O ano de 1241 foi um ano dificílimo para a Polônia e a Hungria. O
tártaro Ogotai tinha a intenção de conquistar o mundo inteiro. Venceu os
polacos em Liegnitz e a seguir invadiu a Hungria. O Rei Bela IV e seus homens
lutaram heroicamente, o que não impediu que o rei tivesse que se refugiar junto
ao Mar Adriático, na costa oriental.
Foi então, no Castelo de Ulissa, que nasceu, na primavera de 1242, Santa
Margarida da Hungria, décima filha dos soberanos. Margarida foi batizada ao ar
livre, na Ilha de Trau, por um dos poucos bispos húngaros sobreviventes - um
terço da população tinha perecido. Quando Margarida nasceu, seus pais
prometeram consagrá-la a Deus se Ele lhes concedesse a vitória. Suas orações
foram ouvidas e Margarida, aos três anos de idade, foi confiada ao convento das
religiosas de São Domingos, de Veszprem.
O Rei e sua esposa, a Rainha Maria Lascaris, construíram um convento em
uma ilha do Danúbio, próximo de Budapeste, onde Margarida, com apenas doze anos
de idade, fez sua profissão diante do Beato Humberto de Romans.
Bela IV recebeu o título de "campeão da cristandade" e
foi descrito como "o último gênio dos Arpádios". As qualidades
de Margarida provam que ela havia herdado as qualidades extraordinárias de seu
pai; sua nobre linhagem realça mais os detalhes de sua extraordinária vida de
abnegação. A Ordem de São Domingos tomou o cuidado de guardar a memória de uma
de suas primeiras e mais ilustres filhas.
Parece que Margarida era excepcionalmente bela. Aos 16 anos, o Arcebispo
de Esztergom comunicou-lhe que o Papa Alexandre III a dispensava do voto dos
pais, caso fosse de interesse da nação que ela se casasse. Com efeito, o Rei
Otokar, da Boêmia, desejou sua mão após tê-la visto com hábito de religiosa.
Margarida, porém, estando acompanhada da prioresa declarou: "Honras-me
sobremaneira, rei valente e poderoso, ao desejares que seja tua mulher, e está
muito longe de mim desprezar a vocação de esposa. Mas como poderia fazê-lo,
tendo presente o exemplo da bem-aventurada Virgem Maria, como também a
dedicação da minha própria mãe querida, de quem sou a décima filha? Mas eu não
nasci para ser esposa e mãe. A minha tarefa é completamente diversa. Por isso
peço que te vás embora sem te zangares, e busca para ti uma esposa que possa
fazer-te ditoso. Eu, ó rei, não poderia fazer-te feliz".
Por sua vez, Carlos de Anjou também planejou obter sua mão e recebeu
igual negativa.
Como a maioria das religiosas do convento pertencia à nobreza, a
princesa Margarida era tratada com especial consideração. Ao perceber isso, ela
procurou escolher sempre os trabalhos mais humildes, repugnantes e tediosos.
Cuidava dos doentes que padeciam os males mais repulsivos.
Por uma graça excepcional, uma cópia completa dos testemunhos do
processo de beatificação de Santa Margarida, iniciado menos de sete anos depois
de sua morte, chegou até nossos dias. Cerca de cinquenta de suas companheiras
falaram sobre a mortificação e a caridade de Margarida nesse processo. Ao
lermos esses depoimentos, ficamos plenamente convencidos que o seu valor na
luta contra o mundo e a carne exerceu uma profunda influência nos que a
rodeavam.
Os relatos que as Irmãs fizeram sobre ela apresentam também pormenores
humanos e agradáveis. A sacristã conta que Margarida acariciava sua mão e lhe
prodigalizava todos os agrados possíveis para que ela deixasse a porta da
capela aberta durante a noite, a fim de passar diante do Santíssimo Sacramento
as horas que devia consagrar ao descanso.
Margarida tinha uma confiança ilimitada na oração e seus pedidos a Deus
tinham algo de imperioso. Várias religiosas contam algo acontecido quando a
Santa tinha apenas dez anos.
Dois frades dominicanos tinham ido visitar o convento e Margarida pediu
que eles permanecessem mais tempo. Eles responderam que tinham que partir
imediatamente. A menina lhes disse: - "Vou
obter que Deus faça chover de tal forma, que não podereis ir embora". Embora
os frades dissessem que não haveria chuva que os detivesse, Margarida foi para
a capela para rezar. A tormenta que desabou em seguida foi tão violenta, que impediu
os frades de partirem.
Este episódio lembra o famoso caso ocorrido com Santa Escolástica e São
Bento. As companheiras de Santa Margarida atestam sob juramento tantos casos do
mesmo tipo, que se torna difícil atribuí-los a simples coincidência.
Uma Quinta-feira Santa, Margarida não só lavou os pés das setenta
religiosas do coro do convento, como também de todas as serviçais. A Santa
havia passado a Quaresma em duras penitências, o que tornava tal ação bem
exaustiva. Entretanto, ela apenas comentou que aquele tinha sido o dia mais
curto do ano, pois não tinha tido tempo nem de rezar nem de praticar todas as
penitências que desejaria.
O dia 18 de janeiro de 1270 parece ter sido a data de seu falecimento,
quando tinha apenas vinte e oito anos. O processo de sua beatificação nunca foi
concluído, mas o culto de Santa Margarida foi aprovado em 1789. A canonização
ocorreu em 1943.
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