cont.
Os sacerdotes das gerações
antigas, verdadeiros depositários da verdadeira fé, deram um ensinamento que
chegou até nós. Podemos saber qual é a tradição e, com esta, qual é a verdade.
Porque o que a Igreja ensinou ontem, não pode ter ficado erro hoje, tem que ser
verdade sempre. E se há uma contradição, está no novo.
Então, devemos ser homens que perseveram,
quer dizer, que continuam, que estão na mesma fé de antigamente e que nela
permanecem fiéis. Essa é a primeira recomendação.
Depois
ele continua:
“Conjuro-te, diante de Deus e de Jesus Cristo que
há de vir julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu Reino...”
Ou seja: eu te peço diante de Cristo, e
lembra-te que esse Cristo – em presença do qual eu te faço esse pedido – virá à
terra julgar os vivos e os mortos, e vai te julgar, portanto, a ti, a quem eu
faço esse pedido; e vai te julgar em função do atendimento que deres a esse
pedido. Eu te peço em presença de Jesus Cristo, eu te peço pelo amor à vinda
dele, pelo amor ao Reino dele eu te peço. Peço o quê? Agora vem o dever:
“... prega a palavra”.
Nós não somos sacerdotes, mas temos o
direito – como leigos – de transmitir a palavra pregada pelos sacerdotes
genuínos, que dão a doutrina verdadeira e que são sacerdotes fiéis ao passado. Então,
logo depois da fidelidade à doutrina católica vem o enunciado da doutrina
católica para outros, da doutrina tradicional, afirmação da qual é a verdadeira
doutrina católica. Então:
“prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo”.
Ou seja, insiste caso os outros gostem,
mas caso os outros achem que você é importuno, insista também. A expressão
latina é mais rigorosa do que está aqui: “oportune et importune”: insista oportunamente e inoportunamente.
Quer dizer, fale com os outros, ainda que
eles não gostem. Seja homem! Seja católico! Seja guerreiro da palavra! Se não
gostem, afirme de novo. Combata. Faça-lhes entrar a palavra pelos ouvidos
adentro. Seja soldado de Jesus Cristo. Isso é que São Paulo pede a Timóteo.
E isso é que nós devemos fazer: não ter medo de ensinar a verdade, não
recuar, não nos aborrecermos com o fato dos outros não nos darem atenção ou até
de nos responderem mal. Ensinar de novo e ensinar com varonilidade
sobrenatural. É uma coisa que é nosso dever e com o que damos
glória a Deus.
Depois ele continua:
“Repreende...”.
Repreender é censurar, é chegar para as
pessoas e dizer: “Tu fizeste mal”.
Há uma certa escola de apostolado que acha
que o apóstolo nunca deve censurar os outros, que deve ser sempre gentil,
sempre amável: “Fulano, você abandonou sua mulher, tomou uma outra. Ora,
pobre coitado... quanto drama sentimental!”
Eu compreendo que o outro goste de ouvir,
mas não podemos dizer isso. Nós temos que dizer o que disse São João Batista a
Herodes, o que disse o profeta Natam a Davi: “Tu pecaste, tu andaste mal,
cometeste uma ação censurável e eu te digo que é censurável, porque Deus
censura, porque é contra a lei de Deus. E ouça e ouça porque eu estou falando”.
Essa é a atitude do verdadeiro católico.
Depois, continua:
“Repreende, suplica e admoesta com toda paciência e
doutrina”.
Não basta repreender, às vezes é
(necessário) suplicar. Repreende-se o pecador que procura dizer que seu pecado
está bem, que procura cinicamente pavonear-se com o pecado que cometeu. Mas quando
se trata de um pecador que reconhece que anda mal, que sabe que o seu vício
é mau e o esconde, então pode-se agir com benignidade. E aí é o momento
de suplicar, de ser humilde, afável, generoso, de pedir para que se pratique a
virtude, assim como o último dos mendigos pede a mais preciosa das esmolas.
Quer dizer, aí é o momento do afeto fraterno, é o momento da caridade, é o
momento do carinho, que faz tanto bem para as almas fracas.
“Suplica, admoesta com toda paciência e doutrina”.
Quer dizer, advirta, mostra que está
errado com toda paciência, para esses que estão fracos, que se envergonham, que
reconhecem que andam mal. Então, para esses, com toda paciência, admoestar.
Nunca começar uma admoestação com algo do
gênero assim: “Fulano, até quando você deixará de ouvir o que eu te disse?
Afinal de contas, eu perco a paciência com você!” Isso é orgulho. Deve-se
fazer o contrário. Nunca perder a paciência, nunca ter a palavra dura, nunca
manifestar-se cansado de tanto repetir as (mesmas) coisas. Tomar um ar – ao
se dar conselhos – de que a gente está achando uma delícia dar aquele conselho,
nunca deixar transparecer que se pode estar cansado, que se pode estar
caceteado, nem nada.
Mas isto não basta. Além de admoestar com
toda paciência, é preciso admoestar com toda doutrina, ou seja, é preciso dizer coisas razoáveis,
é preciso dar conselhos bons, saber empregar os argumentos bons em favor da
verdade, de maneira a tocar o entendimento e mover a vontade da pessoa a quem
se dirige. E isso, então, é exatamente o modo de apostolado nosso que, mais do
que Timóteo, fomos colocados em situação tão triste. E com isso os senhores tem
um verdadeiro manual de apostolado.
Os senhores têm igualmente a justificação
de métodos de apostolado empregados nos periódicos "Catolicismo" (no
Brasil), em "Cruzada" (Argentina), em "Fiducia" (no Chile),
com o estilo de se exprimir que é tão diferente de tantas folículas católicas e
não católicas que circulam por aí. São publicações combativas, que insistem
“oportuna e importunamente”. E temos fundamento em São Paulo para sermos assim.
Do fundo dos séculos, ouvimos a voz de São
Paulo a Timóteo e essa voz nos diz, em outros termos: Filhos, vocês têm razão,
contem com as minhas orações e com a proteção do Céu.
Assim, São Paulo que nos abençoe e que nos
ouça no pedido de termos a plenitude do magnífico espírito dele.
Plinio Corrêa de Oliveira
Santo do Dia 25 de janeiro de 1967
Nenhum comentário:
Postar um comentário