Sabemos de Ida de Louvain o que
um autor anônimo conta em sua Vida, escrita pouco tempo depois de sua morte.
Nascida por volta de 1212, Ida pertencia a
uma família de ricos comerciantes. Seu pai era um comerciante de vinhos que
vivia na operosa cidade de Louvain e que, preocupado unicamente em acumular
riquezas e em usufruir dos bens terrenos, ficou muito contrariado quando a
filha lhe disse que tinha a intenção de se fazer monja. O pai não consentiu, o
que a fez sofrer muito.
Desde muito jovem ela manifestou repulsa
por aquela nova sociedade comercial cujo aparecimento nas cidades do Norte
provocava uma pobreza muito grande de uma população reduzida à mendicância. Em
profundo conflito com a família, Ida se dedicava a ajudar os pobres, ao mesmo
tempo em que se infligia impressionantes penitências que visavam reparar os
ultrajes feitos a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ela finalmente conseguiu vencer a dureza
de seu pai e ingressou na abadia cisterciense de Val-des-Roses, perto de
Malines. Sua biografia, composta provavelmente no final do século XIII, baseada
nos testemunhos de seu confessor, revela uma mulher em odor de santidade cujo
renome ultrapassou o claustro de seu mosteiro.
Dominicanos e franciscanos reconheceram os
seus méritos e não se pode deixar de perceber a influência da espiritualidade
franciscana nas evocações dessa mística: a exemplo de São Francisco de Assis,
Ida tinha grande familiaridade com os animais; seu corpo marcado por cinco
chagas evocava seu amor imenso por Jesus sofredor.
Antes mesmo de sua entrada no mosteiro
apresentava um desejo insaciável de receber a Eucaristia. É um dos temas desenvolvidos em sua Vida;
assim como ela, outras santas daquele século dão testemunho da grande devoção
pelo Santíssimo Sacramento que se desenvolveu a partir da Festa de Corpus
Christi celebrada pela 1ª vez em 1246 na diocese de Liége.
Sua biografia também apresenta numerosas
analogias com a de outras cistercienses da diocese de Liège: Ida de Nivelles,
Lutgarda d’Aywières, Beatriz de Nazaré ou Ida de Gorsleeuw, com as quais esta
mística participa da mesma intimidade com o Menino Deus e Jesus Cristo
crucificado.
Alegrias e sofrimentos marcam seus
encontros com Cristo que se faz ver, ouvir, entender. Ele se revela o Amor
Encarnado que fere ao mesmo tempo em que cura. Ele oferece a ela seu Coração,
lhe desvenda sua beleza, celebra uma Missa solene para ela.
Transportada ao coro dos Serafins, ela
vislumbra o mistério da Santíssima Trindade. Seu biógrafo revela que ela
traduziu os textos da liturgia para a língua vernácula sob a orientação do
Espírito Santo.
Além
de jejuns, distribuição alimento aos pobres, participação nos sofrimentos de
Nosso Senhor, Ida se dedicou à oração, à contemplação e aos trabalhos manuais,
entre os quais preferia a transcrição dos livros, mas não recusava jamais as
incumbências mais humildes; estava sempre disponível no serviço de suas irmãs
de hábito.
Os fenômenos místicos, os seus êxtases
frequentes e muitos prodígios lhe foram atribuídos e numerosas conversões.
Ida faleceu no dia 13 de abril em um ano
por volta de 1290.
Considerada beata no século XVII tanto
pelos hagiógrafos cistercienses como pelos Bolandistas, Ida faz parte destas
figuras tratadas abundantemente pelos especialistas da mística da Idade Média.
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