Isidoro
Guérin, antigo soldado do império, e
recruta da polícia, que aos
39 anos decidiu casar-se com Louise-Jeanne Macè, dezesseis anos mais jovem que
ele, era o pai de Azélie-Marie Guérin (chamada
apenas Zélia) que nasceu no dia 23 de dezembro de 1831 em Gandelain, departamento de
Orne (Normandia), França.
Ela foi batizada o dia seguinte ao seu
nascimento na Igreja de St.Denis-sur-Sarthon. Uma irmã, Maria Luísa a precedia
de dois anos; tornar-se-á religiosa da Visitação de Mans. Um irmão, Isidoro,
virá dez anos mais tarde e será o filho mimado da família.
Para os pais de Zélia a vida havia sido
dura, o que repercutia em sua maneira de ser: eram rudes, autoritários e
exigentes, se bem que tivessem uma fé firme. Zélia, inteligente e comunicativa
por natureza, define sua infância e sua juventude
em uma carta ao seu irmão: “tristes como
um sudário, porque se a minha mãe te mimava, comigo, tu sabes, ela era muito
severa; no entanto tão boa não sabia como prender-me, assim eu sofri muito do
coração”.
Apesar disto, quando seu pai, viúvo e
doente, manifestou o desejo de ir morar com ela, o acolheu e cuidou dele com
devoção até seu falecimento em 1868. Felizmente encontrou em sua irmã Maria
Luísa uma alma gêmea e uma segunda mãe.
Após estudos nas "Irmãs da Adoração
Perpétua" de
Alençon, ela sentiu-se chamada à vida religiosa, mas diante da recusa da
superiora das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, ela orientou-se para uma formação profissional, se inscreveu na "École
dentellière", e iniciou com sucesso a fabricação
do famoso Ponto de Alençon.
No final de 1853 instalou-se como
“fabricante de Ponto de Alençon” na Rua Saint Blaise, 36. A qualidade do seu
trabalho fez a fama do seu atelier. Ela foi recompensada com uma medalha de
prata por ocasião da Exposição de 1858 em Alençon. Nas relações que mantém com as
suas operárias, ela diz que é necessário amá-las como os membros da sua própria
família.
No mês de abril de 1858, ao cruzar com um jovem de nobre fisionomia,
semblante reservado e modos dignos, se sentiu fortemente impressionada e ouviu
interiormente que esse era o homem eleito para ela. Era Luís Martin, relojoeiro. Em pouco tempo os dois jovens chegaram a um
entendimento. Três meses mais tarde, no dia 13 de
julho, eles se casaram na Igreja de Nossa Senhora. Eles foram abençoados
pelo Padre Hurel, Pró-Reitor da Igreja de São Leonardo.
O amor que ela tem por seu
marido é expresso em suas cartas: "Tua
mulher que te ama mais do que a vida", "Eu te abraço como eu te amo"... Estas não são apenas palavras:
sua alegria é de estarem juntos e compartilharem tudo o que fazem na vida
diária sob o olhar de Deus.
De 1860 a 1873, nove crianças nasceram no
lar Martin das quais 4 morreram pequenas. Zélia experimentava alegrias e
sofrimentos no ritmo destes nascimentos e destas mortes. Assim, podemos ler na
sua correspondência: "Eu gosto das
crianças à loucura, eu nasci para tê-los...".
Depois do nascimento de Teresa, em 1873,
ela escrevia: "Eu já sofri muito na
minha vida”. A educação de suas filhas consumia toda energia de seu
coração. A confiança foi a alma dessa educação. Para suas filhas ela deseja o
melhor, se tornarem santas! Isso não a impede de organizar festas, jogos... E
como se diverte nesta família! Eram divertimentos castos que davam a verdadeira
felicidade.
Desde 1865 uma glândula no seio direito,
que degenerara em câncer, fazia Zélia sofrer muito. "Se o Bom Deus quer curar-me, eu ficarei muito contente, porque no fundo
eu desejo viver, custa-me deixar meu marido e minhas filhas. Mas, por outro
lado, digo a mim mesma: se eu não for curada, pode ser que seja mais útil que
eu parta”.
No dia 28 de agosto de 1877, à meia-noite
e meia, Zélia morreu na presença de seu marido e de seu irmão.
Deixemos as últimas palavras à Teresinha:
"De mamãe, eu amava o sorriso, seu
olhar profundo parecia dizer: ‘a eternidade me encanta e me atrai, eu quero ir para
o céu azul ver Deus!’”.
*
* *
Seu esposo passa então a ocupar-se sozinho da família. Teresa tinha
nesta época pouco mais de quatro anos, a filha mais velha tinha 17 anos. Ele se
transfere para Lisieux, onde morava o cunhado, deste modo a Tia Celina poderia
cuidar das filhas. Lá ele vê três de suas filhas entrarem para o Carmelo.
Teresa também ingressa ali aos 15 anos. Luís faleceu após perder as faculdades
mentais e esteve internado no sanatório de Caen.
O casal foi beatificado pela Igreja Católica em 19 de outubro de 2008,
em cerimônia realizada na basílica de Lisieux dedicada à sua filha Teresa e
presidida pelo cardeal José Saraiva Martins.
Zélia é celebrada pelo Carmelo e pela Diocese de Bayeux no dia 12 de
julho.
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