Martirológio
Romano: Em Antioquia, na Síria, hoje Antakya, na Turquia, a comemoração de
Santa Públia, que depois da morte do esposo entrou num mosteiro e, à passagem
do imperador Juliano o Apóstata, cantando com as suas companheiras virgens as
palavras do salmo “Os ídolos dos gentios
são ouro e prata” e “Sejam como eles
os que os fazem”, por ordem do imperador foi esbofeteada e asperamente
repreendida. († c. 362)
Públia era uma matrona síria que ingressou
em um mosteiro após o falecimento de seu esposo. Ela reuniu em sua casa algumas
virgens e viúvas para consagrar-se às práticas de piedade na vida em comum.
Logo foi eleita abadessa do mosteiro.
Em 362, o imperador Juliano, o Apóstata,
(assim chamado porque depois de ser cristão voltou ao paganismo) passou por
Antioquia em uma campanha contra a Pérsia. Ao passar diante da casa de Públia,
Juliano ouviu estas mulheres cantar o Salmo 115: “Os ídolos dos gentios são de ouro e prata e estão feitos pela mão do
homem; não têm boca e não podem falar”. “Que os que constroem os ídolos e todos os que põem confiança neles
sejam como seus deuses”.
Juliano tomou como uma alusão pessoal e
mandou calá-las para que nunca mais fosse possível que cantassem. Públia
respondeu por suas companheiras citando o Salmo 67: “Deus se levantará e destruirá seus inimigos”. Juliano mandou-a
chamar e ordenou que fosse esbofeteada constantemente, até que as demais
deixassem de cantar. Prometeu condená-las a morte quando voltasse da campanha
da Pérsia, mas Juliano nunca voltou dessa campanha, e assim Públia e suas
companheiras acabaram suas vidas em paz.
Públia faleceu em 364. Alguns escritores
(Tritenio ou Lezana) em seus escritos sobre a Ordem do Carmo a incluem como
santa desta Ordem.
Fonte:
-"La leyenda de oro para cada día del año". Volumen 3. Pedro de
Ribadaneira, Barcelona, 1866.
Quem foi Juliano, o Apóstata
Flávio Claudio Juliano nasceu em
Constantinopla em 331 ou 332. Era filho de Júlio Constâncio, (meio irmão do
imperador Constantino I) e sua segunda esposa, Basilina. Seus avós paternos
eram o imperador romano do Ocidente, Constâncio Cloro, e sua segunda esposa,
Flávia Maximiana Teodora.
Ainda criança, Juliano testemunhou o
assassinato de sua família por seu primo, o imperador cristão Constâncio II em
337, quando este, após a morte de Constantino I, procurava eliminar possíveis
rivais ao trono. Juliano e seu irmão Constâncio Galo viveram encerrados numa vila
em Macellum, na Capadócia. Aí recebeu Juliano uma severa educação cristã, tendo
sido até ordenado leitor (das Sagradas Escrituras). No entanto, continuou a ler
apaixonadamente os autores clássicos pagãos, que sempre o fascinaram mais. Mais
tarde, por volta de 350, encontramo-lo em Constantinopla e Nicomédia a estudar
junto de filósofos neoplatônicos, como Máximo de Éfeso, que esteve por trás da
sua conversão a uma forma mística de paganismo associada a magia. Durante mais
ou menos 10 anos, Juliano ocultou esta sua conversão.
Constâncio nomeou-o César em 355, quando
foi chamado a Milão. Foi então enviado à Gália para conter as invasões de francos
e alamanos, aonde foi vitorioso e restabeleceu a linha fronteiriça do Reno. Em
360, Constâncio decidiu retirar as melhores tropas de Juliano, deslocando-as ao
oriente, para a campanha contra os persas. O descontentamento entre os
militares foi grande. Com o início da marcha das tropas, nas imediações de
Lutécia (atual Paris), elas se amotinaram e trataram de aclamar Juliano como
Augusto. Constâncio recusou tal aclamação, o que fez com que Juliano marchasse
contra ele em 361. Constâncio, então em Antióquia, decide contra-atacar, mas
morre em Tarso, vítima de uma febre.
Ao entrar em Constantinopla, Juliano logo
impôs um programa de reformas. Livrou-se dos funcionários mais odiados de
Constâncio e proclamou a liberdade de culto para cristãos e pagãos,
reabilitando o clero que estava no exílio. Reduziu de forma drástica o pessoal
do palácio imperial. Diminuiu alguns impostos e reforçou o controle das
finanças públicas.
Em sua religião helenística, acolheu toda
a cultura grega, tentando devolver à literatura pagã o seu conteúdo religioso.
Cristãos como São Gregório de Nazianzeno indignaram-se com a medida. É verdade
que houve um favorecimento dos pagãos, mas proibiu-se qualquer ação
depreciativa contra os cristãos. Isso não impediu que Juliano atacasse
duramente o cristianismo, como na sua obra Contra os Galileus.
Juliano, o Apóstata, e a Reconstrução do Templo de
Jerusalém
Juliano sabia que, segundo a predição de Jesus Cristo, não devia ficar pedra
sobre pedra do edifício do templo, e quis dar um desmentido ao “Deus dos galileus”. Posto que não
gostasse dos judeus, chamou-os para a obra e prodigalizou-lhes dinheiro e
promessas. Encarregou o conde Alípio, um dos seus mais fiéis oficiais, de
vigiar e apressar os trabalhos.
Começaram por arrancar os antigos alicerces. O número dos operários era
incalculável, e o seu ardor parecia que superaria todos os obstáculos. Contudo,
São Cirilo, Bispo de Jerusalém, zombava de todos os seus esforços e dizia
publicamente que era chegado o tempo em que se cumpririam literalmente os
oráculos do Senhor: “Nem sequer porão uma
pedra sobre outra” — repetia o santo prelado sem se perturbar.
Efetivamente, tirados os velhos fundamentos, sobreveio um horrível terremoto,
que encheu as escavações, dispersou os materiais amontoados, derrubou os
edifícios vizinhos, matou ou feriu uma parte dos trabalhadores.
Passados poucos dias, lançaram outra vez mão à obra. Mas imensos globos de fogo
saíram das entranhas da terra, repeliram os materiais e devoraram os obreiros e
as ferramentas. Este terrível fenômeno reproduziu-se várias vezes. O fogo só
cessou de aparecer depois de abandonada a obra. Este fato é incontestável.
Atestam-no São Cirilo, testemunha ocular, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São
Crisóstomo e São Gregório Nazianzeno, contemporâneos deste prodígio. Além
desses, os historiadores Rufino, Sócrates, Sozomeno, Teodoreto, Zonoras,
Epifânio, o diácono Nicéforo, Calixto, o ariano Filostorgo, o judeu David
Gunzi, o rabino Gédaliah e o próprio Amiano Marcelino, pagão, amigo íntimo e
zeloso defensor de Juliano.
A este respeito, São Crisóstomo exclama: “Cristo
edificou a sua Igreja sobre a pedra, e nada pôde derrubá-la. Ele derrubou o
templo, e nada pôde reedificá-lo. Ninguém abate o que Deus eleva, nem eleva o
que Deus abate”. Segundo a maior parte dos autores eclesiásticos, juntou-se
um fogo vindo do céu às chamas saídas da terra, e apareceram cruzes luminosas
nos ares, e até sobre a roupa dos trabalhadores. Tão extraordinário prodígio
espantou todos os espectadores. Muitos judeus, e até idólatras, confessaram a
divindade de Jesus Cristo e pediram o batismo.
Deste modo, em lugar de destruir a profecia do Salvador, Juliano completou-a,
tirando até a última pedra do templo de Jerusalém. Ele ficou confundido, mas
nem por isso abriu os olhos à luz.
(Pe.
Rivaux, “Tratado de História Eclesiástica” – Livraria Chardron, Porto, 1876,
Tomo I, pp. 305-307).
Expedição de Juliano contra os persas
Depois de magra refeição, Juliano sentou-se numa cama de campanha para redigir
seu diário. Durante esse trabalho, viu ele aparecer a seu lado o gênio do
império, o mesmo que já o tinha visitado no palácio de Lutécia (atual Paris) na
noite em que as legiões gaulesas o tinham saudado com o título de Augusto.
Desta vez o espectro estava vestido com um manto negro. Fitou longamente em
Juliano um olhar tristonho e saiu da tenda sem pronunciar uma única palavra.
O imperador saiu em disparada, aterrorizado, ao encalço do fantasma. Por causa
de seus gritos, acorreram à sua tenda seus mágicos e sacerdotes pagãos
habituais, tendo Máximo à frente. Tentaram tranquilizá-lo. Aconselharam-no a
oferecer um sacrifício aos gênios protetores. À meia-noite, a vítima, uma
novilha branca, foi levada para junto do altar. Mas no momento em que a faca do
sacerdote lhe abria o pescoço, uma estrela que deslizava lentamente descreveu
um arco no zênite, traçando um rastro de luz que se extinguiu repentinamente no
horizonte. “É o deus Marte que se vinga
de mim!” — exclamou Juliano.
A última noite de Juliano, perturbada por essa série de presságios funestos,
findou em consultas aos mágicos e sacerdotes. Os intérpretes oficiais da
vontade dos deuses declararam unanimemente que esses fenômenos eram uma
advertência do céu, e que se tornava necessário suspender todos os planos de
ataque para o dia seguinte.
Sob um sol tórrido, Juliano acabava de depor sua couraça quando um clamor
intenso irrompeu em torno dele. Era o exército persa que, aproveitando a
situação excepcional, invadia o acampamento. Sem se dar o tempo de revestir a
armadura, Juliano monta a cavalo, voa até a retaguarda onde tinha lugar o
ataque, e organiza a resistência. Alguns instantes depois, um grupo de
arqueiros persas faz chover sobre o imperador e sua escolta uma saraivada de
flechas. Uma delas, após arranhar o braço direito do imperador, vem
enterrar-se-lhe no fígado.
Diz Teodoreto que nesse momento Juliano levou a mão à ferida, recolheu o sangue
que saía aos borbotões e o lançou ao céu, gritando: “Venceste, Galileu!”
(Pe. J.E. Darras, “Histoire
Generale de L’Église” – Ed. Louis Vivès, Paris, 1867, vol. 10)
Etimologia:
Públia = forma feminina de Públio, “formoso, belo”.
Nome
do general vencedor de Aníbal: Públio Cornélio Escipion.
Nome
da Rainha de Aragão e Condessa de Barcelona (1136-1173)
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