quarta-feira, 8 de abril de 2015

Santa Maria Rosa Júlia Billiart, Fundadora - 8 de abril

    
     Santa Júlia Billiart nasceu em 12 de julho de 1751 em Cuvilly, perto de Beauvais, Picardia, França. No batismo recebeu o nome de Maria Rosa Julieta. Era a sexta de sete filhos de Jean-François Billiart, um fazendeiro razoavelmente próspero, que também era dono de uma pequena loja, e de sua esposa Marie-Louise-Antoinette Debraine.
     Desde tenra idade Júlia demonstrou piedade e virtudes incomuns: aos 7 anos sabia todo o Catecismo de cor e costumava reunir as amigas em torno dela para ouvirem a catequese que ela explicava. Sua educação era limitada à escola da aldeia de Cuvilly, que era conduzida por seu tio, Thibault Guilbert.
     Em assuntos espirituais, seu progresso foi tão rápido que o padre da paróquia, Pe. Dangicourt, permitiu que ela recebesse a 1ª Comunhão na idade de 9 anos, enquanto o normal era 13. O pároco deu-lhe permissão para fazer um voto privado de castidade aos 14 anos de idade. Ele ensinou-lhe como fazer oração mental, a controlar o seu temperamento e incutiu-lhe um profundo amor por Jesus na Eucaristia.
     Em 1767, a família perdeu sua fortuna devido a maus investimentos e Júlia teve que realizar um trabalho duro para ajudar a família a sobreviver, mas continuou a ensinar catecismo às crianças mais jovens e aos trabalhadores agrícolas da freguesia, além disso, visitava os doentes.
     Júlia estava com vinte anos quando sua vida foi subitamente mudada. Uma noite, no inverno de 1774, alguém fez uma tentativa de ferir ou mesmo matar o pai: os dois estavam sentados juntos em casa, quando foi disparado um tiro pela janela. Júlia, sensível, teve um choque que a levou a uma paralisia nervosa, e progressivamente a doença a tornou incapaz de andar, o que lhe causou grande dor. Tentativas de tratamento não deram resultado, e ela ficou completamente inválida. Ela recebia a comunhão diária, e passava quatro a cinco horas por dia em contemplação. Ela oferecia seu sofrimento ao Sagrado Coração de Jesus como reparação pelos pecados, especialmente aqueles que eram cometidos contra a Sagrada Eucaristia.
     O pároco continuava a ser seu diretor espiritual, e a encorajou a continuar com o seu trabalho de catequese da cama. Ela desenvolveu o seu próprio apostolado, dando conselhos espirituais a um número crescente de pessoas. Algumas mulheres ricas começaram a visitá-la, impressionadas com o que tinham ouvido da sua paciência, dedicação e bom humor.
     Em 1789, a famigerada Revolução Francesa se instala. Entre os que a visitavam e conversavam com ela naquela época estavam os Bem-aventurados irmãos François-Joseph de Rochefoucauld e Louis de la Rochefoucauld, bispos de Beauvais e Saintes, respectivamente, ambos martirizados no massacre do Mosteiro dos Carmelitas, na Rue de Rennes, em Paris, em 2 de setembro de 1792 e fazem parte dos 191 Mártires de Setembro.
     Em 1790, o padre da paróquia de Cuvilly foi substituído por um padre juramentado do governo revolucionário. Foi principalmente graças à influência que Júlia tinha sobre o povo que houve boicote ao intruso. Mas quando ela ficou sob suspeita pelo governo revolucionário por receber em sua casa os sacerdotes perseguidos, e na praça da aldeia o carrasco pôs fogo no mobiliário da igreja, onde Julia deveria ser queimada como bruxa, ela foi forçada a se esconder.
       Seus amigos foram exilados de Cuvilly, e nos três anos seguintes ela viveu na clandestinidade em Compiègne, onde foi transferida de um abrigo para outro. Ela sofreu dores e a doença se deteriorou a tal ponto, que ela perdeu a fala durante vários meses. Nesse tempo, ela teve uma visão: ela viu o Calvário cercado por freiras em trajes incomuns e ouviu uma voz dizendo-lhe: "Veja essas filhas espirituais que vos dou em um instituto marcado pela cruz".
     Em Compiègne ela morou perto do bendito Carmelo onde 16 freiras carmelitas enfrentaram cantando a guilhotina em 17 de julho de 1794.
     Após o primeiro intervalo das perseguições que se seguiram ao fim do período do Terror, Júlia foi resgatada por um velho amigo, e em outubro de 1794, ela foi trazida para Amiens, para a casa do Visconde Blin de Bourdon.
     Neste lar hospitaleiro, Júlia se recuperou e conheceu a irmã do Visconde, Françoise Blin de Bourdon, Viscondessa de Gézaincourt, que se tornou sua amiga íntima e sua assistente em todos os trabalhos, co-fundadora do seu Instituto e sua primeira biógrafa. Françoise tinha 38 anos quando conheceu Júlia e havia passado sua juventude na piedade e em boas ações. Ela havia sido presa com toda a família durante o Terror, e só escapou da morte por causa da queda de Robespierre.
     Entre 1794 e 1804, Júlia tenta dar ao seu trabalho uma forma permanente. Mas uma nova perseguição se espalhou e forçou Júlia e sua nova amiga a se retirarem para uma casa que pertencia à família Doria, em Bettencourt. Neste tempo, foram visitadas várias vezes pelo Pe. Joseph Desire Varin (1769-1850), superior dos Padres da Fé, que ficou impressionado pela personalidade e habilidade de Júlia. Ele estava convencido de que Deus a tinha escolhido para fazer grandes coisas pela Igreja.
     Após a Revolução, Júlia voltou a Amiens, e fundou, sob orientação do Pe. Varin o "Instituto de Nossa Senhora para educação cristã". O seu principal objetivo era o cuidado espiritual das crianças pobres, mas também a educação de meninas de todas as classes e de formação de professores. A fundação foi aprovada pelo Bispo de Amiens, Mons. Demandolx, ex-bispo de La Rochelle.
     Em 1804, os Padres da Fé realizaram uma grande missão em Amiens. Júlia pediu a um dos sacerdotes, o Pe. Enfantin, que tinha sido ordenado em uma granja durante a Revolução, para acompanhá-la em uma novena. No quinto dia, 1º junho, Festa do Sagrado Coração de Jesus, ele ordenou-lhe: "Madre, se tendes alguma fé, dê um passo em honra do Sagrado Coração de Jesus". Ela se levantou imediatamente e estava completamente curada após 22 anos de invalidez.
     Algumas senhoras se juntaram a Júlia e a Françoise, e o Pe. Varin escreveu uma regra provisória para elas. As primeiras quatro irmãs fizeram seus votos no dia 15 de outubro de 1804: Júlia Billiart, Françoise Blin de Bourdon, Victoire Leleu e Justine Garson. A regra temporária foi tão presciente que os seus princípios nunca foram alterados. Antes que um ano se passasse eram dezoito irmãs.
     Após sua recuperação, Júlia continuou a expansão de sua Congregação a passos rápidos, a qual se espalhou para Gent, Namur e Tournai, em Flandres (atual Bélgica). Agora ela também podia participar pessoalmente de missões conduzidas pelos Pais da Fé em outras cidades, mas as suas atividades foram interrompidas pelo governo.
     Quando a Congregação foi aprovada por decreto imperial de 19 de junho de 1806, tinha 30 membros. De 1804 até sua morte em 1816, Júlia viajou incessantemente e foi responsável pela rápida expansão do novo Instituto.
     Por causa da Revolução Francesa o povo não havia recebido nenhuma formação religiosa, e ela estava preocupada com a descristianização do país. Esta foi a principal motivação para o seu trabalho educacional. Embora o seu interesse inicial tivesse sido sempre os pobres, ela compreendeu que as outras classes na sociedade também tinham uma grande necessidade de educação cristã saudável e que suas irmãs nunca poderiam cobrir sozinhas toda a demanda.
     Em 1809, após problemas com o novo diretor do Instituto, Madre Júlia se instalou em Namur (Bélgica), levando consigo a maioria das Irmãs. O bispo da cidade, Mons. Joseph Pisani de la Gaude, aprovou a Congregação alterando o seu nome para "Irmãs de Nossa Senhora de Namur”.
     Várias circunstâncias levaram ao fechamento de todos os conventos e as escolas na França, e, em 1815, e os conventos belgas foram saqueados pelos soldados, antes e depois da Batalha de Waterloo.
     Madre Júlia enfrentava as dificuldades com bom humor e uma total confiança na Providência de Deus, e ela manteve a Congregação firme por meio de viagens intermináveis de convento a convento, onde ela incentivava, apoiava e contribuía ensinando ou lavando, se necessário. Françoise (Madre São José), por sua vez manteve um governo empreendedor, com uma segurança aristocrática, uma força tranqüila e a convicção de que Madre Júlia fizera a obra de Deus.
     Madre Júlia, que foi a fundadora de uma das principais Congregações da Igreja, não escreveu nenhum tratado sobre o ensino ou o funcionamento das escolas. Suas ideias são encontradas nas cartas e nas instruções que deu às Irmãs, e como Madre São José colocou essas ideias em prática após sua morte.
     Em 1844, a regra foi aprovada pelo Papa Gregório XVI (1831-46). Quando Madre São José (Françoise Blin) morreu em 1838, a nova Congregação estava firmemente estabelecida, a sua filosofia de trabalho e a sua presença aceita e apreciada. Até o final do século XIX, a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora se espalhou para os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Guatemala, Congo e da Rodésia (Zimbabwe). Em 1900, ela chegou ao Japão, China, Brasil, Peru, Nigéria e Quênia.
     Madre Júlia adoeceu em janeiro de 1816, e após três meses de sofrimento, em meio ao silêncio e a paciência, faleceu em 8 de abril 1816, em Namur, enquanto calmamente recitava o Magnificat. O Bispo de Namur disse: “A Madre Julia é uma dessas pessoas que podem fazer mais pela Igreja de Deus em poucos anos do que os outros fazem em um século”.
     Ela foi enterrada no dia 10 de abril no cemitério da cidade. Sua reputação de santidade foi reforçada por vários milagres. Seu processo de canonização foi iniciado em 1881 e seus restos mortais foram removidos em 1882.
     Ela foi beatificada em 13 de maio de 1906 (o documento foi datado de 19 de março) por São Pio X (1903-14), e canonizada em 22 de junho de 1969 por Paulo VI (1963-78).

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