições romanas. Santa Hilda aceitou esta decisão e aderiu às novas regras dando um bom exemplo de devoção e de obediência.
     Muitas das tradições celtas continuaram em uso, porém pontos essenciais como festas e celebrações foram mudados. São Cutberto de Lindisfarne, um Santo da Nortúmbria, demonstrou com sua vida como as tradições beneditinas e celtas podem ser combinadas efetivamente.
Morte de Santa Hilda
     Santa Hilda faleceu em 17 de novembro de 680 ao cabo de longa e penosa doença que durou seis anos. Não cessou, entretanto, de trabalhar durante esses anos. No último ano de vida ela fundou outro mosteiro em Hackness. Ela entregou a alma a Deus depois de receber o viático, e, segundo a tradição, os sinos do mosteiro de Hackness tocaram no momento de sua morte.
O legado de Santa Hilda
     As sucessoras de Santa Hilda foram Eanfreda, viúva do Rei Oswin, e sua filha Alfreda. Depois das mortes destas, não se sabe mais nada da Abadia de Whitby, além do fato de ter sido destruída pelos invasores daneses em 867. Depois da invasão da Inglaterra por Guilherme I, monges vindos de Evesham fundaram outra abadia beneditina para homens. E continuou existindo até a dissolução dos mosteiros por Henrique VIII em 1539.
     A partir do século XIX até hoje, surgiu no mundo todo um renovado interesse e uma grande devoção por Santa Hilda. Com o crescimento da educação feminina, muitas escolas e universidades foram fundadas em sua honra. A Universidade Santa Hilda, em Oxford, recebeu este nome em sua homenagem. Santa Hilda é considerada uma das padroeiras da educação e da cultura, inclusive da poesia, graças ao apoio que dedicava a Caedmon.
Etimologia: Hilda, do alemão, abreviatura de nomes como Hildegarda. Do alto alemão antigo Hiltia: “combate, guerra”, também se traduz por “guerreira”.
 
Fontes: Sant' Ilda (santiebeati.it)
Hilda de Whitby - frwiki.wiki
ENCICLOPÉDIA CATÓLICA: Santa Hilda (newadvent.org)
 
 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Beata Lúcia Brocadelli, ou de Narni, religiosa dominicana – 15 de novembro

Martirológio Romano: Em Ferrara, de Emilia, a Beata Lúcia Brocadelli, religiosa, que tanto no matrimônio como no mosteiro da Ordem Terceira Dominicana suportou com paciência muitas dores e humilhações.
 
     Nicolás Brocadelli, tesoureiro em Narni de Úmbria na segunda metade do século XV, se casou com Gentilina Cassio. Deus lhes concedeu onze filhos, dos quais a maior foi Lúcia, que nasceu em Narni, em 13 de novembro de 1476.
     Desde muito pequena Lúcia decidiu consagrar-se a Deus. Aos quatro anos, sua maior alegria era se entreter com uma graciosa imagem do Menino Jesus que ela chamava de “Seu Pequeno Cristo”. Com doze anos fez voto de perpétua virgindade. Mas seu pai faleceu e os tutores da jovem, que viam as coisas de outro modo, trataram de casá-la a força aos 14 anos. Lúcia lançou ao solo o anel de compromisso, esbofeteou o pretendente e saiu correndo da sala. No ano seguinte, foi apresentado outro pretendente, um tal Conde Pedro de Alessio. Lúcia a princípio resistiu, mas uma aparição da Ssma. Virgem e os conselhos de seu confessor a convenceram de que devia ceder.
     A Sagrada Congregação de Ritos determinou em 1729 que no dia da festa da beata se rezasse a missa e o ofício das virgens, o que prova que aceitou a tradição de que Pedro e Lúcia viveram como irmão e irmã. Após três anos de casamento, Pedro deixou sua esposa em liberdade para fazer o que quisesse.
     A beata voltou para a casa de sua mãe, tomou o hábito da ordem terceira de São Domingos e ingressou em uma comunidade de terceiras regulares em Roma. Em 1494 entrou na Ordem Terceira Dominicana de Narni. Foi a Roma e depois a Viterbo.
     Deus lhe concedeu ali, em 25 de fevereiro de 1496, a graça dos estigmas e uma participação sensível na Paixão de Cristo. Durante os três anos que esteve em Viterbo, suas feridas sangravam todas as quartas e sextas-feiras, e, portanto, não podia ocultar este fato. O inquisidor do lugar, o mestre do sacro palácio, um bispo franciscano e o médico do papa Alexandre IV, examinaram os estigmas e ficaram convencidos de que se tratava de um fenômeno sobrenatural. O Conde Pedro foi vê-los e ficou tão convencido que, segundo é relatado, ingressou na Ordem de São Francisco.
     A fama da Beata Lúcia chegou aos ouvidos do Duque de Ferrara, Hércules I, que recordava com veneração Santa Catariana de Siena e era muito amigo das Beatas Estefânia Quinzani, Colomba de Rieti e Osana de Mântua. Com a permissão do papa e o consentimento de Lúcia, o duque construiu um convento para esta em Ferrara.
     Como o povo se opunha a que a beata saísse de Viterbo, ela teve que ser tirada ocultamente em um cesto de roupa no lombo de uma mula. Lúcia, que tinha apenas 23 anos, não tinha aptidão para dirigir uma comunidade. De outro lado, Hercules d’Este, que era um homem que tinha planos amplos e havia gastado somas enormes na construção e decoração do convento, queria que nada menos de cem religiosas ocupassem o convento. Pediu a Lucrécia Borgia (que acabava de converter-se em sua nora) que o ajudasse a reunir as religiosas. Como vinham monjas de diferentes conventos e nem todas eram muito virtuosas, cada vez se tornou mais difícil para Lúcia exercer a função de governo, até que finalmente foi deposta do cargo.
     A Beata foi sucedida por Maria de Parma, que não era terceira, mas dominicana de uma ordem segunda a que toda a comunidade queria se filiar. Em 1505 o protetor de Lúcia faleceu e a beata deixou de ser a “mística da moda” protegida pelo duque de Ferrara e caiu numa obscuridade total que durou 39 anos.
     Além disso, a nova superiora a tratou com uma severidade que se assemelhava à perseguição: não a deixava ir ao parlatório, proibiu-a de falar com alguém a não ser o confessor que lhe havia designado e mandou que uma das religiosas a vigiasse constantemente. Foi nesses anos que a Beata Lúcia, desprezada pelas religiosas do convento que com tanto trabalho havia vindo fundar em Viterbo, se santificou verdadeiramente. Jamais se ouviu uma palavra sua de impaciência, nem sequer quando estava doente e abandonada.
     A beata havia caído em um tal esquecimento, que quando morreu, no dia 15 de novembro de 1544, o povo de Ferrara ficou atônito ao tomar conhecimento de que ela havia vivido até então, pois acreditavam que estivesse morta há muito tempo...
     O culto a Beata logo se tornou popular. Suas relíquias foram transladadas a um local mais público e lhe foram atribuídos muitos milagres. O culto foi confirmado em 1º de março de 1710 por Clemente XI.
     Existem muitos documentos sobre os primeiros anos da vida mística de Lúcia. Edmundo Gardner, em sua obra Dukes and Poets in Ferrara (1904), refere graficamente os principais incidentes relacionados com a beata (pp. 366-381; 401-404 y 465-467). Este relato se baseia na obra de L. A. Gandini, Sulla venuta in Ferrara della beata Lucia da Narni (1901), e a Vita della beata Lucia di Narni de Domenico Ponsi (1711).
     Em 1740 um curioso suplemento desta obra foi publicado, sob o título Aggiunta al libro della Vita della B. Lucia. Há nele uma biografia dos primeiros escritos sobre Lúcia, mas o livro se refere à pretensão dos franciscanos de Maiorca de suprimir uma imagem em que se representava a beata com os estigmas. Os franciscanos alegavam que Sixto IV (que também era franciscano) havia proibido sob pena de excomunhão que se representasse os santos com os estigmas, exceto São Francisco.
     A causa foi levada a Roma em 1740, prevalecendo a causa dos dominicanos. O duque Hercules de Ferrara havia investigado pessoalmente muito a fundo a questão dos estigmas de Lúcia; a carta que escreveu sobre isto pode ser vista no folheto “Spiritualium personarum facta admiratione digna” (1501). Se trata de um documento muito interessante. Ha outra carta do duque em Narratione della nascita, etc., della b. Lucia di Narni (1616) de G. Marcianese.
 
Fonte: «Vidas de los santos de A. Butler», Herbert Thurston, SI
http://www.eltestigofiel.orgindex.php?idu=sn_4180
Beata Lucia Broccadelli (santiebeati.it)

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Beata Edvige Carboni, a mística que lutou pelas almas do Purgatório

     
     Edvige Carboni nasceu em Sássari na noite de 2 de maio de 1880, a segunda de seis filhos de João Batista Carboni (m. 1937) e Maria Domenica Pinna (m. 1910). Recebeu o batismo dois dias depois e a confirmação em 1884, de Mons. Eliseu Giordano; fez voto de castidade em 1885. Ela ingressou na escola em 1886 e terminou três séries de educação.
     A mãe recordava que no nascimento de Edvige tinha visto uma hóstia luminosa na custódia e dizia à filha: "Se eu morrer, deves receber a Sagrada Comunhão todos os dias e deves ser muito boa, porque Jesus, alguns momentos depois de você nascer, mostrou-me uma custódia, como já lhe disse”. Outro fenômeno estranho que ocorreu após seu nascimento foi uma marca sobrenatural da Cruz em seu peito, formada de sua própria carne.
     Sua mãe a ensinou a bordar quando criança e ela trabalhava com seu pai no ramo de bordados. Também passou uma temporada no convento das Irmãs de São Vicente em Alghero, onde as freiras ministravam um curso de bordado. A saúde frágil de sua mãe fez com que ela cuidasse de seus irmãos mais novos, bem como executasse outras tarefas domésticas.
     Na casa da avó havia uma réplica do quadro de Rafael da Virgem Maria com o Menino Jesus; ela subia numa cadeira para alcançar a imagem e dizia à Mãe Santíssima: "Minha mãe, eu te amo. Dê-me teu filho para que eu possa brincar com Ele". Ela foi obrigada a fazer as compras devido aos problemas de saúde de sua mãe, apesar de ter medo de fazê-las à noite. Mas seu Anjo da Guarda apareceu para ela e disse-lhe: "Não tenhas medo. Estou contigo e te mantenho em boa companhia".
     Edvige fez sua primeira comunhão em 1891. Aos 15 anos ela queria se tornar freira, mas sua mãe desaprovou e ela interpretou essa desaprovação como um sinal da vontade de Deus. Em 1895 nasceu sua irmã Paulina; naquele ponto ela tinha irmãos e nenhuma irmã. A partir de 1896, suas visões de Jesus e Maria tornaram-se cada vez mais frequentes.
     Tornou-se professa da Ordem Terceira de São Francisco em 1906 e pertencia a uma associação conhecida como Amigos de Santa Teresinha do Menino Jesus; ela começou a registrar seus pensamentos em um diário espiritual. Sua mãe morreu em 1910 e suas responsabilidades triplicaram.
     Em 1911, aos 31 anos, Cristo lhe teria dito: "Edviges, quero que você seja a efígie da minha paixão". Assim, ela recebeu os estigmas da Paixão do Senhor em seu corpo. Este fenômeno místico não pôde permanecer oculto, causando desconfiança e calúnias das pessoas.
     Ela anotou em seu diário espiritual de 16 de novembro de 1938 como recebeu os estigmas - pois queria sofrer pela glória de Deus - enquanto registrava em seu diário em 12 de junho de 1941 seu primeiro encontro com São João Bosco. O Santo chegou a convidá-la a se inscrever como salesiana em 25 de setembro de 1941. Edvige também recebeu a transverberação e registrou um caso de encontro demoníaco em dezembro de 1941. Suas experiências com o demônio tornaram-se mais agressivas com o passar do tempo. Em uma ocasião, ela foi chutada nas pernas e em outra suas obturações de ouro foram roubadas. Certa vez, ela ficou confinada à cama por um tempo depois que um martelo a atingiu nos joelhos.
     A Beata teve uma série de visões de santos: Santa Rita de Cássia - durante uma peregrinação ao santuário da santa; Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Gema Galgani - a quem ela admirava; ela também participou de sua canonização em 1940; São Paulo, Santa Catarina de Siena - em uma peregrinação de 9 de abril de 1950 ao seu santuário; São Francisco de Assis, e outros.     
     Edvige também teve visitas de São Padre Pio de Pietrelcina em suas visões, apesar de o sacerdote estar vivo. Padre Pio conhecia Edvige e se referia a ela como uma "santa". Ela também conheceu São Luís Orione.
     Ela começou a experimentar a bilocação em 1925 e isso se tornou maior durante a 2ª. Guerra Mundial.
      Em 1929, sua irmã Paulina encontrou um emprego como professora em Marcellina Scalo - uma pequena cidade entre Roma e Tivoli. Seu pai não queria que Paulina fosse embora sozinha, então toda a família se mudou da Sardenha para o continente. Em 1934 ela se mudou para Albano Laziale até a morte de seu pai em 1937, e finalmente se estabeleceu em Roma em 1938. A partir de 1941 passou a fazer parte da Confraria da Paixão de Scala Santa em Roma. Em 11 de agosto de 1941, ela escreveu sobre Jesus permitindo-lhe uma visão do céu. 
   
Edvige passou os últimos quatorze anos de sua vida morando com sua irmã Paulina em Roma. Seu último diretor espiritual foi o padre passionista Inácio Parmeggiani. Seu tempo em Roma a viu ensinar catecismo enquanto cuidava dos pobres e enfermos. Por sua piedade, recebeu elogios do Servo de Deus João Batista Manzella e de padres como Ernesto Maria Piovella e Felice Cappello.
     Ao longo da vida, Edvige precisou cuidar da mãe, da tia, da avó, do pai e, por fim, da irmã Paulina. Sempre o fez com amor e paciência. Ela particularmente amou os pobres. Se algum pobre batesse à sua porta enquanto ela comia, ela daria a ele sua comida. Edvige costumava dizer: "Os pobres são meus amigos mais queridos. Eu daria tudo por eles, brincos, anéis... Eu os amo porque Jesus os ama. No Céu veremos todo o bem que fizemos aos pobres. Eles nos abrirão as portas do Céu".
     Em 17 de fevereiro de 1952, ela se levantou de manhã para assistir à Missa e voltou para casa para uma refeição antes de voltar à igreja para ouvir o padre Lombardi pregar um sermão. Ela e a irmã chegaram em casa de trem às 20h30, quando ela reclamou que não estava se sentindo bem. Sua irmã chamou um médico e dois padres de sua paróquia, que lhe ministraram os últimos sacramentos. Edvige morreu de angina de peito às 22h30 e foi sepultada em Albano Laziale, onde já estavam enterrados seu irmão Galdino e sua esposa.
     Seus restos mortais em um caixão branco foram exumados em outubro de 2015 para inspeção canônica como parte da causa de canonização. Seus restos mortais foram realocados como resultado disso.
Alma vítima para a conversão dos comunistas
     Jesus tinha escolhido Edvige para ser uma alma vítima e ela se ofereceu generosamente para a salvação de outros. Jesus pediu-lhe muitas orações e sacrifícios porque muitas almas corriam o risco de condenação eterna.
     Ela escreveu: "Depois da Santa Comunhão, vi três cruzes. Jesus estava no meio, as outras duas estavam vazias. Então Dom Bosco veio até mim e disse: "Filha, Jesus me deu a tarefa de encontrar almas vítimas para reparar por muitas ofensas que Ele recebe constantemente, especialmente por causa da imodéstia e para que haja paz entre as nações.   Filha, depois de procurar um tanto, eu encontrei você e Gracia. Essas duas cruzes serão uma para você e uma para ela" (diário, 12 de junho de 1941). Gracia era uma das amigas próximas de Edvige, que aos 33 anos consagrou-se a Jesus e ofereceu-se como alma vítima a fim de obter a paz durante a 2ª. Guerra Mundial.
     Jesus pediu a Edvige que se oferecesse como vítima especialmente pelos comunistas. Ela escreveu: "Sonhei com a Virgem Maria que me disse: 'Minha filha, promete-me sofrer toda tribulação, rejeição, desprezo e sofrimento pela conversão dos comunistas".
     Um dia Irmã Gabriela Sagheddu (beatificada em 25|1|1983) uma freira trapista que se ofereceu como vítima para que a Igreja Anglicana se reunisse com a católica, apareceu a Edvige e disse-lhe: "Oferecei-vos como vítima para que os comunistas possam voltar a Igreja".
     Em junho de 1941, Edvige escreveu em seu diário: "Enquanto rezava, entrei em êxtase e São João Bosco apareceu e me disse: 'Minha filhinha, lembre-se que você se ofereceu como vítima pela libertação dos pobres russos do bolchevismo; reze para que logo o Crucificado possa entrar na Rússia".
     "Ontem à noite sonhei comigo mesmo na Rússia. Vi Stalin sentado, com uma pequena mesa à sua frente, onde escreveu em letras grandes estas palavras: ‘Eu sou o forte e terrível inimigo de Deus’, com um rosto feio, o que me assustou ao olhá-lo com atenção. Stalin enviou tropas de soldados para matar as tropas de soldados católicos e eu gritei: "Avante!" e disse aos nossos bons soldados: "Vamos, coragem!" Então gritando, acordei. Stalin é realmente feio, um seguidor do diabo. Devemos também orar por ele, porque Jesus sofreu na cruz e derramou seu precioso sangue por Stalin também". (9 de agosto de 1941)
     Em uma carta que Edvige escreveu ao Pe. Inácio Parmeggiani, ela diz: "Pai, Jesus me disse ontem à tarde: "Minha filha, ore pela salvação dos chineses comunistas. Eles são tão ruins. Até agora prenderam dez bispos. Como eu disse outro dia, um deles é Mons. Guthberth O'Gara, bispo passionista de Nanquim. Jesus me fez ver onde esse passionista estava. Ele estava em uma cela escura. Os guardas o ameaçavam, mas permaneceu em silêncio olhando para o céu. Eu estava gritando e disse a esses homens: 'Vocês são ruins'. Eles me ameaçaram, mas eu estava lá em cima e disseram: 'Ela é a bruxa do Papa. Ela é uma bruxa!' Eu disse a eles: 'Lembrem-se que um dia vocês serão julgados pelo bom Jesus. Se vocês não fizerem penitência, vocês vão para o Inferno'. Eles ficavam repetindo: 'Bruxa! Bruxa!' Pai, rezai pela conversão daqueles irmãos perdidos".
     Paulina lembra que Edvige foi levada duas vezes para visitar o Cardeal Mindszenty na cadeia e que ela falou com ele e com Jesus. (Cardeal Mindszenty também recebeu visitas do Padre Pio e da Irmã Cristina Montella em bilocação durante sua prisão.)
Visões do Céu, Inferno e Purgatório
     Edvige tinha visões de pessoas que tinham ido para o inferno, de almas que estavam no purgatório e pediam sua ajuda, e das almas que entraram no céu.
     Vitalia afirma: "Havia um jovem que morava no prédio de Edvige. Ele nunca ouviu seus conselhos para se arrepender. Ele era um incrédulo e morreu repentinamente de um choque elétrico em seu local de trabalho. Eles tiveram tempo suficiente para levá-lo ao hospital, mas quando ele estava lá, rejeitou o sacerdote e os sacramentos.
     Um dia Edvige o viu cercado de chamas, condenado. Ele a xingava e a recriminava por não ter rezado mais por ele. Jesus consolou Edvige, dizendo-lhe que tinha tido misericórdia para com este homem enviando-lhe um sacerdote, mas que ele o havia rejeitado".
     Jesus também deixou Edvige saber de um dentista na Sardenha que tinha sido condenado: "Minha filha, aquele dentista que morreu há alguns meses não queria me reconhecer como seu pai, e eu não o reconheci como filho".
     Um caso bem conhecido foi a de um padre que durante a 2ª. Guerra Mundial dava conferências negando a presença real de Jesus na Eucaristia em uma Universidade de Roma. Após sua morte, ele apareceu a Edvige que costumava rezar por ele. Disse-lhe que tinha sido condenado por causa dos livros que escrevera contra a fé e por causa do escândalo que ele causou. Para provar a Edvige que não era imaginação, o padre pegou um livro em seu quarto e, ao tocá-lo, ficou completamente queimado.
     Quanto ao purgatório, Edvige escreveu em seu diário em outubro de 1943: "Alguém apareceu e tocou meu pulso e me queimou. Eu não o conhecia. Ele estava vestido de funcionário. e disse: "Eu morri durante a guerra. Gostaria de algumas missas celebradas por Mons. Vitali. Você e sua irmã devem oferecer a Santa Comunhão por mim".
     Depois de ter as missas celebradas e as comunhões oferecidas por suas intenções, ele apareceu-lhe novamente cercado de luz e disse: 'Vou para o céu, onde vou rezar por vocês duas (Edvige e Paulina), e especialmente por Mons. Sou russo, meu nome é Paulo Vischin. Minha mãe havia me educado no Fé, mas quando cresci deixei-me levar por más influências. No momento da morte me arrependi e lembrei do que minha mãe me ensinou quando criança’".
     Em outra ocasião Edvige escreveu: "Sonhei com uma professora que tinha morrido há um mês por causa de um bombardeio. Vi que ela estava em uma luz brilhante, mas seus braços estavam um pouco queimados. O resto de seu corpo era saudável e bonito. Ela disse: 'Olhe para mim agora. Tudo que preciso é de mais uma missa e serei libertada. Por favor, mande Mons. rezar uma para mim'".
     A Virgem Maria disse a Edvige que sua tia estava no purgatório porque muitas vezes ela tinha faltado à missa nos dias santos de obrigação. Seu irmão, Giorgino, também apareceu para Edvige e disse-lhe que ele estava no purgatório e tinha que permanecer lá por oito anos. Ele pediu orações e pegou em sua mão quando se despediu, deixando-lhe uma cicatriz da queimadura que durou até sua morte.
Sinal da Estigma
     No Dia de Finados Edvige se enchia de alegria ao contemplar longas filas de almas que vinham agradecê-la por suas orações ao entrarem no Céu.
     Em 1923, sua amiga Mercedes Farci morreu aos 28 anos de tuberculose. Poucos dias após sua morte, Mercedes apareceu para Edvige vestida de branco e disse que estava gozando da presença de Deus e das alegrias do Céu.
     Jesus permitiu-lhe ter uma visão do Céu. Em agosto de 1941, ela escreveu: "Jesus me disse: 'Vinde e vais ver coisas lindas'. Fui caminhando até um lindo portão que tinha dois anjos, um de cada lado, guardando-o. O portão tinha uma placa que dizia: "Aqueles que são desonestos e imodestos não podem entrar". Os anjos me fizeram entrar. Fico feliz. Entro. Era um pedaço do Céu. Que lindo! Plantas e flores que eu nunca tinha visto antes. O chão estava coberto de pérolas e flores preciosas. Depois, sinalizaram-me para não ir mais longe. Vi um padre salesiano aproximar-se com uma chave na mão e abrir a porta onde estava escrito: "Jardim Salesiano". Lá dentro havia padres e leigos de todas as idades. Era um lindo jardim com plantas e flores que eu nunca tinha visto e todo mundo cantava feliz".
Seu amor por Maria e a importância do Rosário
     Ela escreveu em seu diário em março de 1942: "A Virgem Maria apareceu-me com lágrimas nos olhos. Eu me aproximei dela e disse: 'Por que estais chorando?'
"Estou chorando porque não posso apaziguar a ira do Meu Filho contra a raça humana. Se os homens não fazem penitência, a guerra não acabará e muito sangue será derramado. Minha filha, modas imodestas e desonestidade enfureceram a Deus. Rezai e fazei penitência. Rezai o Rosário frequentemente. É a única arma poderosa para atrair as bênçãos de Céu
"Estou chorando porque não posso apaziguar a ira do Meu Filho contra a raça humana. Se os homens não fazem penitência, a guerra não acabará e muito sangue será derramado. Minha filha, modas imodestas e desonestidade enfureceram a Deus. Rezai e fazei penitência. Rezai o Rosário frequentemente. É a única arma poderosa para atrair as bênçãos de Céu
"Estou chorando porque não posso apaziguar a ira do Meu Filho contra a raça humana. Se os homens não fazem penitência, a guerra não acabará e muito sangue será derramado. Minha filha, modas imodestas e desonestidade enfureceram a Deus. Rezai e fazei penitência. Rezai o Rosário frequentemente. É a única arma poderosa para atrair as bênçãos de Céu
"Estou chorando porque não posso apaziguar a ira do Meu Filho contra a raça humana. Se os homens não fazem penitência, a guerra não acabará e muito sangue será derramado. Minha filha, modas imodestas e desonestidade enfureceram a Deus. Rezai e fazei penitência. Rezai o Rosário frequentemente. É a única arma poderosa para atrair as bênçãos de Céu'".
     Em outra ocasião ela escreveu: "Depois da Santa Comunhão, vi um anjo que tinha belas íris e rosas. Ele me disse: 'Se você rezar o terço todos os dias com fé e atenção, formará rosas a partir das Ave-Marias e íris a partir do Pai Nosso. Eu as reunirei para fazer uma bela coroa que eu lhe darei Céu. Por isso, neste mês de maio, reze o terço com frequência".
     Ela também teve a seguinte visão: "Um dia, depois da Santa Comunhão, encontrei-me numa pradaria, e num trono vi Maria Auxiliadora coberta de um grande manto. Na planície havia uma terrível tempestade de vento e fogo. De repente, São João Bosco apareceu. Ele estava correndo através da tempestade chamando homens e mulheres para se salvarem eles mesmos se escondendo sob o manto de Maria. Milhares se esconderam sob o manto de Maria, mas outros milhares não quiseram entrar e riram daqueles que o fizeram. Dom Bosco, no meio da tempestade, subiu em cima de uma mesa e começou a pregar, dizendo: 'Você vai morrer por causa de sua própria culpa, venha sob a proteção de nossa Mãe Celestial'".
     "Mas eles, tendo coração duro e sendo indiferentes às suas palavras, ficaram surdos à exortação do santo. Eu vi o fogo cercá-los enquanto tentavam escapar. Isso não parecia uma visão para mim, pois sentia que estava acordada com todos os meus sentidos. Ainda hoje, quando me lembro, estremeço ao ver aquelas almas endurecidas que preferiam ser queimadas em vez de obedecer à voz de Dom Bosco. Mas aqueles que estavam sob o manto de Maria estavam seguros".
Beatificação
     O processo de beatificação de Edvige Carboni teve início na Diocese de Roma em um processo diocesano, em dezembro de 1968, e foi concluído algum tempo depois, após ter levado todos os documentos disponíveis e interrogatórios - isso também incluiu seu diário espiritual.
     A Congregação para a Causa dos Santos aprovou sua causa em 2 de maio de 2017; sua virtude heroica foi confirmada em 4 de maio de 2017 e recebeu o título de Venerável.
     O milagre necessário para sua beatificação foi investigado no local de origem e recebeu a validação da Congregação para a Causa dos Santos em 6 de outubro de 2000. Um decreto de 7 de novembro de 2018 permitiu a beatificação de Edvige Carboni; foi realizado em sua Sardenha natal, em 15 de junho de 2019.

 
Fontes:
https://www.mysticsofthechurch.com/2014/02/edvige-carboni.html?m=1
https://www.caffestoria.it/
Edvige Carboni – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Italiana Edviges Carboni beatificada na Sardenha - Vatican News