Santa Ricarda, filha
de Erchanger, Conde da Alsácia, se casou em 862 com Carlos, bisneto de Carlos Magno,
que era então rei dos francos da Renânia, e logo se converteu em imperador do
Ocidente, rei da Alemanha e França e protetor titular do Papado.
Como princesa
Ricarda tornou-se grande benfeitora de vários mosteiros na Alemanha, Suíça e
Itália; por volta de 880 fundou em suas propriedades a Abadia de Andlau, no
Baixo Reno.
Em 881, junto
com seu marido, foi a Roma onde o Papa João VIII lhes deu a coroa imperial; Ricarda
na ocasião colocou a nova abadia sob a proteção pontifícia.
O
novo imperador
do Sacro Império Romano adotou o nome de Carlos, o Gordo, sucedendo seu pai e dois irmãos, e veio governar uma
área quase igual à de Carlos
Magno, mas não com as mesmas
capacidades de governo. Ele não
conseguiu reduzir de forma eficaz as incursões dos normandos e foi combatido pelos
senhores feudais. Além disso, abandonou o Papa João
VIII, que pedia o seu auxilio a partir do Palácio de Latrão, aonde finalmente
foi assassinado. Na Dieta de Tribur, de 887, Carlos foi
deposto e se mudou para a Suábia,
no Danúbio, onde morreu depois de alguns
meses.
A
Imperatriz
Ricarda já angustiada
com o acidente e a morte de
seu marido foi injustamente
acusada de adultério com o chanceler-bispo,
acusações falsas que logo provaram ser
infundadas: a rainha se defendeu e, segundo a legenda,
foi submetida à prova do fogo (*), na qual Deus demostrou com um patente
milagre sua inocência.
Ricarda decidiu retirar-se para a Abadia de Andlau fundada
por ela e dirigida pela Abadessa
Rotruda sua sobrinha. Ela viveu seus últimos anos em oração e obras de caridade, e morreu no dia 18 de setembro de 894.
Como,
segundo a legenda,
para provar sua inocência ela teria
passado pela prova de fogo, ela é
invocada como protetora contra incêndio.
Seu
corpo foi
sepultado na própria abadia até 1049,
quando o Papa Leão IX foi venerar suas
relíquias e a elevou à honra dos altares, transferindo-a
para a igreja da abadia consagrada
por ele próprio. Em 1350 um monumento foi erguido no túmulo, que ainda é um lugar de peregrinação.
(*) Prova do
fogo, ou ordálio(a) é um tipo de prova judiciária usada para determinar a
culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da
natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. Também é
conhecido como juízo de Deus (judicium Dei, em latim).
A Igreja Católica, por meio dos papas,
condenou sucessivamente o ordálio, por exemplo, Estêvão VI em 887/888,
Alexandre II em 1063, e por Inocêncio III no IV Concílio de Latrão, em 1215,
proibindo que o clero cooperasse com os julgamentos pelo fogo e pela água,
substituindo-os por um misto de juramento e testemunho.
A versão mais antiga do ordálio é citada
na Bíblia, na lei chamada de águas da
amargura, no livro de Números, onde a mulher suspeita de adultério deveria
beber uma água possivelmente contaminada, e se ela fosse adúltera morreria,
porém, se fosse fiel, sobreviveria e teria filhos.
A origem da palavra ordálio é do latim ordalium ou, de
acordo com Verstegan, do saxão, ordal e ordel, que, segundo
Hicks, vem de Dael, julgamento, com o sentido de grande julgamento.
Outros derivam do franco ou teutônio Urdela, que significa julgar.
Etimologia:
O nome Ricarda/Ricardo deriva do
provençal Richart, tomado por sua vez a partir do alemão rich (senhor) e hard
(forte). Outros: “forte pelo poder”.
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