sábado, 27 de fevereiro de 2016

Santa Honorina, Mártir - 27 de fevereiro

Martirológio Romano: No território de Rouen na França, Santa Honorina, virgem e mártir
     Não há muitas informações sobre esta santa e as que existem são incertas.
     Uma tradição conservada na diocese de Rouen narra que Honorina, chamada da Normandia, sofreu o martírio pelas mãos dos pagãos sob Diocleciano (243-313) em Mélamare. O seu corpo foi lançado no Rio Sena e encalhou em Graville, onde foi recolhido e sepultado pelos cristãos, e seu túmulo deu início ao seu culto.
     Outra tradição diz que ela foi martirizada em Coulonces, vizinho das duas paróquias modernas dedicadas a ela. Em 876, devido à ameaça das invasões normandas, os monges que custodiavam suas relíquias transferiram-nas para o interior, na confluência do Rio Sena com o Oise, colocando-as na capela da fortaleza.
     Em 21 de junho de 1082, o castelo fortaleza de Conflans foi destruído e os monges decidiram construir uma igreja fora da muralha dedicada a Santa Honorina, cujas relíquias foram solenemente transportadas para ali na presença do bispo de Paris.
     Nos anos 1250, 1619 e 1752 foram efetuados reconhecimentos das relíquias; foi constituída uma Confraria em sua honra, que obteve indulgências especiais em 1690.
     Santa Honorina é patrona dos marinheiros desde que Conflans se tornou o porto de chegada dos trabalhadores nos rebocadores dos rios e canais franceses, e no qual foi ancorada a capela-rebocadora que é a base da capelania dos bateleiros franceses.
     A festa de Santa Honorina é celebrada em 27 de fevereiro, pelo menos em sete dioceses francesas entre as quais Versalhes. 
 
Etimologia: Honorina (o), do latim Honorinus: “deus da honra”. Cp. Honório, do latim Honorius: “que tem honra, respeito, estima, glória”.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Beata Cecilia, Dominicana - 25 de fevereiro


     Esta Beata viveu nos século XV-XVI. Nas ‘Vidas’ de Razzi, única fonte da qual dependem todos os outros biógrafos, encontramos as seguintes informações:

     Após oito anos de matrimônio, de acordo com o esposo Cecília se tornou dominicana, entrando no Mosteiro das Dominicanas de Santa Catarina mártir, na cidade de Ferrara, onde passou trinta anos de vida ascética. Foi priora por três vezes, amada pelas monjas por sua “humanidade, modéstia e prudência”.

     Morreu logo depois de uma visão celeste ocorrida no Natal de 1511. “Depois de sua morte ocorreram alguns milagres os quais, por brevidade, não relatamos”.

     Ela é comemorada no dia 25 de fevereiro.

 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Beata Rafaela Ybarra de Villalonga, Fundadora - 23 de fevereiro

    
     Rafaela Maria da Luz Estefania de Ybarra y Arámbarri nasceu em Bilbao, em 1843, no seio de uma das famílias mais poderosas de Vizcaya. Seu pai havia criado as primeiras empresas mineiras que logo dariam lugar aos Altos Fornos de Vizcaya. Era a mais velha de cinco irmãos. Sua família era profundamente católica e lhe inculcou as virtudes humanas que foram a base de uma vida excepcional. Pertencia à alta sociedade de Bilbao.
     Os sinais do amor divino nela foram precoces. Viveu a experiência de sua Primeira Comunhão com grande alegria: “Comunguei com grande fervor. Recordo muito bem haver experimentado grandes consolos espirituais e haver chorado pensando na Paixão de Jesus”. Não obstante, no meio de sua piedade, havia também espaço para certas vaidades que, em geral, são particularmente atraentes na juventude.
     Ela mesma confessou seus bons hábitos e também suas debilidades: “Agradava-me ser vista e bem tratada. O luxo não era exagerado para minha posição social. No entanto, gastava bastante em tudo. Agradavam-me muito as joias. Porém, conservava um fundo de piedade natural. Rezava o Rosário todos os dias com os empregados; lia meus livros de piedade e era compassiva com os necessitados”.
     Aos 18 anos se casou com José Villalonga y Gipuló, engenheiro industrial de procedência catalã, homem virtuoso, sem cuja generosidade e respeito não teria podido levar a cabo a obra que empreendeu. Tiveram sete filhos, dos quais dois morreram cedo.
     Quando do falecimento de sua irmã Rosário, Rafaela tomou para si o cuidado de seus cinco sobrinhos. Nesta família de dez crianças se desenvolveu o trabalho familiar desta beata. Sua influência se estendeu à sua numerosa família, e era especialmente apreciada pelo trato com os doentes, aos quais atendia cumulando-os de paz e consolo. Tornou seu desejo em realidade: “Que eu seja a cada dia melhor esposa, melhor mãe, melhor filha”.
     Ela também teve que desprender-se repentinamente de dois de seus filhos, além do Benjamim, que foi atingido por uma terrível febre e dolorosa paralisia infantil. Esse fato, Dom Bosco a havia vaticinado ao encontrá-la em Barcelona: "Senhora, este menino será sua pequena cruz"; a mãe teve que lidar com essa dor e apreciar a grandeza do pequeno que um dia disse-lhe: "mamãe, tu és, pelo menos, 'serva de Deus'".
     Sua união com Deus alcançou níveis próprios aos santos. Seus escritos sobre experiências espirituais, bem como sua numerosa correspondência, refletem uma mulher cheia de amor a Jesus Cristo e a seus semelhantes.
     Rafaela tinha tal devoção ao Santíssimo Sacramento, que cada vez se sentia mais impelida à união com Ele e a realizar o maior bem que lhe fosse possível.  Esse momento chegou quando, como resultado da ocupação de seu marido – promotor da empresa “Altos Hornos”, que tinha um capital humano de três mil pessoas –, tomou contato com a realidade do mundo operário.
     Sentia-se inclinada a cuidar das meninas e das jovens expostas a riscos que vêm unidos à pobreza e à ignorância, tão frequentes em sua época. Via os males que acercavam as jovens operárias e, para acolhê-las, criou a casa Asilo da Sagrada Família. As recolhia pelas ruas e não titubeava em se colocar em apertos e se expor a situações difíceis com o objetivo de resgatá-las do perigo. Queria proporcionar-lhes tudo o que precisavam humana e espiritualmente, semeando a esperança em suas vidas. Além disso, aos enfermos e pobres nunca lhes faltou sua caridade. “As pessoas passam, porém, as obras permanecem”, costumava dizer.
     A Rafaela seu esposo nunca lhe pôs impedimentos para exercer um vibrante apostolado, que frutificou generosamente, culminando com sua aprovação para que professasse e fundasse um Instituto religioso, máxima prova de um amor humano que se inspira no amor divino, o Instituto das Irmãs dos Anjos Custódios, em 1894.
     Rafaela criou em Bilbao numerosas instituições de proteção à mulher. Ajudaram-na neste empenho as voluntárias que trabalhavam seguindo o lema que lhes deu: “doçura nos meios e firmeza nos fins”. Tinha claro, e assim o transmitiu, que “o que não alcança o amor, não o conseguirá o temor”. Dizia isto por experiência, posto que um dia que foi buscar uma reclusa, esta a esbofeteou. E ela, respondendo com mansidão, lhe disse: “Não me fizeste dano, minha filha! Desde agora te quero ainda mais bem”, palavras tão sentidas e autênticas que desmoronaram a revolta e a arrogância da jovem, que se arrependeu chorando amargamente.
     O propósito de toda a obra de Rafaela foi este: viverem “unidas a Deus pela oração e o apostolado” para levar “o anúncio do amor de Deus ao mundo da infância e da juventude”. Assim, surgiram apartamentos e oficinas que puderam dar suporte e treinamento a estes grupos.
     O dia 2 de agosto de 1897, festa de Nossa Senhora dos Anjos, marca um momento especial em sua vida e obra: foi colocada a primeira pedra do Colégio Anjos Custódios de Zabalbide, em Bilbao, ficando definitivamente inaugurado em 24 de março de 1899. A Congregação tinha finalmente sua Casa Mãe que poderia servir de modelo às que posteriormente viessem a existir.
     Mesmo após a morte de seu esposo Rafaela jamais professou como religiosa, porque a morte de sua nora fez com que ela se encarregasse do cuidado de seus seis netos.
     Faleceu santamente no dia 23 de fevereiro de 1900, em Bilbao, aos 57 anos, sem poder ver consolidada sua fundação. Vivera plenamente o lema que ensinava a todos: “Não vos canseis de fazer o bem”. O Instituto das Irmãs dos Anjos Custódios está presente hoje em mais de 35 casas dispersas pela Espanha e América.
     Foi beatificada em 30 de setembro de 1984.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sta. Margarida de Cortona, Religiosa - 22 de fevereiro


Exemplo de contrição e penitência
A beleza do arrependimento e da penitência pode ser admirada nessa santa medieval que, após vida pecaminosa, converteu-se, tornando-se taumaturga e grande mística
                                                                                                           Plinio Maria Solimeo
        Margarida nasceu na cidade de Laviano, diocese de Chuiusi, na Toscana, em meados do século XIII. De sua primeira infância nada se sabe, a não ser que perdeu a mãe quando tinha sete ou oito anos.
Como acontece com certa frequência, a madrasta que veio preencher o lugar de sua mãe dois anos depois de sua morte, começou a tratá-la mal, encontrando defeito em tudo o que ela fazia. Ora, Margarida tinha um coração terno e uma natureza ardente. E não encontrando em casa o afeto de que necessitava foi procurá-lo fora. Tornou-se uma formosa adolescente, cheia de graças e encantos. Isso constituiu sua desgraça. Quando contava 15 anos, o filho do senhor de Montepulciano dela se enamorou e convenceu-a a ir viver com ele pecaminosamente, prometendo-lhe que futuramente haveriam de se casar.
Remorsos de consciência abafados
        Em meio ao luxo, às festas, aos passeios, Margarida reprimia sua consciência, que de tempos em tempos, como um aguilhão, a torturava. Mais tarde ela dirá: “Em Montepulciano perdi a honra, a dignidade, a paz; perdi tudo, menos a fé”. E era essa fé que aflorava e a fazia sonhar com outra vida muito diferente da que então levava. Algumas vezes, por exemplo, vendo certos lugares recolhidos, comentava: “Como seria bom rezar aqui! Que lugar próprio para se levar uma vida penitente e solitária”. Mas novas joias, novas festas, novas promessas abafavam esses bons movimentos de seu coração.
Certa vez em que algumas damas elogiavam sua beleza, ela respondeu profeticamente: “Não façam caso disso. Chegará o dia em que vocês me tratarão como santa e irão, com o bordão na mão, visitar meu túmulo”.
         Assim, Margarida viveu nove anos nessa união ilícita, contrária à Lei de Deus, quando sobreveio um acontecimento dramático que deveria mudar sua vida.
Visão funérea e graça da conversão
         Certo dia seu concubino não voltou para casa, e nem no dia seguinte. Aflita, Margarida viu chegar apenas a cadelinha dele, que, ganindo tristemente, a puxava pelo vestido, indicando-lhe que a seguisse. Margarida, ansiosa, seguiu o animal até um bosque nas imediações, onde encontrou um amontoado de galhos que o animalzinho esforçava-se para levantar. Tirando os galhos de cima, deparou com o cadáver de seu concubino apunhalado, envolto em sangue, e que já começava a dar os primeiros sinais de putrefação. Ante essa sinistra visão, ela deu um grito e caiu desmaiada.
Foi o golpe de misericórdia da Providência. Apenas voltando a si, Margarida pensou sobre o destino eterno daquele de quem fora cúmplice no pecado. Encheu-se de tal horror de sua existência pecaminosa, que, naquele momento, fez o propósito de mudar inteiramente de vida.
No lar paterno, rejeitada pela madrasta
Depois do enterro do infeliz jovem, Margarida vendeu tudo o que tinha, distribuiu entre os pobres e, vestida muito simplesmente de preto, retornou à casa do pai, pedindo perdão e abrigo. O pai comoveu-se, mas a seu lado estava a madrasta, que imediatamente exclamou: “Ou ela ou eu!”. A porta da casa paterna foi-lhe então cruelmente fechada.
Desolada e sem saber o que fazer, sem recursos e sem residência, no auge da provação, Margarida sentou-se num tronco à beira do caminho. O demônio logo entrou em cena, tentando-a: “Você tem somente 26 anos e está no auge de sua formosura. Muitos outros pretendentes surgirão. Vamos, erga a cabeça e recomece de novo a vida de fausto e de alegria!”. “Não! –– exclamou Margarida, resoluta. Já ofendi muito a Nosso Senhor, que verteu seu sangue inocente por mim. Mais vale a pena mendigar o pão que voltar ao pecado”. Nesse momento outra voz, a da graça, se fez ouvir: “Em Cortona os filhos de São Francisco compadecer-se-ão de ti e dir-te-ão o que fazer”.
Nessa época Cortona era uma república, com administração autônoma. Era próspera e tinha vida religiosa intensa. A pobre Margarida, sem conhecer ninguém, procurou o convento dos frades franciscanos. Duas damas locais, Marinaria e Romeria Boscari, a encontraram e ficaram comovidas ao ver sua profunda tristeza e o sofrimento que se exprimia em seu rosto. Com bondade, perguntaram-lhe se precisava de algo. Margarida abriu-lhes a alma, contou seus pecados e sua inspiração de procurar os franciscanos da cidade. As duas nobres senhoras ofereceram-lhe abrigo em sua casa, e elas mesmas a apresentaram a Frei Bevegnati, varão venerável por sua virtude, que depois viria a escrever a história de Margarida. Esta, entre lágrimas e suspiros, fez uma confissão geral tão minuciosa que durou oito dias. Pediu depois admissão na Ordem Terceira franciscana, também chamada da Penitência.
Radicalidade na penitência obtém o perdão divino
Preocupada em evitar uma recaída no pecado, Margarida cortou a formosa cabeleira, que tanto orgulho lhe causara, expôs o rosto ao sol para perder seu frescor, e examinava como reparar seu escândalo. Passou a dormir no solo e a alimentar-se apenas de ervas.
Certo domingo apareceu ela em Laviano na hora da Missa mais frequentada, com uma corda ao pescoço, e ali, em altas vozes, pediu perdão a seus concidadãos pelo mau exemplo que lhes dera. Outra vez, em Cortona, Margarida fez-se arrastar com uma corda ao pescoço pelas ruas da cidade, enquanto uma mulher gritava: “Eis esta Margarida, que perdeu tantas almas; eis esta pecadora, que profanou tanto nossa cidade”. (1)
No intuito de se humilhar, muito mais coisas teria feito se a obediência lhe tivesse permitido.
Margarida passava horas e horas de joelhos diante do Crucifixo, chorando por seus pecados. Seu arrependimento foi tão profundo e sincero, que um dia o Crucificado disse-lhe: “Teus pecados te são perdoados”.
Outra vez, quando em prantos meditava na Paixão de Nosso Senhor, Este perguntou-lhe: “Que queres, minha pobre pecadora?”. E Margarida, num transporte de amor, respondeu: “Senhor Jesus, não quero senão a Vós, e não procuro senão a Vós”. (2)
Participação na Paixão do Divino Redentor
Em pouco tempo Margarida passou a ser visitada por elevadas graças místicas. Narra seu confessor e biógrafo: “Pediu-me que não me ausentasse do convento, porque Deus lhe preparava algo extraordinário. Depois da Missa conventual, ela foi arrebatada em espírito. À sua vista desenrolou-se o drama da Paixão. Viu o Salvador vendido pelo beijo de Judas, negado por São Pedro, abandonado pelos Apóstolos, insultado pelos pretorianos. Ouviu os golpes dos açoites, os gritos do populacho, o ruído do martelo quando Lhe cravavam mãos e pés. Explicou-me as cenas da Paixão, sem conhecer a presença da população de Cortona, que havia vindo para presenciar tão extraordinário fato. Tinha os braços em cruz, e as contrações de seu rosto refletiam a violência de suas emoções. À mesma hora em que expirou a vítima do Calvário, inclinou a cabeça e pareceu também que ela expirava. Os que estavam presentes não cessavam de soluçar”. (3)
Outra vez, acabrunhada pelo peso das tentações, gemia aos pés do Crucifixo. Disse-lhe Nosso Senhor: “Tem ânimo, minha filha, por mais violentos que sejam os esforços do demônio, pois Eu estou contigo no combate, e sempre sairás vitoriosa. Sê fiel a todos os conselhos do teu diretor; confia cada dia mais e mais em minha bondade, desconfia de ti mesma, e com o socorro de minha graça triunfarás do inimigo”. (4)
De vários lugares, desde Roma até a Espanha, vinham pessoas ver a que se tornou “a taumaturga de Cortona”, pela fama dos milagres por ela operados. Pedia-se, por sua mediação, a conversão de pecadores, a cura de enfermos, a liberação de endemoninhados.
Foi graças a Margarida que os guelfos, partidários dos Papas, fizeram as pazes com os gibelinos, partidários do Imperador alemão, depois que ela, por ordem de Deus, correu pelas ruas de Cortona gritando: “Cortonenses, fazei penitência e reconciliai-vos com vossos inimigos”. Nosso Senhor afirmou lhe nessa ocasião: “Cortona merecia ser castigada, mas, pelo amor que te tem, Eu a perdoarei”. (5)
O Divino Salvador também fez-lhe o seguinte elogio: “Tu és a terceira luz dada à Ordem de meu bem-amado Francisco. Ele foi a primeira, entre os Frades Menores; Clara foi a segunda, entre as monjas; tu és a terceira, na Ordem da penitência. (6)
Corpo incorrupto por mais de 700 anos
Com esmolas recebidas Margarida fundou o Hospital de Santa Maria da Misericórdia, para cuidar dos pobres da cidade, a cargo de suas irmãs da Ordem Terceira Franciscana reunidas em uma Congregação por ela fundada, a das Poverelle.
Muitos milagres, que o limite deste artigo não permite transcrever, foram operados por intercessão da penitente de Cortona, falecida aos 48 anos, no dia 22 de fevereiro de 1297. Seu corpo, transcorridos mais de 700 anos de sua morte, continua incorrupto. Ele pode ser visto num relicário de cristal, exposto na Basílica dedicada à sua honra, em Cortona. (7)
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Notas:
1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo II, p. 621.
2. Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I, p. 538.
3. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, vol. I, pp. 344-345.
4. Pe. Juan Croisset, Año Cristiano, tradução para o espanhol pelo Pe. José Francisco de Isla, Saturnino Calleja, Madri, 1901, tomo I, p. 634.
5. Edelvives, op. cit., p. 540.
6. Joan Carroll Cruz, The Incorruptibles, Tan Books and Publishers, Inc., Rockford, USA, 1977, p. 94.
7. Joan Carroll Cruz, op. cit., p. 94.
 
Corpo incorrupto de Sta. Margarida de Cortona na basílica daquela cidade
 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Santa Mariana, Viúva - 17 de fevereiro


Século I
 

            Desconhecida dos Latinos, mas honrada pelos Orientais, esta viúva, depois da Ascenção do Senhor, terá acompanhado São Filipe e São Bartolomeu a Hierópole e, a seguir, terá ajudado a levar o Evangelho à Licaônia. Aí terá morrido ainda no século I.
 

Fonte: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sta Juliana, Leiga venerada em Turim - 13 de fevereiro

    
     A figura desta Santa aparece nas vidas de alguns santos piemonteses, apesar de não existirem provas documentais ou arqueológicas que possibilitem o reconhecimento de sua vida. A sua pessoa emerge, de fato, mais como um símbolo da mulher temente a Deus, corajosa, sepultadora de mártires, amorosa educadora de futuros eclesiásticos, e não como personagem existente em tempo bem definido.
     Na passio dos Santos mártires Aventor, Solutor e Otávio, Juliana é apresentada como uma piedosa cristã de Ivrea que, tendo descoberto o corpo de Solutor, martirizado na margem de Dora Riparia, o transportou para Turim para sepultá-lo ao lado dos corpos de seus dois companheiros mortos na cidade. No local, ela mandou edificar um memorial junto ao qual ela mesma foi depois sepultada.
     É claro que nesta narrativa a vida de Juliana é inserida em tópicos hagiográficos muito recorrentes: o da mulher corajosa que com os seus meios providencia sepultura àqueles que testemunharam a Fé cristã com o sacrifício da própria vida. À Santa os hagiógrafos medievais atribuíram também um outro papel: o de educadora de Gaudêncio, futuro Bispo de Novara que, segundo as tradicionais referências de sua vida, teria sido originário da cidade de Ivrea.
     Tomando conta do pequeno Gaudêncio, ela teria transmitido também os primeiros ensinamentos da doutrina cristã às escondidas de seus familiares, que não obstante os esforços do jovem, que formou-se depois no convento eusebiano de Vercelli, não abandonaram a religião pagã.
     Este segundo papel a ela atribuído também não se pode conferir em nenhum documento histórico relevante que se refira à pessoa de Juliana, cujas relíquias são conservadas hoje na igreja dos Santos Mártires de Turim. Elas foram transportadas da igreja edificada pela Santa e aumentada no tempo com a anexação de um mosteiro beneditino que foi demolido em 1536 por ordem de Francisco I de França.
     Para além de sua existência histórica, a figura de Santa Juliana constitui um relato da importância da obra desenvolvida pelas mulheres na difusão do Cristianismo, concretizada nos papeis que exprimem melhor a sensibilidade feminina.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

As Aparições de Nossa Senhora em Lourdes, França - 11 de fevereiro

    
     Bernadette Soubirous nasceu em 7 de janeiro de 1844; era uma camponesa de 14 anos.  Em 11 de fevereiro de 1858, ela foi com a irmã Toinette e Jeanne Abadie recolher um pouco de lenha, a fim de vendê-la e poder comprar pão. Quando ela tirou os sapatos e as meias para atravessar o rio existente junto à gruta de Massabielle, que ficava cerca de uma milha da cidade, ela ouviu o som de duas rajadas de vento, mas as árvores e os arbustos não se mexeram. Bernadette viu uma luz na gruta e uma jovem, tão pequena como ela, vestida de branco, com uma faixa azul presa à cintura, um rosário em suas mãos em oração e rosas de ouro amarelo uma em cada pé.
     No tempo das aparições seu pai, que era dono de um moinho, estava arruinado. A família morava de graça em uma cela abandonada da cadeia da cidade.
     Bernadette tentou manter isto em segredo, mas Toinette disse à mãe. Quando questionada por sua mãe, ela afirmava ter visto uma "dama" na gruta de Massabielle enquanto estava recolhendo lenha com a irmã e a amiga.  Ela e a irmã receberam castigo corporal por tal história. Três dias depois, Bernadete voltou à gruta com as outras duas meninas. Ela levou água benta para utilizar na aparição, a fim de testá-la e saber se não "era maligna", porém a visão apenas inclinou a cabeça com gratidão quando a água foi dada a ela.
     No dia 18 de fevereiro, ela foi informada pela Senhora para retornar à gruta durante um período de duas semanas. A Senhora teria dito: "Eu prometo fazer você feliz não neste mundo, mas no outro".
     Após a notícia se espalhar, as autoridades policiais e municipais começaram a ter interesse. Bernadette foi proibida pelos pais e pelo comissário de polícia Jacomet a ir à gruta novamente, mas ela foi assim mesmo.
     No dia 24 de fevereiro, a aparição pediu oração e penitência pela conversão dos pecadores. No dia seguinte, a aparição convidou Bernadette a cavar o chão e beber a água da nascente que encontrou lá. Tendo se espalhado a notícia do surgimento da nascente, essa água foi administrada em pacientes de todos os tipos e muitas curas milagrosas foram noticiadas. Sete dessas curas foram confirmados como desprovidas de qualquer explicação médica pelo Professor Verges, em 1860.
     A primeira pessoa que recebeu um milagre certificado era uma mulher cuja mão direita tinha sido deformada em consequência de um acidente.
     O governo vetou a gruta e emitiu sanções mais duras para alguém que tentasse chegar perto da área. As aparições de Lourdes tornaram-se uma questão nacional na França, resultando na intervenção do imperador Napoleão III com uma ordem para reabrir a gruta, em 4 de outubro de 1858. A Igreja decidiu ficar longe da polêmica.
     Bernadette, conhecendo bem a localidade, conseguiu visitar a gruta à noite, mesmo quando vetada pelo governo. Lá, em 25 de março, a aparição lhe disse: "Eu sou a Imaculada Conceição" ("que soy era Immaculada concepciou").
     No domingo de Páscoa, 7 de abril, o médico examinou Bernadette e observou que suas mãos seguravam uma vela acesa e mesmo assim não apresentavam qualquer queimadura.  Em 16 de julho, Bernadette foi pela última vez à gruta e relatou que "Eu nunca a tinha visto tão bonita antes".
     Diante de perguntas de nível nacional, a Igreja decidiu instituir uma comissão de inquérito em 17 de novembro de 1858. Em 18 de janeiro de 1860, o bispo local declarou que: "A Virgem Maria aparecera de fato a Bernadette Soubirous". Em 1862, o Papa Pio IX autorizou o bispo local a permitir a veneração da Virgem Maria em Lourdes. Estes eventos estabeleceram o culto mariano de Lourdes, que, juntamente com Fátima, é um dos santuários marianos mais frequentados no mundo.
     A veracidade das aparições de Lourdes não é artigo de fé para os católicos. Não obstante, todos os últimos Papas visitaram este local. Bento XV, Pio XI e João XXIII ali estiveram quando ainda eram bispos, Pio XII como delegado papal. Ele também declarou uma peregrinação a Lourdes em uma encíclica na comemoração do 100º aniversário das aparições completados em 1958.
* * *
Algo surpreendente sobre Santa Bernadette
    
     Sobre a vida de Santa Bernadette Soubirous o conceituado hagiógrafo Rohrbacher diz o seguinte:
     “Bernadette Soubirous era uma criança em tudo igual às outras. Nela só se destacavam a expressão do olhar de invulgar inocência”.
     “Na primeira aparição, Bernadette só pode fazer o Sinal da Cruz depois que Nossa Senhora o fez. Mas segundo numerosas testemunhas, depois dessa visão, em toda a vida de Bernadette seu Sinal da Cruz era inigualável e realmente inesquecível. Um sinal inimitável, pois a vidente o aprendera com a Santíssima Virgem”.
     “Uma ocasião, no convento, insistiam com a Irmã Bernarda para que dissesse como era o vestido com o qual Nossa Senhora lhe aparecia. Uma das religiosas dizia que era desta fazenda, outra, daquela. Respondeu-lhe Bernadette: `Eu não disse que o vestido era disso ou daquilo. Era de um pano que nunca vi. Ademais, se querem saber tanta coisa, fazei Nossa Senhora voltar outra vez e vede bem’”.
     “Grande era sua humildade. Quando alguém a procurou certa vez para que dissesse algumas palavras de edificação às noviças, respondeu sorrindo: `Ai, nada sei. O que se pode arrancar de uma pedra, minha Irmã?’ Perguntou-lhe sua superiora se não se sentia orgulhosa por ter sido escolhida por Maria para lhe ser a confidente. Respondeu: `Que idéia a senhora faz de mim? A Santíssima Virgem escolheu-me porque eu era a mais ignorante. Se Ela achasse uma outra mais ignorante do que eu ter-lhe-ia escolhido certamente’”.
     “Os contínuos sofrimentos e vômitos de sangue aniquilavam lentamente a vidente. Seu aspecto físico demonstrava esse aniquilamento e a santa, ao lado disso, buscava apagar-se no convento. Conseguiu-o de tal maneira que uma postulante, ao entrar para o convento, declarou que queria conhecer Bernadette. Justamente quando ela passava no momento, a mostraram dizendo: “Bernadette, é isto” (“Bernadette, c’est ça”)”.

     Santa Bernadette era camponesa de uma zona dos Pirineus meio espanhola e que constitui uma síntese entre a Espanha e a França. O seu rosto é ligeiramente dado para o quadrado, traços regulares e bem feitos, um olhar preto, grande, e com uma fixidez hispânica que o olhar francês não tem. O olhar francês é muito rápido e passa de um lado para outro. Ela tem um olhar espanhol que crava as verrumas e que olha mesmo. Ela possuía um nariz espanhol, que é um traço de coerência de toda a fisionomia.
     O feitio de espírito dela era taxativo. Era de dizer as coisas no duro. Era ela uma pessoa educada com muita simplicidade, tinha muita elevação de alma, mas o que ela pensava, ela dizia mesmo. O todo dela era de um desprendimento completo, como quem no fundo não pretende ser nada. Ela era humilde diante de todo mundo, por exemplo, ela ia para as aparições e podia se envaidecer, porque imagine uma multidão enorme ali reunida para vê-la falar com Nossa Senhora! Compreende-se o que seria para Santa Bernadette Lourdes inteira estar ali. Era uma coisa colossal! Mas, ela não se envaidecia, não dava importância nenhuma, continuava a ter toda a naturalidade diante de todo mundo.
     Chamada pela polícia para tratar das suas revelações, ela se portava em relação aos policiais com desassombro e naturalidade extraordinários. Entretanto, em relação aos pais e às pessoas respeitáveis, como o vigário dela e sua superiora religiosa, era um modelo de respeito e obediência. Diante das autoridades legítimas, o sumo de obediência e respeito, porque um há princípio sobrenatural em jogo. Para os fatores meramente humanos, zero. Para aquilo que tem uma raiz religiosa e que vem de Deus, todo o respeito devido.
     Santa Bernadette Soubirous converteu inúmeras pessoas durante as visões por causa do Sinal da Cruz. Ela tomou um amor ao sofrimento, um amor à cruz de Cristo, de onde algo da unção de Nossa Senhora passava por ela quando ela fazia o Sinal da Cruz.
     A vida inteira foi para todos uma edificação ver como ela fazia o Sinal da Cruz, que tantas vezes a gente faz sem dar importância. Quando começava a visão, ela se transfigurava. E ela, simples camponesa, tornava-se de uma majestade que impressionava todo mundo.
     Uma senhora da sociedade que a viu durante a revelação, disse que nunca viu uma moça da aristocracia que tivesse o porte e a figura de Santa Bernadette durante as revelações. Porque ela estava tratando com a Rainha do Céu e da Terra algo de régio esta Rainha comunicava a alma dela um estado de virtude.
     Muita gente vendo isto percebia que Nossa Senhora estava falando com ela. Não porque visse Nossa Senhora, mas porque via nela um espelho de Nossa Senhora. E ela era uma espécie de Speculum Mariae na ocasião das revelações. As virtudes de Nossa Senhora se comunicam aos seus devotos, e os seus devotos inalam aquilo que está em Nossa Senhora. Há uma comunicação de Nossa Senhora a seus devotos que é admirável.
     Nossa Senhora a escolheu, porque um dos argumentos extraordinários para confirmar as revelações era a ignorância dela. Santa Bernadette era muito baixinha, viva, mas passava facilmente despercebida. À Santa Bernadette Nossa Senhora revelou um segredo e sobre este segredo ela nunca disse nada.
     Então, três grandes aparições mariais, as três com segredos: Nossa Senhora da Salette: segredo; Nossa Senhora de Lourdes: segredo; e Nossa Senhora de Fátima: segredo.
     Peçamos a Santa Bernadette que nos obtenha uma grande devoção a Nossa Senhora; que faça com que cada vez mais se dê essa comunicação das virtudes de Nossa Senhora para nós. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Santa Amonísia, Virgem e mártir - 1o. domingo de fevereiro

          A pequena cidade de Scopa (Itália) venera como padroeira esta santa, cujas relíquias são autenticadas com um certificado que declarava a sua recuperação da Catacumba de Priscila em 1750. Estas relíquias chegaram à paróquia, a igreja-mãe de todas as comunidades do Val Grande, por meio dos irmãos João Antônio e Pedro Antônio Pianazzi, cuja família havia emigrado há algumas gerações para Roma.
     A data da chegada das relíquias é 1755, conforme relatado na inscrição de uma placa no altar da santa e foram colocadas na capela de São Marcos; como evidenciado por Lana, ainda em 1840, seus ossos eram visíveis dentro de uma pequena urna de madeira sobre o altar.
     Apenas em 1880, pela sensibilidade do Pe. José Canziani, eles foram juntados em uma figura de cera coberta com um vestido feito pelas jovens da aldeia, e colocados em uma urna maior. Ao mesmo tempo foi-lhes concedido o altar que desde então foi dedicado a Amonísia.
     Sobre a presença desta alegada mártir, invocada em Scopa como protetora contra as enchentes do Sesia, que flui não muito longe da igreja, é preciso lembrar o violento protesto organizado por um grupo de líderes locais da maçonaria por ocasião das celebrações solenes organizadas para inaugurar as obras descritas acima. A acusação contra o clero da paróquia era de ter criado um novo objeto de superstição, promovendo o culto a uma santa inexistente para o lucro monetário resultante das inúmeras ofertas concedidas para a cobertura das despesas.
     O episódio se insere em um clima de anticlericalismo generalizado, mais ou menos manifesto, presente na região do final do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, e que os párocos locais tentaram combater revivendo vários itens de devoção: a devoção mariana, a adoração Eucarística e a veneração de santos locais, respondendo às provocações por meio de manifestações concretas da fé, como as peregrinações, procissões e a publicação de textos devocionais.
     Sobre o corpo de Amonísia se ocupou brevemente o Pe. Antônio Ferrua, solicitado em 1987 pelo pároco local para obter mais notícias sobre a suposta mártir. A pesquisa realizada pelo padre jesuíta permitiu que se retornasse ao que muito provavelmente é o epitáfio original do fechamento do nicho do qual foi extraído o corpo enviado em seguida para Scopa.
     O texto, publicado por Ferrua na edição crítica, informa o nome original da falecida: Artemísia, modificado por razões de culto em Amonísia, na inscrição, de fato, se lê: III - NON - MAR - ARTEMISIA – IN PACE. Na mesma superfície aparecem também seis monogramas constantinianos e uma palma, interpretados, de forma semelhante ao alegado "vaso de sangue" visível na urna, como o sinal certo do martírio, que entretanto não tem qualquer menção no texto.
     A partir de 1880, a devoção a Amonísia aumentou notavelmente na população de Scopa, que a partir daquele ano dedicou oficialmente uma festa anual à santa. Inicialmente, ela era comemorada no primeiro domingo de março, foi depois antecipada para o primeiro domingo de fevereiro para permitir a participação dos migrantes que voltavam no outono, e partiam novamente na primavera.
     Ainda hoje, nesta ocasião, a urna é levada em procissão pelas ruas da cidade.
Fonte: www.santiebeati/it

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Beata Isabel Canori Mora, Mãe de família, 3ª. trinitária - 5 de fevereiro

    
     Isabel Canori Mora (1774–1825) foi uma leiga romana beneficiada com extraordinários fenômenos místicos.
     Em 1996, a Libreria Editrice Vaticana, com o Imprimatur da diocese de Roma, editou tais escritos na íntegra, seguindo a ortografia e a gramática italiana moderna (La mia vita nel Cuore della TrinitàDiario della Beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre, Libreria Editrice Vaticana, 1996, 765 pp. Imprimatur do Vicariato de Roma, Pe. Luigi Moretti, secretário-geral, 31-8-1995). [...]
     A nota dominante da vida da bem-aventurada foi dada pelo pedido que Deus lhe fez, de oferecer-se como vítima pela preservação do Papado em Roma. Tal pedido ocorreu no início do pontificado de Leão XII (28.9.1823–10.2.1829), quando a beata teve uma revelação sobre uma futura restauração da Igreja.
     Deus, que costumava falar a ela com uma franqueza não usual sobre o Papado, então lhe fez ver que essa renovação da Igreja não dependia tanto dos ocupantes da Cátedra de Pedro quanto da erradicação dos erros que envenenam a sociedades civil e eclesial.
     Esses erros afiguravam-se na visão como cinco imensas árvores que intoxicam e matam espiritualmente grandes multidões de homens. A indispensável tarefa de erradicação desses erros tem um lado angélico sobrenatural.
     Essa visão reveste-se de interesse todo especial para os nossos dias. Quando, afinal, a Igreja será restaurada?
     No dia 10 de janeiro de 1824 minha alma foi admitida para falar familiarmente com meu Deus. Ele se deteve, na sua infinita bondade, para falar com minha pobre alma sobre as circunstâncias de nossa santa religião católica e da Santa Igreja.
     Minha alma assim orava a meu Deus pelas necessidades atuais da Santa Igreja:
     – Meu Deus – dizia – quando acontecerá que eu possa Vos ver honrado e glorificado por todos os homens como convém? Mas, oh meu Deus, como são poucos os que Vos amam! Oh, como é grande o número dos que Vos desprezam, meu Deus, que grande pena é isto para mim! Acreditava que com esta eleição de um novo Papa [Nota: refere-se à eleição de S.S. Leão XII] a Santa Igreja seria renovada, e que o Cristianismo iria mudar de costumes; mas, pelo que eu vejo, caminhamos de mesmo jeito.
     Diante desta minha insistência, Deus me respondeu assim:
     – Minha filha, não recordas que Eu te disse que a nave era a mesma, e que adiantaria pouco, para os marinheiros da nave, mudar de piloto?
     Minha alma respondeu:
     –Ah sim, meu Deus, lembro-me que, três dias após a eleição do sumo pontífice Leão, fizestes-me entender bem que a série de perseguições não havia acabado. Meu Deus, se a nave será sempre a mesma, nós ficaremos presos aos mesmos males! Ah! Senhor, reparai-a Vós, fazei uma nave nova, que nos conduza ao porto da bem-aventurança eterna do Paraíso!
     Sim, meu Deus, peço-Vos esta graça pelos vossos méritos infinitos, sim, não m’a negueis. Vós me tendes prometido ouvir minhas pobres orações. Sim, pela vossa bondade, ouvi-me, então, pois eu Vos rogo por todo o Cristianismo: reponde-nos no bom caminho, Vos rogo, Vos suplico, pelo vosso Sangue Preciosíssimo; para que fabriqueis a nave de nossa salvação!
     E assim ouvi responder:
     – Minha filha, antes de construir essa nave, devem tirar aquelas cinco árvores que estendem suas raízes pela terra.
     Ouvindo estas palavras, minha alma entristeceu muito, achando que demoraria muitíssimo tempo fazer esta nova nave.
     – Portanto – eu dizia chorando – dois séculos não serão suficientes para fabricar esta nave! Meu Deus, quanta pena isso me causa. Se Noé demorou cem anos para fabricar a Arca, Vós, portanto, oh meu Deus, continuareis a ser ofendido durante um tão longo período de tempo? Eu não posso imaginar, eu me sinto desmaiar pela dor. Oh meu Jesus, tirai-me a vida, pois eu não consigo Vos ver de tal maneira ofendido.
     Chorava abundantemente e me sentia esmagada pela grande aflição de espírito; mas, enquanto estava nessa situação aflitiva, ouvi uma voz que dizia:
     – Serena teu espírito, enxuga também tuas lágrimas. Sabe que este não é um trabalho terrestre, como o de Noé, mas é um trabalho celeste, porque os fabricantes desta minha nave são os meus anjos. Alegra-te, oh minha filha, amada, e não te entristeças! O tempo está em minhas mãos, posso abreviá-lo quanto quiser; reza, não te canses, que não será tão demorado como tu pensas.
     E minha alma respondeu assim:
     – Oh meu Deus, quanto me alegrais fazendo-me saber que Vos aprazará abreviar o tempo de vossas misericórdias; venha logo este tempo bendito, oh meu Senhor, para que sejais conhecido, amado e adorado como convém por todos.
     Assim a Beata Isabel Canori Mora deixou registrado no diário com suas revelações místicas, que escreveu por ordem de seu diretor espiritual:
Os anjos lhe revelam a conspiração dentro da Igreja Católica
     No dia 26 de janeiro de 1815, fui levada pelos santos anjos, que costumam me favorecer, a um lugar subterrâneo, onde, pelas tochas acesas que conduziam nas mãos, pude descobrir a perseguição oculta que é feita por muitos eclesiásticos contra Deus. Sob o manto do bem, perseguem a Jesus crucificado e seu Santo Evangelho. Eu os via como lobos enraivecidos que maquinavam derrubar o chefe da Igreja de seu trono, procuravam por todas as formas jogar por terra a Igreja Católica.
     Mas porque foi do agrado de Deus, pela valiosa intercessão do patriarca Santo Inácio, eu via surgir da nobilíssima Companhia de Jesus um grande personagem, rico de virtudes e de doutrina, muito insigne, dotado de celeste eloquência, que sustentava os direitos da Igreja Católica, juntamente com outros seus companheiros, muitos dos quais davam seu sangue por Jesus Cristo.
     Diante deste conhecimento, minha pobre alma apresentava ardentes orações ao Altíssimo, para que se dignasse libertar nossa Mãe, a Santa Igreja, de uma perseguição tão funesta.
     Subitamente, eu fui levada como por um relâmpago a ver o duro estrago que está para fazer a justiça de Deus sobre aqueles miseráveis. Com supremo terror, eu via relampaguear em volta deles os raios da justiça irada. [...]
A Igreja Católica vivendo uma espécie de Paixão
     No dia 1º de abril 1815, (...) depois do jantar, eu estava na igreja, na adoração do Santíssimo Sacramento, quando me pareceu ser transportada num instante a um local solitário onde tudo respirava tristeza e aflição.
     De improviso vi chegar muitos Anjos que, pelos seus rostos e suas vestimentas, denotavam os gravíssimos padecimentos de nossa Mãe a Santa Igreja. Depois vi chegar mais outros três Anjos, igualmente vestidos de luto, muito mais tristes que os primeiros. Eles levavam sobre os ombros uma pedra de um tamanho desmesurado e de uma beleza ímpar. Pousaram com muito respeito solitário a referida grandíssima e belíssima pedra naquele lugar, e todos os anjos mencionados formaram em volta dela uma coroa, e choravam olhando-a cheios de tristeza.
     Como foi lutuosa a impressão que recebeu meu coração, não saberia repeti-lo. (...) E eis que vi de longe chegar outros homens de santa vida, tristes nos rostos, penitenciais nas vestimentas, que olhavam dita pedra e choravam. A aflição deles demonstrava muita coisa. Diante deste comparecimento, meu espírito ficou muito aflito e angustiado. Mas não acabou aqui a minha pena.
     Eis que de novo vejo aparecer muitas santas virgens, tristes e doloridas, com os rostos pálidos e vertendo muitos prantos, seus corações estavam cheios de pesar. Estas virgens aflitas acompanhavam uma venerável matrona, vestida de escuro, com a tristeza no rosto e a aflição no coração.
     Vendo isto o meu espírito ficou intrigado, e cheio de temor procurava o significado de tudo quanto tinha visto, quando desde o alto do céu percebi relampagueando os raios da justiça irritada.
     Meu espírito ficou estupefato de medo, privado de todo conhecimento.
Perseguições atraem um caos e um castigo universal
     No dia 11 de abril de 1815, enquanto rezava pelas necessidades de nossa Mãe, a Santa Igreja, e do Sumo Pontífice, me pareceu ter uma notícia interna que me mostrou a grande manobra que é feita pelos perseguidores de nossa religião católica. Estes tentam, com enganos sutilíssimos e argumentos dissimulados, derrubar o chefe da Igreja. Imploremos ardentemente ao Senhor para que ninguém seja enganado pelas fraudes deles.
     No dia 7 de junho de 1815, durante a Santa Comunhão, fui levada a um local solitário onde tive notícia das graves aflições que deverá sofrer nossa santa Mãe a Igreja. Oh, quantas penas! Mas quantas deveremos sofrer nós! Deus quer renovar todo o mundo. E isto não se pode fazer sem uma grande destruição. (...)
Purificação da Igreja Católica
     O mundo era proa de uma gravíssima desolação. A pequena grei de Jesus Cristo apresentava ardorosas orações ao Altíssimo para que se dignasse suspender tanto extermínio e tanta ruína. Em atenção aos votos deste pequeno número, cessava o extermínio por parte dos homens e começava um outro da parte de Deus.
     O céu ficou coberto de negras nuvens, estourando os mais terríveis raios que aqui incineravam, lá incendiavam. A terra estava abalada não menos que o céu. Terremotos mais horríveis, as voragens mais ruinosas provocavam os derradeiros estragos sobre a terra. Desta maneira foram separados os bons católicos dos maus cristãos.
     Muitos daqueles que outrora negavam Deus agora O confessavam e O reconheciam pelo Deus que Ele é.
     Todos O respeitavam, O adoravam, O amavam. Todos observavam sua Santa Lei. Todos os religiosos e as religiosas se estabeleciam na verdadeira observância de suas Regras.
     O clero secular era a edificação da Santa Igreja. Nas Ordens religiosas floresciam homens de muita santidade e doutrina, de vida muito austera. Todo o mundo estava em paz.
     Escrito por obediência.

Fontes: Impresso: —Bem-aventurada Isabel Canori Mora (1774–1825) "La mia vita nel Cuore della Trinità — Diario della Beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre", Libreria Editrice Vaticana, 1996, 765 pp. Imprimatur do Vicariato de Roma, Pe. Luigi Moretti, secretário-geral, 31-8-1995" Manuscrito: MS 132, igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, Roma. Versão digital: — Intratext.
http://www.intratext.com/IXT/ITA1070/.
http://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/2013/03/conspiracao-na-igreja-e-seu-castigo.html