Nascida em Digne (Alpes de
Provença) por volta de 1214-1215, Dulcelina era filha de Bérenger e de Huguette.
Após a morte de seu pai, ela foi para Hyères para ficar junto de seu irmão o
futuro Bem-aventurado Hugo de Barjols.
A jovenzinha se tornou dona de casa exemplar e se impregnou do espírito
franciscano que começara a soprar na cidade onde os Irmãos Cordeliers implantaram
uma pequena comunidade. Ela dormia sobre palhas, visitava doentes, recebia e
servia os pobres.
Hugo, ele também edificado pelo ensino e pelo exemplo dos irmãos
franciscanos, decidiu se colocar a serviço da Igreja. Para se tornar digno
disto, ele seguiu o ensinamento dos mestres mais respeitados na Itália, em Lyon,
em Paris, forjando uma sólida cultura religiosa que fez dele um conselheiro de
almas reputado em toda região de Provença após ter tomado o hábito dos
cordeliers em 1236. Ele se tornou o
célebre Hugo de Digne (ou Hugo de Barjols) que pregou diante de São Luís
IX em 1254 (cf. Chroniques de Joinville) e era venerado por aquele Rei santo. Ele faleceu em 1256.
Dulcelina consagrou toda sua vida aos pobres e aos doentes se cercou de
outras mulheres devotadas à caridade. Aconselhada por Hugo, ela adotou o hábito
de beguina, e foi assim que se formou em Hyères uma comunidade de beguinas que
os habitantes da cidade chamaram de “Damas de Roubaud”, do nome de um pequeno
rio perto do qual elas tinham o local de reunião e de oração.
Em 1240, sempre dirigida pelo irmão, ela fez os votos de virgindade e de
pobreza, que foi também emitido pelas outras Damas; estas lhe deram o nome de
“Santa Madre”, pois ela dirigia as orações, os trabalhos e as atividades desta
comunidade exemplar.
Em 1250, Hugo optou pelo convento de Marselha e convidou a irmã para ir
criar outra “Casa de Roubaud” próximo da atual Igreja São Teodoro.
A nova comunidade marselhesa cresceu rapidamente e em toda Provença
Dulcelina era considerada santa. Foi assim que Beatriz, esposa de Carlos, Duque
de Anjou, Conde de Provença, chamou-a para perto de si quanto ficou grávida.
Amiga e protetora dos mais pobres, Dulcelina era também conselheira da Corte,
cujos cortesãos solicitavam seus conselhos judiciosos.
Além de suas penitências, ela passava muito tempo em oração e com
frequência caia em êxtase. Seus êxtases durante as orações contribuíram para atrair
aqueles que tinham confiança em seu poder de intercessão e muitos milagres
foram atribuídos a Dulcelina.
No dia 1º de setembro de 1274, a Santa faleceu na idade de 60 anos, extenuada
por se consagrar muito à oração e ao devotamento aos outros, cercada pelas
irmãs de sua ordem e dos irmãos cordeliers, que sempre a consideraram como
franciscana. O Bispo de Orange pronunciou o seu panegírico.
Desde 1275, os restos mortais de Dulcelina repousam na igreja marselhesa
dos franciscanos, ao lado de seu irmão São Hugo. Sua grande virtude levou-a à
beatificação.
Por testamento, São Luís de Anjou, bispo franciscano de Toulouse,
falecido em Brignoles em 1297, pediu para ser sepultado junto de Hugo e de
Dulcelina. O túmulo de Santa Dulcelina foi o local de numerosos milagres.
A igreja dos Frades Menores que guardava as relíquias de Dulcelina e de
Hugo foi demolida em 1524. As relíquias foram transportadas para a igreja
chamada hoje "Velha Maior". Esta foi parcialmente destruída em 1857
para a construção da nova catedral. Sabe-se que os restos mortais dos bispos do
passado foram então recolhidos e distribuídos nos túmulos dos altares; acreditamos
que aí se encontram as relíquias de Dulcelina.
A vida de Santa Dulcelina chegou-nos por um manuscrito redigido em 1297
por Filipina de Porcelet ("La Vida de la benaurada sancta Dulcelina"),
uma discípula do beguinato originário de Arles. Intitulada Vie de la
Bienheureuse Mère, esta obra
escrita em linga provençal, falada em Marselha no século XIII, foi elogiada
como uma obra-prima entre outros por Ernest Renan.
“Permanecei unidas”, dizia ela à
suas filhas, “no amor do Senhor, porque vós estais aqui reunidas no amor de
Cristo e Cristo vos ligou em sua Caridade. Todas as outras santas ordens têm um
liame muito forte, a Regra, mas o vosso liame é a Caridade. Este pobre
cordãozinho vos mantêm unidas em Cristo”.
Fonte:
Histoire du diocèse de Marseille
Etimologia: Dulcelina deve ser uma
variante de Dulce, do latim Dulcis:
“doce, suave, agradável”. Em francês, Douceline pode derivar de douce:
“doce, suave, brando (a)”.