Clara nasceu em
1280, foi educada por seu pai, Onosdeo, no cultivo de um carácter forte, quase
masculino, e intolerante a qualquer submissão Passou sua adolescência entre cavalos
e torneios, rebelde nas práticas religiosas que sua mãe Gaudiana tentava
inculcar-lhe. Morta a mãe quando ela contava apenas sete anos de idade, seu pai
tornou a se casar e ela ficou ainda mais independente.
Bem jovem casou-se com o filho de sua
madrasta, porém ficou viúva três anos depois, herdando uma imensa fortuna. Durante
oito anos continuou se entregando a festas, justas de cavalaria, banquetes, com
uma vida frívola e mundana, dando lugar a escândalos e péssimos falatórios na
cidade.
Seu pai e seu irmão morreram no mesmo dia,
enquanto estavam em guerra com os Malatesta, rivais pelo domínio na zona de
Rimini. Deste modo todas as riquezas da família Agolanti se concentraram nas mãos
da jovem viúva. Nem mesmo esse duplo luto a tirou da vida dissipada. Foi pedida
em casamento por um nobre que levava uma vida relaxada e ela aceitou com a
condição de que pudesse manter o mesmo estilo de vida.
Aos 34 anos, um fato insólito: um dia, uma
força misteriosa, mas irresistível, a obriga a entrar na igreja dos Padres
Conventuais, Santa Maria em Trivio, e a rezar um Pai Nosso, que tem o poder de
mudar-lhe a vida: pela primeira vez ela se sentiu perturbada e agitada. Voltou para
casa, se fechou em seu quarto, onde caiu no chão num mar de lágrimas de arrependimento,
e decidiu mudar de vida.
No dia seguinte, depois de uma noite
insone, foi à mesma igreja, onde fez uma confissão geral, e a partir desse
momento começou uma vida de piedade, boas obras e penitência, convertendo
inclusive o marido, que morreu dois anos depois de modo cristão.
Então Clara não pôs limites às suas penitências,
que se tornaram terríveis, animada de um desejo de expiação que a devorava. Com
suas imensas riquezas começou a ajudar a todas as misérias materiais e morais;
deu dote e apoio a todas as jovens pobres que desejavam se casar.
Algumas mulheres de grande fervor se reuniram
a ela dispostas a levar uma vida de reclusão e penitência. Clara então fundou um
pequeno mosteiro chamado Santa Maria dos Anjos – mais tarde conhecido como de
Santa Clara. Obteve a bênção do Bispo de Rimini, Guido Abasi, indo em seguida à
Catedral para emitir os votos religiosos, de acordo com a Regra de Santa Clara
de Assis.
Viveu uma dezena de anos como superiora,
intensificando os sacrifícios e a contemplação da Paixão de Cristo. O Senhor lhe
concedeu o dom de graças místicas elevadíssimas, com êxtases tão profundos, que
nenhuma força humana podia deter, e só se recuperava se era levada diante do
Santíssimo Sacramento.
No dia 10 de fevereiro de 1326, Clara morreu
aos 46 anos, consumida pela penitência e pela contemplação, e seu corpo
descansa na igreja do mosteiro. Seu culto “de tempo imemorial” foi confirmado
pelo papa Pio VI em 1784.
Sua vida é contada em
um manuscrito em italiano
vulgar, tingido de formas dialetais da Romagna
do final do século XV, ainda preservado em Rimini.
A legenda foi captada nas suas dobras mais
sutis por Jacques Dalarun em um livro de uma força narrativa
cativante, Santa e
rebelde, que desmonta e monta tempos, espaços, eventos da jornada terrena da Beata.
Fonte: www.santiebeati/it
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