Segundo
as notícias mais antigas sobre estas duas santas, constantes do “Liber Notitiae
Sanctorum Mediolani” (Livro de notícias sobre os santos de Milão) do século
XIII, Liberada e Faustina foram duas irmãs de nobre origem, nascidas em
território de Piacenza, em Rocca d’Olgisio, nos primeiros decênios do 5º século.
O pai, Giovannato, nobre do Val di Taro, era
dono de uma mansão importante ao lado do vale Tidone, que ainda hoje existe.
As duas irmãs perderam a mãe em jovem
idade e foram confiadas a um tutor de nome Marcelo. O pai, não tendo mais
filhos, queria que suas filhas encontrassem um casamento digno e nobre. Mas as
filhas estavam dispostas a seguir outro tipo de vida, o da contemplação e da
oração, ao serviço de Deus. Esses desejos foram contrariados pelo pai e as
filhas para realizá-los tiveram de fugir de casa.
Elas
se abrigaram em Como, onde receberam o véu (sinal de sua consagração a Deus)
das mãos do Bispo Agripino. Elas adotaram a Regra de São Bento, que naqueles
anos começava a se expandir; fundaram um mosteiro dedicado a Santa Margarida,
com capela adjacente dedicada a São João Batista, mosteiro que foi vital por
mais de um milênio e mais tarde suprimido, em 1810, por ordem de Napoleão,
quando ainda havia dez monjas presentes.
Não há dados precisos sobre as datas das
respectivas mortes das irmãs, mas talvez tenham falecido a pouca distância de
alguns anos uma da outra, no século VI. No “Comentário do Martirológio Romano”
é dito que Santa Liberada era recordada no dia 19 de janeiro, enquanto Santa
Faustina o era no dia 16 de janeiro, indicando inclusive algumas igrejas de
Milão e seus arredores onde elas eram veneradas.
As
duas irmãs foram enterradas no complexo monástico perto de Como. O primeiro
translado ocorreu no tempo do Bispo Guido Grimoldi (1096-1125), porque o local
se tornara inseguro devido às contínuas invasões bárbaras; os corpos foram levados
para a Catedral de Santa Maria de Como. Em 13 de maio de 1317, quando era bispo
Leão de Lambertenghi, foram colocados na Igreja de São Carpóforo. Logo
apareceram hagiografias que convenceram Barônio, o hagiógrafo historiador que
teve sob sua responsabilidade a execução do primeiro Martirológio Romano, no
século XVI, a inserir as duas irmãs no dia 18 de janeiro, junto com uma
biografia sumária.
Em 1618, uma parte das relíquias foi doada
à Piacenza, cidade de origem das santas, e atualmente são preservadas na Igreja
de Santa Eufêmia. As duas irmãs, Liberada e Faustina, são celebradas como
santas virgens no novo Martirológio Romano da Igreja Católica, no dia 19 de
janeiro.
Tradição
A tradição fala de uma intervenção
milagrosa de Liberada que salvou uma nobre da
região. Ela havia sido condenada por
seu marido com o suplício
da cruz. Liberada salvou a
pobre mulher que estava morrendo,
curando-lhe as lesões terríveis. Esta história contada há tempos, fez com que a figura
de Vilgefortis, que morreu com o suplício
da cruz, tivesse "contaminado"
a tradição hagiográfica de Santa Librada, virgem e mártir. A existência de mais santas com o mesmo nome de Liberada,
compreensível se pensarmos no grande valor simbólico que o nome "Liberada" carrega com ele, produziu infelizmente ao
longo do tempo uma série de
prejuízos para as tradições de
culto das várias comunidades onde
são veneradas.
A tradição do norte da Itália a quer (como
Santa Margarida a qual tinha se dedicado) como protetora das mães, das enfermeiras
e dos bebês.
Em
Val Camonica há a legenda que vê as Santas Faustina e Liberada vivendo como penitentes
em uma caverna na região em Capo di Ponte. Elas milagrosamente intervieram
segurando com as mãos duas pedras que ameaçavam a vila. Ainda hoje, perto da
igreja dedicada a elas, podemos ver duas pedras enormes que ostentam a
impressão de mãos e ainda são veneradas pela população local.
Liberada
muitas vezes é representada com sua irmã, em hábito beneditino, segurando um lírio
símbolo da virgindade; mas a imagem que talvez seja a mais difundida é aquela
em que vemos Liberada tendo nos braços dois bebês, como padroeira contra os
perigos do parto e a mortalidade infantil.
Famoso é o ciclo de afrescos sobre a vida
de Liberada e de Faustina do século XIV, que originalmente era localizado no Mosteiro
de Santa Margarida e agora está preservada no Museu de Como. Nos vários
episódios do ciclo as Santas são mostradas quando partem da casa natal enquanto
atravessam, com seu tutor, Marcelo, o Rio Pó, a sua chegada a Como, e vários
outros episódios não bem preservados.
Em
muitas áreas da Lombardia, do Piemonte e do Val d'Aosta são preservadas imagens
de Santa Liberada, que datam do século XV, em que ela é retratada segurando
duas crianças nos braços. Nessas imagens as duas crianças aparecem com a
auréola sobre a cabeça e em alguns casos (por exemplo, no afresco do Castelo de
Montalto Dora) são legíveis as inscrições que identificam as duas crianças como
os Santos Gervário e Protásio, os irmãos gêmeos filhos São Vital e Santa Valéria.
Podemos, portanto, pensar em uma sobreposição do culto de Santa Liberada e de Santa
Valéria, que é invocada para proteger contra os perigos do parto e da
mortalidade infantil.
Etimologia: Liberada,
do latim Liberatus: “libertada,
liberta”.
Faustina, do latim
Faustinus, diminutivo de Faustus: “faustoso, feliz, venturoso,
ditoso”.
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