Santa Júlia Billiart nasceu em 12
de julho de 1751 em Cuvilly, perto de Beauvais, Picardia, França. No batismo
recebeu o nome de Maria Rosa Julieta. Era a sexta de sete filhos de
Jean-François Billiart, um fazendeiro razoavelmente próspero, que também era
dono de uma pequena loja, e de sua esposa Marie-Louise-Antoinette Debraine.
Desde tenra idade Júlia demonstrou piedade
e virtudes incomuns: aos 7 anos sabia todo o Catecismo de cor e costumava
reunir as amigas em torno dela para ouvirem a catequese que ela explicava. Sua
educação era limitada à escola da aldeia de Cuvilly, que era conduzida por seu
tio, Thibault Guilbert.
Em assuntos espirituais, seu progresso foi
tão rápido que o padre da paróquia, Pe. Dangicourt, permitiu que ela recebesse
a 1ª Comunhão na idade de 9 anos, enquanto o normal era 13. O pároco deu-lhe
permissão para fazer um voto privado de castidade aos 14 anos de idade. Ele
ensinou-lhe como fazer oração mental, a controlar o seu temperamento e
incutiu-lhe um profundo amor por Jesus na Eucaristia.
Em 1767, a família perdeu sua
fortuna devido a maus investimentos e Júlia teve que realizar um trabalho duro
para ajudar a família a sobreviver, mas continuou a ensinar catecismo às crianças
mais jovens e aos trabalhadores agrícolas da freguesia, além disso, visitava os
doentes.
Júlia estava com vinte anos quando sua
vida foi subitamente mudada. Uma noite, no inverno de 1774, alguém fez uma
tentativa de ferir ou mesmo matar o pai: os dois estavam sentados juntos em
casa, quando foi disparado um tiro pela janela. Júlia, sensível, teve um choque
que a levou a uma paralisia nervosa, e progressivamente a doença a tornou
incapaz de andar, o que lhe causou grande dor. Tentativas de tratamento não
deram resultado, e ela ficou completamente inválida. Ela recebia a comunhão
diária, e passava quatro a cinco horas por dia em contemplação. Ela
oferecia seu sofrimento ao Sagrado Coração de Jesus como reparação pelos
pecados, especialmente aqueles que eram cometidos contra a Sagrada Eucaristia.
O pároco continuava a ser seu diretor
espiritual, e a encorajou a continuar com o seu trabalho de catequese da cama.
Ela desenvolveu o seu próprio apostolado, dando conselhos espirituais a um
número crescente de pessoas. Algumas mulheres ricas começaram a visitá-la,
impressionadas com o que tinham ouvido da sua paciência, dedicação e bom humor.
Em 1789, a famigerada Revolução Francesa se
instala. Entre os que a visitavam e conversavam com ela naquela época estavam os
Bem-aventurados irmãos François-Joseph de Rochefoucauld e Louis de la Rochefoucauld , bispos
de Beauvais e Saintes, respectivamente, ambos martirizados no massacre do
Mosteiro dos Carmelitas, na Rue de Rennes, em Paris, em 2 de setembro de 1792 e
fazem parte dos 191 Mártires de Setembro.
Em 1790, o padre da paróquia de Cuvilly
foi substituído por um padre juramentado do governo revolucionário. Foi
principalmente graças à influência que Júlia tinha sobre o povo que houve
boicote ao intruso. Mas quando ela ficou sob suspeita pelo governo
revolucionário por receber em sua casa os sacerdotes perseguidos, e na praça da
aldeia o carrasco pôs fogo no mobiliário da igreja, onde Julia deveria ser
queimada como bruxa, ela foi forçada a se esconder.
Seus amigos foram exilados de Cuvilly, e
nos três anos seguintes ela viveu na clandestinidade em Compiègne, onde foi
transferida de um abrigo para outro. Ela sofreu dores e a doença se deteriorou
a tal ponto, que ela perdeu a fala durante vários meses. Nesse tempo, ela teve
uma visão: ela viu o Calvário cercado por freiras em trajes incomuns e ouviu
uma voz dizendo-lhe: "Veja essas
filhas espirituais que vos dou em um instituto marcado pela cruz".
Em Compiègne ela morou perto do bendito
Carmelo onde 16 freiras carmelitas enfrentaram cantando a guilhotina em 17 de julho
de 1794.
Após o primeiro intervalo das perseguições
que se seguiram ao fim do período do Terror, Júlia foi resgatada por um velho
amigo, e em outubro de 1794, ela foi trazida para Amiens, para a casa do
Visconde Blin de Bourdon.
Neste lar hospitaleiro, Júlia se recuperou
e conheceu a irmã do Visconde, Françoise Blin de Bourdon, Viscondessa de
Gézaincourt, que se tornou sua amiga íntima e sua assistente em todos os trabalhos,
co-fundadora do seu Instituto e sua primeira biógrafa. Françoise tinha 38 anos
quando conheceu Júlia e havia passado sua juventude na piedade e em boas ações.
Ela havia sido presa com toda a família durante o Terror, e só escapou da morte
por causa da queda de Robespierre.
Entre 1794 e 1804, Júlia tenta dar ao seu
trabalho uma forma permanente. Mas uma nova perseguição se espalhou e forçou Júlia
e sua nova amiga a se retirarem para uma casa que pertencia à família Doria, em
Bettencourt. Neste tempo, foram visitadas várias vezes pelo Pe. Joseph Desire
Varin (1769-1850), superior dos Padres da Fé, que ficou impressionado pela
personalidade e habilidade de Júlia. Ele estava convencido de que Deus a tinha escolhido
para fazer grandes coisas pela Igreja.
Após a Revolução, Júlia voltou a Amiens, e
fundou, sob orientação do Pe. Varin o "Instituto de Nossa Senhora para
educação cristã". O seu principal objetivo era o cuidado espiritual das
crianças pobres, mas também a educação de meninas de todas as classes e de
formação de professores. A fundação foi aprovada pelo Bispo de Amiens, Mons.
Demandolx, ex-bispo de La
Rochelle.
Em 1804, os Padres da Fé realizaram uma
grande missão em Amiens. Júlia pediu a um dos sacerdotes, o Pe. Enfantin, que
tinha sido ordenado em uma granja durante a Revolução, para acompanhá-la em uma
novena. No quinto dia, 1º junho, Festa do Sagrado Coração de Jesus, ele
ordenou-lhe: "Madre, se tendes
alguma fé, dê um passo em honra do Sagrado Coração de Jesus". Ela se
levantou imediatamente e estava completamente curada após 22 anos de invalidez.
Algumas senhoras se juntaram a Júlia e a Françoise,
e o Pe. Varin escreveu uma regra provisória para elas. As primeiras quatro
irmãs fizeram seus votos no dia 15 de outubro de 1804: Júlia Billiart,
Françoise Blin de Bourdon, Victoire Leleu e Justine Garson. A regra temporária
foi tão presciente que os seus princípios nunca foram alterados. Antes que um
ano se passasse eram dezoito irmãs.
Após sua recuperação, Júlia continuou a expansão
de sua Congregação a passos rápidos, a qual se espalhou para Gent, Namur e
Tournai, em Flandres (atual Bélgica). Agora ela também podia participar
pessoalmente de missões conduzidas pelos Pais da Fé em outras cidades, mas as
suas atividades foram interrompidas pelo governo.
Quando a Congregação foi aprovada por
decreto imperial de 19 de junho de 1806, tinha 30 membros. De 1804 até sua
morte em 1816, Júlia viajou incessantemente e foi responsável pela rápida
expansão do novo Instituto.
Por causa da Revolução Francesa o povo não
havia recebido nenhuma formação religiosa, e ela estava preocupada com a descristianização
do país. Esta foi a principal motivação para o seu trabalho educacional. Embora
o seu interesse inicial tivesse sido sempre os pobres, ela compreendeu que as
outras classes na sociedade também tinham uma grande necessidade de educação
cristã saudável e que suas irmãs nunca poderiam cobrir sozinhas toda a demanda.
Em 1809, após problemas com o novo diretor
do Instituto, Madre Júlia se instalou em Namur (Bélgica), levando consigo a
maioria das Irmãs. O bispo da cidade, Mons. Joseph Pisani de la Gaude , aprovou a Congregação
alterando o seu nome para "Irmãs de Nossa Senhora de Namur”.
Várias circunstâncias levaram ao fechamento
de todos os conventos e as escolas na França, e, em 1815, e os conventos belgas
foram saqueados pelos soldados, antes e depois da Batalha de Waterloo.
Madre Júlia enfrentava as dificuldades com
bom humor e uma total confiança na Providência de Deus, e ela manteve a
Congregação firme por meio de viagens intermináveis de convento a convento,
onde ela incentivava, apoiava e contribuía ensinando ou lavando, se necessário.
Françoise (Madre São José), por sua vez manteve um governo empreendedor, com
uma segurança aristocrática, uma força tranqüila e a convicção de que Madre Júlia
fizera a obra de Deus.
Madre Júlia, que foi a fundadora de uma
das principais Congregações da Igreja, não escreveu nenhum tratado sobre o
ensino ou o funcionamento das escolas. Suas ideias são encontradas nas cartas e
nas instruções que deu às Irmãs, e como Madre São José colocou essas ideias em
prática após sua morte.
Em 1844, a regra foi aprovada pelo Papa Gregório
XVI (1831-46). Quando Madre São José (Françoise Blin) morreu em 1838, a nova Congregação
estava firmemente estabelecida, a sua filosofia de trabalho e a sua presença
aceita e apreciada. Até o final do século XIX, a Congregação das Irmãs de Nossa
Senhora se espalhou para os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Guatemala, Congo e da
Rodésia (Zimbabwe). Em 1900, ela chegou ao Japão, China, Brasil, Peru, Nigéria
e Quênia.
Madre Júlia adoeceu em janeiro de 1816, e
após três meses de sofrimento, em meio ao silêncio e a paciência, faleceu em 8
de abril 1816, em Namur, enquanto calmamente recitava o Magnificat. O Bispo de
Namur disse: “A Madre Julia é uma dessas
pessoas que podem fazer mais pela Igreja de Deus em poucos anos do que os
outros fazem em um século”.
Ela foi enterrada no dia 10 de abril no
cemitério da cidade. Sua reputação de santidade foi reforçada por vários
milagres. Seu processo de canonização foi iniciado em 1881 e seus restos
mortais foram removidos em 1882.
Ela foi beatificada em 13 de maio de 1906
(o documento foi datado de 19 de março) por São Pio X (1903-14), e canonizada
em 22 de junho de 1969 por Paulo VI (1963-78).
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